DEU NO X

UM MERECIDO TÍTULO

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Achei lindo esse termo utilizado pela PM de São Paulo em sua nota:

Vândalos!

A oposição ao governo federal foi promovida a uma proparoxítona muito especial, com direito até a acento circunflexo.

Os civilizados e democráticos membros das facções canhotas estão de parabéns.

Eles merecem nossos aplausos: Clap, clap, clap !!!


DEU NO X

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: José Mindlin

José Ephim Mindlin nasceu em São Paulo, SP, em 8/9/1914. Jornalista, advogado, editor, empresário, escritor e um dos maiores bibliófilos do mundo. Sua biblioteca com 40 mil livros raros foi doada, ainda em vida, à Universidade de São Paulo, constituindo-se na “Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin“, o maior acervo de livros sobre o Brasil.

Aos 15 anos trabalhou como repórter no jornal O Estado de São Paulo e em seguida entrou na Faculdade de Direito da USP-Universidade de São Paulo. Formado em 1936, viajou para Nova Iorque, onde realizou cursos de extensão universitária. De volta ao Brasil, trabalhou como advogado até 1949. Por esta época foi vice-presidente da Congregação Israelita de São Paulo e auxiliou muitos judeus perseguidos pelo nazismo. Dotado de espírito empreendedor, juntou-se a um grupo de amigos e fundou a Metal Leve S/A, fabricante de peças automotivas, em 1951. Foi uma empresa pioneira em pesquisa e desenvolvimento tecnológico e a primeira multinacional brasileira, com 7 mil funcionários e 2 fábricas nos EUA.

Em 1996, a Metal Leve foi vendida à multinacional alemã “Mahle” e Mindlin passou a se dedicar ao que mais gostava de fazer: colecionar livros raros e organizar sua biblioteca, com ajuda de sua esposa Guita Mindlin, bibliotecária especializada em restauração de livros. Seu apego aos livros raros iniciou cedo. Aos 13 anos adquiriu o Discours sur l’histoire universelle, de 1740, de Jacques-Benigne-Bossuet e não parou mais. Perambulava pelos sebos de São Paulo e verificou que os livreiros não se comunicavam entre si. Um livro era vendido num sebo por um preço e noutro era vendido por 10 vezes mais. Ele passou a comprar barato num e vender caro noutro. Mas não queria dinheiro; trocava o seu com uma porção de livros, que foram acumulando em sua biblioteca. Quando os livreiros se deram conta de sua artimanha, passaram a uniformizar os preços e acabaram com seu lucrativo negócio. Mas, até aí ele já havia adquirido uma boa porção de livros mais ou menos raros.

Tempos depois resolveu abrir uma livraria (sebo chic), deu o nome “Parthenon” e passou a vender e comprar livros. Os bons livros vendidos tinham o nome e endereço do comprador registrado. Mais tarde, tais livros eram readquiridos por um preço bem mais caro. Está visto que seu negócio como livreiro não podia prosperar. Assim, logo fechou a livraria e prosseguiu no ramo da bibliofilia. Na década de 1970, Rubens Borba de Moraes, seu amigo e um dos maiores bibliófilos do mundo, resolveu vender 1/3 de sua biblioteca para uma universidade norte-americana. Na época Mindlin era Secretário de Cultura, Ciência e Tecnologia. Quando soube que a venda estava sendo articulada, procurou Rubens e disse-lhe que não permitiria sua realização. A biblioteca teria que ser vendida para ele. Rubens contra-argumentou que não poderia interromper a negociação, mas que ele, na condição de secretário de estado, poderia. Assim, Mindlin enviou ofício à universidade esclarecendo que aqueles livros eram parte do patrimônio histórico nacional e que não poderiam sair do País.

Pagou o preço já combinado com a universidade e assim sua biblioteca foi ampliada significativamente não apenas em termos de quantidade. A partir daí os dois grandes bibliófilos brasileiros passaram a trocar ideias sobre o destino de suas bibliotecas quando não estiverem mais por aqui. Concluíram que a reunião daquele riquíssimo acervo deveria ficar em poder do Estado, aberto à consulta do público. Dito e feito, quando Rubens faleceu, em 1986, sua biblioteca foi incorporada a de Mindlin, que passou a negociar com a USP os termos da doação.

A doação foi concretizada em 2006, ano em que entrou para a Academia Brasileira de Letras. Na ocasião, declarou: “Nunca me considerei o dono desta biblioteca. Eu e Guita éramos os guardiães destes livros que são um bem público”. Em alguns livros colocou o “ex-libris” elaborado por sua filha: “Le ne fan riem sam”. Não faço nada sem alegria, era seu lema de vida.

Em seguida teve início a construção do prédio da “Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin” no campus da USP, abrigando também o Instituto de Estudos Brasileiros. A biblioteca foi inaugurada em 25/3/2013 e entre as preciosidades do acervo, encontram-se a primeira edição de Os Lusíadas, de Luiz de Camões (1572) e os Triunfos, de Petrarca (1488), o livro mais antigo. Conta também com alguns originais e manuscritos de Graciliano Ramos (Vidas Secas), Guimarães Rosa (Grande Sertão Veredas) e Rachel de Queiroz (O Quinze) e primeiras edições de Marília de Dirceu (1810), de Thomaz Antônio Gonzaga; A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo e O Guarani (1857), de José de Alencar.

Nunca teve atuação direta na política, mas participou como dirigente e conselheiro de diversos órgãos culturais e da administração pública: Conselho Superior da FAPESP-Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Conselho de Tecnologia da FIESP-Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Conselho do CNPq-Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, IPT-Instituto de Pesquisa Tecnológica, Comissão Nacional de Tecnologia da Presidência da República, entre outros. Colaborou também como membro de diversas instituições culturais: Academia Brasileira de Ciências, Museu da Arte Moderna do Rio de Janeiro e Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu Lasar Segal, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, Sociedade de Cultura Artística de São Paulo etc. Como bibliófilo foi membro emérito da Diretoria da John Carter Library, dos EUA, uma das principais bibliotecas do mundo de livros raros e da Associação Internacional de Bibliófilos, em Paris.

Apesar de não participar diretamente na política, mantinha firme oposição contra a ditadura e foi um dos poucos industriais paulistas que se recusou a colaborar com a OBAN-Operação Bandeirantes na repressão política logo após o AI-5 em 1968. Em meados da década de 1970, na condição de Secretário da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, indicou o jornalista Vladimir Herzog para chefiar o Departamento de Jornalismo da TV Cultura. Em 1975, quando o jornalista foi assassinado nos porões da OBAN, ele pediu demissão do cargo e nunca mais teve atuação em cargos públicos.

Faleceu em 28/2/2010, aos 95 anos por falência múltipla de órgãos e no mês seguinte foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Ipiranga pelo Governo de São Paulo. Durante sua longa vida, colecionou inúmeras homenagens e títulos: doutor honoris causa da Brown University (EUA), Universidade de Brasília, FGV-EAESP, USP, UFBA, prêmio Juca Pato, da UBE-União Brasileira de Escritores, Prêmio Unesco, categoria cultura e Medalha do Conhecimento concedida pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Deixou uma biografia publicada em 1997, pela Cia. das Letras, numa bela edição com fotos de sua biblioteca, explicitando no título sua convivência com os livros: Uma vida entre livros: reencontros com o tempo e memórias esparsas de uma biblioteca.

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FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

BATERIA EXISTENCIAL

Todas as áreas mundiais estão sofrendo barbaridades com os efeitos causados por uma terrível pandemia: fome, desemprego, mortalidade, subdesenvolvimento educacional crescente, violência urbana e desestruturação familiar, a exigir posicionamentos serenos dos dirigentes públicos responsáveis. Esta semana mesmo, perdi um enteado muito amado, o André.

Da sempre amiga Lúcia Souza, profissional competente do Paraná, recebi, tempos atrás, o texto abaixo, num cartão de Ano Novo próprio, reproduzido em computador pessoal. Pensamentos que bem deveriam indicar rumos comportamentais para todos aqueles que necessitam reestruturar-se para continuar seguindo adiante, num mundo de cenários múltiplos, díspares e divergentes. De insurgências e ressurgências, como antecipou Gilberto Freyre, sempre inesquecível. Ei-lo:

“Gosto de gente com a cabeça no lugar, de conteúdo interno, idealismo nos olhos e dois pés no chão da realidade. Gosto de gente que ri e chora, se emociona com uma simples carta, um telefonema, uma canção romântica, um gesto de carinho, um abraço e uma ternura. Gente que ama e sabe curtir saudades.

Gosto de gente que cultiva flores, admira paisagens, semeia perdão, reparte vivências e confidências, sem fugir de compromissos difíceis e inadiáveis por mais desgastantes que sejam. Gente que orienta, entende, aconselha, busca a verdade e quer sempre aprender, ainda que a lição advenha de uma criança, de um pobre ou de um analfabeto. Gente de coração desarmado, sem ódio e preconceitos cavilosos. Gente que erra e reconhece, cai e levanta, apanha e assimila os golpes, tirando lições dos erros, fazendo redentoras suas próprias lágrimas e sofrimentos.

Gosto de gente assim, desconfiando que é desse tipo de gente que Deus também gosta”.

Tenho uma imensa compaixão dos que possuem alma pequena. Dos complexados por esse ou aquele motivo. Das que se imaginam corporalmente formosas e se desestruturam com as primeiras rugas. Dos que não entendem a concepção moderna de família, refugiando-se num tribalismo hermético. Dos que não sabem rir, sentindo-se sempre coitadinhos. Das que se imaginam libertas, somente porque não prestam mais contas dos seus atos e andanças a companheiros, superiores ou subordinados. Dos que se arvoram de poderosos quando espezinham humildes, de quatro pés se postando, rabinho entre as pernas, diante de superiores, proclamando covardemente que o outro manda, ele simplesmente obedecendo sem a menor criticidade, para conservar cargo e privilégios. A la general Ernesto Pazuello, que muito desonra as Forças Armadas Brasileiras com suas pantomimas.

Aflige-me bastante a incapacidade daqueles que não sabem transformar “coisas invisíveis” em paz e felicidade, nunca assimilando, porque sempre inculto e dependente, que “o inferno é a incapacidade de amar” (Dostoievski), ignorando também, porque ficou sempre numa superficialidade cognitiva, que foi o próprio Dostoievski quem disse que o único meio de evitar os erros é adquirir experiência, esta somente emergida através dos erros cometidos.

Apreensivo, percebo quão infelizes se estão tornando aqueles que não reconhecem, porque portadores de uma transitividade ingênua, que livrar-se do que não se quer não é equivalente a obter o que se deseja.

Admiro profundamente aquelas pessoas que fecham os olhos para ver melhor. Que sofrem constrangimentos afetivos para ampliarem sua capacidade de integrar-se no Cosmo. Que não menosprezam acasos, pois estes só favorecem as mentes preparadas para os amanhãs pós pandemia.

PENINHA - DICA MUSICAL