ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

Tancredo Neves venceu o candidato Paulo Maluf no colégio eleitoral em 15 de janeiro de 1985. Assumiria o cargo de presidente da República em 15 de março, porém foi internado na véspera da posse.

Teve o diagnóstico de diverticulite. A doença se manifesta quando os divertículos – saliências gastrointestinais que retêm pequenas quantidades de fezes – se inflamam ou contraem infecções. O problema pode causar complicações no peritônio – membrana serosa que reveste a cavidade abdominal e, também, algumas vísceras.

O tratamento do mineiro Tancredo Neves teria sido adiado por questão política pela possibilidade da transição do regime militar para o civil vir a ser abortada. Vaidade e erros médicos contribuíram para sua morte após trinta e sete dias de dor, cirurgias e um sentimento de frustração. Coube a José Sarney, o vice-presidente, concluir a transição democrática, que completará 35 anos no dia 15 de março de 2020.

No admirável mundo do repente, a visão da morte do referido político assume uma conotação e vocabulário riquíssimo de termos regionais. Certa vez, durante um festival de de violas em João Pessoa/PB, uma dupla de repentistas foi sorteada para cantar sobre a vida e a morte de Tancredo Neves. Um deles com mais esclarecimento sobre o assunto, terminou uma sextilha com os versos:

A morte do presidente
O país todo sentiu.

A informação do seu colega de cantoria era muito pouca a respeito da doença que levou a óbito o famoso político mineiro. Seu conhecimento se restringia ao doutor Walter Pinnoti que cuidou do presidente. O repentista lançou a mão da maior criatividade possível dentro de suas limitações a propósito de um tema tão complicado:

Meia-noite, ele pediu
Um copo d’água a Pinote
Pinote deu-lhe um caneco
D’água barrenta do pote:
Bateu dentro, ele caiu
Ciscando como um caçote.

8 pensou em “A MORTE DE TANCREDO NEVES

  1. O artigo demonstra a criatividade do repentista que faz uma sextilha lembrando os versos de Zé Limeira, o poeta do absurdo. Faço uma observação de que houve suspeitas de que Tancredo sofrera um atentado. Essas desconfiança se multiplicavam nas mais variadas versões. Umas davam conta de que ele havia sido vítima de envenenamento e houve quem jurasse ter ouvido o som de um tiro nas imediações da Granja do Riacho Fundo, residência oficial do presidente eleito. Não acredito nessas versões duvidosas, pois a verdade foi o receio da transição democrática não se efetivar.

  2. Vitorino,

    Grato por seu comentário com uma observação pertinente sobre a morte de Tancredo Neves. Concordo com seu argumento de que não existiu nenhum atentado. O mal que acometera Tancredo e abatera o país não foi súbito. Tampouco inevitável. “Desde junho do ano anterior, pouco antes de afastar-se do governo de Minas para se dedicar à campanha presidencial, Tancredo vinha sentindo mal-estares e fortes dores na barriga”, disse Aécio Neves, neto de Tancredo e um dos que acompanharam de perto toda a doença do avô.
    Aproveito que você falou em Orlando Tejo para compartilhar uma estrofe do universo surreal de Zé Limeira, o poeta do absurdo:

    Napoleão era um
    Bom capitão de navio
    Sofria de tosse braba
    No tempo que era sadio,
    Foi poeta e demagogo
    Numa coivara de fogo
    Morreu tremendo de frio.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

  3. Parabéns pela perfeição do texto sobre Tancredo Neves, presidente da República eleito pelo colégio eleitoral, em 19.de janeiro de 1985, que não chegou a tomar posse. Foi uma ocorrência duvidosa, que chocou o Brasil.

    Merece aplausos, a criatividade hilária dos dois repentistas de João Pessoa (PB), convidados a participar de um festival de viola, e sorteados com o tema “a vida e a morte de Tancredo Neves”. .

    Um abraço e uma ótima semana!

    Violante Pimentel

    • Violante,

      Agradeço seu valioso comentário que corresponde a energia de alta qualidade para reabastecer o ânimo desse meu esforçado trabalho de pesquisar o admirável universo da cultura popular.
      Eu não esqueço, nessa fase de transição democrática, a música Coração de Estudante, composta por Wagner Tiso originalmente para homenagear outro mineiro, Teotônio Vilela. Ficou famosa na voz de Milton Nascimento, tornou-se uma espécie de hino patriótico em louvor a Tancredo. E tocava a todo instante no rádio e na tevê e era cantada e assobiada por milhares de brasileiros.
      Quanto a ocorrência duvidosa da morte de Tancredo Neves, ficará sempre no imaginário popular devido a contribuição provocada pela vaidade e os erros médicos. Um dia talvez a verdade venha a ser conhecida confirmando ou não a fatalidade do grande político mineiro.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  4. Lembro perfeitamente dessa data, foi a convocação do meu primeiro emprego.
    Como o tempo passa rápido, se não fosse a reforma já iria me aposentar em março.
    Voltei para um passado muito bom, mas toda época é boa, o importante é a fé e saúde.

    • Marcos Ribeiro,

      Você comentou comigo a sincronicidade do seu primeiro emprego no dia do falecimento de Tancredo Neves. A sua competência profissional é conhecida por todos na Alfândega do Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes – Gilberto Freire, então, estamos todos torcendo para o seu novo trabalho após a aposentadoria.
      Aproveito esse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para compartilhar uma septilha que fiz, em Brasília, por ocasião do recebimento do prêmio conquistado pelo meu poema no concurso realizado pela Receita Federal do Brasil:

      Agradeço a Receita
      Pela oportunidade
      Dizer versos rimados
      Com criatividade
      Vai chover poesia
      Irrigar com alegria
      O solo da cidade!

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  5. Prezado Aristeu Bezerra:

    Esse episódio duvidoso, que, como num jogo de xadrez, deu “cheque-mate” em Tancredo Neves, abrindo caminho para o Vice-Presidente José Sarney se tornar o Presidente da República, provocou uma das maiores comoções nacionais.
    Nessa história, cercada por controvérsias e dissimulações, correu ainda a suspeita de que Tancredo Neves não teria morrido em 21 de abril, e sim, um dia antes, na noite de 20 de abril, quando seu cérebro deixou de funcionar. O anúncio da morte teria sido adiado, propositalmente, para o dia 21 de abril, para aproximar as figuras históricas de Tancredo Neves e Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (Morto em 21 de abril de 1792 – Rio de Janeiro), dois mártires que Minas deu à história do Brasil.

    Um grande abraço, amigo!

  6. Violante,

    Muito obrigado por complementar o meu artigo com relevante informação. Concordo que existe historiadores que defendem a teoria que Tancredo Neves morreu no dia 20 de abril. Acrescento que dois anos depois do ocorrido, tal versão seria sustentada em uma reportagem da Veja, amparada por uma declaração de um dos médicos que teria acompanhado o estado clínico de Tancredo até o fim. Indagado a respeito, 20 anos depois, José Sarney balança a cabeça, negativamente: “Esta é uma daquelas histórias que nunca ninguém jamais conseguirá confirmar”.

    Saudações fraternas do amigo de sempre,

    Aristeu

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