Já passei por sofrimento,
Por tristeza e ameaça,
Pelas queixas e as dores
E herança da nossa raça;
Porém cantando repente
Todo sofrimento passa.
Sebastião da Silva
No sertão do meu Nordeste
Ninguém procura doutores
Quando a enxada corta os dedos
Dos pés dos agricultores,
Porque lá não sobra tempo
Pra chorar pequenas dores.
José Lucas de Barros
Eu já não suporto mais
Do tempo tantas revoltas
Prazer, por que não me prendes?
Mágoa, por que não me soltas?
Presente, por que não foges?
Passado, por que não voltas?
Lourival Batista (1915-1992)
Fui visitar meu sertão
Lugar onde me criei
Achei tudo diferente
Parei um pouco e pensei
Em vez de ter alegria
Senti saudade e chorei.
José Galdino de Souza
A curva de Tamburello*
Ceifou uma vida doce,
Senna queria ser tetra;
Mas Deus não quis que ele fosse.
A Fórmula Um continua
Porém, pra mim, acabou-se.
Daniel Olímpio
*No dia 1° de maio de 1994, há exatos 30 anos, o Brasil perdeu Ayrton Senna. Senna seguiu reto na curva Tamburello, bateu forte na barreira e não resistiu.
O artigo informando sobre a dor nos versos dos repentista demonstra a criatividade e competência dos repentistas nordestinos. A minha memória me fez recordar o avião que caiu no começo da tarde de sexta-feira (9/8) em um condomínio na cidade de Vinhedo, no interior de São Paulo, que ficou completamente destruído. O modelo do avião que caiu em Vinhedo (SP), ATR-2, é usado principalmente em rotas regionais. Esse trágico acidente lembrou-me a morte de Ayrton Senna descrito pelo repentista Daniel Olímpio na última estrofe deste ótimo texto: A curva de Tamburello*/Ceifou uma vida doce,/Senna queria ser tetra;/Mas Deus não quis que ele fosse./A Fórmula Um continua/Porém, pra mim, acabou-se.
Vitorino,
Grato por seu competente comentário. A sua informação sobre a queda de um avião com 58 passageiros e quatro tripulantes, totalizando 62 pessoas a bordo, que caiu em um condomínio no bairro Capela, em Vinhedo (SP), no início da tarde do dia 9 de agosto (sexta-feira) foi muito oportuna. A lembrança da morte de Ayrton Senna deve ter sido lembrada por muitos brasileiros ao se deparar com a tragédia dessa morte coletiva porque um ídolo do seu porte permanece no imaginário de uma geração que presenciou suas conquistas na Fórmula Um.
Compartilho com o prezado amigo uma sextilha antológica do repentista
Otacílio Batista (1923 – 2003):
A morte conduz consigo
Certos caprichos sem fim.
Tem levado tanto Abel,
Deixando tanto Caim.
Para quem é justiceira
Não devia ser assim.
Saudações fraternas,
Aristeu
Toda dor é um convite para amadurecermos. A dor é a proposta de transformação, de despertar, de iniciar uma jornada com outra visão de realidade, um balanço de nossos valores, uma mudança de rota. Quando enxergamos a dor como um castigo ou uma injustiça não prendemos com ela e temos o sofrimento. Os repentistas sabem fazer uma reflexão poética muito precisa e instigante desse tema inerente a nossa vida. Aprendi muito com os versos de Lourival Batista (1915-1992), e faço questão de registrá-los: Eu já não suporto mais/Do tempo tantas revoltas/Prazer, por que não me prendes?/Mágoa, por que não me soltas?/Presente, por que não foges?/Passado, por que não voltas?
Adgmar,
Muito obrigado por seu comentário e, principalmente, pelas considerações a respeito da dor. Concordo plenamente com as observações. Acredito que a dor nos ensina o que a felicidade não pode ensinar. Ensina que pra ser feliz precisamos sofrer, que pra aprender precisamos errar, que pra ter certeza, precisamos insistir, e ensina também, que mesmo depois de passar por tudo, ainda não sabemos nada.
A dor é uma experiência inerente à condição humana. Ela pode surgir em diferentes formas – física, emocional, mental – e trazer consigo um fardo significativo. No entanto, algumas perspectivas filosóficas sugerem que é possível encontrar um caminho para superar a dor e alcançar um estado de bem-estar duradouro.
Compartilho com a prezada amiga uma sextilha do talentoso poeta popular José Adalberto:
Quando as lágrimas flutuantes
Afogam meus aperreios
Subindo demais o nível,
Deixando meus olhos cheios,
É a ressaca das ondas
Dos sofrimentos alheios.
Saudações fraternas,
Aristeu
Apesar de desconfortável, a dor é considerada um mecanismo de proteção importante, em que o corpo responde a um estímulo nocivo ou potencialmente nocivo. Assim, graças a ela, conseguimos proteger nosso organismo de eventos que podem nos causar danos pontuais ou permanentes. Todas estrofes foram bem selecionadas. entretanto o repentista e poeta Sebastião da Silva com seis versos nos dá uma lição de como superar a dor: Já passei por sofrimento,/Por tristeza e ameaça,/Pelas queixas e as dores/E herança da nossa raça;/Porém cantando repente/Todo sofrimento passa.
José Carlos,
Agradeço o seu valioso comentário. Suas observações sobre a dor focam aspectos muito importantes para se entender esse assunto de suma importância para a nossa saúde. A dor é uma sensação desagradável que serve como um alerta de que algo dentro do nosso corpo não vai bem e precisa ser tratado ou de que certos comportamentos ou objetos externos podem nos causar danos. Uma vida sem nenhuma sensação de dor poderia significar um risco para a saúde.
O sofrimento humano advém das interações pessoais e é algo inerente a nossa existência. Uns sofrem mais, outros menos, dependendo da visão que se tem de si, das pessoas e do mundo, qual as utilizará em suas atitudes e comportamentos ao interagir com outros.
Envio para o prezado amigo uma estrofe do repentista poeta Rubens do Valle muito interessante abordando a dor:
Lute por seus ideais
Mesmo em batalhas perdidas
Procure acertar as voltas
Olhando os erros das idas
Passando gel sobre as dores
Sem reclamar das feridas.
Saudações fraternas,
Aristeu
Sou uma pessoa sentimental e tenho uma emoção que me abala muito: a saudade. É uma palavra que não tem tradução literal em muitas línguas. Saudade é uma das palavras mais utilizadas nas poesias de amor, nas músicas românticas da língua portuguesa e nos versos dos repentistas. Considero a sextilha do repentista José Galdino de Souza uma perfeição e excelência: Fui visitar meu sertão/Lugar onde me criei/Achei tudo diferente/Parei um pouco e pensei/Em vez de ter alegria/Senti saudade e chorei.
Helena,
Agradeço seu admirável comentário. No dicionário, saudade é definida como “sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa, um lugar ou à ausência de experiências prazerosas já vividas”. É importante afirmar que saudade é um sentimento não necessariamente ruim sob a ótica psicológica.
A saudade nos permite reviver tempos felizes de nosso passado, da presença de pessoas queridas, da sua história. Quando estamos de bem com o passado, conseguimos olhar para trás com a sensação de ter vivido intensamente, mas também valorizamos o momentos que estamos vivendo.
A saudade nos ensina a importância de viver com intensidade, de estar presente e de valorizar cada segundo que temos com as pessoas que amamos. Ela nos mostra que o tempo é um aliado que nos ajuda a compreender a vida em sua plenitude, oferecendo uma perspectiva mais rica e profunda.
Envio para a prezada amiga uma sextilha do repentista Rogério Menezes:
A gente só tem saudade
De quem se vai e não vem
Eu vivo com saudade
Graças a Deus vivo bem
Quando a saudade morrer
Eu quero morrer também.
Saudações fraternas,
Aristeu
Parabéns, Aristeu, pela postagem que focaliza o doloroso acidente, que vitimou o grande Piloto da Fórmula 1, Ayrton Senna, em 1º de maio de 1994.
Nesse triste dia, quando se comemorava o Dia do Trabalho, os brasileiros passaram por uma comoção nacional. O choro foi generalizado.
Destaco os versos do repentista Daniel Olímpio, pertinentes ao assunto:
A curva de Tamburello*
Ceifou uma vida doce,
Senna queria ser tetra;
Mas Deus não quis que ele fosse.
A Fórmula Um continua
Porém, pra mim, acabou-se.
Desejo-lhe uma semana feliz, com muita saúde, inspiração e Paz!
Violante,
Grato por seu excelente comentário. Ayrton Senna é um ídolo que permanece vivo na memória dos brasileiros deixando um legado como piloto da Fórmula 1 e como ser humano solidário na ajuda da educação dos brasileiros com a criação do Instituto Ayrton Senna. Segue, abaixo, breve biografia desse grande ídolo,
Ayrton Senna foi um piloto de Fórmula 1 das décadas de 1980 e 1990, e é considerado o maior ídolo brasileiro do automobilismo. Nasceu em São Paulo, no dia 21 de março de 1960, e morreu de maneira trágica em 1º de maio de 1994, após colidir com uma mureta de proteção no Grande Prêmio de San Marino, em Ímola. Seu velório foi um dos mais marcantes da história do Brasil, durou cerca de 22 horas e foi acompanhado por aproximadamente 240 mil pessoas.
Em 2013, o Instituto Ayrton Senna escolheu o poema “Ayrton Senna”, de autoria do jornalista e poeta Robson Sampaio (1947 – 2021) para a fanpage do piloto brasileiro.
Ayrton Senna
Deus é o tempo, é a hora
Você, Senhor Velocidade!
Na última curva da Vida
Os deuses dormiam.
A morte, não!
A máquina insensível
Virou ferros contorcidos
E os anjos te encantaram…
Frágil Homem de Aço!
Deus é o tempo, é a hora
Você, Senhor Velocidade!
Semideus das pistas
Semideus alado
Ave ferida, ave arrebatada
Ídolo e sonho dos mortais…
Desejo uma semana plena de saúde, paz e alegria!
Aristeu
Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo o belíssimo e emocionante poema “Ayrton Senna”, de autoria do jornalista e poeta Robson Sampaio (1947 – 2021) .
Concordo com suas palavras, quando disse:
“Ayrton Senna é um ídolo que permanece vivo na memória dos brasileiros deixando um legado como piloto da Fórmula 1 e como ser humano solidário na ajuda da educação dos brasileiros com a criação do Instituto Ayrton Senna.”
Ayrton Senna permanecerá sempre vivo, na memória de todos os brasileiro!
Desejo a você também, uma semana com muita saúde, alegria e paz!