ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

O pintor caprichou tanto
E a pintura está tão boa,
Que até a garça pintada
No aceiro da lagoa
Está tão linda e perfeita
Que se espantar ela voa.

Sebastião Dias

Eu já parei pra pensar
E chega doeu na cachola:
Um papagaio pousar
Na galha da castanhola,
Falar igualzinho a gente
Sem frequentar a escola.

Valdir Teles (1955-2020)

Eu admiro a formiga
Que tem problema de vista
Andando no zigue-zague
Sem carta de motorista
Não se atrasa no trabalho
Nem congestiona a pista.

Lenelson Piancó

Eu admiro o cancão
Na cabeça de uma estaca;
Olha pra baixo e pra cima
Acuando a jararaca
Como quem diz:”Ó meu Deus!
Ah se eu tivesse uma faca!”

Cicinho Gomes

O homem que bem pensar
Não tira a vida de um grilo
A mata fica calada
O bosque fica intranquilo
A lua fica chorosa
Por não poder mais ouvi-lo.

Manoel Xudu (1932-1985)

7 pensou em “A FAUNA NOS VERSOS DOS REPENTISTAS

  1. Tive a grata surpresa de ler uma seleção de estrofes sobre a nossa fauna elaboradas pelo talento dos nossos cantadores nordestinos. A sextilha de Manoel Xudu (1932-1985) me chamou a atenção pela beleza dos versos: O homem que bem pensar/Não tira a vida de um grilo/A mata fica calada/O bosque fica intranquilo/A lua fica chorosa/Por não poder mais ouvi-lo.

    • Vitorino,

      É gratificante receber esplêndido comentário de quem admira o maravilhoso mundo do repente. Aproveito a ocasião para contar um episódio do repentista Sebastião Dias ao prezado amigo
      Sebastião fazia feliz temporada em São Paulo, mas com muita saudade da terra querida, onde deixara amigos e parentes. Numa cantoria, o companheiro lhe cedeu esta deixa:

      “Como é que você está
      nesta terra bandeirante?”

      Sebastião Dias improvisou inspirado e saudoso:

      Na Capital Bandeirante
      eu vim fazer um passeio,
      mas, ao deixar o Nordeste,
      parti a alma no meio…
      Ou vem a banda de lá,
      Ou vai a banda que veio.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  2. Sou um admirador dos repentistas por conseguirem de improviso fazer versos rimados com o poder de síntese que deixa a plateia cativa de suas apresentações. O artigo de hoje está ótimo. Se fosse votar na sextilha mais bonita ficaria em dificuldade, entretanto vou me arriscar escohendo os versos de Sebastião Dias: O pintor caprichou tanto/E a pintura está tão boa,/Que até a garça pintada/No aceiro da lagoa/Está tão linda e perfeita/Que se espantar ela voa.

    • Messias,

      Grato por seu ilustre comentário. Estou aproveitanto esse espaço democrático para divulgar os versos do grande poeta e repentista Sebastião Dias, então descrevo, abaixo, um dos episódios desse genial poeta e cantador de viola.

      Numa cantoria com o cantador Pedro Alcântara, Dias homenageava Severino Pinto (1895 – 1990) que morrera havia pouco tempo. Alcântara ofereceu esta deixa; “No final da existência/findou aleijado e cego.” Sebastião Dias cantou comovido:

      Hoje a Bandeira do Nego
      Hasteou só a metade;
      A Paraíba chorou
      Como uma irmã com saudade,
      Porque Pinto do Monteiro
      Partiu para a eternidade.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  3. Parabéns, prezado Aristeu, pela ótima postagem, “A FAUNA NOS VERSOS DOS REPENTISTAS”.
    Gostei imensamente das sextilhas e dos poetas selecionados por você. Todos os versos são lindos e pertinentes ao milagre da Natureza, ou seja, às coisas de Deus.

    Destaco:.

    “O homem que bem pensar
    Não tira a vida de um grilo
    A mata fica calada
    O bosque fica intranquilo
    A lua fica chorosa
    Por não poder mais ouvi-lo.

    Manoel Xudu (1932-1985)”

    Uma ótima semana, cheia de saúde e Paz!

    Violante Pimentel

    • Violante,

      Agradeço suas generosas palavras que possuem a energia de estimular minha pesquisa na cultura popular. Você escolheu uma estrofe do grande poeta e repentista Manoel Xudu Sobrinho, Manoel Xudu, ou, simplesmente, Xudu. Ele nasceu em São José de Pilar-PB em 15 de março de 1932 e faleceu em 1985, em Salgado de São Félix/PB, onde residia. Aproveito a oportunidade para contar um episódio desse gênio do admirável universo do repente.

      Certa vez, um apologista deu o seguinte mote a Manoel Xudu:

      QUEM PERDE MÃE TEM RAZÃO
      DE CHORAR O QUE PERDEU.

      Manoel Xudu se concentrou, mirou com os olhos da mente o céu dai nspiração, e elaborou estes versos que emociona o leitor:

      Minha mãe que me deu papa
      Me deu doce, me deu bolo
      Mamãe que me deu consolo
      Leite fervido e garapa
      Minha mãe me deu um tapa
      E depois se arrependeu
      Beijou aonde bateu
      acabou a inchação
      Quem perde mãe tem razão
      De chorar o que perdeu.

      Desejo uma semana plena de paz, saúde e alegria

      Aristeu

  4. Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo, os belos versos do grande repentista Manoel Xudu, ao glosar o emocionante Mote:

    “QUEM PERDE MÃE TEM RAZÃO
    DE CHORAR O QUE PERDEU.”

    Mote e glosa, belíssimos!

    Desejo a você também, uma semana plena de paz, saúde e alegria.

    Violante

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