Assum Preto é um clássico da música nordestina, de autoria da dupla Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Uma linda poesia que foi eternizada na voz de Gonzagão.
A letra conta a triste história do Assum Preto, um pássaro cujos olhos são maldosamente cegados pra que ele cante melhor.
O bichinho vive solto no terreiro, trinando, mas não pode voar porque não consegue enxergar.
Esta música termina com um verso que diz assim:
Assum preto meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaram o meu amor
Que era a luz
Dos olhos meus
O autor diz que sofre tanto quanto o passarinho e que vive triste porque que “também roubaram” o seu amor.
Escutem a música e depois a gente continua a conversa:
Conversando com meu amigo e conterrâneo Rubão, grande botador de chifres em Palmares, especialista em histórias de cornos e de galhas (ou “gaia”, como a gente costuma dizer aqui no nordeste), cheguei à conclusão de que este “amor” citado na letra da música Assum Preto não foi “roubado”.
Este amor botou gaia no corno e fugiu com o Urso.
Urso é a denominação nordestina do sujeito que come a traidora, a botadeira de gaias no seu macho.
Esta música é apenas uma dentre as centenas que, direta ou indiretamente, falam de gaias, de cornos e de traições.
Outra linda música cornífera é a canção intitulada João de Barros, cantada por Sérgio Reis, cuja letra fala na traição da parceira do passarinho João de Barros, aquele pássaro que constrói o seu ninho como se um pedreiro fosse.
A certa altura da música temos este verso:
Mas quando ele
Ia em buscar de um raminho
Para construir seu ninho
Seu amor lhe enganava
Ou seja, João de Barros levava gaia de sua passarinha enquanto ele estava ocupado construindo o ninho do casal.
E o pássaro traído se vinga trancando a gaiaeira pra sempre na casa de barro que estava montando pros dois.
E, na sequência da música, o autor diz que houve “semelhança entre o nosso fadário“, ou seja, houve semelhança entre a gaia que levou o João de Barros e a gaia que levou o autor da letra.
A música está logo a seguir.
Estes são apenas dois exemplos.
O espaço deste blog escroto está aberto pros nossos leitores indicarem ou enviarem pra cá mais músicas de chifres, de cornos e de gaieiras, que não são poucos na nossa música popular.
Todas serão publicadas.
Mãos aos chifres!
Quer dizer, mãos à obra!