DEU NO X

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

CAMPESINA – Padre Antônio Tomás de Sales

Uns aromas sutis na veiga espalha
A mansa brisa. Suga a loira abelha
O lindo cálix de uma flor vermelha
Que o puro rócio matutino orvalha.

O vento sul do bosque a cima esgalha
E o frio lago azul a sombra espelha;
Triste e saudosa muge a branca ovelha
Cujo cincerro finos sons chocalha.

Loira matuta vem buscando a trilha
Da fonte – um fio d’água que marulha,
Trazendo aos curvos ombros grande bilha.

Em pleno viço a mata escura abrolha.
Se o vento ali perpassa em doce bulha,
Treme um pingo de luz em cada folha.

Padre Antônio Tomás de Sales, Acaraú-CE (1868-1941)

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COMENTÁRIO DO LEITOR

ESTÁ NO SANGUE

Novo comentário em DIFERENÇA DE UM PRO OUTRO…

João Francisco:

Eu estive na Paulista em 07/Set/2021 e vi um milhão de pessoas se espremerem em toda a Avenida, suas transversais e a Alameda Jaú (uma paralela) interditada cheia de gente.

Havia dezenas de carros de som onde não era raro anunciarem que foi achado um celular ou até uma carteira perdida.

Ontem na Unicamp, plateia seleta com alunos de alto poder aquisitivo houve uma reunião de campanha antecipada do Molusco com próceres do PT.

Adivinha?

Sumiu um celular top das galáxias de uma aluna.

A roubalheira está no sangue deles.

Vejam no vídeo abaixo.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

RAIMUNDO GORÓ – NATAL-RN

Tenho visto cabra otário
Movido pela paixão
Cultuando um charlatão
Visto no noticiário.
Um patife salafrário
Que ao ver o povo recua
E a fama se perpetua
De larápio e vigarista
O lalau sai na revista
Se dana e não sai na rua

Por onde passa se escuta
Gritos da população
O chamando de ladrão
Traidor filho da puta.
Cônscio da sua conduta
Desconfiado se acua
E o povo sentando a pua
Apupando o comunista
O lalau sai na revista
Se dana e não sai rua

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CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

OS DOCES DE MINHA INFÂNCIA

A arte culinária é peculiar, tem características próprias de cada artista da gastronomia; é uma cultura forte e típica. Nesta cidade de Nossa Senhora dos Prazeres, Maceió, as comidas estão entre os melhores prazeres. Saborear um bom prato faz parte de nosso lazer, de nossa cultura. Lembrando que o Bispo Don Pero Fernandes Sardinha foi devidamente devorado em apreciado banquete antropofágico pelos nossos ancestrais, os índios caetés, nas areias brancas da praia de Barra de São Miguel.

Minha juventude foi marcada por doces e salgados inesquecíveis. Ainda tenho em minha mente, em meu paladar, alguns pratos feitos em casa por minha mãe, Dona Zeca, excelente cozinheira. Ela caprichava nos almoços dominicais: caruru, galinha ao molho pardo, carapeba, cavala, arabaiana ao olho de camarão ou feijoada de feijão mulatinho incrementada com charque, toucinho, tripa de porco, linguiça, carne do sol, couve, jerimum, quiabo, maxixe. Havia pratos, hoje preparados em óleo vegetal, na época cozidos com banha de porco: o sarapatel, o fígado e o bife de panela. Sem esquecer o cozido, as macarronadas, peixadas e camarãozadas de todo tipo.

Quando íamos ao centro da cidade, invariavelmente lanchávamos na sorveteria da moda, Bar e Sorveteria Elegante, em frente ao Beco do Moeda, frequentado pela classe média emergente que sentava às mesas de ferro com tampo de mármore. No cardápio de lanches havia sorvetes de frutas regionais: mangaba, manga, pinha, laranja cravo, sapoti, mamão, abacaxi, melancia, coco, cana, além de pudins maravilhosos; tudo servido em taças de metal niquelado. Ainda no centro da cidade eu adorava o chocolate caseiro em barras, duas cores, vendido pelo Seu Portela na loja especializada em óculos que vendia mais chocolate que óculos. Não esquecendo a Sorveteria Xangai de Seu Fon, na Rua da Alegria, oferecendo o deliciosíssimo sorvete de chocolate crocante e sorvete de creme.

Acrescento à lista os ambulantes que passavam na praia da Avenida da Paz. Depois do almoço ficávamos à espera de Seu Primitivo empurrando o carrinho de sorvete. Sempre dois sabores: coco e maracujá, coco e mangaba, coco e cajá, coco e goiaba; ele raspava o sorvete com uma colher enchendo o carlito (casquinha). Era nossa predileta sobremesa. Ao entardecer, o China aboletava o tabuleiro de quebra-queixo embaixo de alguma amendoeira na Avenida da Paz; tínhamos guardados os tostões contados especialmente para uma “taiada” desse doce precioso. Encantávamo-nos com a rapidez do corte vertical, um pouco inclinado; ele entregava o quebra-queixo em pedaço de papel colorido, gostosa cocada dura queimada com pedaços de amendoim.

A moçada se deliciava com o algodão doce, rodado na hora numa panela com fogo, onde esquentava o açúcar fazendo enorme nuvem de algodão. Complementava tomando um raspadinho: gelo raspado dentro de um copo cheio de garapa de coco, maçã ou misto, uma delícia. E o caldo de cana caiana! Uma divindade!

Na praia defronte ao coreto havia um futebol organizado. Depois do banho de mar, os jovens iniciavam papos e paqueras sentados na areia. Invariavelmente aparecia o Juarez empurrando o carrinho de sorvete XAXADO, uma delícia feita de frutas nordestinas. Juarez parava na roda oferecendo seu delicioso sorvete e picolé: “Quem vão quererem? Quem vão quererem? Podem pedirem!”. Juarez vendia fiado, na hora do almoço passava na casa de cada um com a conta do sorvete consumido; ele conhecia todos, meninos e meninas da Avenida.

As tardes da Rua do Comércio eram imperdíveis, jovens encostados nos automóveis (limpando carro) curtiam as jovens, flertando, paquerando, marcando encontro nas Sorveterias DK-1 ou Gut-Gut, onde tomávamos saborosos sorvetes de frutas de todas as qualidades; era o ponto de encontro favorito da moçada bonita.

Quando as lojas da Rua do Comércio cerravam as portas, eu descia rumo à minha casa com uma parada obrigatória na esquina do trilho de ferro, ao lado do Arcebispado, saboreava um suco de maracujá com pão doce. Nunca ninguém no mundo até hoje conseguiu fazer um suco igual àquele, o sumo da divindade. Os deuses da gula em vez de água devem beber aquele maracujá.

É preciso um estudo mais profundo sobre comidas, salgados e doces dos anos dourados. Fazem parte de nossa história, de nossa cultura.

A modernidade acabou com os doces de minha infância, hoje proliferam no mundo as lanchonetes dos Shoppings esquentando sanduíches congelados com gosto de sola de sapato. Estão espalhadas no mundo as sofisticadas fábricas de obesidade inventadas pelos americanos. Saudades dos doces de minha infância.

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CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

TRINCA DA CEBOLA

Beatriz, psicóloga, Pedro Victor, médico e João, matemático. Exitosos netos

Sem uma bola de cristal é difícil imaginar em que vai dar a vida dos nossos descentes, a partir dos filhos, por quem nos empenhamos para facilitar suas vidas, seja na parte da educação escolar, seja, mais adiante, no caminhar das profissões e na constituição das famílias.

Mas essas atenções e preocupações não se limitam, porém, à sua preparação para a solidez econômica futura, e sim, igualmente, àqueles com quem irão se consorciar e nos presentear com filhos, netos e bisnetos.

Volto a dizer que sou um homem de muita sorte. Primeiramente porque fui criado por pais que viveram juntos até o fim de suas vidas. Isto já foi grande vantagem para o êxito futuro, porque jamais sofri o abandono de um ou de outro.

Depois, porque pude frequentar boas escolas e recebi de meu pai o definitivo emprego. Ao casar-me, em compensação, dei de presente a eles três netos, que por seu turno, formaram seus filhos de maneira a causar-lhes grandes satisfações.

Tenho ouvido durante entrevistas que faço para as biografias que venho produzindo geralmente partidas de pessoas idosas, meus clientes, a sua preocupação a respeito da vida futura dos seus filhos e fico a imaginar que todos os pais têm as mesmas apreensões.

Há poucos dias constatei que um dos netos mais novos – o João – ao participar da OBM – Olimpíada Brasileira de Matemática, ocorrida no Colégio Santa Maria, de Boa Viagem, aqui no Recife, sagrou-se um dos melhores, sendo agraciado com o título de Menção Honrosa.

Sua irmã, Beatriz, ainda muito jovem, já se havia diplomado em Psicologia e está atuando na sua profissão. Ambos são filhos do meu primogênito Carlos Eduardo, que é pai de um médico, o Pedro Victor, recém-formado.

Assim, já me sinto despreocupado sobre essa descendência porque comprovo que a trinca, outrora tão trelosa, seguiu os rumos certos, obedecendo as linhas do aprendizado orientado pela Casa Paterna alcançando o êxito.

Pelo visto, aos 86 anos, com quatro filhos, 12 netos e 11 bisnetos não tenho o que reclamar. Pelo contrário. Poderei ir-me feliz porque me esforcei para que meus descendentes seguissem as rotas do êxito e agora seguem para constituir suas famílias e me ofereceram ótimos resultados.

Portanto, minha homenagem a essa “Trinca da Cebola” tão cheia de brios.