PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

CLARA – Casimiro de Abreu

Não sabes, Clara, que pena
eu teria se — morena
tu fosses em vez de clara!
Talvez… quem sabe… não digo…
mas refletindo comigo
talvez nem tanto te amara!

A tua cor é mimosa,
brilha mais da face a rosa
tem mais graça a boca breve.
O teu sorriso é delírio…
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!

A morena é predileta,
mas a clara é do poeta:
assim se pintam arcanjos.
Qualquer, encantos encerra,
mas a morena é da terra
enquanto a clara é dos anjos!

Mulher morena é ardente:
prende o amante demente
nos fios do seu cabelo;
— A clara é sempre mais fria,
mas dá-me licença um dia
que eu vou arder no teu gelo!

A cor morena é bonita,
mas nada, nada te imita
nem mesmo sequer de leve.
— O teu sorriso é delírio…
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!

Casimiro José Marques de Abreu, Barra de São João-RJ (1839-1860)

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

JACOB FORTES – BRASÍLIA-DF

“NÃO PISE NO MEU RABO” 

Os pensamentos, feito os pássaros, nasceram para a liberdade, arribam quando querem, vão e vem. Num átimo de segundo revolvem o pretérito, assistem ao presente, tentam ler a carta fechada do porvir. Nesse intérmino fluxo, e sob o incentivo da pandemia, (forasteira que já goza de estima), acabaram por revelar uma paisagem distante, meio fosca. Era um prado arrebatador, sopé de uma Serra, (do Encantado), plena em cumeadas, todas recobertas de vegetal arbustivo.

No centro desse vastíssimo prado, tabuleiro no dizer dos nativos, havia uma figueira copada que sombreava um mocambo, cujas feições, irrisórias, tinham o carimbo da taipa e do chão batido. Ambos, ela e ele, eram felizes e se queriam bem, mas a figueira, com ar de matrona que sente prazer em amadrinhar os mais escassos, parecia querer agasalhar o mocambo sob seus esgalhos expandidos, assim como as galinhas amparam suas redadas de pinto sob suas asas.

De esteiras de palha eram feitas as portas e janelas do mocambo: comuns usanças caboclas, dos tempos em que a ecografia atendia pelo nome de parteira, a primeira a atestar o sexo do recente. Nesse berço, coberto de palha de carnaúba, a infância vigorou plena, espontânea, sob os rigores do rei Sol e de uma felicidade que não ligava importância ao pão. A infância, plena, pautava-se por um estatuto menineiro cujo mandamento cardeal consistia em assegurar todas as modalidades lúdicas: correr, saltar, vadiar, entreter, enfim, todos os divertimentos benignos.

O terreiro, piçarroso, amplo, sombreado, era convidativo, de muitas valências: tanto servia às prosas enluaradas, quanto às galinhas, que o escarificavam e o sujavam. De quebra, servia para congregar o apoucado rebanho caprino que, à noite, acamava-se para descanso e procederes ruminativos. O fazia ordinariamente, em estado quase de torpor, sob os olhares espertos da melhor sentinela, o Peri, tão caçador eficiente, quanto formidável atalaia durante as desoras.

Apesar das enjoativas emanações da rabugem do Peri, todos rendiam a ele a melhor das considerações, tamanho o seu desvelo. Como a um servo que não descuida das suas obrigações, Peri, subserviente e cordato, aceitava tudo, menos que lhe pisassem ao rabo. No olhar oblíquo e trombudo de Peri lia-se o cartaz: “não pise no meu rabo!

DEU NO X

DEU NO JORNAL

POLODORO ESTÁ NO AGUARDO

A Justiça de São Paulo já soltou até agora 3.799 criminosos a pretexto de covid-19.

Deste total, 120 foram presos novamente porque voltaram a crimes.

E sete foram novamente soltos.

E ninguém faz nada contra isso.

Um ouvinte de Guarulhos resumiu bem:

“O mesmo Estado que não protegeu o cidadão, agora protege o bandido. Não sei onde está Justiça nisso”.

* * *

Eu sei onde está a justiça nisso.

Não deve estar na casa do caralho, que é um órgão respeitável.

Deve estar na… no…

Deixa pra lá. Também não quero ofender o sistema de esgotos.

Enquanto isso, o nosso estimado jegue Polodoro, mascote desta gazeta escrota, continua pastando por aí todo faceiro.

Ele está com a pajaraca devidamente envaselinada, ansioso pra cruzar com autoridades que botam bandidos na rua pra protegê-los do covid-19.

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

A CANJICA, A MAÇÃ DO AMOR E O ROLETE DE CANA

Milho verde apropriado para a canjica

Começa o mês de junho e a gente já consegue ouvir, longe, os sons das zabumbas, das sanfonas, dos foguetes e dos ensaios das quadrilhas juninas. É a confirmação da tradição cultural de um país que, ainda que enfrentando uma pandemia, ousa se divertir. Mês joanino, de Santo Antônio, São João e São Pedro; e junino dos trinta dias do mês de junho.

No meu Ceará, tradicionalmente e neste ano, a agricultura familiar recebeu a bênção divina das chuvas (muita água em alguns lugares, mas nada que atrapalhe) e tem a colheita assegurada. A fartura. O arroz, o feijão, a mandioca e o milho.

Canjica de milho verde decorada com canela em pó

A primeira colheita do milho preserva e mantém a tradição de uma culinária rica que leva alegria às mesas das famílias dos muitos agricultores. Tão logo a boneca vira sabugo, e a espiga fica completa, vem a primeira colheita – e a garantia do milho cozido ou assado; da pamonha e da canjica.

No próximo sábado, 13, dia consagrado à Santo Antônio, as primeiras fogueiras são acesas e as tradições culturais e folclóricas ganham nova pintura – mas, sempre mantendo a tradição trazida, ensinada e perpetuada pelos nossos antepassados.

Aprendi com os avós que, 17 dias após o “amadurecimento” do milho, as espigas já estão prontas para “virar” – por algum tempo, na posição que brota, a espiga apanha sol, e seca. É chegada a hora de “virar” a espiga para secar na outra posição. É a cultura da roça que nenhuma escola ensina.

Para aprender, tem que viver no meio e sentir prazer em fazer o que faz: pôr alimento na mesa.

Maçã do amor

Quase sempre no início da segunda semana do mês de junho, muitas Igrejas realizam (ou, “realizavam”) seus preparativos para render homenagens ao santo padroeiro. Entre esses preparativos, por tradição, são realizados os folguedos – em Fortaleza e de resto no Ceará, são conhecidos como “quermesses” – que duram cerca de 30 dias.

Os folguedos antigos reuniam os jovens enamorados e aqueles que pretendiam namorar. Os rapazes, roupas simples, mas sempre bem vestidos; as moças, acompanhadas das mães ou tias, primeiro assistiam a Santa Missa. Depois, “ganhavam” uma pequena folga das mães e se permitiam namorar.

Carrossel, roda gigante, tiro ao alvo, laça cigarros, pescaria, eram algumas das diversões apresentadas durante os folguedos, tudo permitido e organizado pela paróquia. Ao final de cada noite, o leilão de prendas domésticas – o “frango assado” ainda era uma grande novidade nos anos 50 e 60. Os valores arrecadados, descontados os custos e as despesas, eram em benefício da paróquia.

A “maçã do amor” era uma tradição. O rapaz juntava dinheiro durante toda a semana, para oferecer, à noite, aquela gostosura à namorada. Os dois mordiam a maçã, juntos. Pena que ainda não existia a “selfie”.

Barraca com vendedora da maçã do amor

Faz tempo que, festança junina que representa tradição e respeito, não pode4m faltar alguns itens como cacho de pitombas, caldo de cana com pastel, pipoca, algodão doce e, principalmente, rolete de cana.

Nos folguedos nordestinos, a cana caiana da qual é feito o rolete, é parte da cultura das coisas importantes. Ainda hoje, a cana de açúcar é uma das maiores riquezas do Brasil, produzindo, entre outras coisas, o açúcar, o metanol e principalmente o álcool.

Desde os primórdios, os engenhos fazem a riqueza de muitos “senhores”, gerando empregos e desenvolvimento. Mas, também de forma tradicional, jamais deixará de existir o trabalho escravo no plantio, no cuidado durante a lavoura e no corte da cana de açúcar.

Cana caiana

Vale registrar que, no caso específico do “rolete de cana”, ele é vendido em vários lugares, incluindo praias, estádios de jogos de futebol e até faz a alegria de crianças em festas de aniversários.

Roletes de cana caiana

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

AS BRASILEIRAS: Ana Pimentel

Ana Pimentel nasceu em Salamanca, Espanha, em princípios de 1500. Colonizadora, esposa de Martim Afonso de Souza, dama de honra e prima da Rainha Dona Catarina (irmã de Carlos V, Rei da Espanha). Diz-se que era uma mulher de aspecto frágil, mas de grande autonomia. Casou-se em 1524 e no ano seguinte o casal mudou-se para Lisboa, levando Dona Catarina, que se tornou esposa de Dom João III, Rei de Portugal.

Em 1530, o marido foi designado a colonizar a Brasil e combater os franceses, que andavam de olho naquelas terras. Passou 3 anos no Brasil; fundou a vila de São Vicente e retornou à Lisboa em 1533. O Capitão-mór era um fidalgo português, navegante e explorador de territórios d’além mar, que não dispunha de tempo para cuidar da Capitania. Assim, a história conta que seu único ato relativo àquela parte do Brasil, foi providenciar uma procuração à sua mulher para administrar a Capitania. Em 1533 ele foi nomeado Capitão-mór do mar da Índia e depois tonou-se governador da Índia.

Consta que ela passou a cuidar da administração política e administrativa da Capitania por mais de 10 anos, até 1544. Realizou a distribuição das terras em sesmarias, designou alguns dirigentes e introduziu na selva brasileira, o cultivo da laranja, arroz e trigo e mandou vir da Ilha de Cabo Verde, bois e vacas para criar. Assim, pouco depois, os colonos já comiam carne bovina com arroz e trigo, algo nunca visto em terras brasileiras. São tarefas incomuns para uma mulher naquela época, mas que se deram a contento. Além de manter a administração da Capitania a distância, manteve a família de 8 filhos, que teve com o marido entre uma missão e outra, designada pela coroa portuguesa. As más línguas falavam que ela, na condição de dama de honra da Rainha, tinha alguns privilégios que lhe possibilitava contatos furtivos com alguns ordenanças. Mas, tais fofocas partiam de inimigos do marido, que vivia viajando. Logo, é fofoca que não importa na história.

Em 1536 providenciou carta de doação de uma sesmaria para Braz Cubas. 10 anos após, a sesmaria foi elevada a condição de Vila, que tornou-se a cidade de Santos e veio a prosperar mais que São Vicente. Outro de seus feitos foi desobedecer a ordem do marido, que proibia aquele povo de transpor a Serra do Mar, com acesso ao planalto paulista. onde se encontrava terras mais férteis e um clima mais ameno. A proibição devia-se a acordos mantidos em Lisboa, que tinha o planalto destinado a criação da Vila de São Paulo. Desse modo, foi a precursora da ligação do interior com o litoral, propiciando o surgimento dos Bandeirantes e o consequente desenvolvimento posterior da região.

Os primeiros anos da Capitania de São Vicente encontram-se registrados no documento manuscrito, transformado em livro, “O testamento de Martim Afonso de Sousa e de Dona Ana Pimentel”, publicado pela Editora da UFMG-Universidade Federal de Minas Gerais, em 2015. Dona Ana Pimentel administrou a Capitania até 1544 e veio a falecer em 1571.

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

JOÃO ARAÚJO – MUNIQUE – ALEMANHA

Bom dia com Poesia, caro editor Luiz Berto,

Trago um pouco da Arte dos nossos Poetas pra gente espalhar mais Poesia pelo mundo real e digital.

Envio-lhe agora o Episódio-1 sobre o poeta repentista Rogério Menezes.

Vídeo pertencente à Série Mestres da Poesia: grandes repentistas, poetas, violeiros.

E para os leitores que quiserem acessar gratuitamente o link de inscrição no meu canal é só clicar aqui

Obrigado, muita saúde, um forte abraço a todos e até a próxima declamação.

DEU NO X

O MELHOR DO DOMINGO

* * *

É hoje.

Um programa imperdível!!

Vai ser às 16 horas.

E é na Globo News, gente!!!

Um trio de entrevistados do caralho: Ciro Gomes, FHC e Marina da Silva.

Vai ter salpicado pra todos os gostos.

E o melhor de tudo: entrevistados por Miriam Leitão!!!

E ele diz que “está orgulhosa” de fazer essa entrevista.

Tudo se casa admiravelmente.

Recomendo a vocês com muito entusiasmo.

Garanto que é melhor do que ficar lendo as merdas desta gazeta escrota.

Eu mesmo já estou ansioso pra que chegue logo a hora do programa.

“Estou aguardando todos vocês, lindinhos”

A PALAVRA DO EDITOR

CARROS ELÉTRICOS

A venda de veículos elétricos e híbridos plug-in tem crescido na Europa. Com a previsão de excluir da circulação nas ruas europeias até 2040, os veículos movidos a combustíveis fósseis, a frota limpa tem impactado nas vendas. Caso se confirmem os planos, tudo leva a crer que o motor a combustão está de fato com os dias contados. Para os adeptos, vai deixar saudade.

A cada semestre as vendas dos carros elétricos e híbridos nos últimos semestres crescem além da conta. Numa velocidade espantosa. Em 2018 foram emplacadas 400 mil unidades. Com essa marca, os carros elétricos e híbridos em circulação na Europa já somam mais de 1 milhão neste ano.

O mercado alemão anda aquecido. O Reino Unido e a França seguem atrás. Cheios de gás. O impressionante é a lista de espera que se alonga a cada dia. Com estoques abaixo das previsões e temendo não dar conta do recado, os governos europeus se apressam em abrir leques de incentivos para instalar rapidamente inúmeros pontos de recarga de baterias para amparar a crescente onda dos carros elétricos.

Famosas marcas como Nissan, Renault, BMW, Mitsubishi, Volvo, Hyundai e Porsche lavam a burra. Trabalham adoidado para não perder espaço na acirrada competição comercial. Uma poderosa marca ser ultrapassada pelo forte fabricante concorrente.

O que tem revolucionado o mercado de carros elétricos e híbridos foi a tese aprovada no Acordo de Paris. Por este Acordo, ficou estabelecido de que a emissão de gases de efeito estufa é o principal causador de graves impactos no aquecimento global da Terra.

O lançamento de enorme quantidade de gás carbônico na atmosfera, em virtude da queima de combustíveis fósseis gera poluição no ar que respiramos. Misturado à fumaça das fábricas de bens de consumo que começaram a funcionar a partir da Revolução Industrial, causam severos impactos nas cidades e no meio ambiente.

Então, com o lançamento do carro elétrico a proposta é reduzir drasticamente a emissão de poluentes gerados pelos combustíveis fósseis na atmosfera.

Com este propósito, o segmento de carros elétricos quer incentivar o mercado brasileiro que, segundo levantamentos tem potencial para vender no mínimo 150 mil unidades por ano.

No entanto, as montadoras nacionais sentem-se desmotivadas por dois motivos específicos. O custo da bateria automotiva é elevadíssimo. Segundo cálculos, o preço pode chegar a quase 50% do preço veículo. Por sua vez, o preço do veículo elétrico também é altíssimo. Pelos apontamentos, um carro elétrico no Brasil pode chegar R$ 160 mil ou mais.

Por ter um mercado pobre, existe apenas dois prováveis segmentos consumidores, as classes A e B, cuja população pouco ultrapassa a casa de dois milhões de pessoas, o Brasil para se definir na produção do carro elétrico, necessita de alguns requisitos básicos.

Fazer a transição da produção de veículos movidos a combustíveis para os alimentados por eletricidade. Estudar e definir a maneira de distribuir os pontos de recarga de baterias para motores elétricos e finalmente saber como produzir combustível para alimentar as fontes de energia renovável, mediante a combinação de etanol com biocombustível.

Para se meter neste esquema, o Brasil tem de cumprir quatro metas. Oferecer subsídios às montadoras, conceder incentivo fiscais para baixar o custo de aquisição do veículo, incentivar a criação do sistema de recarga e estimular, afinal, a atratividade do mercado em formação.

Até o momento, o único empenho do país nesse novo segmento automobilístico mundial, se restringe a isentar de imposto a importação do veículo elétrico. Diminuir a alíquota de 35% para 7% para os carros híbridos para satisfazer o gosto da classe abastada, cheia de grana, com capacidade de comprar e desfilar num carro elétrico por aí. Fazendo inveja à maioria da população brasileira que no momento se presta apenas a ver e admirar de longe o carro elétrico.

O roteiro, realmente, para abrir espaço na fabricação de carro elétrico não é curto. É preciso remodelar a cadeia produtiva nacional, visando alterar o comportamento do mercado de maneira a atrair a atenção do consumidor. É é importante definir como abrir campo para investir na produção de motores elétricos, produção de baterias, de inversores de potência[l1] e criar alternativas para a infraestrutura de recarga. Situação que exige elevados investimentos.

Enfim, para desenhar uma estrutura de tecnologia visando produzir veículos totalmente elétricos, embora seja um desejo, todavia é um sonho viável apenas para os próximos dez anos. Até lá, o brasileiro de posse tem se contentar no aproveitamento das importações.

Pelo menos, num ponto o Brasil ganhou projeção. Juntamente com a Argentina, o Brasil foi contemplado com uma fábrica para produzir baterias para veículos elétricos e híbridos, ambas sob a bandeira da Volkswagen.

A fábrica brasileira se instalou em São Carlos, São Paulo, e a da Argentina foi construída na cidade de Córdoba.

Enquanto o desemprego ameaça o mercado europeu de motores a combustão, estes dois países sul-americanos abrem vagas num novo setor na América do Sul. Ganharam um grande prêmio na loteria econômica mundial.

PENINHA - DICA MUSICAL