
Arquivo diários:29 de maio de 2022
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CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

JACOB FORTES – BRASÍLIA-DF
PROPAGANDA À MODA ANTIGA
Na cidade de Pau dos Ferros, RN, há um alto-falante montado sobre uma bicicleta que, rua acima rua abaixo, faz ressoar, de modo audível, a propaganda de uma farmácia denominada Menino Jesus. A propaganda anuncia, a preços módicos, a existência de medicamentos contra doenças diversas. Os nomes dessas doenças são enunciados sob os ditames do arcaísmo, a bem dizer, gritados os nomes arcaicos, sob o imperativo do vernaculismo regional.
Vejamos: antojo, espinhela caída, dor nos quartos, dor de viado, moleira mole, quebranto, frieira, cobrelo, lombriga, pereba, curuba, gastura, sovaqueira, impingem, piloura, pano branco, sânie, bicheira, bicho-de-pé, fastio, bucho quebrado, dente queiro, corpo reimoso, micuim, sete-couros, difruço, papeira, tísica, esporão-de-galo, íngua, solitária, estalecido, boqueira, calombo, resguardo entupido, menino preguiçoso, tosse de cachorro, pé desmentido, e por aí além.
A opção de enunciar os títulos arcaicos das enfermidades pode até não incrementar o faturamento da farmácia, mas, é preciso convir, revela uma maneira assaz industriosa, e evidentemente bem-humorada, de chamar a atenção da clientela para o estabelecimento, cujo nome, aliás, inspira a ideia de santidade e confiança. Cada qual engenha como acha que deve engenhar.
PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

MINHA DESGRAÇA – Manuel Antônio Álvares de Azevedo
Minha desgraça não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco…
E, meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco…
Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro…
Eu sei… O mundo é um lodaçal perdido
cujo sol (quem mo dera) é o dinheiro…
Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz que meu peito assim blasfema,
É ter por escrever todo um poema
E não ter um vintém para uma vela.
Manoel Antônio Álvares de Azevedo, São Paulo (1831-1852)
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CIÊNCIA OCULTA E MISTERIOSA
PERCIVAL PUGGINA

O QUE SUA INTUIÇÃO LHE DIZ?
A pergunta está no ar e me faz pensar muito sobre o que dizem as pesquisas e sobre o que milhões de brasileiros percebem observando as ruas e praças do país.
Em quem devo crer, se os números e curvas exibidos pelos veículos de mídia me dizem algo diferente daquilo que eu sinto e vejo? Numa opção assim, eu fico com minha intuição. Fico com o “relatório” dos meus sentimentos. E sei que conto para isso com apoio de um bom filósofo alemão chamado Shopenhauer que estudou minuciosamente essa forma de conhecimento, identificando-a como a que mais frequentemente usamos para orientar nossas ações.
Vamos aos exemplos.
A intuição sempre me disse que o STF de base petista iria abusar do poder que lhe está concedido pela Constituição porque é isso que o petismo sempre faz quando está no poder. Não deu outra. O STF quase bucólico dos anos petistas, que praticamente só condenou o publicitário Marcos Valério no mensalão, morreu em outubro de 2018, dando origem a esse cuja conduta observamos.
A intuição sempre me disse que o PSDB não fez sua prévia por não ter excesso de candidatos, mas por falta deles. É o que acabamos de assistir no apoio dos tucanos à candidata do MDB, que tampouco preparou alguém para carregar a legenda no futuro pleito. Aliás, a intuição sempre me disse que a senadora pelo Mato Grosso do Sul suicidou-se politicamente ao crer que as câmeras das TVs fixadas na CPI da Covid a tornariam nacionalmente conhecida. Sim, fizeram isso. Mostraram-na como alguém que anda em muito más companhias.
A intuição sempre me disse que, por motivo diverso, João Dória morria politicamente a cada aparição na TV. Ele cometia o erro que os críticos de teatro chamam de overacting, erro do mau ator que exagera na representação. Estaria perfeito se fosse para representar um mau personagem dissimulando suas intenções. A intuição, aliás, sempre me disse que a Rede Globo, desde 2018, vem fazendo exatamente isso e só os tolos não veem. Não se pode confiar na intuição dos tolos.
A intuição sempre me disse que a candidatura de Sérgio Moro, apesar de empurrada pela “mídia tradicional”, para ficar com a expressão elitista do gentleman Alexandre de Moraes, não tinha espaço no mundo dos fatos. E não teve.
A intuição, por fim, sempre me disse e continua repetindo que o eleitor brasileiro não vai chamar de volta ao poder a organização criminosa apátrida, que saqueou o país, que o humilhou internacionalmente, que combate conservadores e liberais e está por trás de quase todas as ações destrutivas em curso na sociedade brasileira.
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É LADRÃO MAS VOTO NELE
O cineasta José Padilha, de “Tropa de Elite”, disse à revista Veja que votará em Lula, mas admite:
“Não tem como negar que, desde o mensalão até o fim dos governos do PT, houve uma corrupção institucionalizada gigante”.
* * *
O ilustre cineasta reconhece que houve a ladroagem na era PT.
E mesmo assim ele diz que vai votar no ladrão que promoveu o que ele mesmo chama de “corrupção institucionalizada gigante”.
Num é corrupção nem pequena, nem média, nem grande.
É gigante mesmo, segundo ele disse.
Isso é o retrato cagado e cuspido do fiel que frequenta e reza na igreja petralha.
É lama pra todo lado, mas o santinho merece ser carregado no andor.
JESUS DE RITINHA DE MIÚDO

NÃO É POESIA. NÃO É POEMA. É APENAS UMA BREVÍSSIMA CONSTATAÇÃO SOBRE A VIDA
A vida sempre é melhor sob os delírios da alma.
Sob a certeza de que nada é certo. Nem errado. Tampouco feio. Ou bonito.
Saber que no tudo há muitos nada. Que o nada muitas vezes é o tudo na vida.
Que a loucura nada mais é que um sobejo da lucidez. Um sopro do extraordinário.
E que a simplicidade é o limite mais próximo de uma vida feliz.
Nada melhor que sonhar que se vive o impossível. No pódio do inalcançável.
Nada mais fascinante que viver sem existir. Algo. Alguém. Tudo é como um conto bem escrito.
Às vezes…
A vida é um delírio fantástico das reticências. Bom é acreditar nela. Na vida. Com pontos finais. Com reticências.
…
Bom é acreditar que se é capaz. E ser.
E que o caos de vez em quando se organiza em nosso favor.
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SACANAGEM COM O OVO
JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Ary Barroso
Ary Evangelista Barroso nasceu em 7/11/1903, em Ubá, MG. Compositor, pianista, cronista, jornalista, radialista e autor de Aquarela do Brasil, uma das músicas mais gravadas no País, que deu origem ao chamado “samba-exaltação”. Foi um grande revelador e incentivador de talentos musicais.
Filho de Angelina de Resende e do promotor público João Evangelista Barroso, perdeu os pais logo cedo e foi criado pela avó materna e pela tia Ritinha, com quem aprendeu a tocar piano, solfejo e teoria musical. Teve os primeiros estudos em sua cidade natal, Viçosa e Cataguases. Aos 12 anos iniciou como pianista auxiliar no Cinema Ideal, em Ubá, e aos 15 compôs o cateretê De longe e a marcha Ubaenses gloriosos.
Em 1920 faleceu o tio Sabino Barroso, ex-ministro da Fazenda, e recebeu uma gorda herança de 40 contos de réis. No mesmo ano mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi viver sob a tutela do Dr. Carlos Peixoto. Ingressou na Faculdade de Direito aos 18 anos; conheceu e fez amizade com diversos futuros radialistas, juristas, políticos, artistas e caiu na boemia. Assim, foi reprovado no 2º ano e abandonou o curso. Logo, torrou o dinheiro da herança e teve que se empregar como pianista de cinema, teatro e diversas orquestras da cidade.
Sem largar o piano, retomou o curso de Direito, concluído em 1929. Nesse meio tempo, tocou em diversas orquestras e passou a compor: Amor de mulato, Cachorro quente e Oh! Nina em parceria com Lamartine Babo. Junto com Mario Reis compôs Vou à Penha e Vamos de deixar de intimidades, seu primeiro sucesso. No ano seguinte venceu o Grande Concurso de Música Popular, promovido pela Casa Edison e o jornal Correio da Manhã, com a marchinha Dá nela e ganhou 5 contos de réis. Aproveitou o prêmio para casar-se com Ivone Belfort de Arantes, em 1930. Pouco depois foi trabalhar na Rádio Phillips como pianista, mas logo se torna, também, locutor esportivo, humorista e animador.
Em São Paulo, comandou o programa “Hora H”, na Rádio Cosmos, logo transferido para a Rádio Cruzeiro do Sul, no Rio de Janeiro. Na mesma Rádio foi substituir um colega como locutor esportivo e empolgou a torcida. Flamenguista fanático, irradiava o jogo ao mesmo tempo em que torcia ostensivamente, comemorando os gols de seu time ou lamentando os gols do adversário. Em 1937 lançou o programa “Calouros em desfile”, onde obrigava os candidatos a só cantarem músicas brasileiras. O sucesso do programa levou-o à grande Rádio Tupi.
Outras gravações vão surgindo até o grande sucesso Aquarela do Brasil, gravada por Francisco Alves em 1939 com arranjos e acompanhamento de Radamés Gnattali, regravada centenas vezes aqui e no exterior. Até hoje é uma das músicas que mais produz direitos autorais ne exterior. Nos EUA foi interpretada por Frank Sinatra e Bing Crosby, cujo sucesso rendeu-lhe um contrato para trabalhar em Hollywood. Compôs a trilha sonora do filme Você já foi à Bahia?, dirigido por Walt Disney e foi premiado pela Academia de Ciências e Artes Cinematográficas, em 1944. No ano seguinte compôs a trilha sonora para a comédia musical Brazil, dirigida por Joseph Santley, indicada ao “Oscar” de 1945. Como compositor, deixou diversas músicas clássicas do cancioneiro popular: No rancho fundo (1931), Na batucada da vida (1934), No tabuleiro da baiana (1936), Na baixa do sapateiro (1938), Camisa amarela (1930), Os quindins de Yayá (1941), Risque (1952), É luxo só (1957) etc. Nas décadas de 1940 1950 tornou-se o compositor mais gravado por Carmen Miranda.
Motivado pelos amigos, ingressou na política, em 1946, e foi o vereador mais votado do Rio de Janeiro, pela UDN-União Democrática Nacional. As duas causas em que mais atuou foi a construção do Estádio Maracanã e a defesa do direito autoral. Era dotado de excepcional senso de humor. Quando foi internado no hospital, diagnosticado com cirrose hepática que o vitimaria, ligou para seu amigo David Nasser, despedindo-se porque ia morrer. Nasser perguntou: “Como você sabe?”. “É que estão tocando muito minhas músicas no rádio”, respondeu tranquilo. Realmente, faleceu em 9/2/1964, num domingo de carnaval.
Segundo os críticos, Ary Barroso celebra a invenção da brasilidade mestiça da Era Vargas, quando o samba, a mulata, a ginga e a natureza tropical passam a traduzir as cores da nação. Foi homenageado pela Escola de Samba União da Ilha do Governador, em 1988, com o enredo “Aquarilha do Brasil”, contando sua história. No ano de seu centenário (2003), a Rede STV SESC SENAC produziu o documentário O Brasil Brasileiro de Ary Barroso, dirigido por Dimas Oliveira Jr., com depoimentos de diversos amigos. Sergio Cabral pesquisou sua vida e escreveu uma bela biografia – No tempo de Ary Barroso – publicada pela Lumiar Editora. Os interessados numa visão panorâmica de seu legado, podem consultar seu site oficial na Internet Ary Barroso : Vida
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