ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

Quando a saudade cutuca
Meu peito devagarinho
Eu fico numa sinuca
Mas procuro teu carinho
Depois te deixo voar
Pois não prendo passarinho.

Dalinha Catunda

Saudade tem de dois jeitos:
Uma nasce, a outra não.
Uma se cria na terra
E a outra no coração;
A da terra não maltrata
E a outra maltrata e mata;
Conforme a dor da paixão.

Leonardo Bastião

Saudade é um sentimento
Que dói no fundo da alma,
Mas é chegado o momento
Que a dor terrível se acalma
Se ameniza o sofrimento,
Voltanto o amor, se espalma.

Walmar Coelho

Machuca velho e menino
Sem dó e sem piedade
Assassina impiedosa
Com traços de crueldade
Triste de quem nesta vida
Carrega essa ferida
Denominada saudade.

Tiago Monteiro

A saudade é mais antiga
Que a invenção da roda
Ao mesmo tempo é moderna
Porque nunca sai de moda
Saudade é bicho danado
Não mata, mas incomoda.

Iponax Vila Nova

10 pensou em “A SAUDADE NOS VERSOS DOS POETAS POPULARES

  1. Parabéns, prezado Aristeu, pela excelente postagem, “A SAUDADE NOS VERSOS DOS POETAS.POPULARES”.

    Todas as glosas são lindas e os poetas, excelentes.

    Destaco:

    Quando a saudade cutuca
    Meu peito devagarinho
    Eu fico numa sinuca
    Mas procuro teu carinho
    Depois te deixo voar
    Pois não prendo passarinho.

    Dalinha Catunda

    Uma ótima semana, com muita saúde e paz!

    • Violante,

      Grato pelo excelente comentário destacando a talentososa cordelista Dalinha Catunda. A saudade é um sentimento misto, pois podemos nos sentir nostálgicos e relembrar uma boa época com carinho, mas também um vazio melancólico por conta do que ficou no passado. A sensação pode impedir a nossa adaptação ao que temos no presente, pois a dor do que ficou para trás transborda em nossa rotina. Compartilho um poema com o tema saudade de Clarice Lispector com a prezada amiga:

      SENTIMENTO URGENTE

      Saudade é um pouco como fome
      Só passa quando se come
      a presença
      Mas, às vezes, a saudade é tão
      profunda que a presença é pouco
      Quer-se absorver a outra pessoa
      toda
      Essa vontade de um ser o outro
      para uma unificação inteira
      É um dos sentimentos mais
      urgentes que se tem na vida.

      Uma semana plena de paz, saúde e alegria

      Aristeu

      • Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo esse belo poema, da grande poetisa Clarice Lispector, sobre a saudade.
        Adorei!

        Uma semana plena de paz, saúde e alegria, para você também.

        Violante

  2. Saudade é um sentimento causado pela distância ou ausência de algo ou alguém. Tem origem no latim, com o significado de solidão. É uma palavra que não tem tradução literal em muitas línguas. Saudade é uma das palavras mais utilizadas nas poesias de amor, nas músicas românticas da língua portuguesa. Um dos temas mais cultivado pelos poetas populares e repentista é a saudade.Você foi muito feliz na coletânea de estrofes sobre esse tema. A minha preferida é a de autoria de Leonardo Bastião: Saudade tem de dois jeitos:/Uma nasce, a outra não./Uma se cria na terra/E a outra no coração;A da terra não maltrata/E a outra maltrata e mata;Conforme a dor da paixão.

    • Vitorino,

      Muito obrigado pelo comentário com observações que complementam brilhantemente a minha seleção de estrofes sobre a saudade nos versos dos poetas populares. Valeu! Retribuo a gentileza enviando uma sextilha de Antonio Pereira (1891 – 1982), o poeta da saudade, para o prezado amigo:

      Eu só comparo a saudade
      Com o enxerto da aroeira
      Que ela nasce e se cria
      Enxertada na madeira
      Que é rosa, mas ninguém sabe
      Quem é a mãe da roseira.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

    • Vitorino,

      É gratificante receber seu formidável comentário. No Jornal da Besta Fubana, a gente aprende uns com os outros. O seu texto ilustrou o meu artigo adicionando informações importantes de forma simples, objetiva e verdadeira. Envio um dos poemas sobre a saudade de Carlos Drummond de Andrade para o prezado amigo

      AUSÊNCIA

      Por muito tempo achei que a ausência é falta.
      E lastimava, ignorante, a falta.
      Hoje não a lastimo.
      Não há falta na ausência.
      A ausência é um estar em mim.
      E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
      que rio e danço e invento exclamações alegres,
      porque a ausência assimilada,
      ninguém a rouba mais de mim.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  3. O seu artigo me fez provocou uma análise sobre a saudade quando não se é correspondido. Sentir saudades de alguém que nem pensa em nossa pessoa é falta de regulação emocional. Nós estamos consciente de que é um erro; deixar nossos pensamentos e desejos ‘irem e voltarem’ para aquela pseuda- amada traçando um labirinto de sofrimento inútil. Desculpe o desabafo, mas já estou me sentindo melhor.

  4. Prezado Aristeu.
    deixo versos de Fernando Pessoa para teus leitores e pra vc. Neste momento de pouco convivio social a saudade com certeza pega a gente.

    Uns Versos Quaisquer

    Vive um momento com saudade dele
    Já ao vivê-lo . . .
    Barcas vazias, sempre nos impele
    Como a um solto cabelo
    Um vento para longe, e não sabemos,
    Ao viver, que sentimos ou queremos . . .

    Demo-nos pois a consciência disto
    Como de um lago
    Posto em paisagens de torpor mortiço
    Sob um céu ermo e vago,
    E que nossa consciência de nós seja
    Uma cousa que nada já deseja . . .

    Assim idênticos à hora toda
    Em seu pleno sabor,
    Nossa vida será nossa anteboda:
    Não nós, mas uma cor,
    Um perfume, um meneio de arvoredo,
    E a morte não virá nem tarde ou cedo . . .

    Porque o que importa é que já nada importe . . .
    Nada nos vale
    Que se debruce sobre nós a Sorte,
    Ou, tênue e longe, cale
    Seus gestos . . .
    Tudo é o mesmo . . .
    Eis o momento . . .
    Sejamo-lo . . .
    Pra quê o pensamento?

    Fernando Pessoa.
    Grata.
    Carmen.

  5. Carmen,

    Agradeço o seu magnífico comentário. Fernando António Nogueira Pessoa, mais conhecido como Fernando Pessoa (1888 – 1935), foi um poeta, filósofo e escritor português. Ele é considerado o mais universal poeta português. Possui uma vasta produção literária, ainda que tenha publicado somente 4 obras em vida. Escreveu poesia e prosa em português, inglês e francês, além de ter trabalhado com traduções e críticas. Sua poesia é repleta de lirismo e subjetividade, voltada para a metalinguagem.
    Gosto de poesia e aproveito a oportundidade para compartilhar um poema do meu baú de versos com a prezada amiga:

    COMO SERÁ O SEU AMANHÃ?

    Você poderá sorrir, amanhã. Se souber enfrentar as adversidades da vida, hoje.

    Você poderá ter uma paz duradoura, amanhã. Se dividir sua paz temporária, hoje.

    Você poderá combater, efetivamente, o orgulho e o egoísmo, amanhã. Se você dividir com o próximo como foi o início da luta contra esses nossos inimigos, hoje.

    Você poderá conquistar a definitiva humildade, amanhã. Se você ensinar as pessoas como se começa a ser simples, hoje.

    Você poderá ensinar a solidariedade, amanhã. Se você mostrar como se deve estender à mão ao excluído socialmente, hoje.

    Você poderá ser feliz, amanhã. Se você exercitar o auto-amor, hoje.

    Você poderá amar, amanhã. Se houver o conhecimento de que o amor está em quem dá, e não em quem recebe.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

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