ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

Papai achava esquisito
Quando numa roça eu ia
Cortava um jerimum verde
Na sombra passava o dia
Só desenhando boneco
Da casca da melancia.

Sebastião Dias

Admiro o grão de milho
Que cresce, nasce e pendoa
Depois é uma boneca
Que parece uma pessoa
Quando cair o cabelo
Pode quebrar que tá boa.

João Paraibano (1953-2014)

O homem faz uma flor
Com a sua inteligência
Porém não é como a flor
Do jardim da providênciaé
Porque não bota três coisas:
Pétala, beleza e essência.

Jomaci Dantas

Depois que o feijão enrama,
A roça vira um pomar;
O pé de milho parece
Um soldado militar;
A espiga é a pistola;
Só falta a mão pra pegar.

Ismael Pereira

Eu admiro o coqueiro
Que a natureza criou,
Que a palha foi lá pra cima
E o cacho dependurou,
Com a quenga cheia d’água
Sem saber por onde entrou!

Antônio Nunes de França (1938-2018)

9 pensou em “A FLORA NOS VERSOS DOS REPENTISTAS

  1. Uma ótima seleção de sextilhas sobre a flora feita por nossos criativos repentistias nordestinos. Os versos de João Paraibano (1953-2014) me deixou impressionado por seu vasto conhecimento da natureza: Admiro o grão de milho/Que cresce, nasce e pendoa/Depois é uma boneca/Que parece uma pessoaQuando cair o cabeloPode quebrar que tá boa.

    • Messias,

      Muito obrigado por seu excelente comentário nesse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana. Sou um fã de João Paraibano (1952 -2014) que, apesar de partir antes do combinado, deixou um legado de versos que enaltecem) nossa natureza.
      Aproveito a ocasião para compartilhar uma bela sextilha do genial João Paraibano (1952 -2014) com o prezado amigo:

      Faço da minha esperança
      Arma pra sobreviver
      Até desengano eu planto
      Pensando que vai nascer
      E rego com as próprias lágrimas
      Pra ilusão não morrer.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  2. Sua compilação de sextilhas referentes a nossa rica flora foi um presente nesses estranhos tempos de pandemia. Considero a poesia uma terapia para enfrentar às adversidades da vida.Estou me sentindo muito bem após ler estes belos versos. Se fosse escolher, a minha sextilhar preferida é a de Sebastião Dias: Papai achava esquisito/Quando numa roça eu ia/Cortava um jerimum verde/
    Na sombra passava o dia/Só desenhando bonecoDa casca da melancia.

  3. Vitorino,

    Grato por seu comentário assistencial. Concordo que a literatura; principalmente, a poesia tem uma função terapêutica. Quando pegamos um livro é semelhante a uma viagem, a gente se desprende das dificuldades, esquece a tristeza e passa a viver uma aventura proporcionada por cada página desse remédio literário. Envio uma criativa estrofe de Sebastião para para o prezado amigo em retrituição ao seu magnífico texto:

    Das quatro e meia em diante,
    Sinto de Deus o poder,
    Um sopro espatifa as nuvens
    Para o dia amanhecer,
    Deus enfeita o firmamento
    E a vassoura do vento
    Varre o céu pra o sol nascer.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

  4. Parabéns pela bela postagem ,”A FLORA NOS VERSOS DOS REPENTISTAS”, prezado Aristeu!
    As sextilhas, exaltando a natureza, são todas lindas, A seleção de poetas está excelente.

    Destaco:

    Eu admiro o coqueiro
    Que a natureza criou,
    Que a palha foi lá pra cima
    E o cacho dependurou,
    Com a quenga cheia d’água
    Sem saber por onde entrou!

    (Antônio Nunes de França (1938-2018))

    Uma ótima semana, com muita saúde e Paz!

  5. Violante,

    Agradeço seu primoroso comentário que me estimula a pesquisar a cultura popular e os versos dos nossos notáveis repentistas. Retribuo sua generosidade enviando uma belíssima sextilha com uma linda metáfora. Espero que aprecie esta pérola do repente:

    Essa palavra ciência
    Deus, a mim, não concedeu;
    Meus ouvidos não ouviram,
    Minha boca nunca leu,
    Mas vivo aprendendo os livros
    Que a natureza me deu.

    Zezé Lulu (1916 – 1987)

    Uma semana plena de paz, saúde e alegria

    Aristeu

    • Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo, essa belíssima sextilha, que encerra uma inteligente metáfora. Adorei!

      Merece destaque:

      “Essa palavra ciência
      Deus, a mim, não concedeu;
      Meus ouvidos não ouviram,
      Minha boca nunca leu,
      Mas vivo aprendendo os livros
      Que a natureza me deu.

      Zezé Lulu (1916 – 1987)”

      Um abraço! Muita saúde e Paz!

  6. Sem dúvida alguma, Aristeu, que os versos do poeta (Antônio Nunes de França (1938-2018), mencionados por Violante Pimentel, são antológicos:

    Eu admiro o coqueiro
    Que a natureza criou,
    Que a palha foi lá pra cima
    E o cacho dependurou,
    Com a quenga cheia d’água
    Sem saber por onde entrou!

    Comparados a eles só os do poeta genial e analfabeto (uma virtude), Leonardo Bastião, do Sertão do Pajeú, que dedico ao grande pesquisador da poesia popular e a cronista Violante Pimentel.

    Tudo que o homem estudou
    Pra Natureza foi pouco
    Porque ele não faz um coqueiro
    E se inventar fica louco
    Caçando a encanação
    Que leva água do chão
    Pra botar dentro do coco.

    Saudações fraternais!

  7. Cícero Tavares,

    Grato por seu magnífico comentário. Eu sou admirador do genial Leonardo Bastião. O fato de ser analfabeto não diminui o poeta, aliás, aumenta o seu talento pois o seu universo amplia de tamanho para poder criar belos versos, improvisados, metrificados com a mesma criatividade dos poetas alfabetizados.Compartilho uma estrofe de Leonardo Bastião com o prezado amigo:

    Eu não vou plantar saudade,
    Que não estou mais precisando,
    A caçamba da saudade,
    Toda vez que vai passando,
    Ao invés de levar a minha,
    Derrama a que vai levando.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

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