Casa-mal-assombrada
Construída numa área elevada pouco mais de um metro do nível local, a residência da família Silva Costa teve seus momentos áureos na época do domínio da cana-de-açúcar.
Era ali que muitos donos de engenhos do lugar se reuniam durante a noite para acertar contas, conhecer os lucros que estavam tendo, e, até para negociar a venda de alguns poucos negros escravos.
Há quem afirme que, em meados do século XIX, por conta do descobrimento da sonegação de impostos, o Governo resolveu fiscalizar com mais veemência, provocando, entre outras coisas, o desinteresse dos canavieiros pelo plantio e colheita da matéria prima (cana-de-açúcar). Muitos proprietários de terras resolveram mudar para centros urbanos desenvolvidos, onde certamente poderiam investir noutros negócios.
E assim era feito.
No povoado Pedras Verdes (onde diziam que havia minas de turmalinas – o que teria gerado o nome de Pedras Verdes), a casa dos Silva Costa chamava a atenção de quem por ali passasse, com a rodovia passando ao lado, numa distância de 120 metros. De longe se avistava o casarão. Um verdadeiro fascínio, quando habitado.
Os proprietários foram embora, e, os poucos escravos desapareceram, tentando viver a liberdade noutro lugar.
Sem habitante, sem cuidado e manutenção, a deterioração chegou a galope. Pássaros, cobras, urubus, corvos, raposas e outros tantos animais fizeram dali a sua moradia. Alguns cavalos que serviam aos proprietários, sem alimentação e sem cuidados, acabaram morrendo de fome e as carcaças tornaram o ambiente lúgubre e de um fedor insuportável.
Rápidos e levados pelo vento, os boatos ganharam a vizinhança, dando conta de que a casa era mal-assombrada, e em noites de lua cheia se escutavam gemidos de escravos, uivos de raposas, sobrevoos de corujas – tudo provocado por uma forte ventania que chegava naquela casa construída um pouco mais alta do nível do chão.
Soube-se, também, que havia um sótão no interior da casa, e que lá vivia uma velha com duas cabeças, que fora ali aprisionada para não ser vista por ninguém. Teria morrido de fome e sede – e agora vivia aparecendo para cobrar atenção dos proprietários.
Verdade ou não, em noite de lua cheia nenhum passante se atrevia a andar devagar naquela estrada, de onde diziam avistar luzes incandescentes e ouvir muitas vozes – que afirmavam ser dos antigos proprietários negociando preços da matéria prima e a venda de escravos.