DEU NO TWITTER

RODRIGO CONSTANTINO

O PROFETA CIRO

Eunício Oliveira, Luiz Inácio Lula da Silva, Cacique Raoni Metuktire, Guilherme Boulos, Ciro Gomes e Renan Calheiros

Em terra de cego, quem tem um olho é rei. E em terra brasilis, até Ciro Gomes é profeta! O esquerdista voltou aos temas comentados nas redes sociais esses dias, e não foi por fugir da indenização que deve a Fernando Holiday por tê-lo chamado de “capitãozinho do mato”, mas por conta de uma resposta que deu numa entrevista em agosto de 2022, sobre como seria um terceiro governo Lula.

Disse o pedetista: “Uma tragédia grande. A margem pra aumentar juros não existe mais. Ele não tem lucidez disso, não quer ouvir e o quadro técnico ao lado dele é de oitavo nível. Quando chegar lá, uma conta impagável com Renan Calheiros, Eunício Oliveira, MDB, Guilherme Boulos, ministério pra todo mundo. Tudo num cenário completamente diferente de 2003. E a expectativa do povão é cerveja e picanha. Ele vai botar um banqueiro em Economia, entregar as políticas de papo-furado – mulher, índio e negro – para o PT se divertir, a política e o Orçamento pro centrão e vai passear no estrangeiro”.

Ciro Gomes

Acertou quase tudo! Tirando o banqueiro na Economia — temos o poste petista do Haddad em vez disso -, cada previsão se concretizou. Lula segue fazendo várias viagens e consumindo milhões dos pagadores de impostos para se hospedar em hotéis de luxo ou levar companheiros no avião oficial enquanto autoriza liberar até R$ 10 bilhões das “emendas do relator” para o centrão, de olho na “governabilidade” no Congresso após derrotas expressivas. O Orçamento secreto era “o maior escândalo de corrupção da história”, segundo Lula, mas agora ele quer utilizar o instrumento para seu projeto de poder.

O país voltou a ter recorde de ministérios, o PT assumiu as pastas identitárias, a conta a pagar só aumenta e o presidente do Banco Central independente passou a ser o bode expiatório da vez. O quadro técnico em torno do governo, de fato, é péssimo, e a imprensa militante precisa elogiar economista que nega a possibilidade de estagflação – ou seja, gente que em pleno século 21 ainda não compreendeu que a inflação é sempre um fenômeno monetário e que é perfeitamente possível ter alto índice de aumento geral de preços com baixo crescimento econômico ou mesmo recessão.

Ciro Gomes não comentou sobre o aspecto geopolítico, mas aqui também não era nada difícil acertar: o Brasil se torna um pária mundial ao defender os regimes mais nefastos enquanto se afasta dos valores ocidentais. O PT sempre flertou com as ideologias mais totalitárias e nunca poupou elogios aos regimes ditatoriais mais cruéis do planeta.

Toda essa tragédia era certa como a mudança das estações. O que chama a atenção, portanto, não é o “dom profético” de Ciro Gomes, mas a quantidade de gente que fez o L sabendo disso tudo. Arminio Fraga, Henrique Meirelles, Elena Landau, João Amoedo e tantos outros com perfil tucano pregaram o voto no petista para “salvar a democracia”. Pouco depois, vários deles já davam sinais de arrependimento ou demonstravam receio e medo com o Lula vingativo e radical. A tal “frente ampla” nunca passou de um slogan. Talvez pela previsão de que fosse ter um banqueiro na Economia, muitos desses economistas de mercado apoiaram o PT iludidos. Acordaram com Haddad.

meirelles

Henrique Meirelles

E, como a ilusão não pode acabar, sob o risco de virar pesadelo rápido demais, eis que muitos deles resolveram transformar Haddad no bastião da responsabilidade fiscal. Com a militância da velha imprensa, eles tentam emplacar a narrativa de que Haddad é sério e bem-intencionado, além de capaz, e luta contra os devaneios petistas. O poste que foi colocado lá justamente por ser medíocre e fraco tem sido retratado pela mídia como um quadro técnico e independente, disposto a confrontar o chefe em nome do mercado!

Claro que ninguém acredita para valer nessa ladainha patética. Tanto que uma pesquisa recente da Quaest revela que 86% do mercado avalia o governo Lula como negativo, e somente 2% o consideram positivo (quem seriam esses loucos?). Para jornalistas como Miriam Leitão, que vem fazendo um tremendo esforço para defender o indefensável, isso é paradoxal, já que a maioria também aposta na aprovação do “arcabouço fiscal”. A militância petista parece incapaz de se dar conta de que uma coisa está ligada à outra, ou seja, o mercado sabe que o “calabouço fiscal” será aprovado apenas para conceder ao governo uma licença para furar o teto de gastos, nada mais.

Sim, tudo no atual governo é péssimo, e uma tragédia está em andamento. A sensação de quem sabia disso tudo é a de total impotência, de quem assiste a um filme de terror em câmera lenta, conhecendo o final sombrio sem ter como evitá-lo. Mas, se vamos todos acabar tragados pelo buraco negro petista, então ao menos alguns de nós pretendemos cair atirando naqueles que foram cúmplices da tragédia. Se até Ciro Gomes foi capaz de antecipar o caos, como perdoar figuras como Arminio Fraga, Meirelles ou Amoedo? Essa turma tem suas impressões digitais nas cenas do crime. Mesmo conhecendo bem a essência petista, preferiram declarar apoio a Lula por nojinho de Bolsonaro. E condenaram toda uma nação ao fazer isso.

Miriam Leitão

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MORRERAM 700 MILHÕES NUMA POPULAÇÃO DE 200 MILHÕES. E TEM GENTE QUE AINDA ACREDITA NELE…

LAUDEIR ÂNGELO - A CACETADA DO DIA

PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS

GRANDES MOTES, GRANDES GLOSAS

Sebastião da Silva e Moacir Laurentino glosando o mote:

Quem quiser ter saudade do meu tanto
Sofra e ame do tanto que eu amei.

Moacir Laurentino:

Numa noite de insônia e de saudade
a angustia invadiu meu coração.
Eu senti a maior recordação
dos amores da minha mocidade
lamentei suspirei senti vontade
de beijar a mulher com quem sonhei
mas sem esse direito eu já fiquei
e nem ela possui o mesmo encanto
quem quiser ter saudade do meu tanto
sofra e ame do tanto que eu amei.

Sebastião da Silva:

Quem me fez padecer tanta ilusão
deixou todos meus sonhos destruídos
o murmúrio do adeus nos meus ouvidos
e a tristeza rasgando o coração.
Já tentei esquecer mais foi em vão
só eu sei quantas vezes já chorei
já gastei todos lenços que comprei
ensopados das gotas dos meus prantos
quem quiser ter saudade do meu tanto
sofra e ame do tanto que eu amei.

* * *

Ivanildo Vilanova e Severino Ferreira glosando o mote:

Vamos ver quem possui capacidade
Pra ganhar o Nobel da Cantoria.

Ivanildo Vilanova:

Nobel foi o inventor da dinamite
Criador de um prêmio especifico
Deu progresso ao projeto cientifico
Onde a nossa ciência tem limite
Hoje em dia se atende o seu convite
Sem os louros da sua academia
Mas se o Deus que inspirou barra do dia
Não conhece liceu nem faculdade
Vamos ver quem possui capacidade
Pra ganhar o Nobel da Cantoria.

Severino Ferreira:

Vamos ver quem conhece aonde é
O país dos Assírios e Caldeus
Jafetanis, Fenícios, Cananeus
Descendentes da raça de Noé
E qual foi o motivo que José
Se tornou o esposo de Maria
Ela teve Jesus na estrebaria
E não perdeu o valor da virgindade
Vamos ver quem possui capacidade
Pra ganhar o Nobel da Cantoria.

Ivanildo Vilanova:

Pra ganhar o Nobel só é preciso
Conhecer de sentido e odalinfa
Ser parente da paz, irmão da ninfa
Ser parente do amor, irmão do riso
É tirar oito e meio em improviso
Tirar nove em métrica e harmonia
Nove e meio em repente e teoria
Tirar dez na escola da saudade
Vamos ver quem possui capacidade
Pra ganhar o Nobel da Cantoria.

Severino Ferreira:

Vamos ver quem possui inteligência
Pra lembrar Tiradentes, o mineiro
Que foi preso no Rio de Janeiro
Por um povo de pouca consciência
Que D. Pedro gritou: “Independência”
Que o mundo esperava e pretendia
Qual o mês, a semana, hora e o dia
Que a princesa assinou a liberdade
Vamos ver quem possui capacidade
Pra ganhar o Nobel da Cantoria.

Ivanildo Vilanova:

Vamos ver quem possui perspectiva
Pra falar sobre monte, terra e gleba
Pra falar sobre a vida de algum peba
Arrancando as raízes da maniva
E a gata que está receptiva
Quer um gato pra sua companhia
Quanto mais ela arranha, morde e mia
Mas o gato ansioso tem vontade
Vamos ver quem possui capacidade
Pra ganhar o Nobel da Cantoria.

* * *

Pinto do Monteiro glosando o mote

O cavalo do vaqueiro
Nas quebradas do sertão.

Quebra galho de aroeira,
De jurema e jiquiri,
Rasga beiço e calumbí,
Mororó e quixabeira.
Quebra-faca e catingueira,
Urtiga braba e pinhão;
Pau-serrote e pau-caixão,
Baraúna e marmeleiro,
O cavalo do vaqueiro
Nas quebradas do sertão.

* * *

Dedé Monteiro glosando o mote:

É ruim plantar esperança
Pra colher desilusão.

São Severino dos Ramos
Enriqueceu com promessa.
Dilma promete e tropeça,
Nós, sem tropeçar, penamos.
E a seca, enquanto esperamos,
Vai minando a região
Que inda aguarda a plantação
Da semente da bonança.
É ruim plantar esperança
Pra colher desilusão.

* * *

Antonio Piancó Sobrinho glosando o mote:

Só partindo é que se sabe
Como era bom ter ficado.

Parte gente todo dia
Para as capitais do sul
Pensando num mundo azul
Repleto de fantasia
Porém a sua alegria
Termina mal tem chegado
Só o serviço pesado
No mundo inteiro lhe cabe
Só partindo é que se sabe
Como era bom ter ficado.

Passa os dias ressentido
Lamentando o seu pesar
Pensando um dia voltar
Para o seu torrão querido
Com o coração partido
E o peito dilacerado
Chorando, desesperado
Pede a Deus que a dor se acabe
Só partindo é que se sabe
Como era bom ter ficado.

A PALAVRA DO EDITOR

É HOJE

Sexta-feira, 12 de maio.

Ainda bem que o número 13 ficou pro sábado, amanhã.

Hoje, logo cedinho, assim que começou o expediente, Chupicleide já fez um vale.

Adiantou uns trocados do salário deste mês pra torrar no seu habitual desmantelo das sextas-feiras.

Nossa fogosa secretária manda um beijão para os leitores José Claudino, Sylvio Santigo, Áurea Regina, Luis Gonzaga de Toledo, Joab M.C., Eraldo Moura e Arnaldo do Couto, agradecendo a generosidade de todos eles, que fizeram doações esta semana e vão proporcionar a farra dela nesta sexta-feira.

Isto sem falar na enorme ajuda para pagar a assistência técnica proporcionada por Bartolomeu Silva, que garante o funcionamento desta gazeta escrota durante as 24 horas do dia.

Chupicleide já disse que hoje vai se balançar no forró do Bar O Cu da Perua, que fica no Alto do Mandu, aqui perto da redação.

E, segundo me garantiu, vai dançar o xenhenhém sacolejando mais do que Fulorinda, mulher de Mané Gardino, a personagem cantada na música de Jackson do Pandeiro.

É muito desmantelo!!!

AUGUSTO NUNES

ALEXANDRE, O SUPREMO

Premiado com a mais cobiçada das togas em março de 2017, Alexandre de Moraes teve de suportar durante longos 24 meses o semianonimato imposto a todo caçula do Supremo Tribunal Federal. Ao longo desse período, no papel de coadjuvante ou mero figurante, o único ministro indicado por Michel Temer torceu para que a mão do destino recomeçasse o desfile de acasos que acabariam por depositá-lo na Praça dos Três Poderes. No primeiro, o despejo de Dilma Rousseff instalou o vice no comando do Executivo. O segundo ocorreu durante a montagem do novo governo: o advogado Antonio Cláudio Mariz de Barros já caprichava na pose de ministro da Justiça quando Temer desistiu de nomear um dos mais ferozes inimigos da Operação Lava Jato. Sobrou para Alexandre de Moraes, até então secretário de Segurança Pública de Geraldo Alckmin.

Formado pela Faculdade do Largo de São Francisco, aprovado pouco depois no concurso para ingresso no Ministério Público, o paulistano Moraes dividiu-se entre as aulas de Direito Constitucional, a publicação de livros sobre questões jurídicas e a vida de promotor de Justiça até topar com as pompas e fitas da política profissional. Em duas passagens por secretarias estaduais, esforçou-se para candidatar-se ao governo de São Paulo pelo PSDB. Não deu certo. Durante a escala numa secretaria municipal, tentou entrar na disputa pela prefeitura da capital. Não funcionou. Parecia posto em sossego no Ministério da Justiça e da Segurança Pública no momento em que foi resgatado pelo imponderável: o acidente aéreo que matou Teori Zavascki abriu uma vaga no STF. E Alexandre de Moraes foi incorporado à altíssima cúpula do Poder Judiciário.

O então governador Geraldo Alckmin, durante a apresentação do novo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes (17/12/2014)

Em março de 2019, dois anos depois do desembarque, o ainda caçula do Egrégio Plenário pressentiu que enfim chegara a sua hora. Sitiado por denúncias e suspeitas que envolviam tanto os titulares do Timão da Toga quanto seus parentes, o presidente Dias Toffoli resolveu escalar o colega menos experiente no comando do ataque. Sem tempo a perder com o sistema acusatório brasileiro, Toffoli mandou às favas o Ministério Público e abriu o Inquérito 4.781 por conta própria. Segundo a legislação, isso só é permitido se o fato a investigar tiver ocorrido nas dependências da Corte. Toffoli anexou à sede do STF todo o território nacional.

As normas internas ordenam que o relator de cada caso seja escolhido por sorteio. Sem consultar os demais presididos, o presidente encarregou Moraes de “investigar a existência de notícias falsas, denunciações caluniosas, ameaças e roubos de publicação, sem os devidos direitos autorais, infrações que podem configurar calúnia, injúria e difamação contra os membros da Suprema Corte e seus familiares. Assim nasceu o Inquérito das Fake News, vulgo Inquérito do Fim do Mundo. Assim deu-se o parto do aleijão jurídico que permitiria a um único ministro desempenhar simultaneamente os papéis de vítima, detetive, delegado, promotor, magistrado e juiz de recursos. Assim começou o aparentemente infinito cortejo de ilegalidades que faria de um ministro o homem mais poderoso do Brasil. Moraes virou Alexandre, o Supremo.

Alexandre de Moraes foi indicado por Michel Temer para ingressar no STF

Como fracassou a tentativa de punir com censura e multas uma revista digital que publicara uma reportagem sobre Toffoli, poucos levaram a sério o pontapé inicial na Constituição. O fiasco inaugural, sabe-se agora, camuflava o ovo da serpente. Além dos sentidos mais primitivos do artilheiro, os erros da primeira ofensiva contra a liberdade de expressão acordaram o antigo promotor e o especialista em segurança pública. Esses dois Moraes sempre flexionaram com fluência e animação os verbos prediletos dos semeadores do medo, como punir, acusar, prender, castigar ou intimidar. Passados quatro anos, o balanço é perturbador. O inquérito inicial desdobrou-se em sete, ou oito, ou dez. Ninguém consegue informar com precisão porque todos correm em sigilo. Alguns são tão sigilosos que talvez nem mesmo Moraes saiba direito de onde vieram e para onde vão.

Nenhum dos Poderes escapou. Em 2020, ao interditar a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para a Superintendência da Polícia Federal, implodiu a norma legal que atribui exclusivamente ao chefe do Executivo a escolha do ocupante do cargo. Em 2021, atropelou o Legislativo, aposentou a Constituição, suspendeu a imunidade parlamentar e inventou o flagrante perpétuo — tudo para prender o deputado federal Daniel Silveira por delitos enquadrados desde sempre no trecho do Código Penal reservado aos crimes contra a honra. Em abril de 2022, Moraes liderou o STF no julgamento que condenou o ainda deputado a quase nove anos de prisão. No dia seguinte, Jair Bolsonaro contemplou Silveira com a graça presidencial — um indulto individual que só o presidente da República pode conceder.

“A graça de que trata este decreto é incondicionada e será concedida independentemente do trânsito em julgado da sentença penal condenatória”, ressaltou um trecho do documento. “Essa é uma atribuição do presidente da República, gostemos ou não”, concorda o vídeo em que o ministro ensina que ninguém tem o direito de fazer o que vem fazendo obsessivamente na perseguição a um dos seus alvos preferenciais. Um dia depois de encerrado o mandato, o xerife Moraes atropelou o professor Moraes para prender Silveira de novo. Silveira já não podia invocar a imunidade parlamentar. Mas o ministro perdera o direito de julgá-lo: um ex-deputado não tem foro especial. “O Brasil não é uma terra sem lei”, vive declamando o Protetor do Estado de Direito. A lei sou eu, falta avisar. Só ele sabe o que é verdade e o que é mentira. Só ele conhece a diferença entre informar e desinformar. Só ele conhece a fórmula que livrará a pátria em perigo dos fascistas, dos golpistas, das usinas de fake news, dos atos antidemocráticos e do gabinete do ódio. O ministro Moraes decide, todos os outros dizem amém. Ou quase todos.

Os responsáveis por esse “quase” que se cuidem, informou o desempenho de Moraes na sessão do STF que anulou o perdão presidencial e manteve Silveira na cadeia. Primeira a votar, a presidente Rosa Weber endossou a eternização do castigo. Moraes mostrou quem manda por lá no começo do segundo voto, enunciado pelo dissidente André Mendonça. O ministro indicado por Bolsonaro registrou que, depois da condenação de Silveira, “surgiram várias vozes na sociedade dizendo que a pena teria sido excessiva”. Moraes revidou com um olhar de grosso calibre.

– Eu cito neste sentido… é… entrevista dada ao… Es… ao jornal O Estado de S. Paulo… pelo… por Fernando Abrucio, a… em matéria publicada no dia 28 de abril de 2022 — gaguejou Mendonça. — Diz a chamada da matéria: “Pena de Daniel Silveira foi um pouco exagerada e Congresso não deu suporte ao STF, diz pesquisador”.

– Permite uma pergunta, ministro André? — interrompeu a voz abaritonada, ajustando o timbre de feitor.

– Permito.

– O Abrucio é jurista?

– Não, mas…

– Só pra que conste dos anais.

– Não, mas… mas cito também Fernando Capez, consultor jurídico, que foi colega de Vossa Excelência…

– E à época também deputado… candidato a deputado pelo partido do presidente.

– E cito Valdo Cruz. Aqui ele não faz referência a nenhum jurista…

– E também não é jurista.

– Não, não é… mas ele diz o seguinte… salvo que a gente vá dizer que é fake news. Podemos até dizer.

– Levando em conta quem tá sendo julgado, é até possível – encerrou Moraes.

Que “eminente ministro”, que nada. Que “Vossa Excelência”, que nada. Quem prende ou solta quem quer agora dispensa aos colegas o tratamento que lhe der na telha. Um “ministro André” já está de bom tamanho. É excesso de gentileza para quem, onisciente desde os tempos do berçário e onipresente depois dos distúrbios de 8 de janeiro, merece esbanjar onipotência. Não é para qualquer vivente prender mais de 1.500 de uma vez só, ressuscitar o exilado sem julgamento e o preso político, conceber a prisão preventiva sem prazo para terminar, manter advogados longe dos autos, engaiolar sem condenação transitada em julgado um indígena, um tenente-coronel e um ex-ministro da Justiça, lotar celas imundas com mulheres idosas ou jovens mães, interferir em votações no Congresso, deformar projetos de lei com emendas da própria lavra, confiscar passaportes por atacado, lacrar contas bancárias, negar a empresários o acesso a redes sociais, impor multas calculadas em milhões e seguir ampliando em ritmo de Fórmula 1 a produção de tornozeleiras eletrônicas — fora o resto. Tudo em defesa do sistema democrático.

Paciência tem limite, avisam os sinais de cansaço emitidos pela imprensa convencional ou por aliados de Lula. Um artigo publicado no Estadão por um grupo de juristas que inclui Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, por exemplo, protestou contra as restrições impostas aos advogados de brasileiros presos em Brasília desde 9 de janeiro deste ano. “Foi impossível exercitar o direito de defesa”, diz um trecho. “Foram apresentadas denúncias contra centenas de pessoas, embora os textos dessas petições iniciais não contenham descrições pormenorizadas das condutas de cada um dos acusados. São peças genéricas, em que se repetem as mesmas frases, mudando apenas o nome do cidadão ou da cidadã a quem se imputam crimes a mancheias. Quase não se julgam mais habeas corpus nas turmas do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça. A regra é a prolação de julgamento monocrático.”

Também neste início de maio, o mesmo jornal vergastou em editorial a mais recente ofensiva de Moraes contra as empresas Brasil Paralelo e Spotify. “Há graves erros na decisão de Alexandre de Moraes. Em primeiro lugar, ela se baseia em uma profunda incompreensão do papel do Judiciário no Estado Democrático de Direito. Nenhum juiz é árbitro do debate público no País, menos ainda com decisões de ofício, menos ainda sobre projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional. Absolutamente descabido, o papel de tutor arvorado pelo ministro do STF agride profundamente a liberdade de expressão e o exercício da cidadania. (…) A decisão tem também sérias deficiências de fundamentação. Não basta dizer, por exemplo, que ‘a liberdade de expressão não é liberdade de agressão’, ou que ‘as redes sociais não são terra sem lei’. Mesmo que dispusesse de atribuição jurisdicional para atuar assim, o magistrado teria, no mínimo, de indicar onde os conteúdos que precisam ser removidos agridem terceiros ou desrespeitam a lei.”

Editorial do jornal Estado de S. Paulo (4/5/2023)

“É preciso cassar, com urgência, a decisão de Alexandre de Moraes”, recomenda o editorial. É preciso mais que isso. O Brasil real, o Brasil que pensa e presta, esse precisa livrar-se da pandemia de medo, compreender que todo o poder emana do povo, aprender que não existem homens providenciais e decretar o encerramento da Ópera do Prepotente. Democracias dispensam tutores – pouco importa se apareçam fardados, de terno ou de toga.

DEU NO JORNAL

SOBRE O QUE ESCREVER QUANDO A GENTE NÃO PODE ESCREVER O QUE QUERIA ESCREVER?

Luciano Trigo

Estava pensando em escrever sobre o caso do Telegram e do PL 2630, mas sei lá, né? Não parece muito prudente, melhor deixar esse assunto pra lá. Além do mais, o próprio Telegram já se ajoelhou no milho, apagou a mensagem e enviou outra, em tom de auto-humilhação, depois que os guardiões da democracia deixaram claro como deve ser o debate sobre o tema, isto é, restrito a quem for a favor. Ainda bem que existem esses guardiões, para proteger a democracia de tantos ataques.

Mas quem for contra o PL não tem direito de se manifestar? Quem for contra o PL tem o direito de ficar calado. Onde já se viu ser contra um projeto de lei tão magnânimo, desinteressado e irretocável, movido exclusivamente pelo interesse público e pelo bem comum?

Em uma democracia não tem disso não. E quem teimar em discordar será democraticamente calado na marra. Isso sem falar nas democráticas multas de milhões de reais por hora, nas contas democraticamente bloqueadas nas redes sociais etc.

Ou seja, parece que revogaram o Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquele que dizia que “todos têm o direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de ter opiniões sem interferência e de buscar, receber e transmitir informações e ideias por qualquer meio e independentemente de fronteiras”.

Ora, é que na época em que a Declaração foi escrita não existiam redes sociais, esse Artigo 19 ficou superado, é preciso adequá-la aos novos tempos; Se andaram dizendo por aí que até a Bíblia precisa ser reescrita, qual seria o problema em suprimir um artigozinho de nada da Declaração dos Direitos Humanos?

Chegamos a uma nova e fulgurante etapa da democracia, uma etapa na qual, por exemplo, se alguém perguntar, com base em tais e quais argumentos, se um projeto de lei representa um risco de censura, será imediatamente rotulado como golpista, desqualificado e censurado, por melhores que sejam os seus argumentos.

Mas por quê? Porque esses argumentos representam um ataque à democracia e já foram refutados por especialistas, você não viu? Ah bom. Que beleza, né? Se o PL 2630 nem foi aprovado e já é assim, imagina depois que virar lei: aí sim a democracia será plena no Brasil. Plena e sumária.

O chato é que este não foi um caso isolado. Para qualquer articulista minimamente independente, basta acompanhar o noticiário para ter uma ideia por hora sobre um potencial artigo. Mas… quando ele começa a escrever, vêm aqueles pensamentos incômodos: “Será que isso pode? Tem certeza? Olha o que aconteceu com aquele jornalista, com aquele escritor, com aquela atriz, com aquele humorista, até com aquele deputado…” Por via das dúvidas melhor não, né?

Por exemplo, eu também queria escrever sobre o (autocensurado), sobre a (autocensurado) e sobre os (autocensurado). Mas olho para os lados e vejo que pode não ser uma boa ideia. Melhor comentar o campeonato mundial de xadrez, os play-offs da NBA ou alguma série da Netflix.

A verdade é que não dá mais para ter certeza sobre o que estamos autorizados a dizer. Em uma ditadura os limites seriam mais claros. Mas, na nova democracia, os limites da liberdade de expressão – que já foi percebida como uma cláusula pétrea da democracia, um direito inalienável defendido inclusive pela esquerda – estão cada vez mais vagos e difíceis de entender.

Quando discordar do governo vira sinônimo de atacar a democracia, opinião pode virar crime. E os militantes do ativismo jornalístico, que antigamente gritariam “Censura nunca mais!” e “É proibido proibir!”, hoje comemoram a perseguição ou o cancelamento de qualquer voz dissonante. Porque é assim que as coisas funcionam: na democracia de um lado só, os jornalistas também só podem ter um lado. Tempos muito estranhos.

Então, na dúvida, prezado leitor, quando te perguntarem alguma coisa relacionada ao PL 2630, ou aliás a qualquer outro assunto politicamente sensível, o melhor a fazer é responder como o Zé Carioca respondeu ao Pato Donald no meme que ilustra este artigo: “Não posso reclamar”. Porque talvez você não possa mesmo.

DEU NO TWITTER

DOLORIDINHO

* * *

Num acredito.

O Mentiroso dispõe de todos os recursos médicos pra não sofrer dor alguma.

Certamente deve ser mais uma mentira do Ladrão Descondenado.

Pra se passar por sofredor e fazer quem fez o L ter pena dele.

Mas, se for mesmo verdade (algo que lamento e que não desejo pra ninguém), uma coisa é certa, certíssima:

Não é dor de consciência de modo algum!!!

É mais provável que seja dor de barriga, consequência de aguardente estragada.

RLIPPI CARTOONS