JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Tito Madi lançou “Chove lá fora”

Hoje vou mais uma vez pedir permissão ao “dono da especialidade na casa”, Peninha, para relembrar um pouco da minha juventude em Fortaleza, dos bons tempos e idas e vindas entre um namoro e outro. Romântico por excelência, fiz várias coleções de LPs e Compacts que escutava na “radiola” nos fins das tardes de sábados.

Muitos passaram a chamar aqueles tempos de “tempos da fossa” que, com músicas, letras e cantores diferentes dos atuais, se propunham a falar de amor de uma forma tão poética quanto bela.

Tito Madi, Nora Ney e Agostinho dos Santos tinham minha preferência. Acurada ou não, mas a preferência era minha.

Depois, com a afirmação da novidade e a consagração de alguns no movimento que nascia, como João Gilberto, Edu Lobo, Pery Ribeiro e tantos outros nomes que agora me fogem da memória, o momento pós-consagração foi elevado ao auge e incluído entre os melhores da “música para ouvir”.

Vamos ouvir e relembrar?

Chove Lá Fora

A noite está tão fria
Chove lá fora
E essa saudade enjoada
Não vai embora
Quisera compreender
Por que partiste
Quisera que soubesses
Como estou triste
E a chuva continua
Mais forte ainda
Só Deus sabe dizer
Como é infinda
A dor de não saber
Saber lá fora
Onde estás, como estás
Com quem estás agora.

A novidade “pegou” e tomou conta das paradas de sucessos e dos ainda poucos programas de televisão, com o de Aerton Perlingeiro, Flávio Cavalcanti, César de Alencar, Moacir Franco e Raul Gil.

Foi quando surgiram mais nomes famosos engrossando as fileiras do sucesso. Também entraram na onda a magnífica Nora Ney e o excelente Agostinho dos Santos que, mais tarde receberiam o reforço de João Gilberto, Edu Lôbo, Nana Caymmi e Nara Leão. Todos em tempos diferentes e com novas letras, mas nunca com menos sucesso.

Nora Ney – a linda e magnífica

A morte prematura de Agostinho dos Santos (que fizera sucesso anterior com a gravação de músicas como “A noite do meu bem”) num acidente aéreo no aeroporto de Orly, na França, ainda que nenhuma relação tivesse com a novidade momentânea, atingiu e feriu de morte, aumentando ainda mais o momento vivido pela “fossa” musical.

Agostinho dos Santos era um cantor ascendente e o sucesso se abria para ele como o sol, que se abre para todos, todas as manhãs. O fato arrefeceu a musicalidade brasileira que, de forma paulatina caminhou para a demorada recuperação – mais algo pessoal que conjuntural.

Nos anos seguintes, de livre e espontânea vontade, a mídia especializada trocou a “fossa” pela “bossa”, acrescentando a palavra “nova” – “bossa nova”.

Agostinho dos Santos

Conclusão inteiramente pessoal, entendo que, aquelas duas décadas – mais propriamente fins da década de 50, quase toda a década de 60 e parte da década de 70 – a musicalidade brasileira recebia, como se fora a vitamina intravenosa Citoneurin, o reforço caribenho em termos de ritmos. Foi fácil (e mais prático) entrar no Brasil via Belém, com o “carimbó” cantado por Eliana Pitman e Pinduca.

Aqui, esse ritmo e cultura caribenha encontraram resistência para a dominação, pois já eram consagrados o samba, o samba canção e os esfuziantes sambas enredos das escolas de samba no carnaval carioca.

Como se isso não bastasse, encontraram barreiras no sucessos ascendente da jovem guarda de Roberto Carlos, Wanderléa, Erasmo Carlos, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso e os consagrados Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Sílvio Caldas, Demônios da Garoa, Renato e seus blue caps, Zimbo Trio, Martinho da Vila, Trio Irakitan, sem contar o aparecimento consagrador de Elizete Cardoso, Elis Regina, e outros, reforçados pelas orquestras que nos arrastavam literalmente, para os bailes noturnos nos clubes sociais.

26 pensou em “A FOSSA, A BOSSA E A SOFRÊNCIA

  1. Lamentavelmente, o ambiente musical brasileiro da atualidade vive atolado na lama da mediocridade e do péssimo gosto (pelo menos para mim, mas não sou o dono da verdade), não só nos ritmos, nas letras mas até na interpretação das “músicas”. São safadões, calcinhas pretas, aviões, cantoras que tem mais peito e bunda que talento musical, outras que lembram aquelas figuras do Botero, exibindo plásticas que lembram suínos que passaram da hora do abate.

  2. Lobão escreveu sua música de maior sucesso inspirado (?) em Tito Madi:

    “Chove lá fora e aqui, faz tanto frio……

    Aonde está você?,……”

    Será que Lobão deu crédito ao Tito?

    • João: Kkkkkkkkkkkkkkk taí uma ótima pergunta. Conheço no Rio de Janeiro um local adequado para que isso seja descoberto: Ali num bar de esquina, na Praça Tiradentes, ao lado do Teatro João Caetano. Eles sabem de tudo!

      • Caro José, vai lá e se informa, porque eu vi o vídeo em que o Lobão e a Marina falam da música. Zero de menção ao Tito Madi.

        Quando em vi a letra logo acima me veio em seguida a música do Lobão. São demais parecidas.

      • Veja e compare: Ele (Lobão mudou o nome da música para “Me Chama”, porque “Chove lá fora” já tinha a do Tito

        Chove lá fora
        E aqui tá tanto frio
        Me dá vontade de saber

        Aonde está você?
        Me telefona
        Me chama! Me chama!
        Me chama!

        Nem sempre se vê
        Lágrima no escuro
        Lágrima no escuro
        Lágrima!

        Tá tudo cinza sem você
        Tá tão vazio
        E a noite fica
        Sem porquê

        Aonde está você?
        Me telefona
        Me chama! Me chama!
        Me chama

        Nem sempre se vê!
        Mágica no absurdo
        Mágica no absurdo
        Mágica!

  3. Esplêndido !. Faltava um texto como este !.
    Se eu fosse manezinho ( de Floripa mesmo ) , diria que arrombassi!, mataste a pau !, não mofas com a pomba na balaia !.
    Chaiki Maddi ,olha o nome dele , mas Tito Madi para música ficou melhor.
    Menina Moça ouvi a primeira vez durante o programa da Sarita Campos . Apesar de ser dedicada as coisas mais lindas que existem , ficou na minha memória pois ouvi no mesmo horário que uma flor liberava seu perfume . A música ouço até hoje , mas aquele perfume nunca mais senti . Minha mãe dizia que era uma uma flor chamada de Dama da Meia Noite , mas o programa era a tarde . Quanto a música caribenha , o “Bigode que Canta ” gravou muitas canções , mas gosto muito da canção :Total.
    Mas gostava do austríaco Falco , da alemã Manuela , do japonês Kiu Sakamoto ,do chinês Jackie Chan ( este ainda deve estar vivo ) , isto para falar apenas de alguns internacionais fora da imensa pá de artistas nacionais , que se o Peninha fosse mostrar todos , teria matéria para a eternidade deste jornal.

  4. Tive a grande sorte de conhecer e ouvir, pessoalmente, na excelente noite em São Paulo de outrora, nos bares maravilhosos que existiam Agostinho dos Santos e Dick Farney. Infelizmente, não conheci,pessoalmente, Tito Madi.
    Agostinho dos Santos cantou e bebeu comigo num bar do Bexiga, ele morava perto do bexiga, uns dois a três dias antes de embarcar naquele voo Varig RG-820, no trágico desastre aéreo nas imediações de Paris, em 1973. Que saudade dos bons tempos da noite paulista. E, principalmente, do Bexiga e dos grandes cantores daquela época.

  5. Seu Zé Ramos, nos que tivemos a felicidade de presenciar a época de ouro da musica popular do Brasil, do rádio, do cinema e do teatro, devemos agradecer a Deus por ter nos permitido viver a nossa mocidade em tempos maravilhosos e não, em dias de mediocridade total, como hoje. Um abraço, continue se cuidando ai em São Luiz.

    • Paulo obrigado. A gente foi feliz sim. E sabíamos disso! Tô me cuidando. Se depender de mim, serei mais um longevo.

  6. Caro José Ramos, você agora fez emergir de um belo passado musical o que há de melhor da MPB: Tito Madi, Nora Ney e o rei da voz, a bela voz de veludo, Agostinho dos Santos. Ouvir “Suave é a noite”, com Agostinho dos Santos é transcendental, parece que ele está cantando do céu. Parabéns, grande articulista fubânico. Abraços. Boaventura.

  7. Lindíssima postagem, querido colunista José Ramos!

    A FOSSA, A BOSSA E A SOFRÊNCIA sempre fizeram parte da minha vida. Sempre gostei de músicas românticas.
    Ainda guardo meus cadernos de músicas, que eu copiava de revistas do rádio. Do repertório de Agostinho dos Santos, a minha música preferida era “Meu Benzinho” (Luz dos meus olhos, desejo em flor….).
    Na minha pré-adolescência, era louca pelo cantor Milton Santos de Almeida, conhecido como Miltinho (Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1928 — 07 de setembro de 2014), .de voz anasalada.
    Tive a alegria de vê-lo cantar numa tarde de domingo, em Natal, na Rádio Poty, Programa de auditório, “Vesperal dos Brotinhos”.

    Na década de 60, lançou seu primeiro disco solo, “Um Novo Astro”, iniciando uma carreira de enorme sucesso, com sambas e músicas românticas. Consagrou-se com belíssimas canções, como “Mulher de 30”, “Lembranças”, “Eu e o Rio”, “Poema das Mãos”, “Poema do Adeus”, “Meu Nome é Ninguém”, “Menina-Moça”, “Palhaçada” e outras.

    No total, gravou mais de cem discos, mas na década de 70, com o declínio do seu gênero musical, saiu de cena nas grandes capitais..

    .
    Grande abraço e uma semana cheia de saúde e Paz!

    Violante Pimentel Natal (RN)

    • Violante, nada mais posso acrescentar que agradecer pelos comentários. Agostinho dos Santos, para mim, marcou com “A noite do meu bem” e “Balada triste” (balada triste, que me faz lembrar alguém, alguém que existe….). Miltinho marcou época na nossa juventude, cantando “Mulher de trinta”.

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