CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

FLÁVIA M. CORRÊA – NILÓPOLIS – NILÓPOLIS-RJ

Sr. Editor:

Ontem a militância esquerdinha fez muita badalação com o tal “Dia da Consciência Negra”.

Mas esqueceram de lembrar que o deputado mais votado do Brasil foi o Hélio Negão, do Rio de Janeiro, em quem eu votei.

O fato foi solenemente ignorado pela imprensa brasileira e pelos manifestantes.

Será porque, ao invés de mortadela, ele gosta mesmo é de comer um bom espetinho ao lado de boa companhia?

COMENTÁRIO DO LEITOR

DE OLHO NO FURICO DELE…

Comentário sobre a postagem É SÓ CONSOLIDAÇÃO

João Francisco:

Lulla considera muito pouco o que já é feito na prática.

Ele quer controlar os ainda poucos órgãos de imprensa realmente livres que existem.

Elle está de olho no JBF.

* * *

Enquanto ele está de olho nesta gazeta escrota, Polodoro está de olho no furico dele…

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

A CRIANÇA – O ALÇAPÃO – E OS PÁSSAROS

“Toda criança precisa ter contato com o chão, brincando descalça – para contrair as bactérias defensivas do corpo.” – Raimunda Buretama (minha Avó), uma analfabeta que nunca entrou numa escola.

Criança brincando na beirada do rio

Hoje vamos pegar o túnel do tempo, e “voltar para o futuro”. Relembrar as feridas dos “chaboques” feitos nos dedos dos pés jogando bola no piso duro do chão; tentando (e conseguindo) derrubar e roubar mangas e goiabas no pomar dos vizinhos; tocar a campainha na frente das casas e sair em disparada – práticas da infância que o tempo levou, e que nos fez “filhos que eram castigados pelos pais e mães” e os obedeciam e respeitavam.

Esses filhos que estão aí, hoje, não são nossos. São dos conselheiros tutelares – que nossos filhos abriram as portas de suas casas para eles entrarem e determinarem os hábitos, a educação e a alimentação.

Esses filhos que estão aí, hoje, só são nossos para pagarmos pensão alimentícia – e esperar a hora que, certamente, nos “depositarão” num asilo e continuarão a receber nossas aposentadorias.

Mas, jamais vamos dizer que nenhuma criança de antigamente fazia por merecer os castigos que recebia dos pais. Da mesa forma, também jamais diremos que criança fazia tudo certo ou, tudo de acordo com o atual “politicamente correto”.

Mas, era a nossa fórmula encontrada para sermos felizes. Para sermos crianças. Para sermos gente e parte de uma família difícil de ser destruída. Como acontece nos dias de hoje.

Também fazíamos coisas erradas. Hoje receberiam o rótulo de “politicamente incorretas”.

E uma dessas coisas erradas que fazíamos, era “criar passarinhos”. Pelo prazer inocente de ouvi-los cantar. Por ignorância, digamos.

Alçapão para pegar passarinhos

Durante as férias escolares, ou aos domingos e feriados, a rotina era a mesma: duas gaiolas-alçapão em cada mão, e lá íamos à caminho da Lagoa da Agronomia.

Ali, por conta da quantidade de água e pelo capim existente, era comum “pegarmos” passarinhos. As gaiolas eram armadas na cerca. Os passarinhos eram quase sempre o papa-capim, o bigodeiro, o gola (coleiro) e o caboclinho (caboclo lindo). Mas, de vez em quando aparecia um curió.

Papa-capim “virado”

Aquelas manhãs eram tomadas pela ansiedade de “pegar passarinhos”. Os passarinhos pegos, nem sempre eram aceitos. Quando pegávamos algum que não nos agradava, soltávamos para que ele fosse viver a vida em liberdade. Era assim, com o “tiziu”, um pequeno pássaro preto que se alimenta do mesmo capim preferido pelo papa-capim e pelo caboclinho.

O tiziu tem uma característica de vida e de canto. Ele canta, voa e “cai na vertical”. Esse não tem tanto a preferência dos “passarinheiros”. E isso se dá por conta da dificuldade para encontrar no comércio especializado algum tipo de ração para ele.

O tiziu é, digamos, um pássaro chato. Perturbador.

Tiziu “virado”

Hoje, muitos anos depois daquela maldade inocente, temos consciência que o melhor para as aves é a alegria de viverem soltas. Procurando e encontrando sua própria ração, praticando seus voos, reproduzindo no habitat que melhor lhe convier.

E, cantando para a nossa alegria.

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

INCENSO – Gilka Machado

A Olavo Bilac

Quando, dentro de um templo, a corola de prata
do turíbulo oscila e todo o ambiente incensa,
fica pairando no ar, intangível e densa,
uma escada espiral que aos poucos se desata.

Enquanto bamboleia essa escada e suspensa
paira, uma ânsia de céus o meu ser arrebata,
e por ela a subir numa fuga insensata,
vai minha alma ganhando o rumo azul da crença.

O turíbulo é uma ave a esvoaçar, quando em quando
arde o incenso … Um rumor ondula, no ar se espalma,
sinto no meu olfato asas brancas roçando.

E, sempre que de um templo o largo umbral transponho,
logo o incenso me enleva e transporta minha alma
à presença de Deus na atmosfera do sonho.

Gilka da Costa de Melo Machado, Rio de Janeiro-RJ (1893-1980)

DEU NO JORNAL

UM CABRA BOM E UM CABRA SAFADO

O ministro do Turismo, Gilson Machado, teceu críticas, na manhã deste sábado (20), à viagem do ex-presidente Lula (PT) à Europa, e afirmou que o governo Bolsonaro tem se esforçado para “reconstruir” a imagem do Brasil após a gestão petista.

– Estamos dando nosso sangue para reconstruir a imagem do Brasil, arrasado por anos de corrupção. Conseguimos! Os números são cristalinos. Aí vem um cabra safado, ex-presidiário e cachaceiro, lamber bota de Europeu e difamar nossa nação – publicou em seu Twitter.

* * *

Quando li esta notícia, achei arretado o uso da expressão “cabra safado”.

Uma expressão autenticamente nordestina e que resume tudo quando a gente se refere a um sujeito escroto, canalha e sem valor algum.

É o oposto de “cabra bom”, que a gente resume com “cababom”

Gilson Machado é pernambucano, nascido aqui no Recife.

E isso explica tudo.

Além do mais, o ministro é formado em Veterinária.

Ou seja: tem mesmo todas as credenciais pra falar sobre um quadrúpede do porte de Lula.

E, pra fechar a postagem, uma curiosidade músico-ministerial:

O ministro Gilson Machado tocando sanfona durante entrevista num programa de TV.

E interpretando Pink Floyd num ritmo nordestinado!!!

Como dizia meu saudoso amigo Orlando Tejo, desmantelo só presta grande!

DEU NO X

ALERTA IMPORTANTE

* * *

Esta notícia, além de curiosa, tem um ensinamento importante.

Atenção, leitores fubânicos:

O limite é de 10 fêmeas de uma vez só quando você for pro motel.

Não ultrapasse nunca a cota.

E que o grande guerreiro policial descanse em paz!!!

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

AS BRASILEIRAS: Gilka Machado

Gilka da Costa de Melo Machado nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12/3/1893. Poeta e uma das primeiras mulheres a fazer poesia erótica no Brasil. Sua obra causou certo escândalo no meio social e críticas num restrito circuito literário da época. Porém foi elogiada por autores, como Lima Barreto, Olavo Bilac, Drummond e Jorge Amado. Foi também precursora na luta pela participação da mulher na Política, com a criação do PRF-Partido Republicano Feminino, em 1910.

Filha e neta de poetas e artistas: a mãe -Thereza Cristina Moniz da Costa- era atriz; o pai – Hortêncio da Gama Souza Melo – era poeta; o avô -Francisco Moniz Barreto- era poeta repentista, conhecido como “Bocage brasileiro”, é patrono na Academia de Letras da Bahia. Aos 14 anos venceu concurso de poesia no jornal “A imprensa”, ocupando os 3 primeiros lugares com seu nome e pseudônimos. O crítico Afrânio Peixoto, ao ver os poemas, disse que aqueles versos só poderiam ter sido escritos por uma “matrona imoral”, sem conhecer a autora.

Casou-se em 1910 com o poeta e jornalista Rodolfo Machado e teve 2 filhos: Hélios e Heros, que veio a se tonar a conhecida bailarina e atriz Eros Volúsia. No mesmo ano fundou o PRF, assumindo o cargo de secretária e tesoureira. Seu primeiro livro de poemas – Cristais partidos – saiu em 1915 e foi festejado por alguns críticos. Conta-se que ela teria recusado o prefácio de Olavo Bilac, pois queria “aparecer sem defesa nenhuma, sem escudo… com um prefácio seu, todo mundo já está me achando ótima”, teria explicado ao poeta. Nos anos seguintes, vieram outros: A revelação dos perfumes (1916), Estado de alma (1917), Poesias, 1915/1917 (1918) e Mulher nua (1922). Ao ficar viúva, aos 30 anos, passou por uns perrengues financeiros, abriu uma pensão frequentada por intelectuais e artistas e continuou escrevendo. Em 1933 venceu, com grande margem de votos, o concurso promovido pela revista “Malho”, e recebeu o título de “Maior Poeta do século XX”. Para dar uma ideia do tamanho da vitória, ela teve 100 pontos e Pagu (Patrícia Galvão) teve 7; Cecilia Meireles teve 6; Henriqueta Lisboa teve 3.

Numa época em que as mulheres eram confinadas numa vida doméstica e recatada, o que a análise deduz é que ela rompeu as barreiras do decoro público e chocou a sociedade com suas poesias exaltando paixões e desejos proibidos à mulher. Segundo Drummond, sua obra não era apenas poesia erótica. Ela mesclava “elementos simbolistas e em sua formação, tinha também algo de misticismo, às vezes contendo preocupações de ordem social, chegando a uma espécie de anarquismo romântico”. E disse mais em sua coluna no Jornal do Brasil, em 18/12/1980: “Gilka foi a primeira mulher nua da poesia brasileira”.

Já o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos, achava que “ela foi a maior figura feminina de nosso Simbolismo, em cuja ortodoxia se encaixa com seus dois livros capitais, Cristais Partidos (1915) e Estados de Alma” (1917). Mas havia muita gente que não apreciava sua poesia. Rui Barbosa se perguntava: “como seria possível conciliar o espírito das senhoras de boa sociedade com o espírito de uma poetisa que tem o mau gosto de escrever essas coisas plebeias”. Para achincalhar sua pessoa, um jornal do Rio publicou caricatura onde ela pousa com uma saia esvoaçante com a legenda: “Eu sinto que nasci para o pecado”, retirado do soneto “Reflexões” de sua autoria. O achincalhe, como notícia de jornal, rendeu-lhe enorme visibilidade social e cultural.

Em 1952, aos 59 anos, retirou-se da vida pública: “Eu tomei enjoo – da poesia não, mas do ambiente”, revelou numa entrevista a Nádia Batella Gotlib, em 1979. A entrevistadora relata a dificuldade dos críticos em elogiar suas poesias. Para fazê-lo, alguns tiveram que dividi-la em duas. Humberto de Campos, por exemplo, “ressalta suas qualidades de poeta, mas faz questão de afirmar que, por outro lado, ela era ‘a mais virtuosa das mulheres e a mais abnegada das mães’”. Em 1977 Rachel de Queiroz e Jorge Amado estimularam sua candidatura. Não pleiteou a vaga, mas a ABL reconheceu seus méritos literários com a concessão do “Prêmio Machado de Assis”, em 1979, pelo conjunto da obra. No ano seguinte veio a falecer em 11/12/1980.

Pouco antes havia declarado: “Sonhei ser útil à humanidade. Não consegui, mas fiz versos. Estou convicta de que a poesia é tão indispensável à existência como a água, o ar, a luz, a crença, o pão e o amor”. Um de seus poemas mais conhecidos, extraído do livro Cristais partidos (1915) -Ser mulher- retrata a difícil condição da mulher, conforme se vê no trecho:

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor;
sentir a vida triste, insipida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um senhor…

Em 2017 foi relançada, pela editora Demônio Negro, sua Obra completa, organizada por Jamyle Rkain, num trabalho de resgate alertando que “precisamos olhar para as mulheres que sofreram a mesma invisibilidade que Gilka sofreu. Precisamos olhar para o passado – não só na literatura, mas na História em geral – sem os preconceitos que eram mais arraigados para tirarmos essas mulheres dos porões e mostrarmos suas contribuições para o mundo. Existem muitas.” Aqui mesmo, no JBF, o colega Pedro Malta tem publicado alguns de seus poemas.

DEU NO X

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

SINAL DE ALERTA

Acredito que todo ser humano desprovido de uma mínima cultura humanística muito se assemelha aos que, se retirando da frente do espelho, onde só contemplam seus próprios apetrechos corporais, logo esquecem sonhos e ambições, direitos e potencialidades, amor próprio etc. e tal. E nada assimilam para corretamente interpretar as características de suas atitudes, tornados inaptos para um agir reflexivo. Sem tal agir, caminharão alienados pela vida afora, ratificando mandamento consagrado: mente carecida de criticidade, futuro sem alicerces, existência nunca prazenteira, apesar dos físicos sarados, botox e silicone. Muiros até desfilando de camisa aberta com bolsa de colostomia à mostra, como troféu conquistado.

Não tropeçar no binômio pensar-agir é tal e qual o desempenho daquelas naus levadas a portos seguros sob comando de timoneiros conhecedores do ditado “quem sabe onde quer chegar, escolhe o caminho certo e o jeito de caminhar”. Navegante que se preza se acautela diante dos que apenas elogiam, também se esquivando dos imediatistas que se gabam das vitórias de Pirro que a nada conduzem.

Para os do hoje e os do amanhã, juventude em flor, toda cautela é pouca. Que não se imaginem prontos, pois múltiplos serão os obstáculos ainda não gerados, estatuídos pelos seus próprios derredores, aliados uns, aparentados outros, apatetados um bocado, destes até os diabos se distanciando. E que jamais condicionem sabedoria às pós-graduações, buscando em seus nível educacionais sempre entender porque o saber abomina as unanimidades, sendo indulgente, gerador de bons frutos, imparcial e sem fingimentos, promotor incansável de uma não-violência ativa e da participação de todos os pensamentos contraditórios. Já dizia um notável pernambucano que “toda unanimidade é burra” (Nelson Rodrigues)

Que os do hoje e os do amanhã redobrem seus cuidados diante do ganho fácil e lucros rapidamente alcançados. As idas demasiadamente rápidas ao pote, incentivando pretensões descabidas, findam sempre em finais lamentáveis, o acumulado tornado ferrugem. Quem sabe plantar e bem colher ultrapassa-se no dia-a-dia, aceitando-se como um aprendiz de tudo. Percebendo que o convívio com o conhecimento deve ser paciente, nunca ardido em ciúmes, jamais tolamente ufanado, nunca se alegrando com as injustiças sociais, rejubilando-se sempre com a verdade que emerge, a cada dia, das reelaborações históricas.

Quem sabe adquirir conhecimento está ciente que ele jamais se tornará findo, o mundo sendo propriedade de todos, dos mais debilitados inclusive. Que exigem ser amparados na sua dignificação terrestre, para que as regiões tornem-se pacíficas, com ares mais distributivistas, cidadanizadas sem esmorecimentos nem nostalgias, iluminando escuros, fortalecendo uma crescente solidariedade universal, no silêncio redentor de cada amanhecer em Deus.

Allan Bloom, autor do muito polêmico O DECLÍNIO DA CULTURA OCIDENTAL, costuma dizer aos o assistiam: “A filosofia, a inimiga das ilusões e das falsas esperanças, nunca é realmente popular, sendo suspeita aos olhos dos que apoiam qualquer dos extremos que estejam no poder.”

Conscientização é um compromisso histórico, é tomar posse de uma realidade concreta, postulando uma utopia que exige sólidos conhecimentos críticos. Conscientizado é todo aquele que vai para o diálogo com o sentimento de ser parte, sempre se postando como inconcluso.

Para os que desejam aprimorar seu senso crítico, militando nas utopias terrestres que se fizeram ainda mais necessárias com o advento de uma pandemia assassina, uma questão posta numa contracapa de livro recentemente editado: “Seria o conceito de Utopia ainda relevante em uma era de globalização caracterizada pelas vertiginosas tecnologias do Primeiro Mundo e pela desintegração social do Terceiro Mundo?”

Um famoso teórico político e crítico literário, reconhecido mundialmente pelas suas interpretações da pós-modernidade, investiga o desenvolvimento do modelo utópico a partir de Thomas Morus e questiona as funções desse modelo em uma era pós-comunista.

O livro, recentemente editado no Brasil: ARQUEOLOGIAS DO FUTURO: O DESEJO CHAMADO UTOPIA E OUTRAS LIÇÕES CIENTÍFICAS, Frederic Jamesson, Belo Horizonte MG, Autêntica, 2021, 654 p. Bem poderá oferecer ensinamentos balizadores, que cidadanizarão muitos militantes partidários e eleitores.

Leiamos mais, rabisquemos mais, meditemos mais, dialoguemos mais fraternalmente para as eleições de 2022. Quem planta bem, colhe melhores resultados.

PENINHA - DICA MUSICAL