PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

O CARNAVAL – Zito Batista

Põe a máscara e vai para a folia,
Na afetação de uns gestos singulares,
Esquecida dos íntimos pesares
Que te atormentam todo santo dia…

Mulher doente, perdida nesses mares
Tenebrosos da dúvida sombria,
Vê que há lá fora um frêmito de orgia,
Mesmo através das coisas mais vulgares!

Põe-te a cantar, desabaladamente!
Vai para a rua aos trambolhões, às tontas,
Como se enlouquecesses de repente…

Agarra-te à alegria passageira:
Olha que o que te espera, ao fim de contas,
É o triste Carnaval da vida inteira…

Raimundo Zito Baptista, Monsenhor Gil-PI (1887-1926)

COMENTÁRIO DO LEITOR

TUDO PRESCREVE

Comentário sobre a postagem A ESSÊNCIA DA INDIFERENÇA: A HISTÓRIA DA MORTE DE KITTY GENOVESE

Maurício Assuero:

Omissão tem preço e custa caro.

Custa vidas.

Diariamente nos comportamos com os vizinho de Kitty porque entendemos que muitas das coisas que acontecem com os outros não são da nossa.

O que é praxe é soltarmos bandidos, corruptos e, ao final dos processos, torná-los presidentes.

Eu li, ontem, que um processo contra o ex-deputado Pedro Henry foi extinto por prescrição.

Ele foi denunciado em 2001 e somente em 2014 foi aceita a denúncia.

Renan Calheiros tinha 17 processos no STF e nunca é processado por nada.

Tudo prescreve.

VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

O ANJO

Morava em Nova Cruz (RN) um rapaz de nome José Teixeira, filho de uma viúva, pertencente a uma ramificação de tradicional família daquela cidade.

Dizem que, desde criança, sempre demonstrou tendência feminina nos gestos, preferindo os brinquedos das meninas e desprezando carrinhos e bolas com que os meninos brincavam. Cresceu assim, e, dessa forma, tornou-se rapaz, passando a se dedicar às prendas domésticas.

Revelou-se um verdadeiro artista, aprendendo a bordar, pintar, confeccionar flores e chapéus femininos ornamentados.

Com o passar do tempo, José Teixeira dedicou-se completamente à decoração de ambientes e preparação de festas, difundindo cada vez mais suas habilidades artísticas. Com elas, passou a ganhar dinheiro, ajudando no sustento da mãe, viúva pobre, e suas duas irmãs.

Era religioso, educado, e sabia respeitar as pessoas, sendo por isso também respeitado. Nenhuma festa acontecia na cidade, sem que estivessem presentes a sua arte e o seu bom gosto. O preparo de altares na Matriz da Imaculada Conceição, Padroeira da cidade, os andores para as procissões, festas de casamento, aniversários, enfim, quaisquer acontecimentos festivos contavam com a sua indispensável participação.

Tornou-se o decorador oficial da cidade, nos eventos públicos ou privados, inclusive nas festas religiosas do final do ano, onde havia uma Quermesse para angariar fundos para a Igreja.

Eram frequentes os jantares, os saraus, os bailes, as procissões e novenas, como manifestações da realidade artística, religiosa e social da cidade. Em tudo, estava a presença marcante desse filho de Nova-Cruz.

Merece destaque o fato de José Teixeira nunca ter escondido sua tendência feminina, mantendo, entretanto, uma conduta discreta e digna. Vivia para o trabalho, e nunca se meteu em fofocas. Seu excelente círculo de amizade incluía moças, senhoras casadas, senhores e rapazes. Até o Padre da Paróquia de Nova-Cruz lhe fazia elogios publicamente, em agradecimento pelo seu trabalho de embelezador e colaborador das festas e procissões.

Nessa época remota, o distúrbio genético apresentado por José Teixeira era raro, e a cidade que o viu nascer o aceitava como era.

Sua presença tornou-se indispensável nas festas de aniversários, casamentos e bailes. Também ocupava lugar de honra na vida familiar da cidade, sendo sempre convidado para almoços e jantares, e ainda para padrinho de crianças. Tornou-se amigo e confidente de todos.

A cidade se desenvolveu e passou a ter mais festas, aumentando também o prestígio de José Teixeira. Era um verdadeiro “patrimônio” artístico de Nova-Cruz.

Surgiu o primeiro bloco de carnaval da cidade, tendo José Teixeira como organizador, decorador e figurinista. Esse bloco saía às ruas de Nova-Cruz no tríduo carnavalesco, “assaltando” as residências de pessoas da cidade, onde era recebido com bebidas e salgadinhos, à vontade.

As calçadas e ruas transformavam-se em salões de festa e a alegria era imensa.

O nosso Tio Paulo, uma figura inesquecível, era um dos maiores incentivadores do bloco, e o “assalto” à sua casa era indispensável! Irmão do nosso pai, Francisco, as casas eram vizinhas, e o “assalto” era aproveitado por nós, ainda crianças. Dançávamos no meio da rua, jogando confetes e serpentinas, presenteadas por ele, num clima de felicidade sem igual.

Tio Paulo distribuía lança-perfumes para os seus amigos, compradas em Natal, que eram usadas para perfumar o cangote das moças. E o cheiro se espalhava pelo ar. Não havia porre, loló nem brigas. O carnaval era só alegria e higiene mental.

O Rei Momo e a Rainha do Carnaval eram eleitos, uma semana antes, por uma comissão apontada por José Teixeira, da qual fazia parte.

José Teixeira confeccionava a alegoria, porta-estandartes e as fantasias para o carnaval.

Pierrôs, Colombinas, Arlequins, Odaliscas (vem Odalisca do meu harém vem, vem vem… ) e Piratas eram as principais fantasias.

A tarde entrava pela noite, com trombones, tamborins e outros instrumentos, executando os mais belos e tradicionais frevos e marchinhas de carnaval. A cidade era calma e o povo todo era conhecido.

Não havia o carnaval sensual/sexual de hoje, e os seios e nádegas eram guardados com recato.

As marchinha e frevos não tinham maldade. Tinham beleza e poesia.

Podemos dizer que, em Nova-Cruz, foi José Teixeira quem inventou o carnaval, o bloco, a alegoria e o estandarte, quando a maldade não tinha nascido.

Assim era José Teixeira. Totalmente feminino, amado, respeitado, e aceito por todos, sem sofrer exclusão pelo seu modo involuntário de ser.

Para mim, ele era um Anjo. E Anjo não tem sexo…

Hoje, desapareceu a pureza. Os Pierrôs, Colombinas, Arlequins, Odaliscas e Piratas se desnudaram. Restaram expostos, em abundância, seios, nádegas e tatuagens.

A modernidade nos deixou apenas o direito de nos fantasiarmos de PALHAÇOS!!!Palhaços das nossas ilusões!

Decepcionados, abafamos no peito a saudade dos velhos carnavais.

O cheiro de lança-perfumes sumiu! Roubaram as fantasias do nosso povo!

Roubaram o sorriso de felicidade, que existia nos rostos nos dias de carnaval.

Ó, ABRE ALAS, QUE EU QUERO PASSAR!

DEU NO X

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

DEU NO X

DEU NO X

DEU NO JORNAL

A ESSÊNCIA DA INDIFERENÇA: A HISTÓRIA DA MORTE DE KITTY GENOVESE

Roberto Motta

Kitty Genovese

Kitty Genovese

Às 3h20 da manhã do dia 13 de março de 1964, Kitty Genovese, uma gerente de bar de 28 anos, retornava do trabalho para sua casa. Ela parou seu Fiat vermelho em um estacionamento próximo à estação ferroviária de Kew Gardens, uma região do bairro de Queens, em Nova York. Depois de trancar o carro, Kitty caminhou em direção ao seu apartamento, que ficava a 30 metros de distância.

Enquanto caminhava, ela notou um homem do outro lado do estacionamento que olhava para ela. Assustada, Kitty apressou o passo e decidiu ir a uma cabine telefônica da polícia localizada próximo dali. Mas, antes que conseguisse alcançar a cabine, o homem a agarrou. Ela gritou e seu grito ecoou pela noite. Luzes se acenderam em apartamentos da rua e algumas janelas se abriram. A voz de Kitty é ouvida de novo. Dessa vez, ela grita “Meu Deus, ele me esfaqueou! Por favor me ajudem! Por favor me ajudem!”.

De um dos apartamentos vêm os gritos de um homem: “Deixe essa garota em paz!”. O criminoso foge e Kitty fica sangrando, caída no chão. As luzes dos apartamentos se apagam. Kitty se arrasta, tentando chegar ao seu prédio. O criminoso volta e, mais uma vez, a esfaqueia. Kitty grita: “Estou morrendo! Estou morrendo!”. Luzes acendem-se novamente, algumas janelas de apartamentos são abertas. O agressor de Kitty entra em um carro e vai embora.

Enquanto Kitty se levanta com dificuldade, um ônibus passa a caminho do Aeroporto Kennedy. Agora são 3h35 da manhã. Kitty consegue chegar à entrada do seu prédio, mas cai ao pé da escada. O homem retorna, a esfaqueia repetidamente e a estupra.

O assassinato de Kitty Genovese foi noticiado em apenas cinco frases, que apareceram na página 26 do jornal The New York Times. Mas, duas semanas depois, a história reapareceu em um grande artigo de primeira página. Por quê? Para espanto de todos os Estados Unidos, segundo a matéria do jornal, a investigação policial revelara que nada menos do que trinta e sete “cidadãos respeitáveis ​​e cumpridores da lei” testemunharam o assassinato, mas nenhum deles telefonou para a polícia durante o crime (The Psychology of Judgement and Decision Making, de Scott Plous).

A polícia só recebeu a primeira ligação meia hora depois que Kitty começou a ser atacada. Em outras palavras, o criminoso teve tranquilidade para atacar sua vítima durante trinta minutos, enquanto ela gritava por socorro, mas nenhum dos trinta e sete vizinhos que testemunharam seu assassinato veio em seu auxílio, ou sequer teve a iniciativa de ligar para a polícia.

Esse crime chocou o país e, entre outras coisas, apressou a implantação nacional do sistema 911 (equivalente ao nosso 190) para recebimento centralizado de chamadas à polícia. Mas há outros aspectos importantes dessa história.

O assassino de Kitty Genovese foi Winston Moseley, que tinha 29 anos na época, também morava no Queens e trabalhava em uma empresa de tecnologia. Moseley era casado, tinha três filhos e não tinha antecedentes criminais. Segundo ele o motivo do ataque foi simplesmente o desejo de “matar uma mulher”. Ele preferia mulheres porque “eram mais fáceis e não reagiam”. Ele viu Kitty voltando para casa e a seguiu de carro até o estacionamento. Ele confessou ter assassinado e estuprado outras duas mulheres e cometido quarenta assaltos.

Moseley foi condenado à morte, mas a sentença foi reduzida para prisão perpétua. Um ano depois, ele escapou da prisão agredindo um policial penal e roubando sua arma; então Moseley invadiu a residência de um casal, amarrou o homem e estuprou a mulher. Depois de invadir outra casa e manter uma mulher e sua filha como reféns, ele se rendeu.

Na prisão, ele estudou e se formou em sociologia. Em 1984, Moseley se tornou elegível para livramento condicional. Apesar de ter participado de várias audiências com o conselho de liberdade condicional, seus pedidos sempre foram negados. Moseley nunca mostrou remorso pelo assassinato de Kitty Genovese. Ele fez dezoito pedidos de liberdade condicional, todos negados.

Moseley tinha 81 anos de idade quando morreu na prisão. Ele cumpriu uma pena de 52 anos, o que fez dele um dos presos mais antigos do país. Ele era claramente um psicopata, sem lugar na sociedade. Se tivesse sido solto, é evidente que voltaria a cometer crimes terríveis. Esse fato – a existência de criminosos doentios, cruéis e irrecuperáveis, que precisam ser mantidos isolados dos cidadãos de bem – ainda não é compreendido e nem aceito pelos arquitetos do sistema de justiça criminal brasileiro.

Observem a punição que a sociedade americana considerou adequada a um estuprador assassino. Se esse crime tivesse acontecido no Brasil, dificilmente o criminoso teria ficado mais do que dez anos preso, e teria direito a “benefícios” como a “progressão de regime”, “visitas íntimas” e “saidinhas”.

Isso é, essencialmente, tudo o que você precisa saber sobre a origem da crise de criminalidade sem fim deste país.

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA

DEU NO X