ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

Pra cantador de viola
Ser bom tem que ter talento,
Um carisma acentuado,
Um vasto conhecimento
E aprender a criar imagens
No altar do pensamento.

Raimundo Caetano

Tenho enorme inteligência
Poeta não me dá vaia
Sou vento rumorejando
Nos coqueiros de uma praia
Sou mesmo, que Rui Barbosa
Na conferência de Haia.

Joaquim Vitorino

Nessa vida atribulada
O camponês se flagela
Chega a casa meia noite
Tira a tampa da panela
Vê o poema da fome
Escrito no fundo dela.

Manoel Xudu (1932-1985)

O meu verso vai cortando
O sertão abrasador;
E chega à mesma hora
Que o caboclo agricultor,
Abre a camisa e se abana
Para esfriar o calor.

Moacir Laurentino

A vida e a poesia
São como pomar e flor
Como riso e como pranto
Como frio e o calor
E dessa química perfeita
Nasce o fruto do amor.

Rubens do Valle

11 pensou em “A POESIA NOS VERSOS DOS REPENTISTAS

  1. Uma excelente seleção de estrofes sobre a poesia. Se eu fosse eleger a melhor sextilha, teria .dificuldades, entretanto me sensibilizou os versos de Manoel Xudu (1932-1985): Nessa vida atribulada/O camponês se flagela/Chega a casa meia noite/Tira a tampa da panela/Vê o poema da fome/Escrito no fundo dela.

    • O grande poeta Manoel Xudu Sobrinho, Manoel Xudu, ou, simplesmente, Xudu, nasceu no município de Pilar, no Estado da Paraíba, em 15 de março de 1932 e faleceu em 1985, em Salgado de São Félix, onde residia.
      Manoel Xudu foi um homem simples, generoso, cavalheiro, incapaz de um ato grosseiro, mesmo nas horas em que sua tranqüilidade corresse o risco de ser ameaçada. Aproveito esse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para contar um episódio poético desse genial repentista.

      Certa vez, Xudu estava doente em um hospital sem poder receber visita, e uma enfermeira para quebrar aquele clima, trouxe um pires de doce. Aí ele abriu os olhos e disse:

      No leito do hospital
      Quando doente eu estava
      A enfermeira trazia um pires
      De doce e me dava
      Só era doce no pires
      Na minha boca amargava.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  2. Poesia é uma manifestação de beleza e estética retratada pelo poeta em forma de palavras. No sentido figurado, poesia é tudo aquilo que comove, que sensibiliza e desperta sentimentos. Esta coletânea de sextilhas sobre poesia está excelente. Gostei da simplicidade da estrofe de Rubens do Valle: A vida e a poesia/São como pomar e flor/Como riso e como pranto/Como frio e o calor/
    E dessa química perfeita/Nasce o fruto do amor.

  3. Messias,

    Grato por seu comentário com uma definição adequada de poesia. Aproveito o ensejo para fazer uma brevíssima observação sobre a origem da poesia. Ela é uma das artes de escrita mais antigas do mundo. Por isso, há registros de poemas em hieróglifos egípcios 25 séculos antes de Cristo. Ou seja, desde os primórdios de culturas que já tinham seu método de escrita se interessavam pela beleza das palavras.
    Compartilho nesse espaço democrático do JBF uma estrofe do poeta e repentista Rubens do Valle com o prezado amigo:

    Já recebi muitos nãos
    Sem perder minha alegria
    Sem ser covarde, enfrentei
    A fúria da covardia
    O mundo até fechou portas
    Menos a da poesia.

    Saudações fraternas,

    ;Aristeu

  4. Tive uma surpresa agradável de ler estrofes bonitas sobre a poesia. A poesia como forma de expressão artística pode ser considerada anterior à escrita, porque era mais fácil guardar o conhecimento através de palavras repetíveis. Seus primeiros registros foram encontrados em monólitos, pedras rúnicas das primeiras culturas letradas.
    Quero deixar registrada a sextilha de Raimuno caetano pelos seus bonitos versos: Pra cantador de viola/Ser bom tem que ter talento,/Um carisma acentuado,/Um vasto conhecimento/E aprender a criar imagens/No altar do pensamento.

  5. Parabéns, prezado Aristeu, pela excelente postagem, “A POESIA NOS VERSOS DOS REPENTISTAS”!
    Poesia é um gênero literário, marcado pela composição em versos, escritos de forma harmoniosa e . quase sempre lírica. É uma manifestação de beleza e estética retratada pelo poeta em forma de palavras..
    Gostei muito da sua seleção de poetas e sextilhas.

    Destaco::

    “Nessa vida atribulada
    O camponês se flagela
    Chega a casa meia noite
    Tira a tampa da panela
    Vê o poema da fome
    Escrito no fundo dela.

    Manoel Xudu (1932-1985)”

    Uma ótima semana, com muita saúde e Paz!,

    • Violante,

      Grato por seu formidável comentário com uma explicação didática sobre a poesia. Sempre aprendo com seus textos inteligentes e bem elaborados. Aproveito para fazer um brevíssimo comentário sobre este assunto – poesia – que é motivo de muita pesquisa. A poesia é dividida em versos que, agrupados, são chamados estrofes. As origens literárias da poesia apontam que ela nasceu para ser cantada, por isso a preocupação com a estética, a métrica e a rima.

      A poesia é um texto onde o autor expressa diretamente sentimentos e visões pessoais. A voz que se manifesta na poesia, ou seja, o sujeito poético e fictício criado pelo escritor é chamado de eu lírico.

      Compartilho nesse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana um episódio poético do poeta e repentista Manoel Xudu (1932 – 1985) com a prezada amiga.

      Certa vez, Xudu estava cantando e um camarada, meio bêbado, oferecia-lhe cerveja e insistia: “Olha a cerveja, Manoel ! Toma a cerveja!…” Manoel Xudu desabafou com os seguintes versos;

      Deixe de sua imprudência
      Deixe eu findar a peleja
      Como é que eu posso cantar
      Tocar e tomar cerveja
      Cachorro é que tem três gostos
      Que corre, late e fareja,

      Desejo uma semana plena de paz, saúde e felicidade

      Aristeu

      • Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo estes versos inteligentes e oportunos de Manoel Xudu! Adorei!!!

        Desejo a você também, uma semana plena de paz, saúde e felicidade!

  6. Vitorino,

    É gratificante receber seu excelente comentário. Gostei demais da conta de sua observação sobre a explicação da criação da poesia. Aqui, no Jornal da Besta Fubana, aprendemos uns com os outros sempre. Retribuo seu gentil texto com uma estrofe do poeta popular Dom Edmilson da Cruz
    com o prezado amigo:

    Poesia é voo da alma
    Nas asas da inspiração,
    Por isso não há poeta
    Mofando na escravidão;
    Se foi poeta escravo,
    Foi livre no coração.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

  7. Aristeu,
    Como tudo na vida até o poeta sabe que a vida é uma mistura de rimas e sentimentos.
    Escolhi;
    A vida e a poesia
    São como pomar e flor
    Como riso e como pranto
    Como frio e o calor
    E dessa química perfeita
    Nasce o fruto do amor.

    Rubens do Valle
    Parabéns.
    Fraterna Gratidão.
    Carmen.

  8. Carmen,

    Agradeço o seu primoroso comentário. O que importa não é o sentido da vida de um modo geral, mas sim o sentido específico da vida de uma pessoa, em determinado momento de sua existência. Cada um tem sua vocação, sua missão pessoal, para a qual precisa executar tarefas específicas. Há um poema de Carlos Drummond de Andrade que me veio a lembrança quando do seu excelente comentário. O poema não tem uma ligação direta com o assunto, entretanto a energia que emana dos versos nos ensina sobre o viver em um mundo tão grande. Compartilho-o com a prezada amiga:

    O MUNDO É GRANDE

    O mundo é grande e cabe
    Nesta janela sobre o mar.
    O mar é grande e cabe
    Na cama e no colchão de amar.
    O amor é grande e cabe
    No breve espaço de beijar.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

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