Lulu na janela
Nascida Luzia, filha de pais portugueses que chegaram ao Brasil no século passado. Era a única filha de uma prole de quatro. Entretanto, quase ninguém sabia seu verdadeiro nome, pois era mais conhecida naquela rua, pelo apelido carinhoso e respeitoso de Lulu.
Aquela moradora da Rua do Gás, no bairro Andiroba conhecia a todos, e sabia da vida da maioria.
Pudera. Nascera ali, crescera ali, casara ali e ficara viúva ali, havia pouco tempo. Não teve filhos por conta de problemas de saúde. Sofria de toxoplasmose.
Não vivia só porque, com ela, morava uma “secretária” criada pela mãe, que parentes conheceram no interior da Bahia. A “secretária” já era mais idosa que Lulu. Era a responsável por quase tudo e por quase nada. Sempre foi assim, permitindo que Lulu pudesse trabalhar até garantir a aposentadoria.
Famosa, Lulu havia trabalhado durante anos numa emissora de televisão da cidade.
Depois do falecimento do marido, Lulu caiu na solidão e, após aposentadoria, sem filhos e sem afazeres domésticos, que ficavam na responsabilidade da “secretária”, passava as cinco horas da tarde de todos os dias, debruçada na janela. Provavelmente esperava o passeio e o pouso das andorinhas que escreviam poemas em voos. Cada voo mais sinuoso que o outro. Claro, as odes de um poema precisam ser diferentes.
“Boa tarde” para um, “boa tarde” para outro, e, da janela só saía, quando falava o primeiro “boa noite”!
Ninguém entrava ou saía daquela casa, além da “secretária”, que, pelo menos uma vez na semana saía para ir ao comércio, onde se abastecia de víveres.
Às vezes (fora frutas e legumes) a compra era para a semana toda.
Vez por outra, a meninada traquinas tocava a campainha e corria. Aquilo irritava Lulu que, às vezes, fosse quem fosse, nem atendia mais.
Pois, ontem, durante as cinco horas da parte da tarde e começo da noite, não havia ninguém naquela janela.
Lulu, a moradora, estava sendo velada entre preces na capela Sossego Eterno. O corpo sairia dali para ser cremado, como era o desejo dela!
ZéRamos, infelizmente o mundo “muderno” como conhecemos está cheios de D. Lulu e isto é muito triste e como diria Bob Jeferson (senador) a solidão “desperta nossos instintos mais primitivos”.
Marcos, tenho certeza que é por aí. Mas o ato extremo de dar cabo da vida que Deus nos deu, nunca será a solução. Por isso que, sem noção das coisas, a sociedade inventa coisas que chama de “depressão”. No meu entendimento pessoal (e ainda quero usufruir deste direito), depressão é coisa de quem tem tempo de mais e muito pouca iniciativa para ocupá-lo. Não discuto com quem pensa diferente de mim, achando que depressão é doença grave.
Mer caro Zé Oliveira.
Você está se espealizando em ilustrações fóra de série.
Parabéns.
um abraço.
dmatt, fico agradecido pelo elogio. Na realidade, são fotos “pescadas” na Internet.