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JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

MAIS UM BALÃO NO CÉU

Vicente Lobão era um sujeito muito popular. Goleiro, juiz de futebol, leão de chácara, foi quase tudo no Recife. E anunciou que seria candidato a vereador. Poucos duvidavam dessa eleição. Mas seus planos acabaram atrapalhados por um pequeno acidente. Resumindo, no São João de 1959, ele morreu. Esmaragdo Marroquim, Diretor de Redação do JC, destacou Severino Pedrosa para tirar foto desse lamentável acontecimento. Pedrosa, na época, era presença obrigatória em todos os casamentos da cidade. Com sua máquina Laika, seus tiques nervosos e sua imensa capacidade em causar confusão. Como nunca teve pressa, nem nos casamentos, chegou tarde. O corpo já tinha ido embora do local. Esmaragdo quase teve um infarto. “Seu Pedrosa, pegue Mata-Sete e só volte aqui com uma foto do morto. Loooogo!!!” Mata-Sete era um desses faz-tudo que estão em todas as redações. Tomou garupa na lambreta de Pedrosa e foram, os dois, para o Pronto-Socorro (o Restauração da época), então na Fernandes Vieira. O necrotério ficava em uma entrada lateral. O corpo, inerte e solitário, jazia sobre a lousa fria.

Gorduchão, Vicente era mais pesado que devia. Demais, para os braços franzinos do pobre Mata-Sete. Sem contar que, depois de algumas horas, todo corpo endurece. É o rigor mortis, como dizem os entendidos. Pedrosa subiu em dois banquinhos, um sobre o outro, e anunciou ao acessor a estratégia: “Eu grito , você dá um golpe de caratê na barriga do homem, ele se inclina um pouco para frente, então você mete um pescoção na nuca dele, se abaixa, e eu tiro um 3×4”. Dito e feito. Só não contavam é que, no fim da operação, precisamente na hora em que o flash pipocou, o morto desse um berro monumental, “Uuaaaaiii”. E saísse correndo pelas ruas. Era o vigia.

O resto dessa história ficamos sabendo aos poucos. Esmaragdo ficou sem sua foto. Pedrosa quebrou a perna, coitado, ao cair dos bancos. Mata-Sete virou pai-de-santo. Com fama de ter mãos milagreiras, capazes de ressuscitar defunto. E o vigia se queixou, numa delegacia, de ter sido covardemente agredido. Mas seus agressores nunca foram localizados. Só o pobre do Vicente Lobão cumpriu, religiosamente, seu destino de defunto. Sem sequer uma foto. Perda inestimável para a democracia brasileira. Nessa noite, entre bandeiras, fogos e fogueiras, um grande balão colorido subiu aos céus. E nunca mais voltou.

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BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

A SORTE

Décadas atrás, numa cidade do interior nordestino, sem médico, Querubina, 58 anos, e, segundo as más línguas, pouco confiável, mandou chamar em sua casa o novo dono da farmácia, dizendo-se indisposta e com fortes dores no abdômen. Queria que o homem lhe indicasse um remédio. Seu marido, Venâncio, comerciante, estava viajando há dois dias.

Deitada em seu quarto e dizendo-se doente, Querubina recebeu o “doutor”, e quando começava a lhe contar as mazelas que estava sentindo, ouviu alguém abrir o portão. Percebeu que era seu marido que estava voltando da viagem.

Apavorada diante da perspectiva do marido, homem rude e ignorante, flagrar um homem em seu quarto, a mulher pediu aos anjos e arcanjos que a ajudassem.

Num impulso movido pelo medo, Querubina levantou-se da cama e rogou ao farmacêutico que salvasse sua vida e a dele também. E implorou, abrindo a porta do guarda-roupa:

– Pelo amor de Deus, esconda-se aqui!

Sem tempo de raciocinar, o homem encolheu-se dentro do guarda-roupa, tremendo de medo. A mulher fechou a porta do móvel, tirou a chave e voltou para a cama. Deitou-se e fingiu dormir.

Venâncio, depois de colocar o carro na garagem e ir à cozinha tomar água, entrou no quarto e encontrou Querubina “dormindo”. A mulher abriu os olhos e metralhou o marido com muitos beijos e palavras amorosas:

– Meu amor! Estava com saudade!

Sentados na cama, os dois passaram a conversar, amorosamente. Ele falou sobre os negócios que resolvera na capital, e mostrou-se preocupado com os compromissos financeiros do final do mês, principalmente um título bancário no valor de vinte contos.

Solidária ao marido, Querubina respondeu:

– Tenha fé em Deus, que tudo vai dar certo!!!

Levantou os olhos para cima do guarda-roupa, e mostrando-se segura na sua fé, continuou, em voz alta:

– Aquele que está lá em cima, há de nos ajudar! Tenha confiança!

Enquanto o marido saiu do quarto e se dirigiu ao banheiro para tomar banho, num tempo em que ainda não havia suíte, a mulher soltou o prisioneiro do guarda-roupa.

Querubina ganhou na “sorte”. Para ajudar no pagamento do título bancário do marido, ela extorquiu do farmacêutico dez contos, sob pena de denunciá-lo, por invasão de domicílio e tentativa de estupro.

Disse ao marido que aquele dinheiro era fruto de suas economias.

MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

NÓS E O DÓLAR

Depois do 11 de setembro, o governo dos EUA tinha duas preocupações: estimular a economia para evitar uma recessão, e pagar a conta das guerras no Afeganistão e no Iraque. A solução para as duas questões foi uma que qualquer político adora: imprimir dinheiro. Eles têm prática em aparecer como os responsáveis pela parte boa – distribuir dinheiro – e fingir que não têm nada com isso quando a parte ruim aparece: o dinheiro vale cada vez menos, e os preços sobem. O pior é que a parte boa acaba logo, mas a parte ruim, a inflação, fica para sempre, e vai acumulando a cada surto de populismo do governo.

Mas o dólar tem algo de diferente de todas as outras moedas: ele é a referência para praticamente todo o comércio mundial. E se o dólar passa a valer menos, todo o resto passa a valer mais, comparativamente. Ou seja, as outras moedas se fortalecem e ao mesmo tempo o preço em dólar de tudo tende a subir.

Foi o que aconteceu na década passada. Para citar as duas commodities que mais interessam ao Brasil, já que são a base de nossas exportações: o minério de ferro foi de 38 dólares em 2004 para 65 em 2005, 106 em 2007 e 196 no início de 2008, para desabar para 70 no final deste mesmo 2008. O óleo de soja foi de 560 dólares em 2005 para 630 em 2006, 890 em 2007 e 1500 no início de 2008, para também desabar para 745 no final do ano.

Para quem não lembra, este período de 2005 a 2008 foi uma época de bons ventos para a economia brasileira: com os preços nas alturas e a China comprando tudo que houvesse para vender, nossas exportações estavam bombando. Quando os preços caíram em 2008, nós continuamos gastando à base de crédito, até que tudo estourou em 2014, logo após a eleição.

A pandemia que começou ano passado deu a desculpa que os EUA esperavam para começar tudo de novo, dessa vez de forma mais doida ainda: no ano passado, o FED (o Banco Central deles) aumentou a base monetária em mais de 30%. Isso significa 5 TRILHÕES de dólares, e o presidente Biden já disse que pretende pagar mais 10 trilhões em auxílios.

Como não podia deixar de ser, o mercado mundial já se ajustou aos fatos, e os preços voltaram a disparar. Minério de ferro e óleo de soja subiram quase 100% nos últimos doze meses, e a maioria das demais commodities agrícolas e minerais está na mesma média. O índice de preços nos EUA já bateu os 5% ao ano, um número escandaloso para uma economia madura como a deles. A distribuição de dinheiro está tão grande que as empresas estão com dificuldade para contratar. Segundo o Ministério do Trabalho deles, em abril havia 9,3 milhões de vagas em aberto, número jamais visto antes. Os políticos, e o povo, parecem estar acreditando piamente que não é necessário produzir para gerar riqueza: basta o governo “jogar dinheiro de um helicóptero”.

No Brasil, as consequências são as mesmas da década de 2000: as ações da Vale estão em alta, os produtores de soja do Centro-Oeste estão rindo à toa, e nossos políticos estão esfregando as mãos na espera dos bons tempos que virão.

Seria um excelente momento para darmos um grande passo: aproveitar os bons tempos para reduzir o déficit e a dívida do governo, baixar impostos, facilitar a abertura de novas empresas, incentivar todo tipo de empreendedorismo, aumentar nosso comércio exterior, que é pífio. Quando a bonança acabar – e ela vai acabar, isso é certo – estaríamos em boa posição para continuarmos crescendo.

Ou podemos repetir a receita já vista: usar o dinheiro para distribuir dinheiro em bolsas-família e auxílios emergenciais, aumentar salários do funcionalismo, fazer mais concursos para aumentar ainda mais esse funcionalismo, construir algumas obras bilionárias, e incentivar as famílias a se endividarem com crédito fácil. Quando o dólar voltar a se fortalecer, a escada sumirá debaixo de nossos pés e ficaremos agarrados no pincel de novo.

Será que será desta vez que deixaremos de ser “o país que nunca perde a oportunidade de perder uma oportunidade” ?

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BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

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SANCHO PANZA - LAS BIENAVENTURANZAS

DÚVIDAS CRUÉIS, CRUDELÍSSIMAS DÚVIDAS!

Hoje o Quixote Véi di Guerra, abastecido com genuína água de coco, pois o diesel é muito poluente, amanheceu com “Lava-me Porco” escrito a dedo no vidro para(brisas e outras coisas). «Ninguém pode livrar as pessoas dos seus males, mas muito se deverá perdoar àquele que fizer nascer nelas nova coragem para carregá-los.» Selma Lagerlöf

“-¡Tengo un amante, tengo un amante! Ya había llegado la hora del triunfo, y ahora el amor, durante tanto tiempo reprimido, estallaba en toda su plenitud, a borbotones gloriosos. Lo saboreaba sin remordimiento alguno, sin miedo ni angustia.” Emma Bovary

Como restará provado mais adiante, alguns fubânicos (elencá-los seria comprometedor e deveras perigoso) tiveram a ver, e muito, com todo o processo de iniciação das vizinhas casadas na subtil arte dessas coisas chifronézicas do amor (adultério: antes à tarde do que nunca).

Dos cornudos: suas espécies e tipos, de François Marie Charles Fourier. Destaco: «Cornudo imaginário é aquele que ainda o não é e fica desolado crendo sê-lo. Tal como o presumível, sofre do mal imaginário antes do mal real. Jean-Baptiste Poquelin retratou-o em uma das suas peças».

Machado de Assis nunca disse “Capitu sou eu”. Morreu matando a muitos com 3 dúvidas bentianas: Capitu o encheu de chifres com Ezequiel de Sousa Escobar, foi Bentinho a botar chifres em Maria Capitolina Santiago com Escobar ou Machado omitiu de nós um triângulo amoroso?

Você sabe quem disse “Madame Bovary sou eu”? “Melhor dividir filé mignon do que roer osso sozinho”. A segunda frase foi dita por um dos assíduos frequentadores do Bar dos Cornos, na Vila Madalena, em São Paulo. “Emma Bovary c’est moi”. A célebre frase foi dita pelo próprio autor do livro Madame Bovary, Gustave Flaubert (Gustave Flaubert; Pichat, el director de la revista Revue de París donde se publicó por entregas la obra, y Pillet, el impresor, tuvieron que responder ante un tribunal bajo la acusación de “ultraje a la moral pública y la religión”).

Para você que “acha que nunca foi”, coloco uma cornuda pulga atrás de sua orelha: “Enquanto os homens contam aventuras que nunca tiveram, as mulheres têm aventuras que nunca contaram.”

Todo castigo para corno “ainda” é pouco? E se você olhar para sua esposa e tiver a “coceira” de fazer a fatal pergunta, é melhor seguir o conselho de Nelson Rodrigues: “O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca”.

Um trecho cornudo: «Era verdade, ela saía todas as segundas, quartas e sextas-feiras… Dizia que ia visitar a mãe… Em algumas semanas, até saía mais vezes, com o pretexto de fazer compras ou de ver as amigas… Muitas tardes, quando êle voltava do Banco, ainda ela não havia regressado a casa. «Fui ao Centro, comprar o bacalhau alto de que tu gostas» – dizia-lhe. E êle, tão tolo, a acreditar naquilo! (…)» [FERREIRA DE CASTRO, A Tempestade, Lisboa, Guimarães Editores, 1940, p. 129].

O peso dos chifres: “Os chifres são invisíveis, mas pesam muito”, é assim que G. (Ricardo Darín) confessa a L. (Luis Tosar) que desconfia que sua esposa o trai, no filme “Una Pistola en cada Mano”.

E o Quixote Véi di Guerra quase atropelou a kérata poiein…Essas duas palavrinhas já te fizeram coçar muito a cabeça frente ao espelho. Chifres são ornamentos estupendos no reino animal… e tudo a ver com adultério. Tudo o que lhes disserem além disso, fubânicos amigos, é coisa que estão tentando colocar em vossas cabeças.

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