DEU NO X

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

O PEIXE – Patativa do Assaré

Tendo por berço o lago cristalino,
Folga o peixe, a nadar todo inocente,
Medo ou receio do porvir não sente,
Pois vive incauto do fatal destino.

Se na ponta de um fio longo e fino
A isca avista, ferra-a inconsciente,
Ficando o pobre peixe de repente,
Preso ao anzol do pescador ladino.

O camponês, também, do nosso Estado,
Ante a campanha eleitoral, coitado!
Daquele peixe tem a mesma sorte.

Antes do pleito, festa, riso e gosto,
Depois do pleito, imposto e mais imposto.
Pobre matuto do sertão do Norte!

Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, Assaré-CE (1909-2002)

 

DEU NO X

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

JESUS DE RITINHA DE MIÚDO

FANÁTICO

Cada vez que eu te vejo
Dispara meu coração
Em virtude da beleza
Ante a minha visão
E se não posso tocar-te
Deixa apenas mirar-te
Com minha admiração.

Se acaso disseres “não”
Respeitarei teu querer
Prometo cegar meus olhos
– Sofrendo não sei viver –
Melhor ser cego de guia
Do que não ter a alegria
Por não poder mais te ver.

Porém, se eu merecer
De ti, essa permissão
Seguirei com mais respeito
E sem perder a razão
Louvar-te-ei em meus versos
De sentimentos dispersos
Em disfarçada paixão.

DEU NO X

DEU NO JORNAL

DEZ ERROS GRAVES

Deltan Dallagnol

10 erros graves de Lula e seu governo

Lula e o governo petista voltam a repetir os erros do passado. Karl Marx, defensor do socialismo e do comunismo pós-capitalista, fonte de ideias do PT e de Lula, invocou estudos do filósofo Hegel para afirmar que os grandes fatos e personagens da história se repetem duas vezes. E acrescentou: “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

Neste artigo, mencionarei brevemente dez erros deste governo em menos de um mês de gestão, efetivados, em desenvolvimento ou anunciados.

Primeiro: na última terça, na Argentina, Lula afirmou que o BNDES vai voltar a financiar projetos de engenharia em países vizinhos. As obras no exterior financiadas pelos governos do PT beneficiaram empreiteiras investigadas na Lava Jato, que por sua vez repassavam propinas ao partido e a governos estrangeiros. A Odebrecht foi beneficiada com 76% do valor dos empreendimentos, porção que alcança a cifra de US$ 7,9 bilhões.

Enquanto há numerosas obras inacabadas no Brasil e outras necessidades urgentes, o país financiou projetos de outros países como as ditaduras de Venezuela e Cuba, que sozinhas receberam R$ 11 bilhões e nos deram um calote de R$ 3,5 bilhões. A própria Argentina ainda tem uma dívida superior a R$ 100 milhões com o Brasil.

Segundo: Lula e sua equipe prometeram e estão executando irresponsabilidade fiscal, ou seja, gastos maiores do que as receitas. Gastar mais do que se ganha tem consequências: endividamento, inflação, juros altos, retração econômica, desemprego e perda de renda, como expliquei aqui, ainda em novembro.

Desde então, houve mais declarações desastrosas. O ministro Carlos Lupi negou o déficit da previdência e afirmou querer rever a reforma. A ministra da Gestão Esther Dweck é defensora do abandono da austeridade fiscal. Haddad, o primeiro ministro da Economia que não sabe o que é a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), afirmou que o “teto de gastos não é confiável”. Recentemente, Lula afirmou “não peçam para mim seriedade fiscal”.

Por conta das ideias e falas desastrosas, a Bolsa cai e o dólar e os juros aumentam. Lula não se importa em colocar o Brasil diante do precipício econômico: “Vai aumentar o dólar e cair a Bolsa? Paciência”, disse ele. Já Haddad, negando a realidade, tentou fazer o povo de trouxa, dizendo que a causa disso é que “está caindo a ficha” do mercado sobre medidas do governo Bolsonaro. Mais tarde, apresentou um pacote fiscal “para inglês ver”, recheado de ficção e da contabilidade criativa que o PT conhece bem, mas que não enganou os analistas econômicos.

Terceiro: ainda na economia, Lula criticou a independência do Banco Central como uma “bobagem”, assim como o controle da inflação como algo que prejudicaria o crescimento. Contudo, a autonomia do BACEN é uma grande conquista institucional que foi garantida pela Lei Complementar 179, de 2021. Estudos e a experiência internacionais demonstram que ela é importante para a estabilidade financeira e o controle inflacionário no país. O presidente do Banco Central do próprio governo Lula, Henrique Meirelles, afirmou que a consequência de uma tentativa de Lula de derrubar a autonomia do órgão geraria aumento de juros e da inflação.

Quarto: na última segunda-feira, Lula confirmou que Brasil e Argentina trabalham para ter uma moeda comum, o que já havia sido discutido por Haddad com embaixador da Argentina no começo do mês e foi reiterado por Haddad na última terça. A Argentina já foi um dos países mais ricos do mundo, mas adotou uma política econômica anti-liberal – a mesma que Lula prega – a partir de meados do século XX, fez o país andar para trás. Com o descontrole do déficit e da dívida pública, decretou moratória em 2001 – ou seja, deu o calote nos credores – e viu a crise, o desemprego e inflação tomarem conta – sem falar na corrupção. Em vez de atacar as causas do problema, adotou medidas heterodoxas, como congelamento de preços e o bloqueio de recursos bancários dos cidadãos. O caos econômico se instalou e, no ano passado, a inflação argentina foi de 94,8%. Ao que parece, Lula quer abrir os braços do Brasil para o abraço dos afogados da Argentina.

Quinto: maior rigor na segurança pública é um dos pontos que unem os dois lados da polarização, junto com apoio à democracia e investimentos em educação, segundo pesquisa da Quaest divulgada em dezembro. Mais de 90% dos bolsonaristas e apoiadores do PT apoiam a prisão de jovens que cometem crimes a partir dos 16 anos. Contudo, o PT não só se posiciona contrariamente à mudança, mas preencheu cargos do Ministério da Justiça com advogados alinhados à visão “garantista” e de desencarceramento. Dentre as diretrizes ideológicas do partido estão ainda a desmilitarização das polícias, a restrição do acesso a armas de fogo e um menor rigor no combate às drogas. Lula selecionou também para aquele ministério diversos opositores da operação Lava Jato, o que aponta na direção de mais retrocessos na luta contra a corrupção, que já vêm acontecendo e detalharei adiante.

Sexto: o governo mal começou e já demonstrou inacreditável incompetência na gestão da crise do dia 8 de janeiro. Embora avisado pelo sistema de inteligência sobre os riscos, deixou de adotar medidas eficientes para impedir a depredação do patrimônio físico, cultural e histórico dos brasileiros. Some-se que o governo vem aparelhando os órgãos de persecução, de modo contrário ao discurso petista de que seus governos jamais interferiram em investigações. Lula, por exemplo, transferiu o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) do Banco Central, que é independente, para o Ministério da Fazenda, onde fica sujeito a interferências políticas. O COAF é o órgão de inteligência financeira brasileiro, que colhe informações para dar início ou subsidiar investigações de lavagem de dinheiro sujo que vem de todo tipo de crime, notadamente corrupção e tráfico de drogas.

Além disso, o governo retrocedeu na nomeação de um policial rodoviário como diretor do seu órgão simplesmente porque tinha feito, no passado, um post em apoio à operação Lava Jato, sem explicar – afinal, é inexplicável – por que esse posicionamento poderia prejudicar o exercício de uma função técnica. Por fim, o ministro Flávio Dino mudou regras de nomeação para os cargos de chefia da Polícia Federal, acabando com a exigência de experiência prévia em cargos do alto escalão, o que amplia o universo de potenciais indicados para o bem ou para o mal – neste caso, por elastecer a possibilidade de indicações político-partidárias.

Sétimo: você não vai se surpreender, mas em menos de um mês o governo já começou a minar o sistema anticorrupção, tentando mudar a Lei das Estatais. Lula pretende abrir espaço para indicar políticos aliados para cargos executivos ou no conselho de administração das empresas, ainda que não tenham currículo – conhecimento ou experiência – para a função. São 587 cargos em estatais federais, mais 315 em seus conselhos de administração e 272 posições de diretores executivos. Será uma farra. É importante recordar que essa lei foi aprovada em 2016 em reação ao esquema do petrolão, criando mecanismos de governança e obstáculos para o loteamento político-partidário das estatais, a fim de evitar que voltassem a ser saqueadas. Além disso, o governo quer rever os acordos feitos pela Lava Jato com empreiteiras e já sinalizou que pode escolher o futuro Procurador-Geral da República fora da lista tríplice, formulada para que a escolha do procurador-geral recaia dentre procuradores testados e aprovados ao longo de décadas de atuação, com experiência e maior independência.

Oitavo: em paralelo ao enfraquecimento do COAF, da lei das estatais e do Ministério Público, Lula se cerca de numerosos investigados e condenados, sobre os quais deposita a responsabilidade de gerir a coisa pública. Só na equipe de transição, eram sessenta e sete. Enquanto barra nomes técnicos como o da médica referência em vacinação Ana Goretti Kalume, por conta de ter feito manifestação favorável à Lava Jato, Lula não tem vergonha de nomear enrolados na Justiça. Dentre os trinta e sete ministros, mais da metade, dezenove, já foram investigados. Isso aumenta significativamente os riscos de, mais uma vez, descobrirmos daqui a alguns anos mensalões e petrolões.

Waldez Góes, por exemplo, foi condenado por improbidade administrativa pelo STJ por desvio de dinheiro, sobre o que já escrevemos aqui. Recentes revelações sobre a ministra do Turismo Daniela Carneiro apontam para o desvio de mais de R$ 1 milhão por meio de gráficas fantasmas e para ligações com as milícias, dentre outras acusações. O ministro Carlos Lupi é investigado por peculato e lavagem de dinheiro, bem como é réu por improbidade administrativa. O próprio vice-presidente Alckmin, escolhido também para chefiar um ministério, responde a acusações de corrupção e lavagem de dinheiro decorrentes da Lava Jato. Com essa equipe na liderança, não surpreende, realmente, o enfraquecimento das instituições de combate à corrupção.

Nono: Lula prometeu pacificar o país, mas suas palavras não correspondem aos fatos. Embora tenha tido pouco mais do que a metade dos votos – não chegou a 51% -, ataca com frequência o candidato derrotado e pautas caras para seus eleitores. Apressou-se, por exemplo, para restringir a liberdade do acesso a armas. No dia 8 de janeiro, após decretar intervenção federal, atacou de modo gratuito o agronegócio, responsável por 25% do PIB e 50% das exportações, como possível culpado pela invasão dos prédios dos três poderes. Embora tenha se colocado contra o aborto na campanha, traiu a confiança dos brasileiros, que são em ampla maioria contrários à sua legalização – 70%, segundo pesquisa do IPEC divulgada em setembro do ano passado. Lula anunciou na terça-feira, dia 17, que o Brasil não faz mais parte do acordo internacional do Consenso de Genebra em defesa da vida e da família. Dois dias depois, o presidente fomentou a luta de classes e o preconceito contra empresários, afirmando que ficam ricos porque quem trabalha são os funcionários e não os patrões. Some-se que segue atacando verbalmente a Lava Jato e perseguindo as autoridades que trabalharam no caso, inclusive por meio de ações para tentar cassar a eleição de Sergio Moro e a minha.

Décimo: Por fim, Lula criou uma espécie de Ministério da Verdade, uma procuradoria dentro da Advocacia Geral da União de “defesa da democracia”, a fim de combater as “fake news”. Além disso, criou a Secretaria de Políticas Digitais na Secretaria de Comunicação Social, que enfrentará a “desinformação” e o “discurso de ódio na internet”. Contudo, o órgão tem grande potencial de ser utilizado para perseguição política de críticos do governo. Lula não explicou que critérios serão usados por seu governo para definir o que é uma informação válida e o que é fake news. Será o seu entendimento da história? Recentemente, por exemplo, uma página oficial do governo chamou o impeachment de 2016 de “golpe”, o que afronta as instituições brasileiras. Quem discordar estará sujeito a se tornar réu e perseguido pelo novo Ministério da Verdade? Ai, então, de quem ousar defender que Mensalão e Petrolão foram grandes esquemas de corrupção comandados pelo PT. O Estado jamais deve ter o poder de impor sua narrativa e condenar vozes discordantes.

Isso não é tudo. Mudanças do marco de saneamento preocupam. Abandonou-se a política de privatizações, o prometido reajuste do imposto de renda não foi cumprido, os cofres públicos foram drenados em R$ 216 mil para custear, sem licitação, o hotel onde estão morando Lula e Janja, houve nomeação de ministro para pasta em que tem conflito de interesses e muito mais, o que não caberia neste artigo, mas coube nos 27 primeiros dias de gestão.

Para Marx, a versão antiga do governo Lula seria a tragédia, e a nova, uma farsa. Contudo, o primeiro governo Lula foi uma farsa desmascarada pela Lava Jato, ao demonstrar desvios bilionários em grande medida utilizados para financiar e influenciar indevidamente as eleições. E, agora, a julgar pelos erros gravíssimos para o país cometidos em menos de 30 dias no poder, a segunda versão do governo, sim, promete ser uma tragédia. Que o governo, as instituições e os brasileiros despertem e não vivamos o pesadelo da tragédia moral e econômica petista que o governo começa a repetir.

DEU NO X

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

MERCADOS – CENTRAL E SÃO SEBASTIÃO

Mercado São Sebastião dos anos 50/60

“Todo mundo canta sua terra
Eu também vou cantar a minha
Modéstia à parte seu moço
Minha terra é uma belezinha

A praia de Iracema, Meireles,
Cumbuco e Icaraí
Praias bonitas assim
Eu juro que nunca vi

Minha terra tem beleza
Que em versos não sei dizer
Mesmo porque não tem graça
Só se vendo pode crer”

Nessa espécie de narrativa, peço desculpas à alguns leitores que conhecem Fortaleza tanto quanto eu, informando que saí da capital cearense em 1967 – já se vão 56 anos – e, sempre que volto, nunca passo mais de uma semana. Assumo que, o assunto aqui é a Fortaleza do meu tempo, da minha juventude e saudade.

Durante anos morei na Rua 21 de Abril, Porangabuçu. Na época, estudava no Grupo Municipal São Gerardo, situado na Avenida Bezerra de Menezes, ao lado da Igreja Matriz do bairro. Estudei ali por cinco anos. Todos os dias caminhava cerca de 8 Km na ida, e mais 8 Km na volta, passando na frente na Igreja São Raimundo, na época, em construção. Ali, todos os dias, indo e voltando era obrigado a descalçar os sapatos Vulcabrás para atravessar um córrego perene que existia. Passava e apreciava pelo campo dos eucaliptos no Campo do Pio e, finalmente alcançava o Grupo Municipal. A volta à casa acontecia debaixo de um sol inclemente.

No quinto ano daquele périplo, essa caminhada passou a ser feita também na parte da tarde, para a casa da Professora Mundica, numa preparação para enfrentar o Exame de Admissão ao Curso Ginasial.

Atual Mercado São Sebastião “point” turístico e gastronômico de Fortaleza

Eis que chega o ano de 1958 e, pelo que estudei, logrei aprovação no Liceu do Ceará, onde estudei por 7 longos e proveitosos anos. Foi então, logo no início de 1958 que conheci o Mercado São Sebastião.

Durante quatro longos anos, após descer do ônibus na Avenida Bezerra de Menezes, caminhava pela Rua Padre Ibiapina até o Liceu do Ceará. Ia e voltava. Na volta, olhei inúmeras vezes o renomado pintor Antônio Bandeira usando a varanda da casa, provavelmente pintando algum quadro. Eu não o conhecia nem o sabia famoso internacionalmente. Eu o cumprimentava, falando um jovem bom dia. Ele, olhando por sobre os óculos, respondia o cumprimento.

Dali, meu caminho era o Mercado São Sebastião, onde eu tinha o hábito de comprar macaúbas, atas maduras (que me serviam de lanche/almoço), mariolas e alfenins. Retornava para a Bezerra de Menezes, onde pegava o ônibus de volta à casa.

Com o passar dos anos, compreendi a importância do Mercado São Sebastião, que funcionava como se fora uma CEASA para os moradores, recebendo e distribuindo produtos hortifrutigranjeiros que chegavam a partir de Caucaia e demais municípios.

Hoje, o Mercado São Sebastião, reformado, é um centro turístico e gastronômico. Funciona como se fora uma “Feira de Caruaru” do sertão pernambucano.

Lateral do antigo Mercado Central nos anos 50/60

Finalmente a juventude bateu no meu endereço. Servi ao Exército (mais propriamente no CPOR de Fortaleza), ao tempo que também concluía o Curso Científico – depois de ter conseguido “aprovação” para a ESA (Escola de Sargento das Armas) e continuar esperando ser chamado até hoje – e comecei a trabalhar. Trabalhei dois ou três anos na Organização Silveira Alencar (Concessionária Chevrolet), cuja sede ficava na Rua Sena Madureira, o que me obrigava a conviver com o Mercado Central.

O primeiro trabalho me obrigou a mudar os hábitos alimentares. Morando na Bela Vista, precisava caminhar até a Praça José de Alencar, onde pegaria o ônibus para casa. Ao mesmo tempo, comecei a estudar para o Vestibular. Descobri que precisava aproveitar o tempo para estudar. Passei a “me alimentar” nas precárias dependências do Mercado Central e quase virei “vegano”, pois continuei me alimentando de muitas frutas.

Fiz provas e fui admitido para trabalhar na The Western Telegraph Ltd., cuja sede ficava na Rua Castro e Silva, também ao lado do antigo Mercado Central.

Mercado Central virou atração na capital cearense

Pois, esses dois mercados sediados em Fortaleza que hoje fazem parte da grade turística e gastronômica da capital cearense, foram importantes na reconstrução do amor e no apego que continuo nutrindo pela minha eterna “loira desposada do sol”.

DEU NO X