DEU NO X

RODRIGO CONSTANTINO

PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

VANDALISMO – Augusto dos Anjos

Meu coração tem catedrais imensas,
templos de priscas e longínquas datas,
onde um nume de amor, em serenatas,
canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
vertem lustrais irradiações intensas,
cintilações de lâmpadas suspensas
e as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais,
entrei um dia nessas catedrais
e nesses templos claros e risonhos…

E, erguendo os gládios e brandindo as hastas,
no desespero dos iconoclastas,
quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, Cruz do Espírito Santo, Paraíba (1884-1914)

DEU NO JORNAL

AFINIDADES VIRÓTICAS

Com um histórico constrangedor de submissão à China, a cúpula da Organização Mundial da Saúde (OMS) teve de engolir mais uma recusa do governo de Pequim de admitir investigação sobre a origem do covid-19.

O chefe de pesquisadores da OMS, Peter Embarek, que esteve na China rastreando a doença, acha que o primeiro a ser contaminado pelo vírus pode ter sido um funcionário do laboratório de virologia, em Wuhan.

Determinar a origem é essencial no esforço para eliminar o vírus.

A cúpula da OMS reagiu timidamente à nova recusa chinesa, assim como levou quase três meses, em 2020, para admitir a pandemia.

Governantes como Donald Trump e Jair Bolsonaro foram atacados e até acusados de “racismo” por suspeitarem da origem chinesa do vírus.

As afinidades ideológicas entre a cúpula da OMS e a China levaram o Japão a se referir à entidade como “Organização Chinesa da Saúde”.

* * *

Essa notícia aí de cima termina falando das “afinidades ideológicas” entre a OMS e a China.

Eu tenho uma vaga lembrança de que aqui no Brasil também temos pessoas, entidades e partidos políticos que têm essa mesma afinidade com os xing-lings.

Mas, confesso a vocês, num me lembro quais são.

Ô memória fraca é essa minha…

A única coisa que lembro bem é do simpático sorriso do presidente chinês Xi Jinping:

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

A FOSSA, A BOSSA E A SOFRÊNCIA

Tito Madi lançou “Chove lá fora”

Hoje vou mais uma vez pedir permissão ao “dono da especialidade na casa”, Peninha, para relembrar um pouco da minha juventude em Fortaleza, dos bons tempos e idas e vindas entre um namoro e outro. Romântico por excelência, fiz várias coleções de LPs e Compacts que escutava na “radiola” nos fins das tardes de sábados.

Muitos passaram a chamar aqueles tempos de “tempos da fossa” que, com músicas, letras e cantores diferentes dos atuais, se propunham a falar de amor de uma forma tão poética quanto bela.

Tito Madi, Nora Ney e Agostinho dos Santos tinham minha preferência. Acurada ou não, mas a preferência era minha.

Depois, com a afirmação da novidade e a consagração de alguns no movimento que nascia, como João Gilberto, Edu Lobo, Pery Ribeiro e tantos outros nomes que agora me fogem da memória, o momento pós-consagração foi elevado ao auge e incluído entre os melhores da “música para ouvir”.

Vamos ouvir e relembrar?

Chove Lá Fora

A noite está tão fria
Chove lá fora
E essa saudade enjoada
Não vai embora
Quisera compreender
Por que partiste
Quisera que soubesses
Como estou triste
E a chuva continua
Mais forte ainda
Só Deus sabe dizer
Como é infinda
A dor de não saber
Saber lá fora
Onde estás, como estás
Com quem estás agora.

A novidade “pegou” e tomou conta das paradas de sucessos e dos ainda poucos programas de televisão, com o de Aerton Perlingeiro, Flávio Cavalcanti, César de Alencar, Moacir Franco e Raul Gil.

Foi quando surgiram mais nomes famosos engrossando as fileiras do sucesso. Também entraram na onda a magnífica Nora Ney e o excelente Agostinho dos Santos que, mais tarde receberiam o reforço de João Gilberto, Edu Lôbo, Nana Caymmi e Nara Leão. Todos em tempos diferentes e com novas letras, mas nunca com menos sucesso.

Nora Ney – a linda e magnífica

A morte prematura de Agostinho dos Santos (que fizera sucesso anterior com a gravação de músicas como “A noite do meu bem”) num acidente aéreo no aeroporto de Orly, na França, ainda que nenhuma relação tivesse com a novidade momentânea, atingiu e feriu de morte, aumentando ainda mais o momento vivido pela “fossa” musical.

Agostinho dos Santos era um cantor ascendente e o sucesso se abria para ele como o sol, que se abre para todos, todas as manhãs. O fato arrefeceu a musicalidade brasileira que, de forma paulatina caminhou para a demorada recuperação – mais algo pessoal que conjuntural.

Nos anos seguintes, de livre e espontânea vontade, a mídia especializada trocou a “fossa” pela “bossa”, acrescentando a palavra “nova” – “bossa nova”.

Agostinho dos Santos

Conclusão inteiramente pessoal, entendo que, aquelas duas décadas – mais propriamente fins da década de 50, quase toda a década de 60 e parte da década de 70 – a musicalidade brasileira recebia, como se fora a vitamina intravenosa Citoneurin, o reforço caribenho em termos de ritmos. Foi fácil (e mais prático) entrar no Brasil via Belém, com o “carimbó” cantado por Eliana Pitman e Pinduca.

Aqui, esse ritmo e cultura caribenha encontraram resistência para a dominação, pois já eram consagrados o samba, o samba canção e os esfuziantes sambas enredos das escolas de samba no carnaval carioca.

Como se isso não bastasse, encontraram barreiras no sucessos ascendente da jovem guarda de Roberto Carlos, Wanderléa, Erasmo Carlos, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso e os consagrados Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Sílvio Caldas, Demônios da Garoa, Renato e seus blue caps, Zimbo Trio, Martinho da Vila, Trio Irakitan, sem contar o aparecimento consagrador de Elizete Cardoso, Elis Regina, e outros, reforçados pelas orquestras que nos arrastavam literalmente, para os bailes noturnos nos clubes sociais.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

BOAVENTURA BONFIM – FORTALEZA-CE

Caro Editor Berto,

Compelido pela paternal emoção de ver a filha primogênita, Camila Bonfim, Psiquiatra em Fortaleza, desempenhando relevante papel em prol da humanidade, envio-lhe entrevista, link abaixo, concedida por ela, bem como minha manifestação de pai-coruja de duas lindas e inteligentes filhas.

Abraços,

* * *

Amada filha Camila,

Obrigado pelo envio das entrevistas.

Gostei de toda a matéria. Parabéns!

Confesso, porém, ter ficado emocionado com sua significante e bela entrevista.

Você falou com a zona do coração, por isso externou o que de mais sublime existe em sua alma: a bondade, a seriedade, o humanismo e o humanitarismo.

Além disso, fez emergir do âmago do peito toda sua preocupação psico-social e descortinou sua inata vocação de cuidar do outro, na busca constante de assepciar a energia psíquica de toda a coletividade, visando ao bem da humanidade, sem no entanto descurar do autocuidado.

Parabéns, filha amada!

Beijos de um dos pais mais felizes do mundo.

R. É isso aí, papai coruja!

Eu sou do mesmo time e sei muito bem o que é isto, o que é este belo sentimento que você traz no peito em relação a sua amada filha.

Por favor, transmita meus parabéns para a Dra. Camila, junto com meus votos de muito sucesso em sua brilhante missão.

Para ler a matéria completa enviada por Boaventura, basta que nossos leitores cliquem na foto abaixo:

DEU NO JORNAL

NOTÍCIA DE DOMINGO

A campanha de vacinação contra a Covid-19 avança.

Após menos de sete meses desde a primeira dose aplicada em 17 de janeiro, o País atinge a marca de 50 milhões de brasileiros completamente imunizados contra o vírus.

É equivalente a quase 25% de toda a população do Brasil, e 32% do alvo da vacinação: a população adulta.

No total, foram aplicadas mais de 163 milhões de doses até este fim de semana.

Em números absolutos, o Brasil continua sendo o quarto país do mundo a mais aplicar vacinas, atrás apenas da China, Índia e Estados Unidos.

 

* * *

Esta notícia não sai no Jornal Nacional.

Nem em nenhum dos órgãos da grande mídia funerária.

Mas sai aqui nesta gazeta escrota.

Meus votos de um péssimo domingo, com muita dor de barriga e caganeira, para os tabacudos que compõem as redações empenhadas em apavorar a população do país.

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Guerreiro Ramos

Alberto Guerreiro Ramos nasceu em 13/9/1915, em Santo Amaro da Purificação, BA. Sociólogo, professor, advogado, jornalista e político. Destacado estudioso da questão social e racial, é segundo o fundador do Departamento de Sociologia da Universidade de Harvard, Pitirim Sorokin, um dos autores que mais contribuíram para o progresso da sociologia no mundo.

Após os primeiros estudos, no Ginásio do Estado, em Salvador, ganhou uma bolsa de estudos do governo para estudar na Universidade do Brasil (RJ), onde diplomou-se em ciências sociais em 1942 e em Direito no ano seguinte. Foi influenciado pelos intelectuais católicos franceses, sobretudo Jacques Maritain, com que teve ligações pessoais, e Emmanuel Mounier. A partir de 1944, passou a ser influenciado por Max Weber e se interessar pela teoria das organizações. Na área cultural, foi ligado ao Teatro Experimental do Negro-TEN, comandado por seu amigo Abdias do Nascimento, que lhe entregou a coordenação do departamento de estudos e pesquisas, denominado Instituto Nacional do Negro. Uma de suas atividades se deu com o “Seminário de Grupoterapia”, com base no psicodrama como um “espaço que possibilita catarse e reflexão das sequelas trazidas de um passado escravo, de uma vivência de ausência de um lugar, de uma identidade fragmentada”.

Assessorou o presidente Getúlio Vargas em seu 2º governo e pouco depois foi designado diretor do Departamento de Sociologia do ISEB-Instituto Superior de Estudos Brasileiros. O ISEB, com autonomia administrativa e plena liberdade de pesquisa e opinião, constituía-se num importante núcleo de formação da ideologia “nacional-desenvolvimentista”, que impregnou todo o sistema político no período 1954-1964. Ele foi um dos formuladores desta ideologia, junto com Hélio Jaguaribe, Candido Mendes de Almeida, Álvaro Vieira Pinto, Nelson Werneck Sodré etc. No ISEB, apoiou as propostas da CEPAL-Comissão Econômica para a América Latina, da ONU, e publicou 2 livros que se tornaram clássicos: Introdução crítica à sociologia brasileira (1957) e A redução sociológica (1958).

Em 1960 entrou na política partidária, participando do diretório nacional do PTB-Partido Trabalhista Brasileiro. Em 1961 foi Delegado do Brasil na XVI Assembleia Geral da ONU, na Comissão de Assuntos Econômicos. No ano seguinte candidatou-se a deputado federal na “Aliança Socialista Trabalhista”, formada pelo PTB e o PSB-Partido Socialista Brasileiro, quando obteve a 2ª suplência. Em seguida publicou o texto “Mito e verdade da revolução brasileira”, junto com seu manifesto ao PTB sugerindo que o partido renunciasse a “ideologia marxista-leninista”. Como jornalista, colaborou nos jornais “O Imparcial” (MG), “Última Hora”, “O Jornal” e “Diário de Notícias” (RJ). Seus artigos, analisando o marxismo, renderam-lhe viagens à URSS e China e diversas conferências internacionais.

De volta ao Brasil, escreveu uma série de artigos criticando o Partido Comunista, quando foi acusado de traidor e oportunista pelos colegas. Foi um dos primeiros intelectuais brasileiros a criticar Stalin. Desde meados da década de 1950 já era um pensador respeitável com livros publicados em espanhol. Foi professor da EBAP-Escola Brasileira de Administração Pública, da FGV, e ministrou cursos no DASP-Departamento de Administração do Serviço Público. Em 1955 deu aulas como professor-visitante da Universidade de Paris. Neste ano, foi publicado no México seu livro Sociologia de la mortalidade infantil, que impressionou o grande sociólogo russo Pitirim Sorokin.

No período de agosto de 1963 a abril de 1964, foi deputado federal e teve os direitos políticos cassados pelo golpe militar de 1964. Na ocasião foi acolhido por Luis Simões Lopes, presidente da FGV, como professor. Em 1966 recebeu um convite da USC-University of Southern California, onde passou a lecionar e só voltou ao Brasil algumas vezes como visitante. Em princípios da década de 1970 foi “visit-fellow” da Yale University e professor-visitante da Wesleyan University. Faleceu em Los angeles, em 7/4/1982, e deixou publicado alguns livros essenciais ao conhecimento de seu País: Sociologia industrial (1951), Cartilha brasileira do aprendiz de sociologia (1955), Introdução crítica à sociologia brasileira (1957), Condições sociais do poder nacional (1957), O problema nacional do Brasil (1960), A crise do poder no Brasil (1961), A redução sociológica (1964). Seu último livro – A nova ciência das organizações: uma reconceitualização da riqueza das nações (1981) – foi publicado pela Universidade de Toronto e só depois teve sua tradução publicada no Brasil.

Outro livro – Mito e realidade da revolução brasileira (1963) – ficou conhecido como “o livro proibido de Guerreiro Ramos”. Publicado no ano anterior ao golpe militar, foi incluído no “index” dos livros proibidos pela ditadura e só foi republicado em 2016 pela Editora Insular. Trata-se da exposição de sua tese sobre a necessidade de um caminho brasileiro para o socialismo, contrapondo-se à importação de modelos de revolução. Desse modo, foi um livro que desagradou tantos os militares golpistas como os políticos e intelectuais de esquerda, que ainda seguiam a cartilha dos comunistas soviéticos, através do Partido Comunista. Certamente, esta foi uma das razões para que o livro caísse no limbo da história.

Foi um sociólogo diferenciado, que não se via entre os intelectuais em discursões acadêmicas. Via-se como “um sociólogo em mangas de camisa”, como costumava dizer. Sua área de trabalho era a organização e administração pública, como indica sua vinculação a Fundação Getúlio Vargas. Em 2010, o Conselho Federal de Administração instituiu o “Prêmio Guerreiro Ramos de Gestão Pública”, concedido aos destacados gestores do ano. Em 2014 foi publicado, pela FGV numa edição bilingue, uma série de entrevistas de importantes professores e pesquisadores brasileiros (7) e norte-americanos (9) com depoimentos sobre a pessoa e seu legado: Guerreiro Ramos: coletânea de depoimentos, organizada por Bianor Cavalcanti, Yann Duzert e Eduardo Marques.

RODRIGO CONSTANTINO

A QUEDA DE CUOMO

Andrew Cuomo anunciou que vai renunciar ao governo de Nova York nos próximos dias. Ele fez um discurso alegando que o importante era o povo, o “nós”, não o “eu”, e por isso, pensando na população do Estado, o melhor que ele tinha a fazer era sair agora. Praticamente um altruísta abnegado! Faltou só lembrar que, após o relatório concluindo contra o governador em vários casos de abuso sexual, seu impeachment era inevitável.

Além da hipocrisia de Cuomo, o caso chama a atenção pelas supostas prioridades dos democratas. Como disse Ben Shapiro, a ocultação de estatísticas sobre asilos por parte do seu governo foi um ato criminoso e pode ter sido responsável pela morte desnecessária de inúmeros idosos. Por mais ofensiva que seja uma cantada indevida em local de trabalho, como isso se compara a uma monstruosidade dessas? De um lado temos mulheres ofendidas, do outro velhinhos mortos! Cuomo caiu oficialmente em desgraça perante seu próprio partido pela conduta inapropriada com mulheres, não pela gestão temerária e mesmo assassina durante a pandemia.

Cuomo se tornou uma figura inconveniente para o Partido Democrata, eis a verdade. Nova York teve números horríveis na pandemia, o desemprego subiu bem, tudo isso enquanto a mídia enaltecia a administração “científica” do governador. Em vez de admitir que tudo foi um engodo, o que forçaria uma revisão das táticas de combate ao vírus, seus pares preferiram um “pretexto” para derrubá-lo. Até porque com a variante Delta querem retomar as restrições, que não se mostraram eficazes.

Não que o feminismo não esteja cada vez mais forte entre os democratas, mas certamente qualquer pessoa sensata e com senso de proporção saberia que a gestão irresponsável foi muito mais grave do que flertes inadequados ou mesmo investidas sexuais absurdas. Cuomo nega as acusações, aliás, mas pede desculpas às mulheres que se “sentiram” ofendidas. Haja malabarismo!

No fundo, se Cuomo não renunciasse ao cargo, ele sofreria impeachment, e aí ficaria afastado para sempre do governo. Renunciando, ele pode alegar que fez isso para se defender das acusações “infundadas”, pensando no melhor para o povo, e tentar retornar em quatro anos. Na imprensa, aliás, já tem gente falando dessa possibilidade de volta, antes mesmo de ele sair!

Em sua fala, Cuomo tentou defender seu “legado”, afirmando que ajudou a transformar Nova York no Estado mais “progressista” da nação. Ele mencionou “conquistas” para o público LGBT, deixando de lado um dos maiores êxodos populacionais da história do Estado. A Flórida, sob governo republicano, foi um dos principais receptores desse fluxo, que abandonou Nova York basicamente pelos impostos cada vez mais abusivos. Idosos mortos e fuga generalizada: eis o legado real de Cuomo!

A advogada particular de Cuomo, dias antes do anúncio da renúncia, estava em cadeia nacional de televisão detonando cada testemunha contra o governador, colocando em xeque sua credibilidade, negando as denúncias. Cuomo cedeu, portanto, por puro cálculo político. Ele percebeu que lhe restaram poucos amigos, inclusive entre os democratas. O presidente Joe Biden mesmo chegou a pedir a renúncia. E, depois do ato consumado, Biden disse “respeitar” sua decisão, tecendo elogios ao governador. O elogio veio após se livrar do fardo, claro. “Ele fez um grande trabalho”, afirmou Biden.

Cuomo sabia ser um pária no partido, e não apenas pelas denúncias sexuais, mas também e principalmente pelo fracasso na gestão pandêmica. Os democratas estão tentando fazer uma limonada do limão, e se vangloriando de manter um padrão moral rigoroso mesmo contra os seus. Tudo mentira! Aliás, um parêntese: como é comum o comportamento imoral por parte desses democratas materialistas! E, não custa lembrar que, até na ficção do House of Cards, o principal personagem, indecente e imoral, era um democrata. A arte imita a vida. Fecho o parêntese.

Não se trata de um caso de rigor ético democrata, e sim de uma exposição desgastante de um governador já queimado. Antes, na corrida das primárias, quando nenhum nome parecia vingar para tirar o comunista Bernie Sanders da disputa, Cuomo era uma alternativa considerada. Ele só é jogado aos leões agora porque se tornou supérfluo, descartável. Ora, Bill Clinton é até hoje respeitado dentro do partido, sua esposa, Hillary, contou com amplo apoio do establishment, e todos lembram do comportamento sexual do ex-presidente com as mulheres, a mais famosa sendo a estagiária Monica Lewinsky.

Mas não faltaram formadores de opinião na mídia comparando o mecanismo “ético” dos democratas com a postura “negligente” dos republicanos, que nunca teriam se importado com o comportamento sexual de Trump. Tudo isso esquecendo que até “ontem” Cuomo era o queridinho da mesma mídia, pois ainda tinha a perspectiva de disputar a Presidência. Os elogios eram frequentes: grande líder nacional, honesto, direto, corajoso etc. Moral conveniente, essa.

Por fim, resta apontar para a relação incestuosa entre o governo e a imprensa. O irmão de Andrew é Chris Cuomo, âncora da CNN. Foram vários os momentos em que irmão entrevistou irmão, inclusive com toques familiares, com direito a “brincadeiras” sobre qual era o preferido da “mamãe”. Que tipo de cobertura imparcial pode surgir disso? Para piorar, há alegações de que Chris estava auxiliando o irmão na gestão da crise política. Assessoria informal de imprensa? Essa promiscuidade não é incomum: são vários os jornalistas com parentesco e ligações pessoais com políticos democratas. Alguém fica surpreso com o enorme viés partidário da mídia?

Andrew Cuomo caiu, mas a hipocrisia democrata segue firme e forte — e com a complacência de boa parte da imprensa.