
– Tá fazendo o que aí?
– Protestando.
– Protestando contra o quê?
– Contra a eleição.
– Você é contra eleição?
– Não. A favor.
– Então tá protestando por quê?
– Porque sou a favor de eleição limpa.
– Você acha que a eleição não foi limpa?
– Acho.
– Mas foi limpa.
– Isso é o que você tá dizendo.
– Isso é o fato.
– Quem disse?
– O TSE.
– Você acredita no TSE?
– Não é questão de acreditar. É o Tribunal Superior Eleitoral quem dá o resultado oficial da eleição.
– Oficial não quer dizer legal.
– A legalidade é conferida pela autoridade, que é a representação oficial.
– Isso no caso de a autoridade agir corretamente.
– Quem disse que a autoridade não está agindo corretamente?
– Eu.
– Quem é você?
– Eu sou eu. Esse que está diante de você.
– Perguntei quem é você pra condenar a autoridade?
– Ninguém. Não condeno ninguém. Só falo sobre o que vejo. E critico o que desaprovo.
– Você não está criticando. Está desinformando.
– Não. Estou protestando.
– Está induzindo outras pessoas a acreditarem numa falsidade, portanto está desinformando sim, e isso é grave.
– Grave, quanto?
– Muito grave. Gravíssimo.
– Onde está escrito isso?
– Todo mundo sabe que desinformar é gravíssimo.
– O Direito foi substituído pelo Todo Mundo Sabe?
– Você não devia brincar com uma situação tão grave.
– Quem está brincando é você.
– Brincando de quê?
– De legislar.
– Vamos parar de dar voltas.
– Não estou dando voltas. Estou parado, aliás há um bom tempo. E vou continuar aqui.
– Não vai, não.
– Por quê?
– Porque o seu protesto é ilegal.
– Onde está a ilegalidade?
– No ato de levantar suspeitas sobre uma eleição limpa.
– Eu expresso o que eu quiser, sobre o que eu quiser. Se alguém se sentir ofendido que vá à Justiça.
– Não precisa.
– Por quê?
– Porque a Justiça sou eu. Estou aqui para te dizer o que você não deve fazer e falar, economizando o seu tempo e o de quem você ofender.
– Não é assim que funciona uma democracia.
– Não mesmo. Mas aqui é.
– Aqui não é uma democracia?
– Não.
– Ah, bom. Por que você não falou isso antes?