COMENTÁRIO DO LEITOR

DEU NO X

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Cornélio Pires

Cornélio Pires nasceu em 13/7/1884, em Tietê, SP. Poeta, escritor, compositor, jornalista, cineasta, folclorista, humorista e etnógrafo, foi um tipo de showman da cultura caipira. Foi também empresário e pioneiro da indústria fonográfica gravando seus próprios discos. Sua obra constiui-se num relevante registro do dialeto caipira.

Filho de Ana Joaquina de Campos Pinto e Raimundo Pires de Campos Camargo, teve os primeiros estudos com um mestre-escola ambulante. Em seguida, a família mudou-se para a cidade, passando a estudar no Grupo Escolar Luiz Antunes. Aos 15 anos foi trabalhar no jornal O Tietê, como aprendiz de tipógrafo e tomou gosto pela imprensa. Aos 17 foi ganhar a vida em São Paulo e trabalhou nos grandes jornais da capital. Em 1904 fez diversas reportagens sobre a Revolta da Vacina, ocorrida no Rio de Janeiro.

Pouco depois passou a viajar pelo interior fazendo shows como humorista caipira e em 1910 publicou o livro: Musa Caipira, onde apresenta as primeiras “poesias dialetais” registradas em livro. No mesmo ano apresentou no Colégio Mackenzie um espetáculo reunindo catiriteiros, cururueiros e duplas caipiras. Foi a primeira apresentação da cultura capira na capital. Devido ao sucesso da apresentação, montou um show humorístico, com anedotas, causos e imitações caipiras, encerrando com duplas de violeiros e cantadores de modas.

Viajou pelo País levando seu show e difundindo a cultura caipira paulista com livros e palestras, que lhe rendeu o título de “Bandeirante do Folclore Paulista”. Durante as comemorações do centenário da Independência, em 1922, realizou diversas palestras e apresentações junto com o maestro Eduardo Souto. Em 1924 dirigiu seu primeiro filme -Brasil pitoresco-, retratando suas viagens e mostrando características e aspectos sociais de diversos grupos e comunidades do País. Publicou mais de 20 livros, incluindo As estrambóticas aventuras de Joaquim Bentinho (1924), de grande sucesso, tornando-se o maior best-seller.

Foi pioneiro na gravação de discos 78rpm, ao gravar a primeira moda de viola – Jorginho do Sertão – lançada em 1929 e passou a ser chamado de o “Pai da música sertaneja”. Ele fez a adaptação da música caipira ao formato fonográfico e à natureza do espetáculo circense, já que a música caipira é originalmente música litúrgica do catolicismo popular, presente nas folias do Divino, no cateretê e na catira. Em seu livro Conversas ao pé do fogo, vemos o etnólogo ao fazer uma descrição dos diversos tipos de caipiras, incluindo um “Dicionário do Caipira”. Noutro livro – Sambas e Cateretês – recolheu inúmeras letras de composições populares, que teriam caído no esquecimento, caso não estivessem registradas neste livro.

Sua importância como pesquisador é reconhecida no meio acadêmico, como se vê nas citações de sua obra feitas por Antônio Candido em seu livro Os Parceiros do Rio Bonito. Na gravação da música Moda de Peão, ele inicia com uma explicação: “Moda de viola cantada por dois genuínos caipiras paulistas. Este é o canto popular do caipira paulista em que se percebe bem a tristeza do Índio escravizado, a melancolia profunda do Africano no cativeiro e a saudade enorme do Português saudoso da sua Pátria distante. Criado, formado nesse meio o nosso caipira, a sua música é sempre dolente, é sempre melancólica, é sempre terna. Eis a ‘Moda do Peão’”.

Monteiro Lobato e Cornélio Pires foram contemporâneos e ambos trataram sobre o caipira; porém, de modos opostos. Enquanto Lobato vê o caipira como um ente vegetativo, indolente e preguiçoso, Cornélio procura valorizar sua cultura, porque entende ser essencial ao futuro do país integrar populações à margem da modernidade. A partir de 1935 iniciou um programa na Radio Difusora de São Paulo, onde apresentava seus discos, causos e duplas caipiras de violeiros. O programa tinha vasta audiência no Estado e no Brasil. No mesmo ano, levou o caipira às telas do cinema, dirigindo o filme Vamos passear, com a dupla Sorocabinha e Mandy no papel principal. É o primeiro filme “sonoro” independente do Brasil.

Não obstante ser presbiteriano, tomou contato com vários fenômenos espíritas em suas viagens e algumas comunicações com o espírito Emílio de Menezes. Passou a estudar as obras de Allan Kardec, León Denis e alguns livros do então jovem Francisco Xavier. Nos anos 1944-1947 publicou os livros “Coisas do outro mundo” e “Onde estás, ó Morte?”. Era tio de José Herculano Pires, conhecido autor espírita e faleceu em 17/2/1958, quando se dedicava à redação do livro Coletânea Espírita. Pouco antes de falecer, retornoou à Tietê, adquiriu uma chácara e fundou a “Granja de Jesus”, um lar para crianças desamparadas, que não chegou a ver implantada. Sua memória é cultuada em Tietê através de um monumento (herma) na praça central, do Instituto Cornélio Pires e da “Semana Cornélio Pires”, realizada desde 1959, na segunda quinzena de agosto. Dentre suas biografias, vale citar os livros de Jofre Martins Veiga: A vida pitoresca de Cornélio Pires (1961) e de Marcelo Dantas: Cornélio Pires, criação e riso (1976).

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FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

ENSINAMENTOS JAMAIS ESQUECIDOS

O apelo recente do Papa Francisco, alertando as autoridades mundiais sobre a necessidade de uma ampla harmonização planetária – social, econômica, climática, educacional, cultural, política, comunitária, religiosa e de gênero -, me fez rememorar alguns ensinamentos inesquecíveis emitidos por Dom Hélder Câmara, saudoso Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife.

Reproduzo, abaixo, alguns deles, para fortalecer uma militância propositiva restauradora, a favorecer amanhãs mais venturosos para todos os filhos amados do Criador, sejam quais forem suas crenças religiosas e posicionamentos sociais e geográficos. Ei-los abaixo, extraídos do livro O EVANGELHO COM DOM HÉLDER, 3ª. edição, publicado em 1993 pela Civilização Brasileira. Um exemplar lido, relido e muito rabiscado, contendo respostas do Dom gravadas por José de Broucker e seus amigos das Editions du Seuil para a edição francesa. Respostas que conservam uma impressionante contemporaneidade. Algumas das respostas do Dom até o tempo atual conservam uma impressionante atualidade. Sem ordem de prioridade:

a. “Durante séculos e séculos, até o Concílio Vaticano II, os judeus foram considerados deicidas por grande número de cristãos como nós. Não posso compreender nem aceitar a absurda persistência de tanto ódio contra eles. Os judeus fazem parte de nossa própria família: nosso Deus é o mesmo Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó. Maria, mãe de Jesus, era judia. Cristo era judeu! É, portanto, uma verdadeira hipocrisia lançar aos judeus a responsabilidade pela morte de Jesus. Ele morreu por culpa de nossas fraquezas, de nossos pecados… Deicidas, portanto, somos todos nós, na realidade.”

b. “Parece-me que seria ridículo pensar que haja vida somente sobre a face da Terra. Quando falo na preferência que nosso Cristo demonstra pelo homem, é óbvio que penso em nossa pequena residência no Cosmo. Não sei o que se passa em outras áreas do Universo sem fim, mas estou certo de que o homem, um dia, acabará resolvendo esse mistério.”

c. “Não é normal, numa país que se afirma cristão, que haja um por cento de muitos ricos, cinco por cento por cento de bastante ricos, dez por cento de ricos e depois apenas a massa dos pobres e dos muitos pobres.”

d. “Durante muitos anos, nossa atenção esteve voltada para a construção de belas igrejas, por vezes muito ricas e luxuosas, de grandes colégio e hospitais, até mesmo nas regiões mais pobres. Hoje em dia, nossa preocupação número um n~\o é mais com a edificação imobiliária, mas com a igreja viva, com os autênticos templos de Deus que são as criaturas humanas.”

e. “A causa do subdesenvolvimento não é a explosão demográfica, é a explosão do egoísmo. No dia em que chegarmos a controlar o egoísmo, a proceder a uma revisão profunda das estruturas da injustiça, isso nos permitirá ver que Deus não enganou quando promoveu a criação.”

f. “Ser profeta não é atributo especial de poucos eleitos, pois o Espírito do Senhor está conosco, não apenas com este ou aquele, ou comigo, mas com todos nós!”

g. “Convém refletirmos que Jesus, quando fala da bem-aventurança da pobreza, não está a falar da bem-aventurança da miséria. A miséria é um insulto ao Criador.”

h. “Não temos o monopólio da Verdade. Não temos o monopólio do Espírito Santo. Devemos ter toda a humildade diante daquele que, mesmo não tendo jamais ouvido o nome de Cristo, talvez possam ser mais cristãos de que nós mesmos.”

i. “Todos nós, assim como nossas Igrejas, temos necessidades de reformas constantes. A conversão deve ser praticada todos os dias, pois o egoísmo está mais vivo que nunca!”

j. “É evidente que a sociedade deve proteger-se dos crimes que alguém possa cometer contra as normas democraticamente estabelecidas e consolidadas em instituições jurídicas. Mas é cada vez mais possível, nos dias em que vivemos, fazer bom uso dos progressos da ciência e antes recorrer à psicologia e à pedagogia do que aos métodos bárbaros de encarceramento ou pena de morte!”

Tenho uma saudade gigantesca do nunca esquecido cearense que foi Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife. Um padre para lá de muito arretado de evangelizador. E que, nas reuniões semanais, em plena ditadura militar, costuma explicitar duas reflexões até hoje para mim inesquecíveis. A primeira: “Depois de uma noite de muita escuridão, surge sempre uma radiante madrugada.” A segunda: “Lembremos sempre de que até um relógio parado tem razão duas vezes ao dia.”

Saibamos semear ideias helderéticas, sempre se portando como uma permanente metamorfose ambulante!

PENINHA - DICA MUSICAL