ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

Na região nordestina
Que muitos chamam de norte
Eu sei que a cara da seca
Tem aspecto muito forte
Tem o sorriso da fome
E a gargalhada da morte.

Rogério Menezes

Sem cair chuva na terra
A seca faz ameaça
Como é triste ver um homem
Com um carro pipa na praça
Vendendo uma lata d’água
Que o céu derramou de graça.

João Paraibano (1952 – 2014)

No ano que a chuva falta
A terra nega as ofertas
As abelhas vão embora
As matas ficam desertas
E o sol queima as pétalas virgens
Das flores recém-abertas.

Pedro Bandeira (1938 – 2020)

Se faltar chuva na terra
Deus manda pra nossa mente
Deixa chuva e deixa a seca
E toque daqui pra frente
Se faltar chuva no céu
Sobra chuva no repente.

Oliveira de Panelas

Vejo o chão estorricado
Mas isso não me faz guerra
Pode emperrar a nuvem
Mas o verso não emperra
Que o cantador quando é bom
Abrindo a boca não erra.

Luciano Leonel

5 pensou em “A SECA NOS VERSOS DOS REPENTISTAS

  1. Um dos maiores problemas que a região Nordeste do Brasil teve que enfrentar desde as épocas mais remotas foi a seca. Os longos períodos de seca que assolaram a região nordestina brasileira provocaram a ruína de várias culturas agrícolas e criações de animais, bem como ceifaram a vida de milhares de pessoas. Os versos dos repentistas descrevem com magia e beleza o fenômeno da seca. A seleção de belas estrofes dos poetas repentistas está excelente, se fosse escolher a minha preferida seria a seguinte: Sem cair chuva na terra/ A seca faz ameaça/ Como é triste ver um homem/ Com um carro pipa na praça/ Vendendo uma lata d’água/ Que o céu derramou de graça.

  2. Parabéns pela ótima postagem, prezado Aristeu Bezerra! ” A SECA NOS VERSOS DOS REPENTISTAS” traz uma coletânea de versos (sextilhas), que mostram o sofrimento dos nordestino miseráveis, as principais vítimas da seca. Também denunciam a “máfia” dos carros-pipas, cujos donos são ricos latifundiários, com açudes em suas propriedades, e que se aproveitam da infelicidade alheia.
    Mas, agora, com bons políticos no Brasil, há uma luz no fim do túnel. Que a água do Rio São Francisco chegue logo aos recantos mais distantes e sofridos da nossa Nação!

    Os versos dos repentistas, selecionados por você, são todos inteligentes e verdadeiros.

    Destaco:

    Na região nordestina
    Que muitos chamam de norte
    Eu sei que a cara da seca
    Tem aspecto muito forte
    Tem o sorriso da fome
    E a gargalhada da morte.

    Rogério Menezes

    Sem cair chuva na terra
    A seca faz ameaça
    Como é triste ver um homem
    Com um carro pipa na praça
    Vendendo uma lata d’água
    Que o céu derramou de graça.

    João Paraibano (1952 – 2014)

    Uma ótima semana! Muita Saúde e Paz!

    Violante Pimentel Natal (RN)

    • Violante,

      Muito obrigado pelo seu excelente comentário com conhecimento de que o problema de seca no Nordeste não é a falta de água. Por mais que haja evaporação e açudes sequem, a região possui uma grande quantidade de água, suficiente para abastecer sua gente. Segundo especialistas, o problema continua não sendo de falta de recursos naturais, mas de sua distribuição.
      Aproveito a ocasião para compartilhar o mestre João Paraibano (1952 – 2014) glosando o seguinge mote:

      Só Jesus tem o poder pra consertar
      Os estragos da seca no sertão.

      A mãe pobre balança a mamadeira
      Sem um pingo de leite pra o menino
      A esperança do povo nordestino
      Escondeu-se debaixo da poeira
      Nunca mais viu-se a queda da goteira
      Deslizando na boca do galão
      As formigas de asas inda estão
      No cupim impedidas de voar
      Só Jesus tem o poder pra consertar
      Os estragos da seca no sertão.

      Desejo uma semana plena de paz, saúde e harmonia

      Aristeu

      • Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo os preciosos versos do saudoso poeta João Paraibano, sobre as agruras da seca no sertão! Gostei demais!

        Violante

  3. Vitorino,

    É gratificante receber seu comentário com observações importantes sobre o fenômeno da seca. Já é mais do que sabido que as secas do Nordeste são periódicas e, enquanto fenômeno natural, não há como combatê-las. Todavia, os seus efeitos podem ser enfrentados com tecnologias apropriadas, tornando possível a convivência do homem com o meio árido.
    Aproveito esse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para compartilhar uma sextilha do repentista Biu Salvino com o prezado amigo:

    Sem ter água no açude
    O peixe morre na lama
    O calor forte incomoda
    O sertanejo reclama
    O gado caminha lento
    Caçando um resto de rama.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

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