Saudade não causa tédio
E nem conheço seus perfis
Mas no coração da gente
Fica como cicatriz
Só tem saudade da vida
Quem um dia foi feliz.
Rogério Menezes
A saudade que ocorreu
Me deixando insatisfeito
É dor que não tem remédio
Doença que não tem jeito
E eu não sei onde ela mora
Se é na cabeça ou no peito.
Raulino Silva
Emoções podem ser tristes
Ou trazer felicidades.
Um lado acumula dores;
Outro, risos e vontades.
Um lado bate sorrindo
E outro sentindo saudades.
Rubens do Valle
Saudade depois de morta
Inda nasce eu dou a prova,
Quem duvidar plante e faça
Um fogo em cima da cova
E com três dias vá vê
Se a saudade não renova.
Antônio Pereira (1891-1982)
A casa que morei nela,
Que fui feliz com meus pais,
Só resta teias de aranha,
Cupim roendo os frechais,
É um poema de angústias,
De saudades, nada mais.
Sebastião da Silva
Parabéns pela excelente postagem, prezado Aristeu!
Seu texto, “A SAUDADE NOS VERSOS DOS REPENTISTAS”, é um presente para os leitores. As glosas são lindas e a seleção de repentistas, da melhor qualidade.
Destaco esta:
“Emoções podem ser tristes
Ou trazer felicidades.
Um lado acumula dores;
Outro, risos e vontades.
Um lado bate sorrindo
E outro sentindo saudades.
Rubens do Valle”
Violante,
Grato por suas generosas palavras que incentivam a garimpar as pérolas da poesia popular e do repente. A saudade é um sentimento mesclado, pois podemos nos sentir nostálgicos e relembrar uma boa época com carinho, mas também um vivenciar um vazio melancólico por conta do que ficou no passado. A sensação pode impedir a nossa adaptação ao que temos no presente porque a dor do que ficou para trás transborda em nossa rotina.
A saudade pode ser provocada por diversos fatores, como a partida de alguém que amamos ou um ciclo que chega ao fim. Entretanto, é necessário entender que a motivação da falta e a forma em que ela se reverbera dentro de nós são questões diferentes. Acredito que a maneira mais amenae e mais saudável de lidar com a saudade é através da poesia. Aproveito a ocasião para compartilhar um poema de Clarice Lispector (1920-1977) sobre o assunto com a prezada amiga:
SENTIMENTO URGENTE
Saudade é um pouco como fome
Só passa quando se come a presença
Mas, às vezes, a saudade é tão profunda que a presença é pouco
Quer-se absorver a outra pessoa toda
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira
É um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
Desejo uma semana plena de paz, saúde e alegria
Aristeu
Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo este belo poema de Clarice Lispector, sobre a saudade, “SENTIMENTO URGENTE”. Gostei imensamente!
Uma ótima semana! Muita Saúde e Paz!
Vitorino,
Saudade é um tema constante na arte do repente. A seleção desse versos é o de melhor que temos sobre o assunto. Se eu fosse votar, a minha preferida seria a sexrilha de Antõnio Pereira:Saudade depois de morta/Inda nasce eu dou a prova/Quem duvidar plante e faça/Um fogo em cima da cova/E com três dias vá vê/Se a saudade não renova.
Vitorino,
Muito obrigado por seu excelente comentário. Aproveito a oportunidade para falar um pouco sobre Antônio Pereira (1891-1982). Conhecido como o poeta da saudade, Antônio Pereira nasceu a 13 de novembro de 1891, no sítio Jatobá, hoje município de Itapetim, onde viveu até a morte, a 07 de novembro de 1982. Violeiro e poeta popular, ele mal assinava o nome e nunca fez da arte a sua profissão, tendo sobrevivido como modesto agricultor.
Antônio Pereira participava de jornadas de improviso apenas com os amigos e os seus versos sobreviveram ao tempo porque eram repassados oralmente pelos seus entusiastas que os decoravam. Em 1980, com a ajuda de amigos, publicou seu único folheto, “Minhas Saudades”, uma coletânea de sua poesia.
Compartilho uma sextilha das mais conhecidas Antônio Pereira (1891-1982) com o prezado amigo
Saudade é um parafuso
Que na rosca quando cai,
Só entra se for torcendo,
Porque batendo num vai
E enferrujando dentro
Nem distorcendo num sai.
Saudações fraternas,
Aristeu
;Uma seleção muito boa de versos sobre saudade. Fique admirada com a sextilha de Raulino Silva:A saudade que ocorreu/Me deixando insatisfeito/É dor que não tem remédio/Doença que não tem jeito/E eu não sei onde ela mora/Se é na cabeça ou no peito.
Neide,
Grato por seu valioso comentário. Admiro os versos dos repentista por serem simples, objetivos e com metáforas bem colocadas. Poderíamos comparar as estrofes dos poetas do repente como pérolas puras que no futuro serão lapidadas por outras gerações de trovadores. É interessante como a vida é dinâmica, pois muda-se a forma de cantar, mas o lirismo do cantador de viola permanece cativando o seu público tanto nas cidade do interior quanto nas capitais.
Aproveito esse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para compartilhar uma sextilha do talentoso poeta e repentista João Paraibano (1952 – 2014):
Guardo um baú de saudade
No cofre do coração
O cabelo mais parece
Um capucho de algodão
Que o vento arrancou do galho
Fez um tapete no chão.
Saudações fraternas,
Aristeu