
Arquivo diários:25 de novembro de 2022
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PERCIVAL PUGGINA

QUANDO QUASE NINGUÉM SE IMPORTA
Rodrigo Pacheco e Arthur Lira, presidentes do Senado e da Câmara
“As coisas desmoronam e acontecem por estupidez e descuido.” (John Sanford)
Se você, cidadão consciente, conservador e liberal, patriota, considera parte de seu dever de casa dar uma espiada nas vitrines da concorrência, provavelmente já percebeu que o Congresso Nacional a ser empossado em fevereiro não será notavelmente diferente do atual. O mercado está aberto para as mercadorias da política nacional.
A perspectiva de que Lula – oh céus! – seja empossado na presidência já comanda as decisões das agremiações políticas. Arthur Lira e Rodrigo Pacheco negociam as respectivas reeleições. A “maioria conservadora” perdeu a totalidade do centrão. Há sinais claríssimos de que as melancias ideológicas se vão reacomodando na carroça brasiliense e os cargos, se não existem, vão sendo criados para atender a demanda. Certo como a morte, o prejuízo será nosso.
Independentemente do que venha a acontecer no curto prazo, e o prazo encurta no tic-tac do relógio, considero indispensável que a janela da realidade, ou o palco, ou o picadeiro (como queiramos) sirva para ver toda a malícia de um sistema político que não funciona para a democracia, mas para os agentes políticos, ou atores, ou acróbatas (como queiramos). É graças a esse sistema que os eleitores trocaram uns por outros, mas – surpresa! – não deu muito certo. Mais uma vez, é reduzido o número de parlamentares de quem se pode dizer com admiração – “Esse me representa!”.
O que me dá uma canseira na alma é tão poucos darem importância a um problema desse tamanho! A inteira campanha eleitoral transcorreu num verdadeiro caos institucional, mas quase ninguém escolheu seu congressista levando em conta a necessidade de reformar as instituições. A imensa maioria dos cidadãos considera tratar-se de “caveira de burro” azarenta, sempre presente. No entanto, é pura e simples subordinação do jogo à regra do jogo. E tudo se agrava porque, mais recentemente, o juiz do jogo também gosta de bater sua bolinha, tem time do coração, entra em campo e dá botinada no adversário.
Não bastasse isso, sob o ponto de vista do poder político, nossa “democracia” é comandada pelos interesses de uns poucos. No Congresso, as decisões são tomadas pelos presidentes do Senado e da Câmara, e por uma dúzia de líderes em cada uma das duas casas. São 26 pessoas que regem 596 congressistas. Ponha mais sete ministros que formam a maioria politicamente alinhada no STF e o presidente da República e verá que 36 pessoas dirigem o show. Nota: se isso lhe parece desproporcional, não perca de vista o fato de que hoje uma, apenas, dirige tudo e só se aposenta em 2043.
Não tenho espaço neste artigo para discorrer sobre reforma política, tema sobre o qual tanto já escrevi. Apenas aproveito a cena do “acidente” para dizer que ele não é casual. Há motivos institucionais mais do que suficientes para se reproduzir indefinidamente.
É o que acontece quando quase ninguém se importa.
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JÁ DÁ PRA IMAGINAR O QUE VEM POR AÍ…
AUGUSTO NUNES

FORA, LULA!
Em Brasília, manifestantes contra o governo FHC pedem a saída do presidente
Fruto do acasalamento de dirigentes sindicais que achavam leitura pior que exercício em esteira, intelectuais que só viam pobres de perto nas fotos de Sebastião Salgado e veteranos da luta armada que caíram fora do país antes que aprendessem a diferença entre coronha e gatilho, o Partido dos Trabalhadores nasceu em 1980 já fantasiado de detentor do monopólio da virtude. A chegada ao governo federal em 2002 apressou o fim da farsa. E o Brasil decente não demorou a espantar-se com a multidão de messalinas aglomeradas no templo das vestais que o PT fingira existir por mais de 20 anos.
Fora do partido ninguém prestava, recitaram as virgens de bordel nas duas últimas décadas do século 20. Em 1985, por exemplo, o já morubixaba Lula ordenou à bancada no PT que se abstivesse de votar no Colégio Eleitoral formado para escolher o civil que ocuparia a Presidência da República – atribuição privativa de generais desde 1968. Para o chefe, não havia diferenças entre um Paulo Maluf – ele mesmo – e Tancredo Neves. Três deputados federais entenderam que Tancredo era infinitamente melhor. Foram expulsos do partido.
Impedido de assumir o cargo pela doença que ocultara para garantir uma transição sem traumas, Tancredo foi substituído pelo vice José Sarney. “Fora, Sarney!”, gritaria a companheirada nos cinco anos seguintes. (“Sarney é o maior ladrão do Brasil”, afirmou Lula em 1988, num comício em Vitória. Hoje os dois casos de polícia são amigos.) No mesmo ano, o então deputado Luiz Inácio Lula da Silva, líder do PT na Assembleia Constituinte, determinou que a bancada inteira assinasse o texto aprovado por ampla maioria, com uma ressalva: todos rejeitavam “uma Constituição que ignora os direitos da classe trabalhadora”. Que direitos seriam esses? Ninguém sabe.
Os presidentes brasileiros Itamar Franco, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, durante o funeral do papa João Paulo II, no Vaticano, em 2005
Na eleição presidencial de 1989, o segundo colocado no primeiro turno vencido por Fernando Collor negou-se a pedir apoio aos demais candidatos afastados da etapa final. Sempre avesso a demonstrações de altivez, líderes do PSDB e do PMDB decidiram comparecer a um comício nas imediações do Estádio do Pacaembu. Hostilizados na chegada pela plateia restrita a militantes do PT, figuras como Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e Ulysses Guimarães se enfurnaram por duas horas no fundo do palanque. Nenhum deles foi convidado a discursar. Se houvesse o convite, é improvável que algum topasse.
Até 1992, quando o adversário vitorioso foi afastado da Presidência, a companheirada berrou “Fora, Collor!”. Consumado o impeachment, bucaneiros incansáveis colocaram na alça de mira o vice que acabara de assumir. Disposto a cauterizar ao menos algumas feridas abertas pela polarização feroz, Itamar Franco convenceu a petista Luiza Erundina a aceitar uma vaga no ministério. Erundina foi suspensa pelo PT. E os gritos de “Fora, Itamar!” só cessaram quando o substituto de Collor repassou o gabinete no Palácio do Planalto.
Estudantes saíram às ruas com caras pintadas de verde e amarelo, pedindo “Fora, Collor”, no ano de 1992
“Fora, Fernando Henrique!”, atualizou-se o coro dos descontentes profissionais depois da derrota de Lula no primeiro turno da eleição de 1994. Ignorante em economia, o chefão não consultou ninguém do ramo para qualificar de embuste o conjunto de medidas que domaria a inflação selvagem. Político presunçoso, acreditou na conversa fiada dos áulicos: um intuitivo genial era mais sabido que gente com doutorado em jogadas eleitorais capazes de virar qualquer jogo. Continuou desdenhando do plano econômico mesmo quando plateias eufóricas já brandiam cédulas do novo dinheiro nos comícios do adversário. Lula não acordou nem mesmo quando o prenome composto foi aposentado por três iniciais e Fernando Henrique Cardoso virou FHC.
Entre 1994 e 1998, os deputados federais do PT tentaram sepultar todos os projetos, propostas e ideias que tivessem o endosso do presidente da República. Isso mesmo; TODOS. Sempre por unanimidade, a bancada do partido na Câmara votou contra – para ficar em três assombros – o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a privatização de mastodontes que sangravam com perversidade os cofres da nação. Em outubro de 1998, Fernando Henrique reelegeu-se de novo no primeiro turno. O segundo mandato mal começara quando, em janeiro de 1999, a direção do PT resumiu em duas palavras e um ponto de exclamação o programa eleitoral do partido para os quatro anos seguintes: “Fora, FHC!”.
A face escura começou a exibir suas dimensões siderais antes mesmo do triunfo de Lula na eleição de 2002: seis meses antes, o PL recebeu do PT R$ 4 milhões em troca da cessão do candidato a vice, José Alencar, e da promessa de apoio parlamentar. A expansão da “base governista no Congresso” custaria uma bolada multimilionária em espécie – e um prejuízo político astronômico. Em 2012, quando o Supremo Tribunal Federal enfim promoveu o Julgamento do Mensalão. A compra de apoio no Legislativo resultaria no primeiro dos escândalos da Era PT. Ao longo de 13 anos, a roubalheira seria institucionalizada por gente que jurava só pensar na pobreza. Pensava tanto que tratou de enriquecer primeiro, e muito.
Só poderia dar no que deu: o Petrolão. A roubalheira banalizada pelos governos de Lula e Dilma fez do Brasil o berço do maior esquema de corrupção desde o Dia da Criação. E transformou a Lava Jato na maior e mais bem-sucedida operação anticorrupção de todos os tempos. O que parecia ser um partido se tornara um bando de larápios compulsivos, viciados em parcerias com políticos à venda e empreiteiras insaciáveis. O povo espantou-se com a novidade: a lei agora valia para todos, e sobravam celas à espera de bandidos da primeira classe. Antes que Lula fosse para a cadeia, o impeachment mandou Dilma para casa.
São Paulo – Manifestação na Avenida Paulista, região central da capital, contra a corrupção e pela saída da presidenta Dilma Rousseff
Nem assim faltaram gargantas para ressuscitar a barulheira. “Fora, Temer!”, esgoelaram-se os corais de picadeiro até o fim do governo do vice de Dilma. Em 1º de janeiro de 2019, começou o “Fora, Bolsonaro!”, com o patrocínio do consórcio de imprensa, das lojinhas de porcentagens, das bestas quadradas de distintos setores, de banqueiros sensíveis e, sobretudo, dos ministros do Supremo Tribunal Federal. A conspiração dos democratas que odeiam a liberdade ainda não chegou ao desfecho. Mas é possível enxergar o Brasil redesenhado pelo rebaixamento do STF a partido político.
Como o janismo, o getulismo, o ademarismo, o brizolismo, o lulismo morrerá com a morte física do único deus da seita. Como em todas as ramificações do populismo, o chefe não tem programa administrativo, ideário político, opção ideológica – nada disso. E por isso mesmo não tem herdeiros. Sem Lula, o PT logo será apenas uma má lembrança. Em contrapartida, o partido liberal-conservador que vai tomando forma tem o que falta aos devotos de um ex-presidiário. As urnas identificaram vários líderes da direita democrática qualificados para garantir a sobrevivência das ideias libertárias defendidas por milhões de eleitores de Bolsonaro.
Apesar de tais e tantas evidências, seguem zanzando por aí sabujos de Lula que reincidem na exigência desvairada: o país deve engolir sem engasgos um demagogo que mistura vulgaridade, insolência, estupidez e presunção, fora o resto. Que esperem sentados esses surdos à voz das ruas. As palavras de ordem enunciadas por multidões inconformadas podem ser condensadas em poucas vogais e consoantes: “Fora, Lula!”
SEVERINO SOUTO - SE SOU SERTÃO

FOLHA NOVA DA FAVELEIRA
DEU NO JORNAL

A CHAVE DO COFRE TAMBÉM
J.R. GUZZO

A DEMOCRACIA EM COLAPSO
O presidente nacional do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, falou com a imprensa na terça-feira 22, em Brasília
A democracia no Brasil fica cada vez mais parecida com uma “democracia popular” – o tipo de regime que existe em Cuba, Venezuela e lugares parecidos, onde os governos trocaram o significado da palavra “democracia” pelo seu exato contrário, e utilizam a ideia de “governo do povo” para impor ditaduras, eliminar os direitos dos cidadãos e reprimir qualquer tipo de manifestação, pública ou privada, de oposição aos que mandam. Perderam seu valor, na prática, a Constituição e as leis em vigência no país. Não há mais o governo conjunto de três poderes independentes entre si; o Legislativo e o Executivo não têm autoridade nenhuma, e simplesmente recebem ordens do judiciário. As liberdades públicas e os direitos civis não valem nada. Quem governa o Brasil, sem jamais ter tido um único voto dos eleitores, é o ministro Alexandre Moraes e os oito colegas de STF que o apoiam ou obedecem às suas decisões. Impõem a sua vontade à população através da polícia política que têm hoje sob o seu comando; transformaram a Polícia Federal em força armada particular do STF, uma milícia que executa ordens ilegais, prende deputados e invade residências dos cidadãos às 6 horas da manhã. É “democracia”, isso?
O último ataque contra o processo democrático, e talvez o mais violento e rancoroso de todos os que houve até agora para “defender a democracia”, é essa multa demente de R$ 23 milhões que o ministro Moraes aplicou ao PL, o partido com o maior número de deputados na nova Câmara Federal. Por que não uma multa de 23 bilhões, então, se é para fazer cara de bravo? Ou 23 trilhões? A insanidade seria a mesma. E por que a multa contra o PL? Pelo crime de ter apresentado uma petição perfeitamente legal à justiça eleitoral. O PL, como qualquer entidade ou cidadão deste país, tem o direito constitucional de recorrer à justiça para apresentar uma demanda; até os criminosos podem fazer isso. Examina-se então a queixa e decide-se, ao fim, se há ou não há razões legais para atender o que está sendo demandado. Mas o ministro Moraes não fez nada disso. Não mandou apurar absolutamente nenhuma das alegações feitas pelo presidente do partido, o deputado Valdemar Costa Neto, que reclamava contra irregularidades em 280.000 urnas das últimas eleições: 24 horas depois, num sistema judiciário que leva anos a fio para resolver uma ação de despejo, informou que a “área técnica” do TSE tinha decidido que as observações do queixoso eram “inverídicas”. Fim de conversa. Não houve investigação. Não se examinaram provas. Não foram ouvidas testemunhas. Não foram ouvidos peritos. Não foram ouvidos advogados. Nenhum dos direitos dos autores da petição foi respeitado – em vez disso, eles se viram punidos por uma multa sem pé nem cabeça, condenados sem qualquer vestígio de processo legal, ou de direito de defesa, pela prática de “litigância de má-fé”. Não há precedentes de uma brutalidade como essa – nem no Ato 5, nem na ditadura do Estado Novo, nunca.
AI-5, em 1968, aprofundou a ditadura e o terrorismo de Estado
O regime democrático depende, essencialmente, do cumprimento da lei por parte da autoridade pública, a começar pelo sistema de justiça – de todas as leis, sem exceção. Se o próprio Supremo Tribunal Federal, que está no topo do poder judiciário, não respeita mais a Constituição, nem as normas da legislação em vigor, e se faz isso de forma aberta, deliberada e sistemática, não há democracia. A violência contra o maior partido político do Brasil é apenas a última agressão direta ao sistema legal; na verdade, o país está vivendo numa espécie de violação permanente do regime democrático, ou no que poderia ser descrito como crime continuado. Mas o STF e as forças que lhe dão apoio armaram um imenso faz-de-conta para fingir que está tudo normal com o Brasil – e para manter as coisas como estão. Não querem o retorno à legalidade; querem o regime de exceção que começaram a montar quatro anos atrás e, como em qualquer “democracia popular”, chamam de “atos antidemocráticos” tudo o que se opõe a eles. Recebem os aplausos da mídia, da esquerda e das classes intelectuais, que deram a si próprias o papel de árbitro do que é bom e não é para os 215 milhões de brasileiros. Decidiram que qualquer objeção a Moraes, ao STF e ao sistema Lula-PT é um crime contra a “democracia – e tem de ser reprimido com o máximo de rigor. E as garantias da lei? Danem-se a lei e as suas garantias.
1988: encerramento das votações da nova Carta Constitucional, com o discurso do presidente da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), deputado Ulysses Guimarães
O ministro Moraes e seus comandados sabem perfeitamente bem que não estão defendendo democracia nenhuma; sabem que as leis não permitem nada do que têm feito, e violam com plena consciência a Constituição. Não se trata, portanto, de um equívoco de interpretação do sistema jurídico, e nem uma visão defeituosa do que deve ser o “Estado de Direito”. Trata-se, simplesmente, do uso ilegal e deliberado da função pública que exercem para governar o país como bem entendem. Não mandam em tudo é claro. Mas mandam em tudo o que lhes interessa – e é isso, no fundo, o que importa. Salvo uma magra objeção aqui e ali contra possíveis “exageros”, murmurada em tom de reverência e quase pedindo desculpas, os meios de comunicação, as elites e o Brasil que se acredita “civilizado” não dão um pio a respeito de nada. Convenceram a si próprios que a democracia ia ser destruída por Jair Bolsonaro e que a melhor forma de salvar as “instituições democráticas” era apoiar a sua destruição por parte do Supremo. Vivem todos felizes, agora, na ditadura do judiciário.
Os responsáveis diretos por esta situação são os que, tendo os meios e o dever constitucional de defender as instituições, permitiram passivamente que elas entrassem em colapso. Foi um caso inédito de impotência coletiva. O Supremo violou a lei uma vez, depois outra, depois mais outra – e viu que ninguém fazia nada. A partir daí não parou mais. Os ministros viram que todos baixavam a cabeça, sempre, seja lá o que fizessem. É óbvio que, a cada violação da lei, e a cada silêncio, eles passaram a achar que seu poder era sem limites e que cabia a eles, muito naturalmente, governar o país, já que ninguém mais se mostrava capaz de fazer isso – é onde estamos no momento. O colapso começou quando o presidente Bolsonaro recebeu uma ordem patentemente ilegal de Alexandre de Moraes, logo no começo, proibindo que ele nomeasse a pessoa de sua escolha para o cargo de diretor da Polícia Federal. Bolsonaro aceitou e, daí por diante, só recebeu ordens do STF, até o último minuto da campanha eleitoral; possivelmente, o seu governo acabou ali, em termos de autoridade efetiva. Submeteu-se aos mais abusivos e humilhantes “pedidos de explicação”; explique isso, explique aquilo, em “cinco dias”, em três dias. Decisões perfeitamente legais que tomou foram anuladas pelos ministros. A um certo momento, quiseram que ele fosse depor numa delegacia de polícia.
Alexandre de Moraes se reúne com Lula da Silva após as eleições 2022
O Congresso Nacional foi ainda pior. Nenhum conjunto de deputados e senadores brasileiros, em toda a história parlamentar deste país, se colocou de quatro tão depressa diante do STT, e de forma tão abjeta, quanto a Câmara e o Senado atuais. A Câmara, em especial, aceitou de joelhos algo provavelmente inédito em qualquer parlamento livre do planeta – deixou, sem o mínimo gesto de resistência, que Alexandre Moraes prendesse um deputado federal, em pleno exercício do seu mandato, por nove meses. Não é apenas absolutamente ilegal, pois o deputado não tinha cometido nenhum crime inafiançável e nem havia sido preso em flagrante; é tão ilegal que virou um absurdo de almanaque, na seção “Acredite se Quiser”. O Senado, que tem o direito e a obrigação de fiscalizar o STF e de impedir que os ministros violem a lei, recusa-se a cumprir sua função constitucional; seu presidente, sem nenhuma explicação lógica ou motivo legal, se nega sistematicamente a examinar pedidos de impeachment ou qualquer outra medida de controle sobre a atividade dos ministros. Uma petição com 3 milhões de assinaturas, solicitando que os senadores abrissem processo para julgar a conduta de Moraes, é simplesmente ignorada até hoje pelo presidente do Senado. Não há precedentes de desrespeito ao eleitorado tão evidente quanto esse.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG)
São responsáveis pela implantação da ditadura do judiciário, enfim, as Forças Armadas e os comandantes militares. A Constituição estabelece que é obrigação das Três Armas defender o território nacional, manter a ordem, quando solicitadas, e garantir os poderes constitucionais. Ninguém desrespeitou tão abertamente o Legislativo e o Executivo, e continua desrespeitando, quanto o atual STF. Se prender um deputado federal durante nove meses não é desrespeitar um dos poderes constitucionais, o que seria? Se a multa de R$ 23 milhões no PL não é uma agressão direta ao sistema legal em vigência no país, o que seria, também? Da mesma forma, o que seriam as dezenas de violações à lei cometidas pelo STF nos últimos anos? Quantas seriam necessárias, para se chegar à conclusão de que a lei e a ordem estão sendo destruídas a cada dia no Brasil? Haveria uma cota de transgressões, que só as Forças Armadas sabem qual é? Estariam os comandantes à espera de que essa cota seja atingida? O que se tem, na prática, é o silêncio – e a impressão de que as Forças Armadas do Brasil não veem a hora de darem posse aos novos chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica escolhidos por Lula. A “governabilidade” estaria garantida. Todos poderiam voltar aos cuidados com as suas aposentadorias, licenças, benefícios – e à vida de repartição publica a que está reduzida hoje a atividade militar no Brasil.
A ideia de que se deve aceitar tudo o que Alexandre Moraes e o STF decidem para “não perturbar o processo político” é suicida. Como o universo, que está sempre em expansão, ditaduras nunca voltam para trás depois que começam, nem se tornam mais “democráticas”, menos repressivas ou adquirem maiores teores de suavidade – ao contrário, só aumentam o tempo todo, e não devolvem jamais as liberdades que tomam. É uma realidade que não muda: onde há uma ditadura hoje, haverá uma ditadura pior amanhã. Não poderia haver exemplo mais claro disso, no momento, do que o próprio ministro Alexandre de Moraes. Começou proibindo Bolsonaro de nomear o diretor da Polícia Federal. Ninguém fez nada, para evitar confusão política e mostrar espírito de colaboração com o STF – e ele foi em frente. Assumiu o comando de um inquérito penal flagrantemente ilegal para investigar “fake news” e “atos antidemocráticos” – algo que por lei cabe exclusivamente ao Ministério Público, como qualquer denúncia de natureza criminal. Prendeu um deputado federal. Fez censura prévia na imprensa. Proibiu as pessoas de se manifestarem pela internet – e de dizerem o que ainda não haviam dito.
Moraes mandou o economista Marcos Cintra depor na polícia por ter pedido que se investigassem dezenas de urnas nas quais Bolsonaro teve zero votos. Cassou o passaporte do jornalista e exilado político Allan Santos – coisa que a lei só permite para evitar que um suspeito de atividade criminal fuja do país, ou pratique crime com o uso do passaporte. O jornalista não pode fugir porque já fugiu e, obviamente, não está cometendo crimes nos Estados Unidos, onde se exilou; a cassação do seu passaporte é um puro e simples ato de vingança pessoal. O ministro bloqueou contas bancárias de 43 empresas de transporte, sem processo regular ou sentença judicial. Exigiu que a PF levantasse os nomes dos condôminos do edifício onde mora um dos empresários que indiciou em inquérito por conversar num grupo particular de WhatsApp. A ordem ilegal do bloqueio bancário foi cumprida pelo Banco Central. A ordem ilegal de lhe entregarem a lista de moradores do condomínio foi cumprida pela PF – como a ordem ilegal de invadir escritórios e residências dos conspiradores do WhatsApp. Todas as suas ordens ilegais foram obedecidas pelas autoridades competentes – até se chegar, enfim, à multa dos 22 milhões do PL, também sem processo, sem defesa legal e sem sentença.
A ditadura de Moraes e do STF começaria a cair na primeira de suas ordens ilegais que não fosse cumprida – bastaria alguém lhes dizer que não pode obedecer a uma determinação contrária à lei, da mesma maneira como não pode dar um tiro na cabeça do vizinho porque o Supremo mandou. Enquanto algo assim não acontecer, a ditadura do judiciário só vai ficar pior do que já é. Em breve o STF vai se tornar o gendarme do governo Lula – a partir daí, nem o céu é o limite.
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OS ESPECIALISTAS EM CUVID-13
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A CAGADA MAIS RECENTE DA AMANTE
Gleisi Hoffmann debocha após Neymar sair machucado: “Foi tarde”
Presidente nacional do PT e integrante da transição de governo, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) reagiu à saída do atacante Neymar por contusão durante a estreia da Seleção Brasileira contra a Sérvia nesta quinta-feira (24) pela Copa do Mundo.
“Foi tarde”, disse Gleisi no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), local onde a equipe do presidente eleito Lula (PT) está instalada.
O local também foi usado pelo grupo para assistir a partida da Seleção, onde foi colocado um telão.
Neymar é apoiador declarado do presidente Jair Bolsonaro (PL), para quem fez campanha nas eleições.
* * *
A quenga tá achando ótimo o fato do nosso grande craque ter saído contundido ontem do jogo da seleção brasileira.
Isso é cagado e cuspido o patriotismo e a brasilidade lula-petralha.
Essa botadeira de chifres merece ganhar uma musiquinha bem linda:
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PACHECO, CAMISA 171
Luís Ernesto Lacombe
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (à esquerda), o presidente do TSE, Alexandre de Moraes (centro), e a presidente do STF, Rosa Weber (à direita), em foto de outubro de 2022
Romperam-se todos os limites. O vigia enlouqueceu, e o vigia do vigia faz cara de paisagem. É só mais um capacho, um traste, nada vê de errado, nada vê. Deixou o poder na mão do louco, do imperador sifilítico e de seus consortes. Não pede explicações, não questiona, não freia. Vê a corda ser esticada, a aposta ser dobrada, triplicada, só observa, condescendente. O vigia do vigia é assim: parece morto, mas é muito vivo. Olha para o próprio umbigo com todo carinho, com todo apreço.
Aceita a política fedorenta de um poder que não deveria ser político. Um mundo de irregularidades, de ilegalidades, de abusos desfila diante dos seus olhos sem expressão. Ele é alto, olha de cima, acha tudo normal, acha quase lindo. Libera geral, não se intromete. E sempre com a mesma cara, impassível, pedante. Sua fleuma entrega o país ao absolutismo. Não há imparcialidade, não há equilíbrio, independência, harmonia. Todo poder ao novo imperador, que pode fazer mesmo o que bem entender.
O vigia do vigia não está nem aí. Tem profundo apreço pela Constituição em ruínas. Havia prerrogativas, mas ele nem se importou. Ele tem negócios importantes, tem uma cadeira, não quer deixá-la. Ele ataca o que o imperador ataca, defende o que o imperador defende. Gosta de absurdos. Apoia quem quer esconder alguma coisa e finge mal, apoia a ausência de respostas, é a favor das explicações ausentes, das reações que não elucidam. Aceita numa boa o veto ao debate, às discussões técnicas, a mordaça ou coisa pior para quem questiona. Ele comprou baratinho uma nova ideia de democracia.
Ele fala em anormalidade institucional… E seus eleitores de outrora berram que anormalidade é o nobre senador não ouvi-los. Berros e mais berros, ecos, todos os erros cometidos pelo parlamentar, seus equívocos, sua omissão… Seus ouvidos moucos. Seus planos pessoais ardilosos, sua artimanha macabra, seu rabo preso, isso tudo é anormal. Sua gaveta trancada é uma agressão à ordem, às leis, à verdadeira democracia. Anormalidade é ficar contra o Brasil.
É dele a autorização para o caos, toda a loucura, a falta de legitimidade. Logo ele, Pacheco, nome de um personagem que representou o torcedor brasileiro na distante Copa do Mundo de 1982… Tínhamos um timaço e perdemos o Mundial… Aquele personagem da propaganda, claro, não teve culpa. Nem sempre o melhor vence. A esperança, neste momento, resiste porque, se o senador Pacheco de agora é moldado em covardia, o povo tem coragem de sobra.