O C cedilha, ou C cedilhado é uma daquelas coisas que só existem na Língua de Camões. Eu já vi essa grafia na escrita turca, mas a reprodução do som é diferente da que ocorre em Português. Lá soa mais como o nosso CH. Mas, o Ç é uma daquelas construções planejadas pelo sujeito de pata rachada e cheiro de enxofre que só atazanam nossa vida. Tem suas regras específicas de uso, mas, como não estou aqui para dar aula de Língua Portuguesa, deixa pra lá.
Digo isso, porque semana passada, assim, meio como não querendo nada, fui visitar o escritor deste texto e o encontrei esmerilhando o mesmo, para ver se saía alguma coisa que valesse a pena. Sentamos. Bebemos um quartilho de caña – para homenagear meu amigo gaúcho, homem macho de verdade, Rodrigo de Leon -, e alguns a chama de pinga, cachaça, a que matou o guarda, fofa toba, aguardente, birita, bagaceira, engasga-gato, manguaça, cangibrina, branquinha, etc. Mas, não é sobre ela que quero falar.
Como eu dizia, o autor deste texto, depois de brindarmos com dois copitos, ofereceu-me um charuto, e ficamos, alegres, com o fumacero debruçado na varanda do beiço, aí ele veio me falar da história do Ç. E foi me contando das diversas enrascadas que muitos se meteram ao tentar escrever usando o Ç, e criaram mais confusão do que esclarecimento. Eu, nessas situações fico pubo com as histórias deles. Histórias de antigamente, pratrasmente de uns quarenta, ou cinquenta anos. E ele me disse, historias daqueles tempos quando os animais ainda falavam. E eu, para mangar dele, com tudo quanto é dente vindo ver o encabulamento do coitado dizia: Não é tão antiga. Você fala que é do tempo em que os animais ainda falavam. Tá atraso. Hoje, não somente falam, como alguns tipos, com casco inteiriço são eleitos para altos cargos na Res Pública, mas deixa isso pra lá.
Aí ele me contou a história da menina, apaixonada por ele que escreveu o seguinte bilhete: R…. eu te amo, çofro muito porque vosse mim dispreza. Meu corassão fica dolorido quando eu olho vosse paçandu na rua. Axo que to doente. Qui remédio vosse me recomenda? A resposta dele foi lacônica, mas certeira: Consulte um professor de Português que esse faniquito passa!
Mas a história do C cedilha é antiga, data do século XIV, lá na terrinha, sim sinhoire. Aliás, meu amigo escritor contou para mim que, certa vez, no cais de Lisboa, viu a despedida de dois amigos portugueses. Um estava indo de navio para fazer um “tour” pela Itália: Manoel e Joaquim, para variar. O navio desatracou, e o Manuel lembrou-se de dar um recado para o Joaquim e gritou…. Ó Joaquim, na Itália não te esqueças de visitar o Coliseu…. Na balbúrdia o Joaquim mandou de volta… Cu de quem????
Mas, voltando à vaca fria, meu amigo, além de escritor, também é professor igual a mim e se lamuriava… ah meu caro.. o que já vi de aluno escrever açassino, cassarola, miça, e por aí vai, parece que desconhecem a própria língua. Aí lembrei a ele um caso famoso, ocorrido nas bandas do sul do Mato Grosso. Conta-se que certo prefeito de uma cidadezinha às beiras do pantanal, na famosa inundação de 1974, desesperado, pois fora pego despreparado, a municipalidade começou a ter carência de produtos de primeira necessidade. Principalmente sal, para o gado vacum, que estava no entorno da cidade. Chamou o secretário e mandou este oficiar ao governador, solicitando, com urgência o envio de 10 toneladas de sal para atender a demanda, tanto animal quanto humana. Pedido feito, quatro dias depois avisaram ao prefeito que atracou no porto da cidade, uma embarcação com 10 toneladas de cal, a mando do governador. O prefeito sentou-se na cadeira, botou a mão na cabeça e começou a chorar…. puta que pariu…. esqueci de botar o cedilha no pedido.