Olhando o campo sem flores,
Pendão de milho que afina,
Mães famintas, filhos tristes,
Os pais lamentando a sina;
São as cenas da tragédia
De uma seca nordestina.
Geraldo Amâncio
Deixei uma seca grande
No Nordeste brasileiro:
De verde, só aveloz,
Papagaio e juazeiro,
Que o Nordeste, pra sorrir,
Tem que Deus chorar primeiro!
Sebastião Dias
Sem água na correnteza
Toda fartura se some.
O gado procura pasto
Para matar sua fome.
O que acha é talo seco
Pisa por cima e não come!
Biu Salvino
No lugar que a seca passa
Só crueldade revela
Expulsa o homem do campo
Pra padecer na favela
E o Piauí que eu nasci
Já se acostumou com ela.
Hipólito Moura
Vi o fantasma da seca
Ser transportado numa rede
Vi o açude secando
Com três rachões na parede
E as abelhas no velório
Da flor que morreu de sede.
João Paraibano (1952-2014)
Dentre os muitos aspectos apresentados pela Região Nordeste o que mais se destaca é a seca, causada pela escassez de chuvas, proporcionando pobreza e fome.
A partir dessa temática é importante entender quais são os fatores que determinam o clima da região, especialmente na sub-região do sertão, região que mais sofre com a seca. Só conhece o sofrimento causado pela seca quem mora na região, onde acontece o fenômeno. Os versos dos repentistas dão o tom poético para aplacar essa adversidade do sertanejo. Surpreendeu-me a beleza dos versos de João Paraibano (1952-2014): Vi o fantasma da seca/Ser transportado numa rede/Vi o açude secando/Com três rachões na parede/E as abelhas no velório/Da flor que morreu de sede.
Messias,
Agradeço suas informações sobre a seca. No Jornal da Besta Fubana, aprendemos uns com os outros. Vou compartilhar uma estrofe sobre a seca do genial poeta e repentista João Paraibano (1952-2014), que partiu antes do combinado, mas deixou um legado de belos versos sobre a natureza:
Eu fiz meu verso da grota
Que secava no verão,
Da cera que eu colocava
Na ponteira do pião,
No baião da lata seca
Nas pedras do cacimbão.
Saudações fraternas,
Aristeu
Um dos maiores problemas que a região Nordeste do Brasil teve que enfrentar desde as épocas mais remotas foi a seca. Os longos períodos de seca que assolaram a região nordestina brasileira provocaram a ruína de várias culturas agrícolas e criações de animais, bem como ceifaram a vida de milhares de pessoas. Os poetas repentistas aproveitam este tema para transformar em poesia o matírio do sertanejo. Se fosse escolher uma dessas belas estrofes, a minha preferida seria a sextilha de Sebastião Dias: Deixei uma seca grande/No Nordeste brasileiro:De verde, só aveloz,Papagaio e juazeiro,/Que o Nordeste, pra sorrir,/Tem que Deus chorar primeiro!
Vitorino,
Muito obrigado por seu excelente comentário de quem conhece a seca. Ela ocorre sempre que há falta de chuvas durante um longo período de tempo. … Alguns lugares têm seca sazonal, pois as estações chuvosa e sem chuvas se alternam. Já outros lugares podem ter de enfrentar uma seca em qualquer momento do ano. As secas são o resultado de mudanças na atmosfera da Terra.
Aproveito esse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para compartilhar um poema de Leandro Gomes de Barros (1865 – 1918) com o prezado amigo:
A SECA DO CEARÁ
Seca as terras as folhas caem,
Morre o gado sai o povo,
O vento varre a campina,
Rebenta a seca de novo;
Cinco, seis mil emigrantes
Flagelados retirantes
Vagam mendigando o pão,
Acabam-se os animais
Ficando limpo os currais
Onde houve a criação.
Não se vê uma folha verde
Em todo aquele sertão
Não há um ente d’aqueles
Que mostre satisfação
Os touros que nas fazendas
Entravam em lutas tremendas,
Hoje nem vão mais o campo
É um sítio de amarguras
Nem mais nas noites escuras
Lampeja um só pirilampo.
Aqueles bandos de rolas
Que arrulavam saudosas
Gemem hoje coitadinhas
Mal satisfeitas, queixosas,
Aqueles lindos tetéus
Com penas da cor dos céus.
Onde algum hoje estiver,
Está triste mudo e sombrio
Não passeia mais no rio,
Não solta um canto sequer.
Saudações fraternas,
Aristeu
Parabéns, prezado Aristeu, pela postagem verdadeira e emocionante, “A SECA NOS VERSOS DOS REPENTISTAS”.
O fantasma da seca sempre perseguiu os nordestinos, causando perda de plantações e de animais, pobreza; fome, miséria e mortes.
A esperança do povo nordestino é a “Transposição do Rio São Francisco”, projeto do governo federal, que visa melhorar a situação dos que vivem na região atingida pela seca.
Concebido em 1985 e com conclusão prevista para 2016, o que não aconteceu, o intuito do projeto é construir dois canais (eixo norte e eixo leste) que levem a água do “Velho Chico”, como é conhecido o Rio São Francisco, para as regiões afetadas pela seca.
Todas as sextilhas dos Repentistas selecionados por você são bonitas e retratam, fielmente, as agruras da seca.
Destaco:
“Olhando o campo sem flores,
Pendão de milho que afina,
Mães famintas, filhos tristes,
Os pais lamentando a sina;
São as cenas da tragédia
De uma seca nordestina.
Geraldo Amâncio”
Uma ótima semana, com muita Saúde e Paz!
Violante Pimentel
Violante,
Agradeço suas informações atualizadas sobre a “Transposição do Rio São Francisco”. O seu comentário sempre complementa o assunto abordado de forma a me estimular na pesquisa da cultura popular. Aproveito o espaço democratico do Jornal da Besta Fubana para compartilhar uma sextilha do grande poeta e repentista João Paraibano (1952-2014), que, apesar de partir antes do combinado, entretanto deixou um legado de belos versos sobre o meio ambiente:
Sem cair chuva na terra
A seca faz ameaça
Com é triste ver um homem
Com um carro pipa na praça
Vendendo uma lata d’água
Que o céu derramou de graça.
Uma semana plena de paz, saúde e alegria
Aristeu
Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo essa sextilha, bonita e verdadeira. do poeta e repentista João Paraibano (1952-2014)!
Um Feliz São João, com muita saúde, alegria e paz!
Violante
ERRATA:
O POEMA NÃO ESTÁ COM AS ESTROFES, OU SEJA, FOI UM ERRO DE DIGITAÇÃO.
A SECA DO CEARÁ
Seca as terras as folhas caem,
Morre o gado sai o povo,
O vento varre a campina,
Rebenta a seca de novo;
Cinco, seis mil emigrantes
Flagelados retirantes
Vagam mendigando o pão,
Acabam-se os animais
Ficando limpo os currais
Onde houve a criação.
Não se vê uma folha verde
Em todo aquele sertão
Não há um ente d’aqueles
Que mostre satisfação
Os touros que nas fazendas
Entravam em lutas tremendas,
Hoje nem vão mais o campo
É um sítio de amarguras
Nem mais nas noites escuras
Lampeja um só pirilampo.
Aqueles bandos de rolas
Que arrulavam saudosas
Gemem hoje coitadinhas
Mal satisfeitas, queixosas,
Aqueles lindos tetéus
Com penas da cor dos céus.
Onde algum hoje estiver,
Está triste mudo e sombrio
Não passeia mais no rio,
Não solta um canto sequer.
Sempre o Mestre Aristeu garimpando pra nós o que há de mais belo na visão de nossos poetas, dos temas sugeridos.
Imperdível, cada vez mais.
Obrigado e parabéns!
Marcos André,
Grato por sua generosidade. Saiba que pesquisar a cultura popular é prazeroso e encontramos verdadeiras pérolas. Você usou a palavra correta: garimpar. A poesia pura do repente pode ser comparada com pedras preciosas e a minha missão é garimpar mostrando ao leitor fubânico toda beleza dos versos dos nossos repentistas. Compartilho uma sextilha do poeta Biu Salvino com o prezado amigo:
Sem água no cacimbão
O gado morre de sede
O vento balança a arvore
Como se fosse uma rede
Jogando terra da seca
Pelas brechas da parede.
Saudações fraternas,
Aristeu