JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

O CAMAPU, O LOBO MAU E A VOVOZINHA

Camapu em fase de crescimento e maturação

“Camapu é uma planta medicinal que serve para tratar doenças neuro-degenerativas, diminuir o colesterol e fortalecer a imunidade. Consumi-la pode ajudar ainda no fortalecimento da imunidade, prevenindo o desenvolvimento de gripes e resfriados. Camapu, fisalis ou juá-de-capote é muito comum aqui no nosso país, em diversas regiões. Na verdade, são duas as espécies: o Camapu (Physalis pubescens) e o Juá de capote (Physalis angulata), com diferentes características que podem ser facilmente cultivadas aqui.

Mas, o interessante é que a ciência está estudando esta planta pois, ela ajuda na recuperação dos neurônios e, portanto, das doenças neuro-degenerativas como o Alzheimer, o Parkinson e diversas outras.” (Transcrito do Wikipédia)

No meu Ceará, é popularmente denominada de “canapum”, e a sabedoria popular afirma que, o canapum também tem uma importante relevância social: serve para mantar a fome, quando consumido em quantidade significativa.

Camapu (ou canapum) maduro

Eis que, vou lhes contar uma história, com letras e tintas fortes de estória, que teria acontecido na Timbaúba, pequeno povoado situado no pé da serra que divide os povoados de Timbaúba, Queimadas e Pacatuba (onde hoje funciona a fábrica de envasamento da cervejaria Heineken, no Ceará).
Pois, lá pelos anos 50, quase todos os dias, e sempre antes que o sol esquentasse, Vovó saía à caça de melão São Caetano, cuja rama usava como sabão para lavar algumas redes, trapos velhos e outras peças de roupa. O fruto maduro daquele melão, ela usava para alimentar os passarinhos criados por Vovô, e ainda os dividia com patos e galinhas criados soltos no quintal. Nós, os netos, escondíamos alguns melões maduros, para usarmos na armação das arapucas para pegar sabiás e corrupiões.

Certo dia sentimos a ausência da Vovó. Tínhamos certeza que ela saíra para fazer a obrigação descrita acima. Mas, a demora começou a nos preocupar. Todos que viviam debaixo do teto da Vovó e do Vovô sabiam que Vovó começara esquecer das coisas. Achávamos que ela estivesse sofrendo de amnésia.

Vovó se danava a procurar o cachimbo por todos os cantos da casa, quando o dito cujo estava guardado num dos bolsos do vestido. Entretanto, ninguém se atrevesse a fazer alguma gozação. Era cabo de vassoura na cabeça e no espinhaço – era assim que ela punia os netos ou quem se atrevesse a “mangar” dela.

Vovó feliz por recuperar a memória

A demora continuava nos preocupando. Resolvemos sair à procura dela pelo mato. Antes de sairmos, resolvemos comunicar ao Vovô o que estava acontecendo.

– Ela deve de ter ido percurar aquela galinha pedrês botadeira de ovo que ela sentiu falta de menhanzinha bem cedim!

Pelo sim ou pelo não, resolvemos sair para procurar a véia. Foi quando Dudu, o irmão mais velho vaticinou:

– Será que ela esqueceu de voltar pra casa, ou tomém esqueceu o camim?

Depois de algum tempo de procura, o cachorro Pintado nos ajudou na caça. Vovó estava com um cesto cheio de canapuns, e continuava à procura de mais. E quanto mais procurava, mais encontrava, e aquilo a prendia no meio da mata.

Quando nos avistou, Vovó foi avisando:

– Meninos, a fome tavo bateno nim mim, quandi comecei a comer uns bixinhos desse. Foi quando me alembrei que a galinha que eu vim procurar está choca dentro daquele urinó de barro, e nim véspera de tirar os pintim. Tomém me alembrei que aqui neste mato tem um lobo solto. Um lobo mau!

– Vó, no Brasil não tem lobo, tentei ajudar.

– Tem sim, ora! Um tal de lobo guaraná!

– Vó, não é lobo guaraná, senhora. É lobo guará!

– Apois entãosse é esse mesmo!

O lobo mau que queria comer a vovozinha

Vovó precisou de ajuda para carregar a quantidade de canapuns que apanhara, que teve o peso aumentado pelo “despotismo” (fala lá dela, Vovó) de rama de melão São Caetano e muitos melões para os passarinhos de Vovô.

Quando chegamos de volta à casa, fomos discutir aquele assunto. Chegamos à conclusão que Vovó havia recobrado a memória, que as mãos não apresentavam aquele tremor em excesso, característico de quem, além de sofrer de amnésia, começa apresentar sintomas do mal de Parkinson.

E arriscamos:

– Vó, a senhora contou quantos canapuns a senhora comeu?

– Meninos, nem me alembro. Sei que comi foi muito, que inté enchi minha barriga!

DEU NO JORNAL

SEGUIRAM À RISCA O PADRÃO CANHOTO

Durante manifestações neste sábado (19) da esquerda contra o presidente Jair Bolsonaro, duas agências bancárias que ficam localizadas na Rua da Consolação, no centro da cidade de São Paulo, foram depredadas.

O grupo de vândalos também pichou ônibus e quebrou pontos de parada.

As ações de depredação aconteceram após manifestação ter terminado na avenida Paulista.

A notícia foi confirmada pela Polícia Militar de São Paulo no começo da noite.

As agências pertencem aos bancos Santander e Itaú.

A lanchonete Sujinho também foi alvo de pichações, recebendo as frases “Marielle vive” e “Chega de extermínio” em sua vidraça enquanto estava em funcionamento.

* * *

Eu só não entendi uma coisa:

Os marginais, depois de depredarem as agências bancárias, não arrombaram os caixas pra roubar o dinheiro que lá estava.

Afinal, bancos são símbolos do sistema capitalista da direita reacionária.

O Sindicato dos Bandidos irá punir os manifestantes de ontem por esta falha grave.

Afinal, a canalha zisquerdista vai precisar de fundos pra bancar a campanha do ex-presidiário Lula ano que vem.

DEU NO X

DEU NO X

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Aleijadinho

Antônio Francisco Lisboa nasceu em Ouro Preto, MG, em 1738. Carpinteiro, arquiteto, entalhador e o mais destacado escultor do período colonial. Suas obras e esculturas em pedra-sabão, entalhes em madeira, altares, retábulos, igrejas e peças de arte sacra encontram-se em diversas cidades históricas de Minas Gerais. Filho da escrava Isabel e do português e mestre de carpintaria Manuel Francisco Lisboa. Com o pai e o pintor João Gomes Batista aprendeu as noções básicas de arquitetura, desenho e escultura.

Seus primeiros estudos, além de latim, religião e música, se deram com os padres de Vila Rica. Em meados do séc. XVIII, graças ao garimpo de ouro, a cidade foi palco de um movimento artístico, onde ele pode desenvolver as atividades de arquiteto e escultor. Porém, na condição de mestiço, seu talento não era reconhecido, nem seus trabalhos recebiam sua assinatura. Só mais tarde, quando a fama chegou a outras cidades e sua obra se encontrava em pleno esplendor, é que seu nome foi reconhecido não só como artista, mas também como animado festeiro e dançarino. Seu primeiro trabalho se deu em 1752 com um chafariz no Palácio dos Governadores de Ouro Preto. Em 1756 viajou para o Rio de Janeiro, onde conheceu grandes obras arquitetônicas, que vieram a influenciar suas obras. 2 anos após, esculpiu mais um chafariz no Hospício da Terra Santa, considerada a primeira obra no estilo “barroco tardio”.

Em seguida fez diversos trabalhos em igrejas, tais como a matriz de São João Batista (hoje, Barão de Cocais) e a fachada da Igreja do Carmo, em Ouro Preto. Sua primeira obra de vulto se deu em 1766 com a ornamentação da igreja da Ordem Terceira de São Francisco, em Ouro Preto. Em princípios de 1770 organizou sua oficina, que foi regulada e reconhecida pela Câmara de Ouro Preto em 1772, e passou a comandar uma equipe de artesãos e dar pareceres sobre obras arquitetônicas de igrejas. Em 1977 foi diagnosticado com a doença hanseníase, deformando seus pés e mãos. No entanto, não deixou de trabalhar. A partir daí as peças foram talhadas com a ajuda dos auxiliares e quando seu talento era exigido, amarrou correias de couro nas mãos para segurar o cinzel, o martelo e a régua. O apelido “Aleijadinho” passou a vigorar a partir de 1790. Uma de suas obras mais expressivas -66 esculturas de madeira encenando a “Via sacra” em Congonhas do Campo- foi concluída em 1799. No ano seguinte e no mesmo local iniciou as esculturas dos “Doze Profetas” em pedra-sabão no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, cuja planta imita o santuário de Bom Jesus de Braga, em Portugal.

Em Ouro Preto a Igreja de São Francisco de Assis, considerada uma obra prima do barroco brasileiro, foi iniciada em 1776 e concluída em 1794. Além da planta da igreja, elaborou a talha; a escultura do frontispício; dois púlpitos com figuras de santos; pia batismal; altar principal com as imagens da Santíssima Trindade e dois anjos. A fachada conta um vistoso medalhão com a imagem do santo. Seu estilo é marcado pela presença do dourado e repleto de detalhes, como arabescos e “rocalhas” imitando rochedos, grutas e produtos brutos da natureza, construídas com pedras, conchas etc. Os anjos e querubins têm formas arredondadas; as torres apresentam um recuo em relação à fachada das igrejas, constituindo-se num ícone do barroco brasileiro.

Sua vida é cercada de lendas e controvérsias, pois todos os dados disponíveis foram extraídos de uma biografia escrita em 1858 por Rodrigo José Ferreira Bretas, 44 anos após sua morte 18/11/1814. Os críticos tendem a considerá-la um pouco fantasiosa; acham que sua personalidade e obra foi manipulada e romantizada com o intuito de elevá-lo à condição de ícone da brasilidade. No entanto, é o único registro existente, sobre o qual foram feitas as biografias posteriores. Após sua morte, passou por um período de relativo obscurecimento, não obstante ter sido comentado por alguns viajantes e eruditos na primeira metade do séc. XIX, como Auguste de Saint-Hilaire e Richard Burton. A fama do artista voltou com força em princípios do séc. XX através das pesquisas de Affonso Celso e Mário de Andrade.

Os modernistas, engajados num processo de criação de um novo conceito de brasilidade, encararam-no como um paradigma nacional: um mulato, símbolo do sincretismo cultural e étnico brasileiro. Mário de Andrade, no texto Aleijadinho (1928), entusiasmado com sua história e obra, chegou a criticar os europeus que comentavam suas obras sem considerá-lo um gênio. A partir dessa época muita bibliografia foi produzida nesse sentido, criando uma aura assumida pelas instâncias oficiais da cultura nacional. Tais estudos foram ampliados posteriormente por pesquisadores, como Roger Bastide, Gilberto Freyre, Rodrigo Melo Franco de Andrade entre outros. O artista na opinião de alguns críticos: German Bazin louvou-o como o “Michelangelo brasileiro”; Lezama Lima acha que ele é “a culminação do Barroco americano”; Carlos Fuentes considera-o o “maior ‘poeta’ da América colonial”; Regis St. Louis destaca-o na história da arte internacional; John Crow coloca-o ao lado dos criadores mais dotados deste hemisfério em todos os tempos.

A quantidade de obras que lhe foram atribuídas tem variado ao longo do tempo, devido mesmo ao valor que adquiriram no mercado. Um catálogo geral publicado por Marcio Jardim em 2006, conta com 425 peças. Um nº muito superior as 163 obras contadas em 1951 numa primeira catalogação. Um estudo realizado por Myriam de Oliveira, Antonio Batista dos Santos e Olinto Rodrigues e publicado pelo IPHAN-Instituto do Patrimônio Artístico Nacional, em 2003, contestou centenas dessas atribuições. Guiomar de Grammont não acredita nestes números e alegou ter “razão para desconfiar que existe um conluio entre colecionadores e críticos para valorizar obras anônimas”. Independente dessa controvérsia, seu prestígio junto à crítica especializada acompanha seu prestigio entre os leigos. Em 2007 o Centro Cultural Banco do Brasil realizou a exposição “Aleijadinho e seu tempo: fé engenho e arte”, atraindo um público recorde de 968.577 visitantes.

Sua história já foi retratada no cinema e na TV. Em 1915 Guelfo Andaló dirigiu a primeira cinebiografia; em 1968 foi interpretado por Geraldo Del Rey no filme Cristo de Lama; por Maurício Gonçalves no filme Aleijadinho: paixão, glória e suplício (2003) e Stênio Garcia num Caso Especial da TV Globo. Em 1978 foi tema de um documentário – O Aleijadinho – dirigido por Joaquim Pedro de Andrade e narrado por Ferreira Gullar. Em 1968 foi inaugurado o “Museu Aleijadinho”, em Ouro Preto, onde é realizada regularmente a “Semana do Aleijadinho”, evento reunindo artistas e historiadores com palestras e exposições. Dentre suas várias biografias, destacam-se: O Aleijadinho e a escultura barroca no Brasil (Record, 1963), de Germain Bazin; Vida e obra de Antônio Francisco Lisboa: o Aleijadinho (Cia. Ed. Nacional, 1979), de Sylvio Vasconcellos; O Aleijadinho: sua vida, sua obra, seu gênio (Difel, 1984), de Fernando Jorge; Aleijadinho e o aeroplano: o paraíso barroco e a construção do herói (Civilização Brasileira, 2008), de Guiomar de Grammont.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

DEU NO X

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

REENERGIZAÇÕES

Quatro alunas de uma escola de segundo grau, uma prima segunda no meio, no Recife, pela Internet me enviaram algumas respostas por elas dadas a um questionário, parte de trabalho de um professor, cujo mote, Leitura Sadia, Energia Todo Dia, me deixou entusiasmado. O docente, certamente, deve ser uma pessoa muito bem dotada de humor e saber, características raras num contexto nacional pandêmico, onde o chulo e o menos nobre, a tecnocracia e a boçalidade de muitos parecem substituir o saudável, a politização salutar e os gestos lhanos que sempre dignificaram o Cosmos, em todas as épocas.

Das colaborações explicitadas pelas meninas, escolhi, com dificuldades, três pérolas, dignas de serem divulgadas por um jornal arretado de ótimo como o Jornal da Besta Fubana, que vem, de há muito, se preocupando com as imensas potencialidades do Brasil, um país ainda fragilmente gerenciado pelos responsáveis pelos nossos amanhãs nacionais. Escolhi uma anedota sadiamente engraçada, uma oração fertilizante de um desconhecido e uma advertência do saudoso Martin Luther King, um sempre lembrado pelos cidadãos do mundo.

1. A anedota é evangelizadora: Jesus estava passeando por um vilarejo próximo à Nazaré, quando percebe uma multidão se preparando para apedrejar uma mulher acusada de adultério. Ele se aproxima e, protegendo a ré, declara alto e bom som: QUEM NUNCA PECOU QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA! E eis que, quase de imediato, uma pequena pedra, certeiramente atirada, acerta em cheio a cabeça do Filho de Deus. Olhando imediatamente em volta e identificado o autor, ELE carinhosamente grita: VOCÊ NÃO VALE, MINHA MÃE!

2. Oração do Amor Solidariedade, de autor desconhecido, homenageando todos aqueles que muito amam, embora sem correspondência alguma:

“Quando você sentir vontade de chorar, não chore, pode me chamar que eu choro por você. Quando você sentir vontade de sorrir, me avise que eu venho para nós dois sorrirmos juntos. Quando você sentir vontade de amar, me chame, que eu venho amar você. Quando você sentir que tudo está acabado, me chame, que eu venho lhe ajudar a reconstruir. Quando você achar que o mundo é pequeno demais para suas tristezas, me chame, que eu faço ele pequeno para sua felicidade. Quando você precisar de uma mão, me chame, que a minha será sempre sua. Quando você precisar de companhia, naqueles dias nublados e tristes, ou nos dias ensolarados, eu venho, venho sim. E quando você estiver precisando ouvir alguém dizer EU TE AMO, me chame que eu direi a você a toda hora, pois o meu amor é imenso. E quando você não precisar mais de mim, me avise, que simplesmente irei embora, orando por você”.

3. A lição de Martin Luther King é de muita clarividência contemporânea, num contexto onde tudo parece terminar num embostalhamento geral, sem altruísmo algum, sem fervor cívico, sem um pingo de vergonha na cara, competência nula:

“É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar. É melhor tentar ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver”.

Parabenizei as estudiosas adolescentes pelas respostas dadas ao questionário do professor. Um professor para quem envio um fraternal abraço de parabéns, posto que percebi sua alma irmã gêmea da minha e de muitas outras.

E logo fui para junto dos meus livros, absolutamente convencido de que o amanhã brasileiro será muito diferente, se todos tiverem tesão existencial e vontade de edificar novos amanhãs nacionais. Para felicidade geral de gregos e troianos.

PS. Para todos os leitores do Jornal da Besta Fubana, talentos que nobilitam o Brasil e que me honram com suas amizades, deixando-me cada vez menos solitário na minha caminhada em direção à Luz.

PENINHA - DICA MUSICAL