JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

OS BRASILEIROS: Fernando de Azevedo

Fernando de Azevedo nasceu em São Gonçalo do Sapucaí (MG) em 2/4/1894. Sociólogo, crítico literário, jornalista, advogado, professor, editor, escritor e destacado pensador (e fazedor) na área da educação. Participou dos principais eventos de criação e estabelecimento da educação brasileira, tais como a criação do Ministério da Educação, em 1930; elaboração do “Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova”, em 1932; anteprojeto de criação da USP-Universidade de São Paulo, em 1934; concepção da primeira “Lei de Diretrizes e Bases da Educação”, em 1961, e promoção da Reforma Universitária, em 1968.

Seus pais –Francisco Eugênio de Azevedo e Sara Lemos de Almeida- propiciaram-lhe robusta formação escolar. Estudou no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo, RJ, e recebeu aulas nas áreas de letras clássicas, língua e literatura grega e latina, além de poética e retórica. Em seguida mudou-se para São Paulo e ingressou na Faculdade de Direito. Nunca exerceu a advocacia e dedicou-se, desde os 22 anos, integralmente à educação como professor de latim e psicologia no Ginásio do Estado, em Belo Horizonte; de latim e literatura na Escola Normal de São Paulo; de sociologia educacional no Instituto de Educação da USP; de sociologia e antropologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP e professor emérito desta faculdade.

Paralelo ao exercício do magistério, atuou na direção de diversos órgãos e serviços educacionais: Diretor geral da Instrução Pública do Distrito Federal (1926-30) e do Estado de São Paulo (1933), Presidente da Associação Brasileira de Educação (1938), Diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Paulo (1941-42), Secretário de Educação e Saúde do Estado de São Paulo (1947), Diretor do Centro Regional de Pesquisas Educacionais (1956-61) Secretário Municipal de Educação e Cultura de São Paulo (1961) e fundou e dirigiu a Sociedade Brasileira de Sociologia (1935-60). Uma pessoa pode ter ocupado tantos cargos na vida pública cumprindo apenas uma função burocrática. Não é o seu caso, uma vez que projetou alguns destes órgãos na administração pública e na estrutura social.

Em 1931 fundou e dirigiu, por uns 15 anos, na Companhia Editora Nacional a “Biblioteca Pedagógica Brasileira”, incluindo a série “Iniciação Científica” e a “Coleção Brasiliana”, que deu novo impulso à Editora. Acredita-se que seu crescimento se deu em paralelo ao desenvolvimento do ensino secundário a partir da década de 1940 com a ampliação da rede de ginásios e intensificado na década de 1950 com a criação novas escolas. Não por acaso, a Editora foi adquirida pelo IBEP-Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, em 1980, constituindo-se num dos maiores grupos editoriais do País. Como jornalista atuou no “O Estado de São Paulo” com artigos abordando a educação pública e temas fundamentais do ensino em todos os níveis, iniciando uma campanha por uma nova política de educação e criação de universidades no Brasil. Em 1933, enquanto Diretor Geral da Instrução Pública em São Paulo, promoveu reformas fundamentais, consubstanciadas no Código de Educação.

Junto com Anísio Teixeira, defendia com fervor que a formação do professor escolar tinha que ser feita em nível universitário. Quando a USP foi criada, em 1934, ele incluiu o Instituto de Educação, que ficava na Praça da República, como uma das unidades daquela universidade. Acreditava que só assim podia-se falar numa ciência pedagógica adaptada ao Brasil. Foi pioneiro ao disseminar o dito “Educação é um direito do povo e um dever do Estado”. Em 1970, aos 76 anos fez a doação de sua biblioteca e arquivo ao IEB-Instituto de Estudos Brasileiros, localizado na USP, com mais de 16 mil itens entre livros, fotos, correspondência, recortes e documentos em geral. Em junho de 2019, foi realizado o evento “Educação no IEB: Interfaces possíveis com o acervo Fernando de Azevedo”, reunindo especialistas de diversas universidades do País. Além desse encontro, foi realizada a exposição “Em Defesa da Educação Pública: Fernando de Azevedo no IEB (1927-1968)”, que permaneceu aberta ao público por 4 meses.

Publicou 26 livros, com destaque para: Páginas latinas (1927), A reconstrução educacional do Brasil (1932), Novos caminhos e novos fins (1934), A cultura brasileira, (em 3 volumes 1943), A educação e seus problemas (1952), Sociologia educacional (1959), Figuras do meu convívio (1961) e A cidade e o campo na civilização industrial e outros ensaios (1962). Tais obras lhe garantiram uma cadeira na ABL-Academia Brasileira de Letras, em 1967. Seu legado garantiu também algumas homenagens e condecorações: Prêmio Machado de Assis, da ABL (1943), Cruz de Oficial da Legião de Honra, da França (1947), Prêmio Visconde de Porto Seguro (1964) e Prêmio Moinho Santista em Ciências Sociais (1971).

Em 2010 teve seu nome incluído na “Coleção Educadores”, do MEC-Ministério da Educação e Cultura, numa obra publicada por Maria Luiza Penna, regatando sua trajetória e relevantes aspectos de seu trabalho. Em termos biográficos mais precisos, ressalta-se o artigo – Fernando de Azevedo: o sociólogo -, publicado por Maria Isaura Pereira de Queiroz, na Revista do IEB-Instituto de Estudos Brasileiros, nº 37, de 1994. Os interessados em conhecê-lo através dele mesmo, podem recorrer às suas memórias: História da minha vida, publicada em 1971, três anos antes de seu falecimento em 18/9/1974.

* * *

Clique na imagem abaixo para assistir ao vídeo “A importancia da Fernando de Azevedo para a educação, por Antônio Cândido”

DEU NO X

DEU NO X

FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES - SEM OXENTES NEM MAIS OU MENOS

OS PORCOS ASSADOS

Alguns recentes acontecimentos nacionais deixaram muito brasileiro com as orelhas ardendo, os olhos abugalhados e os eggs irritadíssimos. Um amigo de longa data, careca de saber que as searas desta terra de Cabral estão a necessitar de uma baita reestruturação moral, me envia uma fábula interessante. A historieta chama-se A Fábula dos Porcos Assados e lá vai:

“Certa vez, aconteceu um incêndio num bosque e alguns porcos morreram assados. Os homens da região experimentaram a carne assada e a acharam deliciosa. Desde então, quando queriam comer porco assado, incendiavam um bosque. Mas, como tudo não corria às mil maravilhas, o processo começou a preocupar o SISTEMA, dados os prejuízos que eram imensos. As queixas se avolumavam a exigir a reestruturação dele. Congressos, seminários e conferências passaram a ser realizadas anualmente. No XXX Congresso, os especialistas atribuíram o problema a fatores vários: a indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam ficar; a inconstante natureza do fogo; as árvores excessivamente verdes; a umidade da terra; e o serviço de informações meteorológicas local, que não acertava o lugar, o momento e a quantidade das chuvas.

Um dia, um incendiador AB/SODM-VCH – Acendedor de Bosques, Sudoeste Diurno, Matutino, bacharelado em Verão Chuvoso –, chamado João Bom-Senso, resolveu proclamar que o problema era muito fácil de ser resolvido: bastava matar o porco, limpando e cortando adequadamente o animal, colocando-o numa armação metálica sobre brasas.

Avisado por um xeleléu, desses que vivem de congresso em congresso, o Diretor Geral de Assamento mandou chamar o João ao seu gabinete:

– Tudo o que o senhor disse está bem dito, mas não funciona. O que o senhor faria, por exemplo, com os anemotécnicos, caso viéssemos a aplicar a sua teoria?

– Não sei – disse João.

– E os especialistas em sementes e árvores importadas?

– Sei não.

– E os conferencistas e estudiosos que, ano após ano, têm trabalhado no Programa de Reformas e Melhoramentos?

– Não sei – repetiu João.

– O senhor percebe que a sua ideia não vem ao encontro do que necessitamos? O senhor não vê que, se tudo fosse simples, nossos especialistas já teriam encontrado a solução? O senhor com certeza entende que eu não posso simplesmente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a utilizar brasinhas sem chamas! O que o senhor espera que eu faça?

– Não sei, balbuciou o João, já meio sem graça, aguardando a rebordosa.

– Diga-me se os nossos engenheiros em Porcopirotecnia não são considerados personalidades científicas?

– Sim, parece que são.

– O simples fato de possuirmos valiosos engenheiros em Porcopirotecnia indica que nosso SISTEMA é muito bom. Não é?

– Não sei.

– O senhor tem que trazer soluções para problemas específicos. Temos que melhorar o SISTEMA e não transformá-lo radicalmente, o senhor entende?

– Realmente, eu estou perplexo! – respondeu João.

– Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia dizendo por aí que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério e complexo do que o senhor imagina. Recomendo-lhe que não insista nessa sua ideia, pois lhe seria prejudicial.

João Bom-Senso, coitado, não disse mais nem um “ai”. Sem despedir-se, assustado, saiu de fininho e ninguém nunca mais o viu.

Por isso é que até hoje se diz, quando há reuniões de Reformas e Melhoramentos do SISTEMA: que falta faz o Bom-Senso!!”

PENINHA - DICA MUSICAL