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CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

MEMÓRIAS DE UM OITENTÃO (5)

Ao terminar o curso da Academia Militar das Agulhas Negras em 1961, escolhi Salvador para iniciar a vida de Oficial do Exército, cidade que conhecia apenas dos livros de Jorge Amado e das músicas de Caymmi.

Numa tarde de domingo me vi à frente do quartel do 19º Batalhão de Caçadores, bairro do Cabula. Um prédio de dois pavimentos janelados, paredes cinzentas. Entrei pelo Portão Principal, o oficial de dia levou-me ao primeiro andar onde um quarto estava à minha espera. Guardei minhas roupas, meus pertences, liguei o ventilador, deitei-me na cama de cueca, pensando, fumei um cigarro. Mais tarde, da janela de meu quarto, contemplei um alaranjado pôr-do-sol embelezando meu primeiro dia na Bahia. Naquele momento deu-me uma apreensão, medo do desconhecido que viria pela frente. Porém, eu tinha certeza e confiança que estava bem preparado para exercer a profissão que escolhi e lutei: oficial do Exército Brasileiro.

Nos primeiros dias no quartel já desempenhava trabalhos normais inerentes a um tenente: planejar e executar instrução militar, educação física, exercícios militares em campo, ordem unida, exercícios de tiro e outras funções que me foram impostas na administração do 19º BC. Orgulhava-me ser um bom oficial do Exército Brasileiro

Durante dois anos morando em Salvador tive o privilégio de ganhar amigos que me fizeram conhecer a Bahia mais bonita. Entre eles, o Subcomandante do Batalhão, coronel Diamantino Fiel de Carvalho, carioca, boêmio, homem da noite no Rio de Janeiro, amigo de artistas e celebridades. Quando algum artista se apresentava em Salvador, Diamantino o convidava para um jantar em casa. Assim conheci grandes nomes da música brasileira: Haroldo Barbosa, Elizeth Cardoso, Vanda Moreno, Luís Vieira, Dóris Monteiro, entre outros. Diamantino escrevia esquetes de humor para teatro e TV, inteligente, bem humorado, entretanto, na hora do serviço era de uma exigente, principalmente com os subordinados mais chegados.

Nas noitadas da Bahia eu o chamava pelo nome, Diamantino; no outro dia, com todo o respeito, era o Senhor Coronel. Afeiçoei-me e muito aprendi com essa figura humana extraordinária, militar e artista.

No 19˚ BC conheci um tenente baiano, Ângelo Roberto Mascarenhas. Foi meu guia nas ruas estreitas e enladeiradas da Bahia. Dancei no Tabariz, frequentei a Rua Chile, o Hotel Palace, a Ladeira da Montanha, tomei cachaça no Pelourinho. Na boate Clock dancei e namorei baianas bonitas. Foram farras homéricas na Cidade Baixa, no Mercado Modelo, nas Sete Portas. Amanhecemos dias de serenata no Forte de São Marcelo. Frequentei o terreiro de Mãe Menininha do Gantois que jogou búzios para mim, hoje sei que sou filho de Xangô.

Nas noitadas de boemia conheci a vida simples, musical e cheia de magia do povo baiano, guiado pela mão de Ângelo Roberto, um dos maiores pintores da Bahia, o melhor bico de pena do Brasil.

Ângelo tornou-se irmão, por adoção, nos adotamos. Em 1980 voltei a encontrá-lo e conservei essa amizade até a sua morte. Ele desenhou a capa de quatro dos meus livros. Quando criei a Festa Literária de Marechal Deodoro, convidei-o e ele todos os anos participava, com Marlene, expondo seus maravilhosos quadros na Casa do Marechal. Chorei feito menino quando li a notícia de sua morte ano passado.

Durante minha época de 19º BC me convidavam para festas na Vila dos Oficiais ou dos Sargentos. Certo dia conheci Silene, filha de um Major, a morena mais frajola da Bahia, me encantou seus cabelos lisos, negros, olhos pretos que nem uma graúna. Fui-me chegando como quem nada queria, em pouco tempo namorava a jovem de17 anos; eu 22.

O sogro determinou algumas regras do namoro. Domingo à noite jogávamos baralho. Sempre eu e Silene contra o casal de sogros. Aproveitávamos esse momento namorava por baixo da mesa, com os pés descalços fazíamos carinho um no outro. Certa noite fui ao banheiro, ao retornar peguei as cartas, era minha vez de jogar. Distraído, tirei o pé da sandália, instintivamente comecei a alisar os pés da Silene por baixo da mesa. De repente, senti um puxão do pé que estava embaixo do meu. Pelo olhar do Major, percebi que havia alisado o pé errado. O sogro, a partir desse engano fatídico, olhava-me desconfiado, talvez duvidando da minha masculinidade.

Numa noite encontrei Jorge Amado num restaurante, fiquei feliz, fui conversar com o grande escritor. Uma semana depois, Silene mostrando a Revista Manchete, ela brincava falando que na reportagem o Jorge Amado citou nosso encontro. Eu estranhei. Ao ler a entrevista, Jorge dizia gostar em ser famoso, só o aborrecia quando num restaurante algum bêbado puxava conversar mole.

Bahia terra da felicidade. Ai! que saudade tenho da Bahia….

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

ARAEL COSTA – JOÃO PESSOA-PB

Efetivamente está é uma grande notícia.

Embora vá causar desconsolo e apreensão em certos segmentos, que decerto, tudo farão para evitar esse procedimento tão perigoso.

VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

A HISTORIA SE REPETE

A Gripe Espanhola de 1918 se alastrou pelo mundo, inclusive pelo Brasil, fazendo inúmeras vítimas. O Rio Grande do Norte também foi atingido.

Quando eu era adolescente, gostava muito de conversar com uma tia-avó muito idosa, Idila dos Santos Lima, irmã da minha avó-materna, a poetisa Anna Lima. Ela falava muito sobre a Gripe Espanhola (1918), que tinha vitimado duas irmãs suas, muito jovens, Luzia e Olindina.

Tia Idila provinha de uma prole de nove irmãos, incluindo Anna Lima, Dr.Luiz Antônio dos Santos Lima e Dr. Nestor dos Santos Lima. Com o passar do tempo, os irmãos foram morrendo, restando ela, como única sobrevivente.

Apesar do grande número de vítimas, resultante da epidemia da Gripe Espanhola, a história registra a grande luta dos médicos, em busca de soluções, através de remédios que pudessem evitar a ação da “influenza”. As autoridades, preocupadas em evitar o alastramento da gripe, fizeram uso dos jornais em todo o território nacional, para divulgar uma série de medidas consideradas úteis, visando minimizar os riscos de se contrair a doença.

Por coincidência, as recomendações eram quase as mesmas de hoje, no combate à atual Pandemia do COVID-19 (CORONAVÍRUS).

Durante a Gripe Espanhola de 1918 (INFLUENZA), a Inspetoria de Higiene recomendava ao povo:

1- Evitar aglomerações, principalmente à noite.

2- Não fazer visitas.

3- Tomar cuidados higiênicos com o nariz e a garganta; inalações de vaselina mentolada, gargarejos com água e sal, com água iodada, com ácido cítrico, tanino e infusões contendo tanino, como folhas de goiabeira e outras.

4- Tomar como preventivo, internamente, qualquer sal de quinino, nas doses de 25 a 50 centigramas por dia, e de preferência no momento das refeições.

5- Evitar toda fadiga ou excesso físico. O Doente, aos primeiros sintomas, deve ir para a cama, pois o repouso auxilia a cura e afasta as complicações e contágio; também, não deve recebe,r absolutamente, nenhuma visita.

6- Evitar as causas de resfriamento é de necessidade, tanto para os sãos, como para os doentes e convalescentes. As pessoas idosas devem aplicar-se com mais rigor ainda, todos esses cuidados.

Além dessas recomendações que foram publicadas a pedido da Inspetoria de Higiene, os médicos começaram a se manifestar rapidamente, acerca de quais seriam os remédios mais adequados para combater a epidemia que estava se abatendo sobre a população naquele momento.

No dia 19.10.1918, foi publicada no jornal “A República” uma carta enviada pelo Dr. JANUÁRIO CICCO, com recomendações à população natalense, as quais foram republicadas durante vários dias, nos meses de outubro a dezembro, no mesmo jornal. A carta continha um conjunto de medidas prescritas pelo DR JANUÁRIO CICCO, com o objetivo de combater a Influenza, abaixo reproduzida:

“ Sr. Redator de “A REPÚBLICA”,

Acreditando auxiliar a defesa da Saúde Pública, contra a epidemia de gripe ou influenza espanhola que, celeremente, se dissemina por toda a parte, e, por isso mesmo, sem medidas de profilaxia geral, devo aconselhar à população deste estado, o que se fez na França, na memorável epidemia de 1889 e 1890.

Parece ter sido Hochard o divulgador do efeito dos sais de QUININO contra a gripe e este juízo mereceu a confirmação de todos os médicos eminentes. Embora alguns contestassem o valor profilático da QUININA por ser vaso-constritor e portanto, hipertensor e como a gripo-toxina é deprimente e hipertensora, o remédio preferido antes e durante a moléstia é a QUININA, porque ela é ainda anti-térmica, anti-séptica, abrevia a convalescença e se opõe à astenia.

Ninguém espere adoecer para fazer uso dos sais de quinina; é necessário tomá-lo como preventivo, tanto mais quanto o professor Hochard acrescenta serem as formas ligeiras da gripe, sem febre, apenas com coriza e uma simples traqueíte, mas suscetíveis de agravação do que outra qualquer, pela insidiosidade da moléstia e suas complicações.

Ainda como medida de profilaxia individual, é indispensável fazer a desinfecção das fossas nasais e da boca com soluções de fenol (50 centigramas por 1.000 de água), água thenicada (5 gramas para 1.000), fenosalil (2 gramas para 1.000), água oxigenada, etc… Os cuidados da pele são indispensáveis e o uso diário de banhos mornos é aconselhável. A pulverização ou insuflação nas fossas nasais de um antiséptico não irritante (Subnitrato de bismute- 6 gramas, benfoime pulverizado – 6 gramas, ácido bórico – 20 centrigramas, mentol – 10 centigramas) completam as medidas de defesa às cavidades.

À menor indisposição que se sinta, frio, arrepios, mesmo quebrantamento de forças, coriza, guarde-se o leito, não devendo afrontar-se às correntes de vento para atenuar ou evitar como diz o professor G. André, o segundo ou terceiro ato deste drama.

O professor Mossé afirma que o QUININO exerce uma ação preventiva sobre as manifestações da infecção gripal e por este motivo deve ser usada em dose relativamente elevada. E aproveitando as múltiplas propriedades dos sais de quinina, dei às farmácias uma forma pilular, cujo uso será indicado de acordo com a idade.

Não é novidade farmacêutica, mas a QUININA, associada a outros elementos anti-fluxionários, age, levantando as forças vitais contra o bacilo da gripe e anulando a gripo-toxina sobre os centros nervosos.

Não é para reclamar as pílulas que dou aqui instruções de profilaxia, mas sendo a classe desafortunada que maior tributo paga às epidemias, formulei uma receita de fácil aquisição e emprego.

Seria até para louvar se os poderes competentes distribuíssem recursos, mandando um funcionário da inspetoria de higiene em toda choupana fornecer esta ou qualquer outra fórmula farmacêutica contendo QUININA e aconselhando: Cuidados higiênicos nas habitações, evitando as bebidas alcoólicas, os excessos, a fadiga, as aglomerações; escolher uma alimentação sadia, beber água fervida para fugir das complicações intestinais e trazer o ventre desembaraçado. São estas as precauções e os conselhos a seguir, é tudo o quanto se pode fazer à falta de outra profilaxia.

Muito grato pela publicação destas linhas, se asseguro: Vosso amigo e admirador Januário Cicco.”

É interessante notar o valor que, já na época da Gripe Espanhola, se deu ao sal de quinino, tanto no processo preventivo, quanto curativo, o que fez com que este produto atingisse em algumas cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, um preço astronômico, provocando uma intervenção do poder público no sentido de frear a especulação, que foi a distribuição do produto por órgãos do governo. Outra tentativa de combater a disseminação da epidemia foi a utilização da vacina destinada ao combate da varíola .

No livro A Gripe Espanhola em São Paulo, escrito por Cláudio Bertolli Filho, consta uma análise de 27 receitas prescritas por médicos que atuaram na capital paulista, onde são identificadas 178 diferentes drogas, com predominância de calomelanos (soluções com baixa concentração de mercúrio), os compostos de quinino, os chás de erva e o fósforo. A primeira substância tinha uma função purgativa, pois o ideário médico da época considerava que a eliminação do bolo fecal e a regularidade das funções intestinais eram o caminho mais acertado para a eliminação das toxinas, produzidas pelo micróbio da Influenza.

Apesar da evolução fantástica da Medicina, atualmente, mais de 100 anos depois da Gripe Espanhola, a Quinina continua sendo usada, agora na luta pela cura do CORONAVÍRUS, associada a outros medicamentos.

Que a Cloroquina tenha êxito!

Dr. Januário Cicco (30 de abril de 1881 · São José de Mipibu-RN / 1 de novembro de 1952 – Natal-RN)

PENINHA - DICA MUSICAL