Quem tem saudade não diz,
Mas o semblante revela
Aonde vai planta tristeza
E onde foi deixou sequela
Ninguém faz medicamento
Que tire os defeitos dela.
Ivanildo Vila Nova
A saudade varonil
Bastante eu tenho sentido,
Mas acho que a saudade
É um troço parecido
Com garrancho que só bate
No canto que está ferido.
Rogério Menezes
Quem numa separação
Sofrer contrariedade
Reconquiste o que perdeu
Pra viver mais à vontade
Porque não é de espingarda
Que a gente mata a saudade.
Manoel Filó (1930-2005)
A saudade que apareceu
E a dor da pessoa invade
Desde que mamãe morreu
Na minha linda cidade
Nunca mais meu coração
Deixou de sentir saudade.
Raulino Silva
A saudade é um espinho
Comprido de ponta fina
Até o tempo que passa
Com saudade nos ensina
Que a rotação da saudade
Começa, mas não termina.
Rubens do Valle
Saudade é um sentimento tão normal que não existe um só ser que não o sinta. Temos saudade de tudo: amigos, familiares, amores, momentos, situações… É quando um certo sabor de nostalgia se faz presente de tal forma que nos traz a vontade de reviver o tempo. O poeta sabe definir com precisão a saudade da maneira certeira como os belos versos de Manoel Filó: Quem numa separação/Sofrer contrariedade/Reconquiste o que perdeu/Pra viver mais à vontade/Porque não é de espingarda/Que a gente mata a saudade.
Dione,
Grato por seu primoroso comentário com observações interessantes sobre essa emoção comum em todas as pessoas. Saudade é um dos mais intensos sentimentos que podemos experimentar na existência. Quando associada a uma pessoa, a saudade é um tipo de dor, uma ausência, um vazio imenso. Chega a ser tão intensa que pode ser sentida fisicamente como uma dor diferente de todas as outras. É como se a pessoa estivesse muito próxima, mas não pudéssemos tocá-la. Pode-se dizerr que saudade é a presença constante de alguém ausente.
Compartilho uma estrofe do talentoso poeta Manoel Filó (1930-2005) com a prezada amiga:
“Assim como tem alguém
Que, quando perde alguém, chora;
Também tem alguém que age
Quando o amor vai-se embora.
Na mesma simplicidade,
Que um pingo d’água se tora.”
Saudações fraternas,
Aristeu
Muito bom o artigo selecionando estrofes sobre esse tema tão bonito e sempre presente em nossa vida. Saudade é um transporte sentimental que leva diretamente a uma pessoa, um lugar, uma situação, uma sensação. Pode levar até mesmo a si próprio: sentir saudade de quem se era. Saudade é reconhecer que o tempo é incontrolável e que deixa marcas inesquecíveis. Considero os versos de Ivanildo Vila Nova muito bem elaborados: Quem tem saudade não diz,/Mas o semblante revela/Aonde vai planta tristeza/E onde foi deixou sequela/Ninguém faz medicamento/Que tire os defeitos dela.
Fernando,
Muito obrigado por sua opinião a respeito do meu artigo. Concordo plenamente com seus argumentos utilizados para explicar a saudade. Aproveito esse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para retribuir sua gentileza compartilhando uma sextilha do genial poeta e repentista Ivanildo Vila Nova:
Não é como explosão
Que destrói qualquer um prédio
É parecida com banzo
E é quase irmão do tédio
É um mal desconhecido
Que ninguém achou remédio.
Saudações fraternas,
Aristeu
Considero que a saudade pode ser boa e ruim ao mesmo tempo. Boa porque senti-la mostra que estamos atentos ao que vivemos, e que de fato compreendemos o que vivemos. A compreensão de um momento só surge depois que ele já se foi. Ruim porque podemos constatar que aquele tempo não volta mais, porque o tempo está em constante transformação. A sextilha de Rubens do Valle possui uma metáfora bem construída: A saudade é um espinho/Comprido de ponta fina/Até o tempo que passa/Com saudade nos ensina/Que a rotação da saudade/Começa, mas não termina.
Parabéns, ´rezado Aristeu, pela ótima postagem ,”A SAUDADE NOS VERSOS DOS REPENTISTAS”!
Gostei imensamente das sextilhas e da seleção de poetas..
Destaco os versos de poeta e repentista Rubens do Vale:
“A saudade é um espinho
Comprido de ponta fina
Até o tempo que passa
Com saudade nos ensina
Que a rotação da saudade
Começa, mas não termina”.
Desejo a você, uma semana com muita Saúde e Paz!
Violante,
Grato por seu excelente comentário. A saudade nos encanta porque funciona como uma máquina do tempo. Ela nos leva ao encontro de pessoas, mesmo que não possamos mais revê-las, nos transporta a lugares e épocas distantes.
A saudade é uma ponte entre o presente e o passado. Acontecimentos marcantes, alegrias intensas, fases e idades anteriores, tudo isso possui magia e poesia observadas dessa ponte. O tempo e a distância evidenciam o valor das coisas mais simples.
O importante é não ser prisioneiro dess sentimento. Viver intensamente o presente. Deixar que a saudade seja uma cena de filme em que você é o protagonista. Um filme que ainda lhe reserva as melhores cenas da história. A saudade não deve lhe aprisionar ao que já passou. A vida continua valendo a pena e ainda vai lhe oferecer muitas oportunidades de sentir novas e melhores saudades a cada instante.
Compartilho uma sextilha do poeta e repentista Rubens do Valle com a prezada amiga:
Quando estou com saudade
Não durmo quando me deito
Tem dias que a saudade
Vem visitar o meu peito
Sentir saudade é virtude
Não sentir é um defeito
Uma semana plena de paz, saúde e harmonia
Aristeu
Obrigada, Aristeu. por compartilhar comigo esta bela sextilha do poeta e repentista Rubens do Vale! Adorei!.
Realmente, a saudade é um elo entre o presente e o passado, que nos traz à tona lembranças vivas de pessoas queridas que já não se encontram entre nós, e de momentos felizes e inesquecíveis!.
Uma semana plena de paz e harmonia para você também!
Messias,
Agradeço seu admirável comentário a respeito de uma seleção de estrofes sobre a saudade elaborados por grandes repentistas nordestinos. Fico feliz quando o meu artigo desperta o interesse de quem aprecia os versos puros desses geniais poetas do magnífico mundo do repente.
Compartilho uma sextilha do poeta e repentista Rubens do Valle com o prezado amigo:
Eu tenho muita saudade
Do meu tempo de criança
No mar das águas passadas
O meu espírito se lança
Na rede do pensamento
Minha alma se balança.
Saudações fraternas,
Aristeu
O vocábulo saudade vem do latim solitas, que significa solidão. Sofreu variações para soidade, soedade ou suidade até chegar à forma como o conhecemos. Já foi considerado, algum tempo atrás, a sétima palavra mais difícil de se traduzir, mas exprime um sentimento universal. A sextilha do poeta e repentista Rogério Menezes descreve com simplicidade esse sentimento atemporal e sempre presente na poesia popular e erudita: A saudade varonil/Bastante eu tenho sentido,/Mas acho que a saudade/É um troço parecido/Com garrancho que só bate/No canto que está ferido.
Vitorino,
É graticante receber seu ótimo comentário. Agradeço sua informação sobre a etiologaia da palavra saudade. No Jornal da Besta Fubana, aprendemos uns com os outros sempre. O seu texto ilustra e complementa meu artigo. Aproveito a oportundiade para compartilhar uma sextilha do poeta e repentista Rogério Menezes com o prezado amigo:
Saudade não causa tédio
E nem conheço seus perfis
Mas no coração da gente
Fica como cicatriz
Só tem saudade da vida
Quem um dia foi feliz.
Saudações fraternas,
Aristeu
O artigo está muito bom. Saudade é a vontade de ver de novo, como um amigo sempre me diz quando conversamos sobre o tema. Existe uma tendência humana de repetir vivências prazerosas. Quando isso acontece, reativamos experiências infantis muito primitivas de completude, satisfação e felicidade. As cinco sextilhas são fantásticas, mas a do poeta Ivanildo Vila Nova me chamou atenção: Quem tem saudade não diz,/Mas o semblante revela/Aonde vai planta tristeza/E onde foi deixou sequela/Ninguém faz medicamento/Que tire os defeitos dela.
Edmilson
Muito obrigado pelo importante comentário. Concordo com suas observaçõe a respeito desse sentimento cantado em verso e prosa. Acredito que aceitar a transitoriedade da vida é o segredo para sentir uma saudade boa, aquela que por um instante causa palpitação, uma sensação de vácuo nos fazendo suspirar e entrar em transe, mas que quando passa nos deixa com um sorriso no rosto.
Há um lado nefasto da saudade que se aproxima da melancolia. Ela é vivida como algo dilacerante, que desestabiliza e consome a pessoa por inteiro. É um sofrimento quase insuportável. É preciso fazer um trabalho de luto para que ela fique mais leve entendendo que a vida se transforma a cada momento.
Compartilho uma sextilha do poeta e repentista Ivanildo Vila Nova com o prezado amigo:
A saudade quando vem
Corta igual a esmeril
Tem na língua portuguesa
Nem tem acento nem til
Se espalhou por todo mundo,
Porém nasceu no Brasil.
Saudações fraternas,
Aristeu