PERCIVAL PUGGINA

A NAÇÃO EM ALERTA MÁXIMO

A generosa multa aplicada pelo piedoso Alexandre de Moraes ao PL é uma representação em números da enfurecida régua com que o presidente do TSE mede as sanções impostas a quem o desagrada ou contraria. Esquece sua excelência que a inquietação política do país tem como causa principal, a atual composição do STF e do TSE, as decisões pessoais dele como presidente da corte eleitoral, a teimosia de vender como transparente um sistema absolutamente opaco, que transformou a votação e a apuração num debate entre peritos em ciências da computação. Não há como atribuí-la ao presidente da República, cuja quietude não serve para assombrar suas madrugadas.

A atuação das altas cortes do STF e do TSE no jogo político presidencial criou a mais desigual disputa que já presenciei neste meu “tão longo andar”, para dizer como Quintana. Elas proporcionaram rígida proteção ao candidato Lula e lhe franquearam todos os ataques a seu adversário. Bolsonaro trazia para a campanha as vicissitudes naturais de qualquer governo agravadas pela pandemia e pelas equivocadas determinações impostas pelo STF. A ele estavam autorizados todos os rótulos e xingamentos; ao ex-presidente, eram vedadas referências a seu passado e, até mesmo, às suas amizades no comprometedor circuito do Foro de São Paulo. Era como um jogo de futebol onde o juiz não apenas tivesse lado e jogasse, mas desse botinadas no adversário e marcasse gols “de caneta”.

As relações entre Lula, sua trupe e as “democracias” do Foro são tão notórias que se poderia dizer notariais, autenticadas por fontes primárias. Os Castro Brothers, os joroperos e salseros Chávez y Maduro e o chichero Ortega, cada um a seu tempo, formou com Lula o núcleo duro dessa banda ibero-americana das esquerdas radicais. Não é por outro motivo que a secretária-executiva do Foro, Mônica Valente, faz parte do grupo de transição de Lula. Aparentemente, porém, operando no TSE, os negacionistas do passado do ex-presidente mandam evidências às urtigas e consciências às favas.

A história desses regimes, para quem os conheceu, os estudou e leu jornais aciona todas as sirenes de prevenção quando se observa o Brasil. Os governos petistas nos deixaram uma corte constitucional majoritariamente vinda da militância esquerdista. Como as universidades e a máquina pública, aquele poder foi infiltrado, para usar a palavra tecnicamente adequada. Por isso, submete a seus fins a Constituição, os Códigos de Processo e os próprios precedentes, abraçando o consequencialismo e o ativismo a ponto de intervir diretamente no jogo político.

Não é difícil prever o futuro com um novo governo Lula. Alguém aí aposta um tostão no retorno de nossas liberdades de opinião e expressão? No fim da censura? Na preservação da autonomia do ensino militar? Na não criação da prometida Guarda Nacional? No não aparelhamento e no zelo pela hierarquia nas Forças Armadas? Na não adoção de uma política reestatizante? No respeito ao direito de propriedade? Na obediência aos princípios fundamentais da administração pública? Pois sim!

Nicolas Maduro governa a Venezuela desde 2013 em virtude da morte de Chávez, reeleito e morto antes da posse. Maduro assumiu como vice-presidente interino, marcou eleição e superou seu opositor Capriles por 50,61% contra 49,12%. Coisa muito parelha, para variar. Seu governo é um desastre social, político e econômico. Em nome da proteção dos pobres, criou a pobreza extrema e extensa. Impopular, perdeu a eleição parlamentar de 2015 e imediatamente, através da … da… sim, Suprema Corte e dos Tribunais Eleitorais, e com apoio do estamento militar, já muito bem aparelhado por Chávez, o Tribunal Superior de Justiça assumiu as funções da Assembleia Nacional… Em 2019, com êxodo se instalando no país, com o governo desaprovado por 71% dos eleitores, Maduro venceu um pleito em que a abstenção atingiu 54%.

Imagino que dois ou três leitores destas linhas concordem comigo quando percebo semelhanças entre os dois cenários.

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PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

CANTIGA PARA NÃO MORRER – Ferreira Gullar

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento

José Ribamar Ferreira, o  Ferreira Gullar, São Luís-MA, (1930-2016)

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

GONZAGA – JOINVILLE-SC

Boa tarde nobre editor,

Como esta gazeta escrota tem utilidade pública galáctica, seria de bom tom avisar os fubânicos que só faltam três assinaturas para gente colocar o Cabeça de Ovo no devido lugar.

Vai abaixo a lista dos deputados que assinaram a CPI de abuso de autoridade do Xandão.

Falta você pressionar seu deputado a assinar.

Abraços!

DEU NO JORNAL

HOJE TEM JOGO DO BRASIL NA COPA DO MUNDO DO CATAR

Paulo Polzonoff Jr.

Ei, Neymar, quantos gols você vai fazer no jogo de hoje?

Hoje tem jogo do Brasil na Copa do Mundo do Catar. Nada? Deixa eu tentar de novo: hoje tem jogo do Brasil na Copa do Mundo do Catar. Nada ainda? Vai ver não estou sendo enfático o bastante. Tentemos uns pontos de exclamação: hoje tem jogo do Brasil na Copa do Mundo do Catar!!!! Nada. Ué, isso nunca me aconteceu antes… Vou tentar uma última vez antes de prosseguir com o texto: hoje, dia 24 de novembro de 2022, às 16 horas, o Brasil entra em campo pela primeira vez na Copa do Mundo do Catar. Ah, o jogo é contra a Sérvia.

Nada. Absolutamente nenhuma reação. Não ouço nenhum grito de “Vai, Brasil!”, de “O Hexa é nosso!”, de “Pra cima deles, Neymar!”, de “A Sérvia não é de nada!”. Ouço apenas gritos de “Juiz ladrão!”, mas acho que não tem a ver com o futebol. No Brasil de hoje, a rigor esta é uma quinta-feira normal, dia de Júpiter e véspera de sexta. É como se uma Copa do Mundo não estivesse sendo disputada no longínquo, exótico e cafona Catar. Como se o Brasil não fosse favorito (dizem). Como se já não fizesse 20 anos desde que Vampeta desceu rolando a rampa do Planalto.

Pior! O dia de estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo se transformou em dia de se posicionar politicamente. Impossível dizer que às 16 horas se pretende estar confortavelmente sentado diante da televisão sem ouvir uma reprimenda. É neste momento, aliás, que os dois polos da política parecem esquecer as desavenças. É quando o “Como assim você vai dar audiência para a Rede Globo?!” dá as mãos para o “É impossível torcer para essa Seleção fascista!”.

Eu, que não tenho nada a ver com isso e só espero que o Brasil ganhe da Sérvia por dois a zero para não continuar em último lugar no bolão, contemplo com a perplexidade de um velho cada vez mais ranzinza o mau humor que me rodeia. É como se não houvesse vida fora da política e do medo que ela desperta. E logo depois me perco no delírio de ser o portador da má notícia para Nelson Rodrigues e Paulo Mendes Campos: em 2022, o brasileiro não está nem aí para a Copa do Mundo do Catar. Dá para acreditar?

Num primeiro momento eles não acreditam, dizem que só posso estar brincando, que não é possível, que o futebol é a alma do brasileiro, que isso, que aquilo. “Se não somos mais a pátria de chuteiras, no que nos transformamos?”, pergunta Nelson Rodrigues tomando um Chicabon. Temendo matar os dois cronistas pela segunda vez, hesito, mas acabo respondendo o óbvio: nos transformamos no país da política. “Até durante o jogo da seleção na Copa do Mundo?!”, me pergunta um escandalizado xará. “¯\_(ツ)_/¯”, respondo. E estou sendo sincero!

Troco o sonho pela memória assim como quem abre um parágrafo à toa e, quando percebo, estou diante da caixa mágica cujos noticiários esquerdistas hoje tanto me ofendem. Sou menino de cabelos fartos e gigantescas orelhas de abano. Minha família me cerca na expectativa boa. Depois de alguma insistência, mamãe (ela odeia que a chame de “mamãe”) nos permite fazer uma pipoquinha. Durante 90 minutos, ganho até permissão para xingar, de leve, o juiz. E o melhor: sem ser considerado antidemocrático por causa disso.

Hoje tem jogo do Brasil na Copa do Mundo do Catar. Em campo, Neymar e outros dez caras cujos nomes me escapam. Não sei você, mas, quando começar a tocar o Hino, e por mais que eu ache isso ridículo, vou me emocionar. Quando Galvão Bueno soltar seu “rrrrrrrrrrrrrola a bola”, torcerei como se um lateral ou um passe de dois metros no meio de campo fossem os lances definitivos de toda uma vida.

Quando o time adversário (uma tal de Sérvia) subir ao ataque, me sentirei diante do abismo. Ufa! Essa passou perto. Quando o juiz consultar o VAR, reclamarei da tecnologia, do esporte de alto rendimento, da modernidade, dessa palhaçada toda. Quando o árbitro der falta para o Brasil, pedirei cartões amarelos por causa de meros esbarrões e cartões vermelhos quando me der na telha.

E, como sou filho do meu tempo, na hora do gol (se houver e haverá dois) celebrarei como se Alexandre de Moraes tivesse sofrido um impeachment. Ou melhor, como se Lula tivesse voltado para a cadeia da qual jamais deveria ter saído.

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BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

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JESSIER QUIRINO - DE CUMPADE PRA CUMPADE

UM CAUSO E UM POEMA

O DOUTOR E O BÊBO

O cabra era carrapato por uma cervejinha. Chega de bode amarrado no doutor e ouve a sentença:

– O senhor vai ter que parar de beber cerveja. Veja bem: durante um ano, o senhor só vai beber leite.

– Puta-merda doutor, outra vez??????

– O quê?!… O senhor já fez esse tratamento?

– Já doutor. Durante os dois primeiros anos da minha vida…

* * *

BANDEIRA NORDESTINA

A bandeira nordestina
É uma planta iluminada
É qualquer raiz plantada
Mostrando o caule maduro
E quando o sol varre o escuro
Com luz e sombra no chão
É quando germina o grão
É quando esbarra o machado

É quando o tronco hasteado
É sombra pro polegar
É sombra pro fura-bolo
É sobra pro seu vizinho
É sombra para o mindinho
É sombra prum passarinho
É sombra prum meninote
É sombra prum rapazote

É sombra prum cidadão
É sombra para um terreiro
É sombra pro povo inteiro
Do litoral ao sertão
Essa bandeira que eu falo
Tem cores de poesia
Tem verde-folha-avoada
Amarelo-jaca-aberta

Em tudo que é vegetal
Tem bandeira desfraldada
No duro da baraúna
No forte da aroeira
No bandejar buliçoso
Das folhas das bananeiras
Das bandeirolas dos coentros
E na marca sertaneja:

O rijo e forte umbuzeiro

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA