DEU NO JORNAL

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Fernando Gasparian

Fernando Gasparian nasceu em 27/1/1930, em São Paulo, SP. Empresário, editor, livreiro, escritor, jornalista e político. Deputado federal na Assembleia Constituinte de 1988, ficou conhecido por ter proposto o polêmico § 3º do art. 192, a taxa de 12% ao ano. Fundador do jornal Opinião, teve atuação destacada na criação de uma imprensa livre e independente.

Filho de Zília Gasparian e Gaspar Gasparian, imigrante armênio e industrial do ramo têxtil, ingressou na Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie, em 1948. No movimento estudantil, presidiu o Centro Acadêmico Horácio Lane e a UEE-União Estadual dos Estudantes de São Paulo, em 1951. Graduou-se em 1952 e no ano seguinte passou a integrar o grupo responsável pelo Jornal de Debates, ao lado de Rubens Paiva, Almino Afonso, Matos Pimenta e Marcos Pereira.

Ingressou na vida sindical e elegeu-se, em 1957, diretor e depois presidente do Sindicato das Indústrias da Fiação e Tecelagem de São Paulo, à época o maior sindicato patronal do País. No ano seguinte, integrou o quadro de diretores da FIESP/CIESP. Em 1960 foi diretor-financeiro da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Atuou como interventor na CNI-Confederação Nacional da Indústria, em 1961, substituindo Franco Montoro. Neste periodo, reduziu o nº de funcionários de 2 mil para 1.200 e conseguiu o apoio da CNI para o projeto de lei do 13º salário, aprovado mais tarde. No Governo João Goulart foi cogitado para assumir o Ministério da Indústria e Comércio, mas foi preterido por Auro de Moura Andrade. Em 1963 passou a integrar o CNE-Conselho Nacional de Economia. No ano seguinte, pouco antes do Golpe Militar, adquiriu, junto com Francisco Filleppo e Fuad Mattar a empresa América Fabril, que se encontrava sob intervenção do Banco do Brasil. Mudou-se para o Rio de Janeiro, em fins de 1964, e continuou na área sindical, vindo a representar o Estado no conselho da CNI. Por esta época ajudou a fundar o partido MDB-Movimento Democrático Brasileiro, de oposição ao governo militar e teve seu nome cogitado para suceder o governador Laudo Natel, de São Paulo.

Em 1966 lançou o livro Em Defesa da Economia Nacional, publicado pela Editora Saga. No ano seguinte, com a nova Constituição, foi extinto o CNE e ficou decidido que os membros ficariam em disponibilidade remunerada até o encerramento do mandato, em fins de 1968. Ele recusou-se a permanecer no cargo e pediu demissão. “Não iria passar pelo vexame de receber sem trabalhar”, declarou. Com a decretação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), foi cassado e passou por um auto-exílio. Mudou-se para os EUA, onde foi trabalhar no Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Nova Iorque, seguido da Inglaterra, passando a lecionar no St. Anthony’s College, da Universidade de Oxford, como professor-visitante na área de economia latino-americana.

Na ocasião, escreveu o livro Capitais estrangeiros e desenvolvimento na América Latina, lançado no Brasil em 1973, pela Ed. Civilização Brasileira. Ainda no exílio, seu filho Marcus Gasparian conta que ele “perdeu sua indústria ao ser forçado por um emissário do governo a assinar um documento no aeroporto de Heatrow, passando todas as suas ações pelo preço de um cruzeiro. Do contrário, todos os créditos seriam cortados, o que levaria a empresa à falência provocando o desemprego de milhares de funcionários”. Retornou ao Brasil, em 1972 e fundou o semanário Opinão, em oposição aberta ao regime militar. Entre os colaboradores, contava com os principais intelectuais brasileiros. Por essa época adquiriu o controle acionário da editora Paz e Terra e fundou a livraria e a revista Argumento. Como editor, recebeu de seu amigo Paulo Freire os originais do livro Pedagogia do oprimido, “contrabandeado” para o Brasil pelo diplomata suíço Jean Ziegler.

Mesmo que o autor fosse um exilado, cujas obras estivam proibidas pela censura, ele publicou a obra e a divulgou pelo país, arrostando a censura prévia e a perseguição política de que também era alvo. Em 1975, lançou os Cadernos de Opinião”, publicação mensal de maior fôlego e voltada ao público mais acadêmico. No mesmo ano foi diretor da SIP-Sociedade Interamericana de Imprensa e em agosto foi preso por ter publicado, nos Cadernos de Opinião, uma conferência do cardeal Dom Hélder Câmara, cujo nome era proibido até de ser mencionado na imprensa. A publicação foi apreendida e retornou mais tarde com o título Ensaios de Opinião. Em novembro de 1976, a sede do Opinião foi alvo de um atentado a bomba e deixou de circular no ano seguinte. A partir daí, ele passou a dedicar-se à administração da Editora Paz e Terra.

Com a extinção do bipartidarismo, em 1979, filiou-se ao PMDB-Partido do Movimento Democrático Brasileiro, vindo a integrar o diretório regional. Em 1982, voltou a morar em São Paulo e assumiu a vice-presidência do SNEL-Sindicato Nacional dos Editores de Livros, acumulando o cargo com a Secretaria de Relações Internacionais do PMDB. Em seguida foi tesoureiro da campanha de Fernando Henrique Cardoso à prefeitura de São Paulo em 1985, e no ano seguinte ocupou a tesouraria do PMDB de São Paulo. Em seguida elegeu-se deputado federal constituinte, empossado em 1987. Participou de diversas comissões, e ganhou notoriedade como relator da Subcomissão do Sistema Financeiro, onde defendeu uma emenda constitucional que previa restringir a cobrança de juros bancários a 12% ao ano, visando uma desoneração das atividades produtivas. Mais tarde afirmou que o limite de 12% de juros ao ano não prosperou por culpa dos banqueiros, que, segundo ele “mandam neste País”

Em 1988 presidiu a Comissão de Fiscalização e Controle dos atos do Executivo, junto com os trabalhos da Constituinte. Disputou a reeleição em 1990, mas obteve apenas uma suplência e deixou a Câmara em 1991. Enquanto isso, o governador de São Paulo, Orestes Quércia, construia a sede do Parlamento Latino-Americano, instalado no Memorial da América Latino, um sonho que vinha sendo alimentado por Franco Montoro durante décadas. Gasparian foi convocado para dirigi-lo no periodo 1993-1995, defendendo a formação da União Latino-Americana de Nações. Em 1995 o Parlatino ficou sob a presidência de um deputado colombiano e ele passou a compor o conselho consultivo da entidade e o conselho curador do Memorial da América Latina. Estas foram suas últimas atividades públicas. Logo retomou suas atividades na Editora Paz e Terra e veio a falecer em 7/10/2006. Os interessados em conhecê-lo melhor, podem acessar seu necrológio “Fernando Gasparian, o homem que disse não ao não” clicando aqui.

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