DEU NO X

RLIPPI CARTOONS

BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

SPOCK LEE – NEW CASTLE, DELAWARE – USA

Prezado Grão Mestre Bestífico-Fubânico!!!

Considerando a sacanagem e a esculhambação generalizada que campeia impunemente nos quatro cantos da outrora terra de macunaíma… tomo, com todo o atrevimento e o resto de liberdade que acredito ainda existir nesta gazeta, a hilárica-grotesca e debochada “tarefa” de contar com a sua “grata ausência”, nesse assombroso evento de trevosos e simpatizantes, rogando que todos os partícipes sejam régia, exemplarmente e, não em dobro mas, infinitamente recompensados na mesma linha de tratamento com que, os Homens e Mulheres Brasileiros torturados, humilhados e privados da liberdade até a data de hoje.

(força e ânimo para enfrentar esses tempos difíceis)

Fraterno Abraço

R. Êita peste! Que presepada da porra!

E ainda coloca meu fucinho na armação.

Vôte!!!

Ainda bem que você reapareceu, seu cabra.

Já tem quase um ano que tava sumido.

Apareça sempre e ajude a aumentar a escrotidão dessa gazeta.

Abraços e um excelente final de semana aí nos Zisteites.

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DEU NO X

MAGNOVALDO BEZERRA - EXCRESCÊNCIAS

CAMAÇARI NA SEGUNDA-FEIRA

A maneira de trabalhar em Camaçari, na Bahia, era, digamos assim, sui generis – pelo menos naquela época, há mais de trinta anos atrás. Não sei como é hoje.

Em 1991, trabalhando em uma metalúrgica em São Paulo, obrigações profissionais me levaram a visitar uma empresa de auto peças localizada no Polo Industrial de Camaçari e que consumia nossos produtos.

Reunião confirmada por fax (vosmecê se lembra dele?), horário agendado e confirmado para a próxima segunda-feira com o Diretor Técnico às 9 horas. Providenciei então a passagem aérea até Salvador.

Para não haver problemas com eventuais atrasos, algo detestável por este cabra desmantelado que fuxica com vosmecê, viajei no domingo para Salvador. O trajeto de uma hora da capital baiana até Camaçari foi feito no carro de nosso Representante Comercial na Bahia, um simpático e arretado mulato que, para não perder nenhuma hora sequer do carnaval baiano, reservava todos anos, por uma semana inteira, um quarto em um hotel que ficava ao lado da Praça Castro Alves.

Chegamos cerca de 15 minutos antes das 9 horas. Claro, o senhor Diretor Técnico ainda não havia chegado. Sua secretária tampouco. Bem, o negócio era esperar.

O relógio bateu 9:30 e nada de ninguém. Cheguei a pensar que havia me enganado e ainda era domingo. E então perguntei a um rapaz que passava:

– Diz aí, meu jovem, a que horas vocês começam a trabalhar aqui no escritório?

– Normalmente às 8:00, que é quando chega o ônibus com a gente de Salvador.

– E quando chega a primeira gente que não usa ônibus?

– Isso depende do dia. Hoje, por exemplo, é segunda-feira e é dia do pagamento quinzenal.

– E o que tem o pagamento quinzenal que ver com a chegada das pessoas?

– O que se assucede é que, como Camaçari ainda não tem uma boa estrutura bancária e de comércio, a turma do escritório é dispensada do trabalho nos dias de pagamento para fazer as compras e ir aos bancos em Salvador. Eu acho que ninguém vai aparecer hoje aqui, e vocês estão perdendo tempo esperando. Vocês são paulistas, não? Sugiro que vão passear e conhecer nossa linda Salvador, se ainda não conhecem, e voltarem amanhã!

Bem, a realidade é dura mas é a realidade, e o nosso Representante Comercial me levou então  para visitar o Pelourinho, o farol da Barra, Ondina, o Elevador Lacerda e um bom restaurante que servia uma peixada deliciosa, protocolarmente acompanhada de acarajés e uma cervejinha baiana gelada de estalar os dentes.

No dia seguinte, terça-feira, recomeçamos nossas atividades. Às 9 horas chegamos à empresa. O Diretor Técnico nos atendeu por volta das 11 horas, conversou conosco como se nada tivesse acontecido, acertamos os pontos que motivaram a reunião e, transbordando de gentilezas, nos levou a degustar uma maravilhosa panelada de camarões feita pelas mãos divinas de uma tiazona sacudida em uma bodega ali pertinho. Vixe, que coisa gostosa!

A Bahia é um lugar maravilhoso!

RLIPPI CARTOONS

VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

AS PROPAROXÍTONAS

A dupla caipira “Alvarenga e Ranchinho”, formada em 1929 por Murilo Alvarenga, mineiro de Itaúna, e Diésis dos Anjos Gaia, paulista de Jacareí, iniciou sua carreira apresentando-se em circos no interior de São Paulo.

Em 1934, Murilo e Diésis foram contratados pelo maestro Breno Rossi e passaram a se apresentar na Rádio São Paulo.

A carreira da dupla se consolidou, após a mudança para o Rio de Janeiro, onde os dois gravaram o seu primeiro disco, em 1936, e passaram a integrar o grupo de atrações do Cassino da Urca. Foi aí que trabalharam durante dez anos e aprimoraram o talento para a sátira política, uma das suas principais características. Por causa dessas sátiras, participaram de dezenas de campanhas eleitorais e também acabaram presos diversas vezes.

A dupla participou do primeiro filme falado feito em São Paulo, “Fazendo Fita”, (1935), levada por Ariovaldo Pires, o Capitão Furtado. Fizeram participações em mais de 30 filmes.

Em 1949, a dupla “Alvarenga e Ranchinho” lançou a composição “O Drama de Angélica”, na qual, cada verso termina com uma palavra proparoxítona, ou seja, a sílaba tônica cai na antepenúltima sílaba. Essa música foi o seu maior sucesso.

Ao que parece, essa dupla foi a precursora das composições com versos terminados em palavra proparoxítona.

“O Drama de Angélica” nos remete àqueles “causos” que ouvíamos de nossos antepassados, histórias das quais ansiávamos pelo final, mesmo que fosse trágico. Uma verdadeira novela, arrebatadora, com idas e vindas, em uma interpretação perfeita da dupla. Ao final, não há como não sorrir, em face do modo satírico, como é contado “O Drama de Angélica”.

A formação original da dupla se desfez em 1965, quando Diésis a abandonou definitivamente. Sumiços anteriores já haviam ocorrido, quando, então, havia sido substituído por Delamare de Abreu, irmão por parte de mãe de Murilo Alvarenga.

Com o rompimento definitivo, um “terceiro” Ranchinho surgiu, Homero de Souza Campos, conhecido também como Ranchinho da Viola e como “Ranchinho II” (apesar de ter sido o “terceiro”). Homero cantou com Alvarenga de 1965 até o falecimento deste, em 1978.

Pois bem. Em 1971, cerca de vinte anos depois do lançamento de “O Drama de Angélica”, de “Alvarenga e Ranchinho”, foi lançado o LP “CONSTRUÇÃO”, de Chico Buarque de Holanda, com dez músicas belíssimas, onde se destaca “Construção”, que dá nome ao disco, com estrondoso sucesso no cenário da MPB.

Por coincidência, “Construção” de Chico Buarque e “O Drama de Angélica”, da dupla caipira “Alvarenga e Ranchinho”, tem em comum, versos cuja última palavra é proparoxítona. Além disso, “Construção” também retrata um drama do cotidiano, tal qual a música “O Drama de Angélica”, com a diferença de que esta última tem conotação satírica.

Para muitos admiradores, somente Chico Buarque, com a sua inteligência privilegiada, seria capaz de usar essa peculiaridade, numa composição musical.

Indiscutivelmente, Chico Buarque é genial. Mas, em relação às proparoxítonas ao final dos versos, a dupla caipira, “Alvarenga e Ranchinho”, já tinha feito o mesmo, há mais de vinte anos (1949), com a música “O Drama de Angélica”.

A coincidência de versos, finalizando com uma palavra proparoxítona, feitos por compositores de mundos e épocas diferentes, chamou a atenção da crítica.

Na verdade, a genialidade é universal. Não existe regra geral para se nascer gênio, pessoa com grande capacidade mental. Ela pode se manifestar por um intelecto de primeira grandeza, ou um talento criativo fora do comum.

Chico Buarque, intelectual com ótima formação cultural, e a dupla “Alvarenga e Ranchinho”, de origem humilde, que iniciou a carreira artística em circo, tiveram inspirações parecidas, ao escrever um drama, com versos terminados com uma palavra proparoxítona.

Ainda hoje, o LP “CONSTRUÇÃO”, de Chico Buarque, lançado no início de 1971, é considerado um dos grandes discos da história da MPB, com versos alexandrinos (o que contém doze sílabas poéticas) e uma palavra proparoxítona no final de cada verso.

O primeiro poeta brasileiro a usar versos alexandrinos foi Machado de Assis, ainda no período do Romantismo, movimento artístico caracterizado pelo sentimentalismo, subjetivismo e fuga da realidade.

Esse movimento surgiu no século XVIII na Europa, durante a revolução industrial, e logo se espalhou por diversos países, como: França, Alemanha, Inglaterra, Brasil e Portugal. Durou até meados do século XIX, quando surgiu o Realismo.

A coincidência que há nas duas canções, “O Drama de Angélica (1949 – Alvarenga e Ranchinho) e “Construção” (1971 – Chico Buarque) não está relacionada somente à presença de uma palavra proparoxítona no final de cada verso. As duas canções descrevem, respectivamente, um drama do cotidiano.

Chico Buarque descreve, em “Construção”, o dia a dia de um operário da construção civil, com todos os riscos e desencantos, usando versos alexandrinos ( o que contém doze sílabas poéticas) e uma palavra proparoxítona no final de cada verso. No caso, as proparoxítonas funcionam como tijolos em uma construção mágica e trágica, em uma tensão crescente, embalada pelo bonito arranjo do maestro Rogério Duprat (1932 – 2006).

Chico Buarque é um intelectual, com sólida formação cultural. Tornou-se um ícone da Música Popular Brasileira.

Por sua vez, a dupla “Alvarenga e Ranchinho”, de origem humilde, iniciou a carreira artística em circo e tornou-se um ícone da música caipira, hoje chamada “Música Sertaneja”.

Salve a genialidade do Compositor Brasileiro!

Drama de Angélica (1949) – Murilo Alvarenga e M.G. Barreto

Ouve meu cântico
quase sem ritmo
Que a voz de um tísico
magro esquelética
Poesia épica
em forma esdrúxula
Feita sem métrica
com rima rápida

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