Versejar falando em morte
Me entristece e me revolta.
Caminho aonde todos vão
Numa viagem sem volta,
E o cemitério é cadeia
Que prende a gente e não solta.
Geraldo Amâncio
É um dia de tristeza
Quando a mãe para o céu vai.
Os filhos se cobrem em prantos;
O caçula diz: ô pai,
Não vê, mamãe tá dormindo!
Abre o caixão que ela sai!
Sebastião Dias
A morte conduz consigo
Certos caprichos sem fim.
Tem levado tanto Abel,
Deixando tanto Caim.
Para quem é justiceira
Não devia ser assim.
Otacílio Batista (1923-2003)
Meu coração será húmus
Quando a terra o decompor
Sobre os meus restos mortais
Irá brotar uma flor,
Que o poeta mesmo morto
Serve de impulso pro amor.
Rafael Neto
Nós temos por certo a morte,
Mas ninguém deseja tê-la…
Quando morre uma criança,
O pai lamenta em perdê-la,
Mas Jesus, todo de branco,
Abre o céu pra recebê-la.
Diniz Vitorino (1940-2010)
A morte ainda é um dos maiores mistérios da vida. É inevitável nos questionarmos o porquê de termos que nos despedir de alguém que amamos, ou mesmo temer o nosso próprio fim. As estrofes selecionadas são muito bem elaboradas. Se eu fosse escolher a minha preferida, o meu voto seria na sextilha de Geraldo Amâncio; Versejar falando em morte/Me entristece e me revolta./
Caminho aonde todos vão/Numa viagem sem volta,/E o cemitério é cadeia/Que prende a gente e não solta.
Vitorino,
Muito obrigado por seu comentário excelente. O assunto é evitado por ser desagradável se pensar na finitude da existênica, entretanto o desconhecimento leva a temer a morte.De todas as certezas que pode ter o ser humano, a morte é sem dúvida uma delas. Quem nasce já está fadado à morte.
Mensageira estranha, por vezes, abraça antes os mais jovens e os mais sadios, deixando para trás idosos e doentes. Quem nasce já está fadado à morte.
É necessário considerar que nossa existência é muito efêmera. Hoje estamos aqui, amanhã poderemos não nos encontrar mais deste lado da vida. Ame muito e usufrua a companhia dos afetos. Quando um deles se for, poderá acalentar seus dias com as doces lembranças dos afagos compartilhados. E isso amenizará sua grande saudade.
Saudações fraternas,
Aristeu
A cada chamado da vida, o coração deve estar pronto para a despedida e para novo começo, com ânimo e sem lamúrias. Aberto sempre para novos compromissos. Dentro de cada começar mora um encanto que nos dá forças e nos ajuda a viver. Devemos ver a morte como um acontecimento normal da evolução. Chamou a minha atenção a estrofe do repentista Otacílio Batista pela beleza dos versos: A morte conduz consigo/Certos caprichos sem fim./Tem levado tanto Abel/Deixando tanto Caim./Para quem é justiceira/Não devia ser assim.
Messias,
Agradeço seu comentário com uma reflexão sobre a morte como um fato natural na caminhada da vida. A morte nos coloca diante da mais simples verdade, a única certeza absoluta que nem mesmo o cético mais obstinado pode duvidar. A dor que nos dilacera nestes momentos não cabe em palavras. Só nos resta senti-la, suportá-la e manifestá-la.
Aproveito esse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para compartilhar um poema de Fernando Pessoa (1888 – 1935) com o prezado amigo:
A MORTE CHEGA CEDO
A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.
Saudações fraternas,
Aristeu
Parabéns pela postagem oportuna, neste Dia de Finados, prezado Aristeu! O tema é triste, mas não se pode fugir à realidade. .
“A MORTE NOS VERSOS DOS REPENTISTAS” reuniu uma seleção de versos inteligentes, de importantes poetas populares, De todas as sextilhas, destaco a do poeta Geraldo Amâncio:
“Versejar falando em morte
Me entristece e me revolta.
Caminho aonde todos vão
Numa viagem sem volta,
E o cemitério é cadeia
Que prende a gente e não solta”.
Uma ótima semana! Muita Saúde e Paz!
Violante Pimentel Natal (RN)
Violante,
Grato por seu valioso comentário. A morte inspira temores e provoca angústias terríveis; diante desse quadro comovedor estamos todos nós porque ninguém fugirá a esse destino. Por mais que seja natural, perder um ente querido representa uma das maiores dores que um ser humano tem condições de suportar. Não se pode evitar a dor da perda, no entanto, podemos aprender a lidar com essas emoções dolorosas.
As dificuldades e as frustrações existem e vão existir sempre, porém é possível criar subsídios emocionais e afetivos suficientes para enfrentar as perdas através do autoconhecimento, canalizando o amor para si mesmo e para outras pessoas.
Compartilho um poema de Carlos Drummond de Andrade (1888 – 1935) com a prezada amiga:
Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
– mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Um início de semana pleno de paz, saúde e serenidade
Aristeu
Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo esse belo poema de Carlos Drummond de Andrade! Gostei demais!
Uma ótima semana!
Violante