VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

O Colégio Estadual da cidade havia sido recentemente restaurado e pintado, e o Diretor, muito austero e zeloso, estava radiante. Era o início do ano letivo e o colégio fazia gosto de ver. Os alunos do I e II Graus estavam felizes com a beleza do educandário.

Cumprindo ordem do Diretor, os inspetores de classe fizeram um apelo aos alunos, para que evitassem colocar as mãos sujas nas paredes do colégio, a fim de que a pintura não fosse danificada. Entretanto, logo na primeira semana de aula, o Diretor tomou conhecimento de que um dos banheiros masculinos havia sido pichado a carvão, com desenhos obscenos e palavrões.

O Diretor ficou revoltado e quis punir o culpado, pelo ato de vandalismo. Pela intensidade da pichação, estava claro que o autor contou com a cumplicidade de alguém. A letra de forma tornava difícil a identificação do autor.

O Diretor reuniu todos os alunos e ameaçou aplicar uma suspensão coletiva, caso o culpado não se apresentasse. Ao mesmo tempo, não achava isso justo, pois conhecia o comportamento de alguns alunos, e tinha certeza de que eles seriam incapazes de um ato desse tipo contra o Colégio. O fato é que os palavrões foram escritos com a mesma letra.

O Diretor não se cansava de analisar os palavrões escritos. Num dado momento, o mestre teve uma intuição. Sem medo de errar, identificou o culpado. Encontrou um detalhe nas palavras escritas, que clareou sua mente. Não tinha mais qualquer duvida! Estava claro que o autor da pichação era Orestes, um dos alunos conhecidos pela sua rebeldia dentro dos movimentos estudantis da época. Para quem não tivesse a experiência do Diretor, aparentemente, o culpado poderia ser qualquer outro aluno que pertencesse a esse grupo da rebeldia. Mas, havia um detalhe na forma de escrever, que chamou a sua atenção. E sua intuição não falhava. Jamais ele faria uma injustiça a alguém, especialmente a um aluno. O Diretor não tinha mais qualquer dúvida. Estava identificado o culpado.

O aluno Orestes Souza era fanho, e, por coincidência, entre os palavrões escritos nas paredes do banheiro, estava “BUNCETA”, reproduzindo exatamente a entonação da voz do fanho. E “BUNCETA” estava escrito diversas vezes, como se a palavra estivesse sendo pronunciada por um fanho. A argúcia do Diretor levou-o a deduzir que somente um fanho escreveria essa palavra assim.

Chamado à Diretoria, Orestes, o aluno fanho, em lágrimas, confessou que havia sido ele mesmo o autor da pichação.

Mesmo pedindo desculpas e mostrando-se arrependido, foi punido com três dias de suspensão.

24 pensou em “A PICHAÇÃO

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Violante, essa foi demais. Parece aquela dos três anões de uma cidade (os únicos) que elaboraram um plano meticuloso para assaltar o banco. Fizeram o roubo às 10h quando o banco abriu e duas horas depois foram presos em casa.

  2. Cara senhora Violante Pimentel.
    Seus contos são imperdíveis, cheios de humor e sagacidade.

    Sem querer encontrar chifre em cabeça de cavalo…
    Hipoteticamente, se essa situação ocorresse na época chamada “pátria educadora”.
    Será que todos os alunos seriam fanhos?

    Perdoe-me, pela brincadeira. Não pude evitar.
    Continue nos presenteando com seus escritos. Obrigado!

    • Obrigada pela gentileza do comentário, prezado Luiz Carlos.
      Se o caso do fanho tivesse ocorrido na época chamada “pátria educadora”. teriam surgido polêmicas. Mas, o fato do aluno ser fanho foi apenas um detalhe, que serviu de indício para a identificação do autor da pichação.

      Um abraço!.

  3. Esta vai se juntar àquela dos anais da câmara . Estou corado !. Lembrei de Orestes Quércia , brincadeira, é bom ler um texto que não fale de Trump , Bolsonaro , Supremo , para terminar a semana zen .

    • Obrigada pelo comentário, prezado Joaquimfrancisco!
      Rir faz bem à saúde. De fato, ninguém aguenta mais ouvir falar de Trump, Bolsonaro e Supremo ; ainda acrescento: Vacina e ´Corona Vírus. rsrs .

      Um fim de semana muito zen para nós todos!

  4. Já que a Violante, uma DAMA NA ACEPÇÃO DA PALAVRA, reslveu baixar o nível e partir para o palavrão, eis minha contribuição:
    Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico;
    Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose;
    Paraclorobenzilpirrolidinonetilbenzimidazol;
    Piperidinoetoxicarbometoxibenzofenona;
    Dimetilaminofenildimetilpirazolona; e
    Tetrabrometacresolsulfonoftaleína.

  5. Boa! Caro Sancho.
    Acho que você descobriu a vacina contra comunista, desculpa aí João Francisco, não quero acabar com seu “zenzismo”.

    Encher as redes sociais dos zisquerdóides, com essas palavras “elefantisticas”.
    Com certeza irá causar um curto circuito nos ticos e nos tecos dessa gente.
    Então, poderemos nos ver livres da seita diabólica.

  6. Violante: dez! Não. Dez é pouco, como também será pouco, 100. Então vai aí 1.000! Com certeza o fanho Orestes é hétero e gosta não apenas da palavra. Gosta da fruta! Será que ele “desenhou” a “BUNCETA”? Agora, imagina se fosse a da “Xolinha” e da forma que Berto posta! Affffmaria!
    Violante, tua postagem me fez lembrar um amigo, também fanho, que foi ao motel fazer sexo com a namorada, coincidentemente, também fanha. Coisas da vida. No auge do “ato”, ela desesperada, dizia para o namorado: “fonica, bem; fonica”! No que ele respondia: “tô fonicando, mô”! “Tô fonicando”! Mas ela, a também fanha, estava era reclamando que a cama estava cheia de “formigas”! Arre égua!

    • Obrigada pela nota máxima, querido Escritor José Ramos!

      As paredes de um dos banheiros masculinos do Colégio foram, totalmente, pichadas, com palavrões e desenhos, considerados “obscenos”. Onde estava escrito “BUNCETA”, ao lado havia o desenho da respectiva figura..

      A história do casal de fanhos no motel foi ótima! rsrs

      Arre égua! rsrs..

      Grande abraço!

  7. Violante,

    Só agora estou lendo o seu excelente texto. Depois de um dia resolvendo pendências sua crônica foi um prêmio. Ri bastante. Lembrei-me de um farmacêutico de Iguaraci, cujo filho fanho, foi ajudá-lo no dia de feira. Chegou outro fanho e perguntou por um remédio. Ele pensou que o feirante estava imitando-o e se atracou com o mesmo. Nisso chegou a turma do deixa pra lá e explicaram que o feirante não estava imitando ´- era fanho mesmo!

    Excelente final de semana com paz, saúde e alegria

    Aristeu

  8. Excelente crônica, Violante Pimentel.

    São crônicas hilárias assim que me deixam livre, leve e solto para esquecer as “covids e os coronavírus” da repórter “grobo lixo” Meiry Lanunce, do jornalisteiro funerário local.
    Pense num agouro!

    Lendo a história de Orestes Souza o tempo passa e agente não perceber.
    Parabéns, querida Dama das Crônicas do JBF.

    Ótimo final de semana a cronista e família.

    • Obrigada pelo generoso comentário, querido cronista Cícero Tavares!

      Cada vez que assisto aos noticiários da televisão, como diz o matuto, fico FRIINHA de medo. Só falam de Bolsonaro, os filhos de Bolsonaro, Trump, STF, Vacina chinesa e Corona Vírus. “A cantiga da perua é uma só…”kkkk …

      Sorrir faz bem à saúde física e mental. A maioria dos brasileiro já está com os nervos em pandarecos, diante de tanto terrorismo na TV.,
      Os textos hilários, como este e também como os seus, são verdadeiras terapias.

      Grande abraço, amigo! Muita Saúde e Paz!

      Suas crônicas são nota “DEZ!!!”

  9. Obrigada pelo gratificante comentário, prezado Aristeu!

    Esse caso foi verídico e ocorreu na década de 50/60, quando ainda não havia o exagerado e atual “politicamente correto”, onde expressões que no passado eram ditas com naturalidade, hoje podem ser consideradas preconceituosas.

    Achei hilário, o caso que você contou, do filho fanho de um farmacêutico, que, ajudando ao pai na farmácia, atendeu a um freguês, também fanho, tendo entrado em choque com ele, por pensar que estava sendo “arremedado”…rsrsrs

    Bom fim de semana, amigo! Muita Saúde e Paz!

    Violante

  10. Que delícia de texto, Vioante.

    A argúcia e a dedução do diretor. A burrice e ingenuidade de Orestes, que escrevia tal como pronunciava.

    foi pego, literalmente, pela BUNCETA.

  11. Obrigada pelo elogio, prezado Marcos André!

    O fanho entregou o jogo, ao escrever ” BUNCETA” (com “n”), anasalando a palavra, do jeito que ele falava. Perdeu-se na escrita, mas não se perdeu na ideia, kkkk.

    Foi logo identificado como autor da pichação, graças à perspicácia e argúcia do respeitável Diretor.

    Uma ótima semana!

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