Eu estive aqui.
Marcamos que nos encontraríamos.
Lembras?
Esperei. Esperei e esperaria mais – se era esperar que querias que eu fizesse.
Não viestes.
Não virias mais?
Não vens?
Mas, continuarei esperando.
Estarei aqui amanhã – a partir da hora que combinamos.
Posso esperar?
Tu vens? Vens mesmo?
Acredito, e, por isso, esperarei.
Ainda que não venhas, estarei esperando.
Esperarei esperando, até que a espera me diga que não virás,
Ou, que a espera é uma forma inútil de esperar.
Esperei.
Estive aqui. Consegues ver?
Escolhi um lugar que nos cabia
E agora, só cabe a espera.
* * *
Transformação
Quero o néctar do teu corpo
Para alimentar minhas borboletas.
Quero um campo, sem ventos fortes
E um corpo puro como tuas entranhas.
Quero o néctar do teu corpo
Para alimentar minhas borboletas.
Quero o cheiro do mel polinizado
Para acalmar minha ansiedade.
Quero o néctar do teu corpo
Para alimentar minhas borboletas.
Quero a beleza e o cheiro do teu corpo
Para o pouso demorado do meu.
Quero o néctar, quero teu corpo
Quero teu cheiro, quero, enfim,
Me transformar numa borboleta.
Para viver uma vida sem fim.
Zé Ramos, botou pra torar. Talvez a gente viva “a espera de um milagre”.
Assuero: inspirado tá vosmecê, caba bom! Caba generoso. Caba lúcido. Você está, está, está!…..endeusado de bondade!
Beleza !
O homem está inspirado !.
Assuero lembrou bem The Green Mile .
Estamos nesta fase e neste corredor . Mas ainda há esperança , já que ela é a ultima que morre.
Joaquim, eu transpiro inspiração, quando lembro do chão tórrido do sertão do meu Ceará que, hoje, bastou “molhar a terra” prumode produzir uva, batata – comida, enfim! A gente espera. E acaba alcançando. A alegria é dupla, quando a gente conheceu a fase da espera.
Zé Ramos sempre se mostrou ser um extraordinário artífice das letras. Cada crônica passa a ser uma aula, uma exposição de talento. Conto? novela? fábula? parábola?…você decide.
A poética parábola da espera (esperançar), no presente texto, ele extrai a combinação de emoção, crença, perseverança e fé num amor quimérico.
Não é a toa que uma de suas crônicas seja a que teve mais acesso e comentários (campeã) até hoje no JBF
Bendita seja tua inspiração, cabra da peste!.
Marcos, humildemente agradeço a leitura e a generosidade do comentário.
Eu, ao contrário, resolvi não mais esperar. Sabia que não virias. Não perderia um tempo já tão gasto esperando o que não devia esperar. Liberei as borboletas que me faziam companhia e elas se foram. Voarão, aí sim, espero, por céus em que a esperança viva, em que não seja perda de tempo o esperar inócuo. Belo texto do Ramos. Aliás, como sempre.
Obrigado conterrâneo/poeta.