DEU NO X

VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

A BANDA

Seu Luiz Murá era um senhor sessentão, sempre de bem com a vida e muito bem humorado. Contador antigo, fazia “a escrita” de vários estabelecimentos comerciais, e frequentava sempre a Receita Federal para pegar informações. Muito bem relacionado, todos gostavam dele, do seu alto astral e do seu grande senso de humor.

Carmen Pimentel era fiscal da Receita Federal, cargo que passou a se chamar, posteriormente, Auditor Fiscal dos Tributos Federais.

Nessa época, estava no auge o grande sucesso de Chico Buarque, “A Banda”, e era a música mais tocada nas rádios de Natal.

Carmen Pimentel estava em pleno expediente na Receita Federal, quando entrou na sua sala Seu Luiz Murá, o contador, com sua costumeira pasta na mão. Como Carmen era especialista em “Imposto de Renda”, era a ela que seu Murá sempre se dirigia para pedir orientações. Ela tinha amizade pessoal com o contador e o atendia muito bem.

Como também era muito bem humorada, numa tarde em que Seu Luiz Murá foi lhe fazer consultas sobre declaração de imposto de rendas, Carmen, funcionária antiga, perto de se aposentar, quis brincar com o contador e cantou baixinho um trecho da música “A Banda”:

“O velho fraco esqueceu o cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou….”

Imediatamente, Seu Luiz Murá respondeu à provocação, como se respondesse a um desafio, cantando outro trecho da mesma música “A Banda”:

“…E a moça feia debruçou na janela,
Pensando que a banda tocava pra ela…”

Os funcionários da Receita Federal que ouviram a resposta de Seu Murá não se contiveram, e a gargalhada foi geral. Seu Murá tinha presença de espírito e não ficou por baixo na provocação de Carmen. A simpatia por Seu Murá ainda aumentou mais depois desse episódio.

* * *

Republicada atendendo a pedido do leitor Boaventura Bonfim.

DEU NO X

NHONHO LEVANTA O DEBATE BOIÓLICO

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UM OLHAR DOCE, TERNO, APAIXONADO…

DEU NO JORNAL

VACAS LOUCAS

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Uma descoberta preocupante.

Segundo apurou o Departamento Bovino do JBF, os dois casos descobertos pelo Ministério da Agricultura são as petistas Maria do Rosário e Gleisi Hoffmann.

Duas vacas completamente loucas.

Cientificamente, o exemplar bovino classificado como “Dilma Rousseff” continua com a denominação de Vaca Peidona.

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

A GRAÚNA DE JOÃO BURETAMA

A graúna Nêga Véia”

Foi por muito pouco, um tantinho de nada, que João Buretama não pegou a cobra caninana comendo a graúna velha no ninho feito no pé de pau (uma catingueira que disputava a sobrevivência com um pé de avelós – este, conhecido também como “cachorra-magra” de reconhecido valor curativo contra alguns tipos de câncer). A bicha conseguiu fugir mais rápido que pensamento, enquanto Buretama desembainhava o facão Collins de 30 polegadas – quase uma espada.

Foi quando descansava à sombra da catingueira, que João Buretama descobriu o ninho da graúna. Subiu cuidadosamente, e encontrou o ninho, com dois ovos. Acompanhou o choco e quase ajudou no “parto” do casal de filhotes. O macho, dizem os especialistas, nasce sempre primeiro.

João Buretama trabalhava diariamente, cuidando do roçado, onde tinha algumas linhas de mandioca e feijão, sem contar pouco mais de cem touceiras de macaxeira e muitos pés de maxixe, que ficavam mais próximos da vazante do pequeno açude. Dali, tirava o alimento para a filharada e aderentes.

João cuidava de algumas covas de batata doce quando escutou um piado diferente, próprio de ave que foi pega pelo predador. Parou com a enxada, pôs-se a escutar, até descobrir que o som estranho vinha da catingueira. Andou rápido. Andou mais rápido ainda. Quase correndo, encontrou uma cobra caninana se esgueirando entre as folhas secas, consumando a fuga.

João desembainhou o Collins – que mais parecia uma espada – deu alguns golpes no chão, mas a cobra, com a fome saciada, conseguiu fugir.

– Bicha desgraçada! Comeu o meu passarim!

Na verdade, o passarinho comido pela cobra caninana não era de João. Era do mundo, era da natureza, propiciando o equilíbrio entre as espécies e enriquecendo-as. Mas, no interior é sempre assim. Criou, é “dono”.

Quando alguém vê um canário e ele volta ao lugar onde foi visto, ele passa a “pertencer” a quem o viu. Vai continuar solto, voando, cantando. Mas será sempre de quem o viu por uma ou mais vezes. São essas as coisas boas do sertão, que pontificam e diferenciam entre as coisas das cidades asfaltadas e metrópoles.

Dando uma leve pancada na testa, João lembrou dos ovos que tinha visto no ninho. Sabia ele que, provavelmente, o primeiro ovo, que muitos entendem como sendo o macho, já tivera a casca rompida há alguns dias. A fêmea dessa espécie (graúna, chico preto, melro – gnorimopsar chopi) é mais preguiçosa. Demora mais para nascer e a se movimentar em busca do alimento. Há quem afirme que seja por isso que ela – a fêmea – cresce mais.

Pois o filhote havia saído à procura de alimento quando a caninana pegou a mãe no ninho. A aproximação de João Buretama apressou a fuga da cobra que, em parte, tivera um bom alimento.

Atônito, João lembrou que o filhote que acabara de romper a casca do ovo morreria de fome. Com todo cuidado possível, parou o trabalho, pegou a graúna fêmea ainda filhote, e levou para casa. Não tinha gaiola, e aninhou a ave entre alguns panos velhos. Antes de voltar para continuar a labuta, recomendou à mulher que fizesse uma papa de farinha seca com leite de cabra e, com um garrancho improvisado de colher, tentasse dar para a nova inquilina da casa.

De noite, na chegada à casa, a primeira pergunta de João foi pela nova “cria” da casa. Aquele amontoado de carne com alguns “canhões” nascendo, apenas dormia. Se fosse humana, estaria roncando, certamente.

O tempo passou. A graúna cresceu. Ficou coberta de penas e até ensaiou os primeiros voos. João entendeu que chegara a hora de prendê-la numa gaiola, pois ela poderia voar e nunca mais voltar. Aí veio a mágica da natureza. João achava que não ficava bem chamar a graúna de “graúna”, ou simplesmente “passarinha”. Assim, batizou-a de “Nêga véia”. Embora fosse nova, ou apenas uma “adolescente”.

“Nêga véia” pra cá, “Nêga véia” pra lá, e assim os dias se passaram. Num belo fim de dia e João chegou a casa, trazendo uma gaiola de talos de carnaubeira que encomendara ao Zé do Pifo, um desocupado que vivia fazendo aquelas coisas. Muitas sob encomendas.

“Nêga véia” dormia tranquilamente sobre uma tábua, onde também ficavam um vasilhame de barro com água e outro com a comida (milho verde, papa de farinha, arroz cozido). João colocou tudo, inclusive “Nêga véia”, na gaiola, e fechou a porta da dita cuja.

Com o surgimento dos primeiros raios da claridade daquele domingo, João pegou um caneco com água e foi “moiá os óios prumode tirá a remela.” Pegou o café e, com o cachimbo numa mão, e a faquinha de cortar o fumo na outra, sentou-se num tamborete próximo de onde havia pendurado a gaiola com “Nêga véia”. Sentou, e continuou cortando o fumo, enquanto oiava pra gaiola.

A natureza se manifestara, como que por um passe de mágica. “Nêga véia” começou a desfiar um cântico tão maravilhoso que levava qualquer um às lágrimas: fiu-tu-fiu, fiu-tu-fiu-fiu! Repete a mesma coisa várias vezes.

“Nêga véia” nunca havia cantado antes. João parou de cortar o fumo e ficou de olhos arregalados e marejados, espiando e procurando entender aquilo.

Quem conhece a letra da música gravada por Gonzagão: “… furaro os óios, do assum preto, prumode assim, ele cantá mió” com certeza vai entender o que aconteceu.

Ninguém furou os óios de “Nêga véia”. João escutou mais uma vez o cântico de “Nêga véia” e começou a achar que tinha algo de diferente naquilo. Algo fora de rotina. Não era toda graúna que cantava pausado daquele jeito, como se pretendesse dizer algo, como se pretendesse falar com alguém. Como se pedisse alguma coisa. Não era um cântico. Era um lamento.

João tirou “Nêga véia” da gaiola e esticou o dedo indicador da mão direita, como quem pede o pé a um papagaio. “Nêga véia” pousou no dedo de João, e, em vez de voar, pulou para a tábua onde costumava dormir e comer. Viver, enfim. E, imediatamente, parou de cantar.

Finalmente, João entendeu que o cantar de “Nêga véia” era um lamento. Um pedido para sair da gaiola, para continuar solta como manda a Natureza. Assim como quem pretendia dizer que tinha algo a cumprir e, presa, isso ficaria difícil.

Os dias se passaram e “Nêga véia” começou a alçar voos mais altos e mais demorados. No fim do dia, ao entardecer, depois do cântico do Vem-Vem, regressava para casa e, pousada e educadamente sacudindo todas as penas como se tirasse algo do corpo, ficava arrepiada e adormecia. Assim era, até os primeiros raios do novo dia.

Os voos demorados de “Nêga véia” já não incomodavam tanto a João. “Nêga véia” aprendera a sair para procurar alimento, da mesma forma que aprendera a voltar ao fim do dia, cansada, como se voltasse de um dia de trabalho. E era. “Nêga véia” estava trabalhando. “Maquinando” alguma coisa.

Todos os dias, sem que João percebesse, “Nêga véia” voava, voava e, de mansinho, pousava entre os galhos daquela antiga e velha catingueira. A velha catingueira onde nascera e, sabia, onde também perdera a mãe, comida pela caninana.

O calor tórrido e o vento parado faziam do ambiente um mormaço só. A sombra da catingueira era um oásis e, depois de secar o suor com a ponta da camisa, João foi refrescar o corpo na sombra da catingueira, sua velha conhecida. Usando o chapéu de palha como se fora um travesseiro, João olhou para cima e, como que por milagre, viu a ave e a identificou como sendo “Nêga véia”. E era “Nêga véia”, com certeza.

Mas o que “Nêga véia” estaria fazendo ali, naquela fatídica catingueira, depois de tanto tempo? Depois de reconhecer “Nêga véia”, tinha também certeza que ela voaria, e voltaria para casa ao fim do dia, depois do cantar do Vem-Vem.

Mas, olhando mais fixamente, João percebeu que um galho estava mais grosso do que de costume. Fixou o olhar e percebeu que o “galho” se mexia lentamente. Abriu ainda mais os olhos e viu: era aquela mesma caninana miserável que comera a mãe e conseguira fugir e, agora, ali nas suas ventas, começava a armar o bote para pegar também “Nêga véia”.

Com violência hercúlea e a raiva de todos os demônios, João desembainhou o Collins e usou toda a sua força para cortar o galho e, ao meio, a caninana. “Nêga véia” continuava inerte no galho, não tão alto. Antes de alçar voo, “Nêga véia” foi pulando de galho em galho, até que se aproximou da caninana e, percebendo que ali não havia mais vida, voou e voou até chegar próximo da casa de João (e dela).

Quando o Vem-Vem cantou, ao escurecer, “Nêga véia” voou e pousou na tábua onde fora criada. E, como a dar vivas à Natureza por aquilo que pode ser considerada a vingança da morte da mãe, começou a cantar:

– Fi-fiu-tifi, fiu-fi-fiu!

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

NEUSA BIANCHINI – SÃO PAULO-SP

Caro Editor:

Veja só a diferença:

O amor é lindo à direita, entre gente que respeita os princípios cristãos, a família e a decência.

Já o “amor” do outro lado é um lixo asqueroso!!!

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Noel Rosa

Noel de Medeiros Rosa nasceu em 11/12/1910, no Rio de Janeiro, RJ. Compositor, cantor, violonista e um dos nomes mais destacados não apenas no samba, mas na história da música popular brasileira. Sua contribuição foi fundamental na legitimação do samba como ritmo genuinamente brasileiro. Em seu curto período de vida deixou mais de 250 músicas, muitas delas clássicas do cancioneiro popular.

Nascido de um parto complicado, que incluiu o uso de fórceps para salvar a vida da mãe e da criança. Além disso, tinha uma hipoplasia, com uma diminuição da mandíbula, que marcou sua feição dotando-o de uma fisionomia particular. Cresceu no bairro carioca de Vila Isabel, reduto de boêmios e sambistas tradicionais do Rio de Janeiro, oriundo de uma família de classe média. Estudou no tradicional Colégio de São Bento e dizem que, não obstante a inteligência, não era um aluno aplicado nos estudos.

Aprendeu a tocar bandolim de ouvido ainda adolescente e gostou da atenção que despertou nos ouvintes. Pouco depois passou ao violão e logo fazia parta das rodas de samba. Aos 21 anos entrou na Faculdade de Medicina, mas cedo se deu conta da inviabilidade do projeto de ser médico diante da vida de artista que se apresentava entre as noitadas regadas a cerveja. Aos 19 anos já era integrante do “Bando dos Tangarás”, ao lado de Braguinha, Almirante e Henrique Brito. Em 1929 compôs Minha viola e Festa no céu e no ano seguinte, aos 20 anos, surge o primeiro grande sucesso Com que roupa?, uma de suas clássicas composições,

No folclore musical surgiu uma história em que ele, em certa noite, queria sair com os amigos, mas sua mãe não deixou, escondendo suas roupas. Foi aí que perguntou: “Com que roupa eu vou?” Mas esta história foi desmentida por Almirante, seu parceiro e primeiro biógrafo. Ele atesta que os primeiros acordes da música eram muito parecidos aos do Hino Nacional. O problema foi detectado pelo maestro Homero Dornelas e Noel prontamente fez a modificação. O fato é que ele era um grande cronista e suas músicas eram um retrato da vida simples e cotidiana, que primam pelo humor e pela veia crítica. Orestes Barbosa chamava-o de “o Rei das letras”.

O cotidiano e o humor sempre estiveram nas letras de suas músicas, incluindo as “brigas”. Numa polêmica com seu rival Wilson Batista, os dois pelejaram em sambas. Os dois andaram enamorados de uma morena do “Dancing Apollo. Noel compôs o samba Rapaz folgado, detonando a empáfia de Lenço no pescoço, de Wilson. Este, quando ouviu o samba, deu o troco com Mocinho da Vila, aconselhando Noel a cuidar de seu microfone e deixar quem era malandro em paz e ao final orgulhava-se “modéstia à parte, eu sou rapaz (folgado?)”. Noel continuou a polêmica com Feitiço da Vila: “modéstia à parte, eu sou da Vila (Isabel)”. Em seguida, Wilson compõe Conversa fiada, questionando a superioridade do bairro. Noel retruca com o samba Palpite infeliz. Ao final da “briga”, os dois tornaram-se parceiros e amigos.

A vida boêmia nos bares da lapa era intensa e parece que começava cedo no café da manhã: Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa / Uma boa média que não seja requentada / Um pão bem quente com manteiga à beça… Essa Conversa de botequim é um dos seus maiores sucessos. Até agora já foi executada mais de 546 mil vezes na Spotfy e 1.3 milhão de vezes no Youtube. Ao longo da breve vida teve muitas namoradas e foi amante de outras já casadas. Aos 24 anos casou-se com Lindaura Martins, por quem tinha certo afeto, mas era apaixonado mesmo por Ceci, prostituta de um cabaré na Lapa. Essa paixão resultou no samba Dama do Cabaré, outro sucesso. Ele quis tirá-la da “vida fácil”, dar-lhe uma casa e uma vida tranquila como amante. Mas ela recusou a oferta; não queria ser uma “manteúda”; queria alguém que assumisse o casamento. Era uma mulher bonita, elegante e educada. Mas ele não pode encarar o escândalo social e na família, que não aceitaria o casamento com uma meretriz.

A vida boêmia segue o curso, às vezes interrompida com tratamentos contra a tuberculose que o consumia. Viajou diversas vezes para cidades montanhosas em função do clima e passou uma temporada em Belo Horizonte. De lá, escreveu ao seu médico, Dr. Graça Melo: “Já apresento melhoras/Pois levanto muito cedo/E deitar às nove horas/Para mim é um brinquedo/A injeção me tortura/E muito medo me mete/Mas minha temperatura/Não passa de trinta e sete/Creio que fiz muito mal/Em desprezar o cigarro/Pois não há material/Para o exame de escarro”.

De volta ao Rio, sentiu alguma melhora e parou com as medicações. Achou que estava curado, mas pouco depois adoeceu fortemente, não conseguindo mais se alimentar e nem levantar da cama. Faleceu repentinamente em 4/5/1937 aos 26 anos. Sua vida foi filmada e biografada diversas vezes. São filmes de curta, média e longa duração, com destaque para “Noel – Poeta da Vila” (2007), baseado na essencial biografia Noel Rosa: uma biografia (1990), de João Máximo e Carlos Didier. No teatro também foi retratado na peça O poeta da Vila e seus amores (1977), de Plínio Marcos e cenário de Flávio Império, inaugurando o Teatro do SESI, em São Paulo. Em 2010, centenário de seu nascimento, a Escola de Samba Unidos da Vila Isabel desfilou em sua homenagem com o samba Noel: a presença do “Poeta da Vila”, de Martinho da Vila. Em 2016 foi agraciado in memoriam com a “Ordem do Mérito Cultural do Brasil”, na classe de grão-mestre.

DEU NO X

DEU NO X

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

CAPACITAÇÃO E SOBREVIVÊNCIA

Em plena pandemia assassina da COVID-19, criminosamente apelidada de “uma simples gripezinha” pelo inconsequente que se encontra travestido de mandatário, ainda se fala muito pouco, no Brasil, em ampliar a capacitação dos talentos humanos mais jovens nas escolas e nas empresas, preparando-os bem para os complexos desafios pessoais e mercadológicos que estão emergindo nos quatro cantos do mundo.

Em outros contextos, de planejamento sério, a política educacional é bem outra. Muito mais levada a sério e com um notável senso de visão antecipatória. Vejamos um caso recente. Ainda estão assustando meio-mundo europeu alguns dados quantitativos recentes fornecidos pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE, sediada na capital francesa, sobre analfabetismo funcional… na própria Europa!!!

O relatório revela que milhões de pessoas, nos países mais avançados do lado de lá, não sabem ler nem escrever corretamente. Divulga o informe da OCDE estatísticas preocupantes e critica os diversos governos europeus por não oferecerem estratégias adequadas para os trabalhadores desenvolverem eficazmente suas habilidades cognitivas, comportamentais e profissionais, mormente numa época de tecnologia cada vez mais potente.

Com base no relatório da Organização, o jornal britânico “The European” denuncia que a própria Grã-Bretanha experimentou, algum tempo atrás, métodos revolucionários de alfabetização para adultos, todos abandonados porque as verbas foram simplesmente destinadas a outras áreas, consideradas mais relevantes.

A opinião de Donald Hirsch, pesquisador do Centro para Pesquisas Educacionais da OCDE, é pra lá de muito lúcida: “Os países industrializados deveriam destinar mais recursos para o problema do analfabetismo, sob pena de não conseguirem um aumento de produtividade proporcional ao desenvolvimento tecnológico”. E vai um pouco mais além: “Sem uma melhoria substancial na qualidade da educação e na capacitação dos que já estão trabalhando, a economia europeia não poderá ter um desempenho adequado nas próximas décadas”.

O mais interessante de tudo isso, entretanto, é se observar mesmo assim uma contínua preocupação com a preservação/ampliação dos talentos humanos das organizações públicas e privadas do mundo europeu. Percebem os de lá que, no atual estágio civilizatório, as inovações do saber-ser e do saber-fazer alteram crenças, ampliam sonhos e desestruturam desejos perversos, favorecendo o surgimento de novos valores, de outras formas de criatividade, que favorecem uma competitividade crítica que se faz, como nunca, cada vez mais necessária.

Nos países mais desatentos e/ou desafortunados, entretanto, ainda não se percebeu com nitidez que a criatividade e a inovação devem ter planejamentos organizacionais contínuos e interativos. São eles que catapultam novas lideranças, ampliando a cidadania coletiva, esta filha primogênita de uma educação permanente efetivamente consistente.

Empresas e empresários brasileiros, com as exceções que sempre dignificam, ainda gastam com apenas treinamento, pouco se lixando para as reciclagens que jamais robotizam e que alavancam as organizações para estratégias mais humanisticamente contemporâneas e de alto conteúdo tecnológico. E que capacitam todo o sistema produtivo para conquistas mercadológicas duradouras, nunca meramente conjunturais ou de curta duração.

O caminho se faz andando, já dizia um sábio de muitos quilômetros rodados de sabedoria. Os complexos de inferioridade e os pessimismos crônicos apenas geram níveis gerenciais inadequados, inapetências decisórias e escapismos irresponsáveis, que não abastecem os caminheiros comunitários, portadores de alpercatas apropriadas para enfrentar o chão batido de uns tempos competitivos muito inovadores e dinâmicos.

Que as memoráveis Paralimpíadas de Tóquio, ontem encerradas, e um 7 de Setembro, às vésperas de um bicentenário, despertem o todo nacional para um amplo projeto de Educação Nacional, favorecendo gregos e troianos, ricos e pobres, sem nenhuma discriminação, catapultando o Brasil para uma acentuada classificação no rol das nações que sabem pensar, trabalhar, empreender e agigantar-se no cenário mundial.