DEU NO X

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BERNARDO - AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS

CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

O CACHORRO QUE CHORAVA

Alagoas é um celeiro de bons jornalistas. A imprensa honesta, batalhadora e competente faz parte de nossa história. Tenho Ricardo Rodrigues como um dos melhores jornalistas atuantes e mais éticos. Foi ele que me relembrou o caso do cachorro que chorava. Um fenômeno que abalou, assanhou a cidade e o Brasil nos idos dos anos 70.

Ao completar 10 anos, Ricardo ganhou um lindo cachorro de se pai, Arlindo. Não pertencia a alguma raça específica, ou seja, era um legítimo vira-lata. Colocaram o nome de Johnson, em homenagem ao presidente dos USA. O cachorro ficou bonito danado, cresceu com muito apego ao dono.

Certa vez, durante a madrugada, arrombaram a porta e roubaram algumas bebidas e comidas no Bar de Seu Arlindo que se tornou ponto de encontro da boemia em Jaraguá. Ele resolveu levar o cachorro para dormir no bar, Ricardo esperneou, não queria deixar o cachorro. Johnson tornou-se patrimônio, cria e mascote do Bar do Arlindo. Os fregueses tinham maior carinho pelo cão-vigia.

O bar era frequentado por artistas e boêmios de Maceió. Seu Arlindo colocava música na possante vitrola Phillips, e a moçada curtia Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Elizeth Cardoso e outros grandes cantores da época enquanto dava um trato na cerveja e na branquinha.

Certa noite, Seu Arlindo notou Johnson chorar, o cachorro uivava quando tocava uma música específica; não eram todas. Finalmente descobriu: Johnson chorava apenas quando tocava a música de Altemar Dutra: “Vida Minha”.

Johnson tornou-se atração do bairro boêmio de Jaraguá. Quando aparecia um desavisado, os assíduos frequentadores apostavam como o cachorro chorava ao ouvir música. Alguns desatentos pagaram garrafas, caixas de cervejas para os malandros.

O fato se espalhou por toda cidade de Maceió. Entrou pelo Poço, Mangabeiras, Ponta da Terra, Pajuçara, até no Tabuleiro. Todos queriam conhecer o cachorro que chorava. O Bar do Arlindo de repente se encheu. Gente do povo, deputado, senador, coronel, capitão, ficavam pasmados com o choro de Johnson.

Sociólogos, filósofos, professores da UFAL tentaram explicar o fenômeno. Muitas páginas foram escritas em tese de mestrado sobre o cachorro que chorava. Teorias fizeram trabalhar os tipos das máquinas de datilografias da época.

Certa noite apareceu o jornalista Bernardino Souto Maior. Ao ouvir o uivo do cachorro ao som da música do Altemar Dutra, foi taxativo com Arlindo:

-“Vou levar você e o cachorro para o Programa Flávio Cavalcante.”

Naquela época, na TV Tupi de São Paulo, o Programa Flávio Cavalcante, tinha a maior audiência no Brasil. Havia um quadro chamado “Fora de Série”, onde Flávio apresentava histórias interessantes, fenômenos e outras gaiatices. Não deu uma semana, Bernardino entrou no Bar do Arlindo:

– “Prepare uma jaula para o cachorro. Aqui estão nossas passagens para São Paulo. Vamos viajar amanhã e entrar no ar ao vivo no domingo.”

Numa fria madrugada de sexta-feira no Aeroporto Campo dos Palmares, entraram no avião: Arlindo, Bernardino e o já famoso Johnson.

Na hora do programa todos estavam nervosos, era ao vivo. Se o cachorro falhasse, seria um vexame televisionado para todo o Brasil. Até que chegou o momento. Flávio Cavalcante com sua empáfia de apresentador estrelado iniciou:

-“E agora meus amigos de todo o Brasil. Vou apresentar Johnson, o cachorro que veio das Alagoas. Um sentimental cachorro que chora quando ouve Altemar Dutra.”

Entraram no palco da TV: Bernardino e Seu Arlindo com Johnson. Depois de algumas perguntas, e fazer o suspense, se o cachorro ia chorar ou não, finalmente Flávio manda rodar a música. Maior expectativa. Quando se ouviu: “Eu acordei chorando…e tu não acreditaste…vida minha…..”, o nosso querido Johnson irrompeu em uivos. Chorou com lágrimas caindo como se fosse um personagem de novela mexicana.

A plateia e todos os expectadores ligados na TV deliraram. Maior sucesso, muitos aplausos. Johnson era a nova sensação do Brasil. Por conta disso, no outro dia, Johnson foi convidado para gravar no programa da Cidinha Campos.

Quando os três retornaram à Maceió, no aeroporto havia jornalistas, rádios pedindo entrevistas. Seu Arlindo continuou com sua birosca sob a vigilância do famosíssimo Johnson.

Na quinta-feira daquela semana, uma multidão foi assistir na televisão do Bar do Arlindo o Programa Cidinha Livre, tinha sido gravado. Durante a apresentação, quando iniciou a música “Vida Minha”, Johnson irrompeu no choro duplamente, ao vivo e na televisão.

Muitos quiseram comprar nosso herói canino. Veio proposta do Recife, da Bahia, do Rio de Janeiro. Um milionário de New York mandou uma oferta fabulosa. Mas Seu Arlindo preferiu conservar Johnson junto a ele, fazendo guarda em seu bar e brincando com o filho Ricardo.

Nunca mais um alagoano foi tão aplaudido em rede de televisão nacional. Difícil um sucesso como o do inesquecível Johnson, o cachorro que chorava.

DEU NO JORNAL

TODOS JUNTINHOS

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fugiu como o diabo na cruz de explicações sobre sua amizade com André Felipe de Oliveira.

André Felipe foi preso pela Polícia Federal, quarta (10), na venda milionária de respiradores para o governo do Pará.

André e Maia dividiram uma mansão em Brasília, anos atrás.

* * *

Dividir a mansão é o de menos.

Eu tô curioso mesmo pra saber é se dividiam a mesma cama.

E, em caso positivo, quem era que…

Ah… Deixa pra lá…

Vamos fechar a postagem com um flagrante autenticamente banânico.

No meio, o corruptor ativo André Felipe de Oliveira, preso quarta-feira passada por grossa ladroagem.

Ladeando sua linda figura, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e o do Senado, David Alcolumbre.

Câmara e Senado são os órgãos que constituem um dos poderes dessa república surrealista, o Poder Legislativo.

Tudo certo, ajustado e coerente.

É pra arrombar a tabaca de Xolinha!!!

DEU NO JORNAL

ALUNO TALENTOSO

O ex-senador Lindbergh Farias será mestre de cerimônias do “arraiá da resistência”.

Trata-se, por acaso, de outra “quadrilha”, a que faz parte dos festejos de São João.

E não a que mandou petistas para a cadeia.

* * *

Em se tratando de quadrilhas, sejam juninas ou politicas, Lindinho é um especialista.

O atual amante da Amante fez doutorado com um grande mestre.

Um professor barbudo que é PhD de altíssimo nível em Ciências Quadrilhais.

Coitadinhos dos santos: nas mãos do quadrilheiro…

DEU NO X

CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

RESPOSTAS EM CIMA DA BUCHA

A Rua da Guia, local do Cabaré de Zulmira, maior puteiro do Recife

Fico sempre a matutar com a capacidade que algumas pessoas possuem de dar respostas precisas. Durante algum tempo selecionei algumas, num caderno para mais adiante escrever sobre o assunto.

E, novamente, graças ao Ibope que minhas crônicas têm merecido de generosos leitores, volto ao tema que enfoca respostas na bucha, capacidade rara de alguns.

Nos idos de 1940 as famílias ainda tinham direito a ter Secretárias Domésticas, às quais eram conhecidas por “Empregadas”. Mamãe era rigorosa nas admissões e não lhe escapava a entrevista prévia.

Certa feita se apresentou, sem recomendação, uma sacripanta ainda nova, de uns 20 anos mais ou menos. D. Alice já não gostou da cara da sujeita. Descabelada, de chinela de vaqueiro, bico do peito quase à mostra.

Mas mandou-a sentar-se no terraço e soltou os verbos indagativos.

D. Alice – Minha filha, você ainda é moça?

Judite – Olhe dona, já perdi meu cabaço há tempos!

Continuando o “questionário”, que era exigido pra começo de conversa, mamãe entrou de sola, na segunda fase. Já com um pé atrás.

D. Alice – Moça, você já teve gonorreia?

Judite – Que eu me lembre não!…

Mamãe, muito ladina, desejou fazer um exame superficial na “camarada”. Pediu que levantasse um pouco o vestido a fim de verificar as pernas, pois notara que havia sinais de “pereba recolhida”, várias manchas escuras.

Tais lesões indicavam claramente sinais de alguma “4ª. Venérea”, a doença infernal que fizera o Recife ter a fama de se tornar conhecida como: “Recifilis, a Venérea Brasileira”. Lá veio a pergunta-bomba:

D. Alice – E essas manchas, o que são mesmo?…

Edite – Ah, minha dona, os “home diz” que é “medalha de bom comportamento”.

D. Alice – Quem lhe deu tanta “medalha” minha filha?

Edite – Trabalhando como “quenga”, lá em Zulmira.

DEU NO X

A PALAVRA DO EDITOR

I CAN’T BREATH

Não consigo respirar! Eis a expressão mais ouvida ao redor do mundo, ultimamente. Foi proferida em inglês por um homem de 46 anos de idade, afro-americano, natural de Houston (Texas), pai, cristão, atleta poliesportivo trabalhando como segurança, nas opiniões do empregador e de amigos, uma pessoa de paz.

George Floyd é o seu nome. Ele morreu em Minneapolis, em 25 de maio de 2020, quando o policial branco Derek Chauvin ajoelhado sobre o seu pescoço, sob o olhar dos colegas de farda e de transeuntes, o manteve imobilizado por 8m46s, asfixiando-o.

I can’t breath foram as suas últimas palavras transformadas em lema, nos últimos 16 dias de manifestações, em diferentes regiões dos Estados Unidos e pelo mundo afora contrárias ao racismo e a prática de abordagens policiais violentas em confrontos com negros. Toda essa movimentação devido a cultura secular de discriminação racial encruada na índole do povo daquele país e de outras nações.

Na autópsia de George Floyd soube-se que ele desenvolvera o vírus da Covid-19. Impossível precisar se ele morreria em decorrência da doença. Por ironia do destino, faleceu por falta de ar e experimentando os mesmos sintomas dos vitimados pelo vírus letal: a ausência de oxigênio causadora da noção de se afogar no seco.

A verdade é que o movimento pela igualdade racial extrapolou as fronteiras dos EEUU e eclodiu em outros continentes sob a bandeira de movimentos tipo Vidas Negras Importam. O antirracismo é uma realidade e o represamento desse sentimento nunca esteve tão escancarado como nos últimos dias.

Não desejemos assistir à irrupção dessa represa de ressentimentos e ódios acumulados por gerações de excluídos. Num ato simbólico a estátua de Edward Colston foi facilmente derrubada de seu pedestal numa praça de Bristol, na Inglaterra. Fora erguida em 1895 como reconhecimento a benefícios prestados à cidade com recursos oriundos do tráfico de negros trazidos da África Ocidental, pelo escravagista.

Pouco se deu valor a atitude corajosa de quem ateou fogo a esse estopim de revolta no seio das comunidades discriminadas pela cor da pele, na América do Norte. O que sentiu Darnella Frazier, o que ainda sente, como está a sua saúde, a sua segurança e o seu emocional ninguém tem conhecimento ou faz ideia.

A adolescente de 17 anos viu tudo, ao vivo, durante os 30 minutos do desenrolar da ação. Viu quando Derek Chauvin colocou o joelho sobre o pescoço da vítima, viu George afirmar que não mais conseguia respirar e, viu o seu desfalecimento ante a pressão do peso do corpo do agressor fardado.

Darnella já prestou depoimento ao FBI como principal testemunha da morte de Floyd. Está sob acompanhamento de terapeuta especializada em trauma e sofre perseguição da mídia e de outros internautas em suas redes sociais por ter levado o vídeo a público, segundo alguns, com o fito de obter exposição.

Porém, ninguém considerou o risco que ela correu na hipótese de ser descoberta pelos policiais envolvidos no caso durante a gravação. Ninguém avaliou a dor sentida pela jovem ao ver alguém brutalizado com desumanidade. Ninguém imaginou o grau de tristeza que sentiu ao ver George, desfalecido, transferido para a ambulância não sabendo se ainda vivo ou morto. Ninguém, sequer, se importou de perguntar a Darnella quais as suas emoções ou sentimentos ante as cenas presenciadas.

Darnella Frazier não merece tanta atenção, ela é apenas uma mulher negra.