DEU NO X

A PALAVRA DO EDITOR

SE VOCÊ ME QUISER

Se você me quiser
Eu sou bronco
Mas não ronco
Não tenho posse
Nem tenho tosse
Não tenho cheiro
Nem tenho fedor
Não sou incolor
Sou sucinto
No meu falar
Sou paciente
No meu ouvir
As vezes minto…
Não fumo, não jogo
As vezes me drogo
De felicidade
Sou ótimo na cama
Me deito e durmo
Serei bom amante
Se não dormir antes
Não levo pra casa
Nenhum desaforo
Pode ficar com eles
Não procuro briga
Mas quando encontro
Disfarço e fujo…
Se você me quiser
Levo como dote
A minha mulher
E o meu carinho
Cinco filhos,
Cinco netos…
Nem pense
Que irei sozinho
Levo meu afeto
Meu abraço de poeta…
SE VOCÊ ME QUISER

A PALAVRA DO EDITOR

DEU NO JORNAL

ESTOUROU OS OVOS DO PAI

Em uma live realizada no dia 4 de setembro, com integrantes do PT do Estado do Espírito Santo, a ex-presidente Dilma Roussef desafiou os companheiros a entender a relação afetiva da petista com a cidade de Guarapari, no Espírito Santo.

“Para mim é uma oportunidade muito importante, eu tenho uma relação pessoal muito forte com o Espírito Santo. Eu conheci o mar nos ovos do meu pai, olhando por cima das areias pretas de Guarapari, quando Guarapari era uma vilazinha”.

* * *

Falou em ovo, eu me lembrei da minha vizinha, petista e eleitora de Lula.

Ela sempre estoura meus ovos.

Eu fico de saco cheio quando cruzo com ela no elevador com a camiseta do PT.

E aí, de saco lotado, não tem ovo que aguente: estoura na hora!!!

A PALAVRA DO EDITOR

FÉRIAS EM DOBRO

Sede do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília

O Conselho Nacional de Justiça, repartição pública onde juízes julgam os interesses dos juízes, é o tipo de tribunal que qualquer cidadão pediria a Deus para cuidar das suas causas. É praticamente impossível, pelo que fica o tempo todo demonstrado pela observação dos fatos, que um magistrado brasileiro peça alguma coisa ao CNJ e não seja atendido. Já se viu de tudo, ali – mas sempre há lugar para uma novidade e, quando se imagina que não haveria mais nada para pedir e para dar, lá vêm os conselheiros nacionais da Justiça com um novo presente para os juízes e uma nova fatura para você pagar.

O CNJ, desta vez, decidiu que os magistrados que se afastam do trabalho para presidir algum dos sindicatos da categoria – chamam a isso de “associações”, mas, na prática, são sindicatos – têm direito a receber férias, como todos os colegas que continuam a dar expediente normal, a cada ano que passam sem botar os pés numa vara de Justiça. Como os juízes têm direito a dois meses de férias por ano, quem fica dois anos num mandato sindical passará a receber do erário quatro salários, pagos em dinheiro, quando voltar ao serviço. É o que chamam de “pagamento de indenização”.

Mas já não seria suficiente, para o público em geral, pagar o salário integral e todas as demais vantagens financeiras dos juízes que presidem seus sindicatos e, por conta disso, ficam dois anos seguidos sem comparecer ao local de trabalho? Pode parecer assim para o leigo ignorante, mas não para quem está realmente capacitado a decidir sobre o assunto. De acordo com a conselheira que resolveu o caso, com o apoio da unanimidade dos colegas, supõe-se que os companheiros sindicalistas exercem suas funções em tempo integral, todos os dias e durante o ano inteiro; ficam em desvantagem, dessa forma, em relação aos magistrados que trabalham normalmente e desfrutam seus dois meses anuais de férias.

Ninguém faz a menor ideia, naturalmente, de como os presidentes dos sindicatos de fato empregam o seu tempo. Mas para o CNJ é óbvio que os juízes “classistas”, durante a sua ausência do trabalho, estão privados do “repouso” a que fazem jus – e para corrigir essa injustiça devem receber o equivalente a quatro salários em dinheiro vivo pelos dois anos que ficaram sem aparecer no fórum. Repousar do que, se não trabalharam? O CNJ não deu informações a respeito.

Aberrações como essas comprovam, mais uma vez, que as altas camadas do funcionalismo público brasileiro em geral, e do Judiciário em particular, transformaram-se ao longo dos anos em máquinas de criar pobreza neste país. De onde, na vida real, sai o dinheiro que vai pagar os quatro salários a mais que os sindicalistas da magistratura recebem a cada mandato? Não é de doações dos intelectuais orgânicos, nem da federação dos banqueiros. É do Orçamento da União e dos Estados – e cada tostão pago aos juízes que representam a “categoria” é um tostão a menos para os serviços que o poder público deve aos cidadãos mais pobres. O pagamento dessa festa sindical é um poema à concentração de renda – ou, então, à distribuição de renda no estilo brasileiro, pela qual se privatiza em benefício de poucos o imposto pago por todos.

Os habitantes dos galhos mais altos do Poder Judiciário brasileiro deram para falar, de uns tempos para cá, na necessidade de cuidar da questão “social”. Por que ninguém sugere, aí e no restante deste bioma, que o “combate à pobreza” comece a incluir a sua contribuição material? Fazer discurso a favor de “imposto sobre grandes fortunas” é fácil, sobretudo quando a fortuna é dos outros. O duro é abrir mão das férias em dobro.

DEU NO X

JESUS DE RITINHA DE MIÚDO

BUMERANGUE

Foto: Segredos do Mundo

A vida é um bumerangue
Que não se perde no ar
Tudo que você atira
Na certa vai retornar
Quem arremessa o amor
A vida faz o favor
De muito amor lhe voltar.

Mas, se acaso atirar
Qualquer um mal a alguém
Não espere receber
Do bumerangue um bem
Pois, o que vai tem retorno
E a vida em seu contorno
É um eterno vai e vem.

A quem carinho, carinho
A quem amizade, amizade
A que acolhida, acolhida
A quem desprezo… Bumerangue!
É a vida!

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

NETO FEITOSA – FORTALEZA-CE

Papa Berto, Sua Benção,

Rapaz, gostei demais de participar, na quinta, do maior aglomerado de doidos ajuizados do planeta.

Que time, viu?

Gostaria de deixar duas sugestões, que na verdade são dois desejos, de assistir nas quintas vindouras:

1) Zelito Nunes contando as histórias engraçadas do livro dos beiradeiros;

2) Você falando sobre o lado mais engraçado e satírico, incluindo aí histórias pessoais desconhecidas, de Orlando Tejo.

Outra sugestão que me veio a cabeça foi você, ou alguém mais próximo em rodízio, fazer uma coluna homenageando os colunistas fubânicos que já se foram.

Seria uma homenagem da porra, além de manter viva a memória desses amigos que sempre nos deliciaram com tanta cultura, sabedoria e riso.

Abraços alencarinos e um beijo na pedra do Anel.

R. Meu caro, esta assembleia fubânica das quintas-feiras tá fazendo mais e mais sucesso a cada semana que passa.

Criação de alguns doidos do nosso time, o evento tem cativado muita gente e a participação de vocês é que dá brilho a este movimentado desmantelo.

Não fui eu o criador e nem sou o editor desta buliçosa reunião. Sou apenas um participante semanal como todos vocês.

E, a cada semana, um diferente palestrante discorre sobre um tema, sempre instigado por muitas perguntas e muitas observações.

A assembleia acontece na plataforma criada e mantida pelo colunista fubânico Maurício Assuero, a quem somos imensamente gratos.

E a participação de todos é ao vivo e a cores, na tela do computador de cada um.

Quanto às suas sugestões, vou tentar fazer contato com o querido amigo Zelito Nunes. O cabra sumiu, se escafedeu-se e foi morar lá no interior da Paraíba. Faz tempo que ele não dá notícias.

Quanto à minha participação, pode aguardar que eu vou entrar na fila.

Já as homenagens aos fubânicos que se encantaram e viajaram antes do combinado, trata-se de um excelente ideia.

A sugestão está lançada e quem quiser escrever textos sobre o assunto fique inteiramente à vontade. Eles continuam vivos na nossa lembrança e merecem nossas reverências.

Na assembleia da próxima quinta-feira, dia 24, será a vez do colunista Roque Nunes e suas histórias curiosas e divertidas lá do Mato Grosso.

É o Brasil unido de norte a sul, de leste a oeste, através deste jornaleco safado!!!

DEU NO JORNAL

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

O SENADINHO DO ANGICO

Na sombra do angico transformada em Senado e Câmara tudo era aprovado

O forte aroma da floração primaveril do angico tangido pelo vento era um convite para alguns sentarem à sua sombra e usufruírem do local, usando como assentos os cambitos e as cangalhas.

Era ali também que, o jumento “Feliciano” e o burro “Dourado” descansavam e aproveitavam para ruminar suas rações de capim misturadas ao milho e colocadas à disposição.

Uma gamela com água, também aproveitada pelas galinhas transformava o desenho imaginário do local numa fazenda. E não era uma fazenda. Era a casa de Raimundim de Maria de Horácio – onde também morava uma reca de meninos, todos “descobertos” no calor dos galanteios das duradouras noites de lua cheia.
Era ali usufruindo da sombra do angico, que se reunia o “senadinho” do lugar. Era onde se sabia de tudo e, também, onde se resolvia tudo. Desde o início da colheita do feijão ou do milho de cada roça cooperativada, até o plantio da maniva, ou carpina interativa e coletiva da vazante – quiabo, melancia, batata doce e alguns pés de abóbora.

Debaixo daquele angico era também aonde se abatia, limpava, cortava e vendia o porco, o bode, o carneiro ou o boi para o consumo da comunidade. Lavagem e limpeza de vísceras não eram permitidas para evitar a proliferação de moscas, ratos e outros insetos roedores. Enfim, aquele angico tinha o mesmo papel que hoje tem o shopping ou a Associação Comercial de cada cidade.

Nas tardes de sábado o local era preparado para receber um encerado de caminhão, enquanto o fole de Seu Tôquim animava e promovia gratuitamente o melhor forró pé-de-serra dos arredores.

Com o suor escorrendo pelo sovaco e pescoço ensebados, homens e mulheres se grudavam, e alguns casais envolvidos, continuavam dançando sem perceber que o frege terminara. Sanfona, fole, pandeiro, triângulo e um bumbo furado, que servia apenas como cenário, pois não emitia qualquer som.

Nas manhãs de domingo, a feirinha comunitária. Macaxeira, farinha seca, rapadura, galinha da terra, peru, carne de boi, de porco e de bode. Fumo, cachaça e até comprimidos para qualquer meizinha.

De tarde, o local se transformava com a chegada do rádio Transglobe à bateria, para a transmissão do jogo do Maracanã ou Pacaembu nas vozes inconfundíveis de Jorge Cury, Doalcei Bueno de Camargo ou Fiori Gigliotti e ainda Waldir Amaral. Na Rádio Assunção Cearense, as vozes de Ivan Lima, José Santana, Jurandir Mitoso e alguns anos depois, de Paulino Rocha e Gomes Farias.

Na segunda-feira começava tudo de novo:

Coçar frieira na beirada da rede. Subir na árvore para fazer uma necessidade fisiológica tentando fugir dos porcos e das galinhas. Tomar banho nu no açude, jogando “galinha d´água”. Beber água fresca da quartinha. Surrão. Caganeira de chicote. Bicho de pé. Balançar na rede, tocando o pé na parede e escutar o ranger do armador. Pirão de farinha seca. Beber caldo no prato sem colher. Cheirar rapé e ao espirrar, dizer: “Armaria”. Cachimbo de barro. Amarrar sabugo de milho no pescoço do cachorro. Assoviar pra provocar o glu-glu do peru. Esperar o cântico do vem-vem e botar o angu para a graúna.

Matar a cobra e mostrar o pau. Pescar no açude com anzol de alfinete. Caçar e pegar “mané-mago” (libélula) nas árvores. Atiçar cachorro vira-lata pra pegar teiú no mato. Passar creolina para matar bicho no lombo do cavalo. Acender a lamparina e andar feito alma com a dita cuja no meio da noite.

Deitar na sombra da catingueira. Cortar unha das mãos e dos pés com canivete. Peidar dentro d´água na hora do banho no açude. Cangalha. Cambito. Chicote. Chifre pra aboio. Caranguejo uçá. Rapadura melada. Alfenim. Batida de cana. Manteiga de garrafa.

Leite mugido. Chiqueirar cabras e bodes. Camaleão. Rola-bosta. Cobra de duas cabeças. Besouro mangangá. Cavalo do cão. Sibite. Graúna. Bem-te-vi. Potó. Muçum de açude e de lagoa.

Debulhar milho e feijão. Plantar maniva. Raposa. Capote. Cabaça d´água. Terrina para água dos animais. Sal em pedra. Torrar café no alguidá. Mão-de-pilão. Pano de coar água no pote. Panariço. Gurgumio. Cajuína. Assar castanha no caco. Espinho de bananeira. Moita de mofumbo. Caminho d´água. Sabão Pavão. Óleo Pajeú. Grude na colher. Ferro à carvão para passar roupa. Anil e goma para camisa de cambraia de linho.

Viver. Cantar. Passar o anel. Brincar de manjô. Pião. Caçar passarinhos. Comer jumentinha. Montar a cavalo e campear o boi. Galo de campina. Alpargatas. Trempes. Pão sovado. Voo rasante da coruja. Rasga mortalha. Calango a galope. Cantoria. Cordel de mimeógrafo. Papel de embrulho. Lápis na orelha. Manteiga à retalho. Caderno de fiados. Bicada pra tomar banho e cusparada no pé do balcão. A “do Santo” na bicada. Tira-gosto de cajá embu. Sirigüela inchada. Arapuca pra pegar sabiá. Foice. Pedra de amolar machado. Cabaça d´água. Beber água na caneca no mesmo cantinho que a velha babona bebia.

O viver na roça que faz o verdadeiro pacote da saudade.