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CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

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CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

JOAB M. CERQUEIRA – BELÉM-PA

Excelso Editor!!!

Já paguei todas as contas, inclusive as contas da minha mulher Tereza e também as mesadas dos meus dois filhos.

Além da conta do boteco que é prioritária.

Só faltava pagar o dízimo desta gazeta escrota.

Segue o comprovante anexo.

E vamos que vamos!!!

Fraternas saudações.

R. E vamos que vamos, meu caro leitor!!!

E estamos indo pra frente graças ao impulso dado por vocês que, com suas generosas doações, nos ajudam a manter esta gazeta escrota nos ares.

Muito obrigado mesmo!!!

Aproveito a oportunidade pra também agradecer as doações dos leitores M.M. Arruda, Amaro Severo e Cristiana Sartori.

Vai voltar tudo em dobro pra vocês na forma de saúde, paz, tranquilidade, felicidade e vida longa!!!

Chupicleide está aqui relinchando de felicidade.

Ela disse que vai encher o rabo de cana no final do expediente desta sexta-feira.

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PEDRO MALTA - REPENTES, MOTES E GLOSAS

ZÉ LIMEIRA, O POETA DO ABSURDO (II)

Capa da 5ª edição de Zé Limeira, O Poeta do Absurdo, da autoria de Orlando Tejo

* * *

No sereno sertão da Palestina
Eu cantava num Dia de Finado
Uma vaca pastava no cercado
Um macaco comia uma menina
Um sargento chegava numa usina
Um moleque zarôi vendia pente
Um cavalo chinês trincava o dente
Uma zebra corria atrás dum frade
Quer saber quanto custa uma saudade
Tenha amor, queira bem e viva ausente.

Minha muié chama Bela
Quando eu vou chegando em casa
O galo canta na brasa,
Cai o texto da panela
Eu fico olhando para ela
Cheio de contentamento
O satanaz num jumento
Pra mordê a Mãe de Deus
Não mordeu ela nem eus
Diz o novo testamento

Eu vi uma gavetinha
Da casa de João Moisés
Mais de cem contos de réis
Só de ovo de galinha
Ela comeu uma tinha
Da carcassa de um jumento
Que bicho má, peçonhento
Lacrau e piôi de cobra
Não pode mais fazer obra,
Diz o novo testamento

Jesus nasceu em Belém,
Conseguiu sair dalí
Passou por Tamataí
Por Guarabira também
Nessa viagem de trem
Foi pará no Entroncamento
Não encontrando aposento
Dormiu na casa do cabo
Jantou cuscus com quiabo
Diz o novo testamento.

Já namorei uma Rosa
Que era nega cangaceira,
Gostava de fazê feira,
Tinha uma boca mimosa
Mas, por modo dessa prosa,
Escrevi pra Santa Rita…
Ronca o pombo na guarita,
Passa um poico no chiqueiro,
Diz o bode do terreiro:
Viva a moça mais bonita

Ainda não tinha visto
Beleza que nem a sua,
De cipó se faz balaio
A beleza continua
Sete-Estrelo, três Maria
Mãe do mato pai da lua

A beleza continua
De cipó se faz balaio
Padre-Nosso, Ave-Maria,
Me pegue senão eu caio
Tá desgraçado o vivente
Que não reza o mês de maio

No samba que nego dança
Tem cheiro de muçambê
Quem nunca viu venha vê
Limeira fazendo trança
Foi lá perto de Esperança
Que eu ví a truba passá
Cai aqui cai acolá
Sargento, cabo e dotô
Canta , canta, cantador
Que teu destino é cantar.

Eu não sei fazer o doce
Mas sei quando ele tá bom,
Moça que bota batom
Pra mim ela já danou-se
Lampião se atrapalhou-se
Ficou pra lá e pra cá,
Foi quando no Ceará
A guerra se arrebentou
Canta, canta, cantador
Que teu destino é cantar.

No tempo do Padre Eterno
Getúlio já governava ,
Prantava feijão e fava
Quando tinha bom inverno…
Naquele tempo moderno
São João viajou pra cá
Dom Pedro correu pra lá
Escanchado num trator
Canta, canta, cantador
Que teu destino é cantar.

A minha póica maluca
Brigou com setenta burro
Deu cento e noventa murro
Na cara de Zé de Duca
Dei-lhe um bofete na nuca
Que derrubei seu chapéu
Vai chegando São Miguel
Montando numa cadela
Escrevi o nome dela
Com o leve do azul do céu.

Eu me chamo Zé Limeira
Cantador do meu sertão
O sino de Salomão
Tocando na laranjeira
Crepusco de fim-de-feira
Museu de São Rafael
O juiz prendeu o réu
Depois fechou a cancela
Escrevi o nome dela
Com o leve do azul do céu.

Quando Abel matou Caim
No Rio Grande do Sul
Deu-lhe um quilo de beiju
Com as beradas de capim
Nisso chegou São Joaquim
Que já vinha do quartel
Cumode prender Abel
Dois pedaços de costela
Escrevi o nome dela
Com o leve do azul do céu.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

MAURÍCIO ASSUERO – RECIFE-PE

Ilustre Editodos,

convidei o poeta Walter Marcolino há alguns dias e ele não pode aparecer ao Cabaré do Berto por motivos de saúde.

Ontem, trocando uma mensagem com ele, falei novamente sobre sua participação aqui e ele disse que tentaria chegar, mas o problema é conexão que não é boa.

Então, fica aqui o convite para o pessoal aparecer no Cabaré, na expectativa de dar tudo certo com a participação de Walter e caso a internet não permitir, a gente aproveita para falar literatura.

Para participar é só clicar aqui.

As portas do Cabaré abrirão às 19h25.

O ingresso é a chance de dar risadas.

R. O recado está dado, nobre gerente cabarezeiro.

Teremos hoje mais uma sexta-feira movimentada e rica de literatura, conversas e encantos.

Vamos torcer pra que o grande poeta Walter Marcolino esteja firme e forte e possa nos brindar com o seu talento.

E também vamos ver se a gente vai contar mesmo com a presença do meu querido conterrâneo de Palmares, o nobre xeleléu Walter.

Às sete e meia da noite de hoje estaremos todos lá!

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CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

CLAUDINHA, A CUIDADORA DO CLIMA BOM

Antônio ficou radiante ao conseguir emprego na transportadora de valores. Passado o período de capacitação, deram-lhe fardamento, iniciou seu trabalho com atenção e medo de assaltantes. Ao retornar em seu bairro, fardado, sentia-se o próprio coronel de Polícia, até brigas e pendengas entre moradores ele era consultado. Comprou uma moto barata de segunda mão assumindo o débito no banco, para onde escorria metade de seu salário. Numa festa conheceu Claudia, menina, 17 anos, se apaixonou, namorou, engravidou e casou-se. Foram morar numa casa de porta e janela do pai da noiva, no Clima Bom. Tonho não deixou Claudinha trabalhar para cuidar do filho. Pedro.

Passaram-se seis anos, o casal sobrevivendo, até que Antônio deu para beber, vivia reclamando da vida, comportamento estranho, deixou de procurar a esposa na cama, ela que gostava tanto da vadiagem. Nessa época Claudinha havia arranjado um emprego de doméstica na casa de um ricaço na orla. Limpava, passava e cozinhava, a patroa descobriu-a como excelente cozinheira. Melhorou a situação econômica. Pedro estudando, entretanto, a cachaça e o distanciamento do marido entristecia a bela Cláudia. Certa tarde ela apanhou o filho mais cedo na escola, estava febril, ao chegar à sua casa teve o maior choque de sua vida, ficou atônita ao abrir a porta do quarto, e deparar-se com Tonho abraçado a um motoboy conhecido no bairro. A maior decepção, humilhação e traição que uma mulher pode ter. No mesmo dia exigiu a saída do marido de casa, chorou a noite toda. Levantou-se de madrugada, olhou-se no espelho, prometeu a ela mesma, recuperar sua vida, tinha o amor de Pedro para lhe dar força.

Com um ano de separação a dor amenizou. Cláudia, bonita, era assediada por muitos homens, preferiu, embora gostasse tanto da vadiagem, fechar-se, não queria namorado por enquanto. Até o patrão mostrava tinha uma quebra de asas pela bela empregada, ela fingia não entender as insinuações.

No dia que Seu Silvestre, o patrão, completou 67 anos, ele teve um derrame, um AVC, foi uma catástrofe na casa de Dona Graça. Ela e os dois filhos deram a assistência devida no hospital. Ao voltar para casa, o velho precisou de uma enfermeira para ajudar no banho, no vestir-se, no comer. O empresário falava com dificuldades, mas dava para entender. Cismou com as enfermeiras, toda semana trocava de assistente. Certo dia na falta da enfermeira, Claudinha ajudou Seu Silvestre a tomar o banho, enxugou-o, vestiu-o. O velho ficou surpreso com a delicadeza, a suavidade de gestos da empregada, gostou daquele cuidado, disse que Cláudia havia nascido para cuidar de idoso.

A partir daquele momento chamava pela empregada durante o dia, inclusive no banho de sol em cadeira de roda, só queria a jovem cozinheira. Claudinha dava conta da cozinha, da casa e do patrão, ficou cansativo. Inclusive, em suas folgas de sábado à tarde e domingo, nas crises de raiva de Seu Silvestre, Dona Graça a chamava com urgências. Ela o acalmava. O velho só aceitava a assistência da cuidadora improvisada. Quando Claudinha se recusou a trabalhar nas folgas foi um Deus no acuda. A senhora entendeu que seu marido, não só gostava do jeito de Cláudia, ele estava encantado, talvez apaixonado pela jovem. Seu Silvestre entrou em um acordo com a empregada: propôs lhe dar um carro, pagar a escola de Pedro e aumentar o salário quatro vezes, desde que ela lhe desse total dedicação. Claudinha não abriu mão de sua folga nos domingos e assim ficou acertado.

Em véspera de completar os 70 anos, Silvestre havia melhorado sua mobilidade com ajuda da fisioterapia. Ele conforma-se com sua situação de semiparalítico, tem em casa uma grande mulher, Dona Graça, que o ajuda muito, e uma cuidadora eficiente, suave; cuja delicadeza minimiza o sofrimento.

Pelo menos duas vezes na semana Dona Graça passa a tarde em compras no Shopping, é a tarde do banho de banheira demorado. Seu Silvestre se sente feliz imerso na água morna, trancado no banheiro com Claudinha, a eficiente cuidadora do Clima Bom.