O desarranjo das contas públicas, embora seja mantido em segredo pelos falsos gestores, é público e notório. Só não ver quem não quer. Basta analisar as contas de estados e municípios para constatar a verdade mascarando diversas irregularidades.
Antes do Plano Real, a desarrumação financeira no setor público era causada pela inflação. O Orçamento vivia sofrendo bombardeios diretos. Chovia arrumadinhos para esconder a real situação.
Agora, apesar de serem alimentadas pela alta carga tributária, as despesas públicas crescem vertiginosamente, Afetam os investimentos, abalam a serenidade social no país.
Afinal, as constantes alegações da falta de recursos tornaram-se um assunto tremendamente rejeitado pelo cidadão, que acredita ser conversa pra boi dormir. Mas, depois de descobrir a desonestidade de gestores de meia tigela, as mentiras apareceram. As máscaras caíram. A real situação foi revelada.
Na verdade, depois que o governo perdeu a condição de permanecer imprimindo dinheiro para financiar seus programas meramente políticos, os pensamentos mudaram. O despertar desta nova descoberta deu para a sociedade perceber dois importantes detalhes.
O panorama nacional no quesito fiscal não escapou da deterioração. Bagunça total. As perdas orçamentárias eram encobertas por manobras políticas que não produziam nenhum efeito positivo. Muito pelo contrário.
Embora tivessem aumentado a carga tributária entre 1994 e 2012, ao elevar os impostos de 27,9% para 35,6%, a situação não melhorou, em absoluto. Continuou claudicante. Cada vez pior.
Por sua vez, o desajuste estrutural continuou se degenerando, cada vez mais. Apesar dos repetidos alertas de analistas, que desde 1980, clamavam sobre a necessidade de o país fazer urgentemente algumas reformas, inclusive, a da Previdência. Alerta que entrava por um ouvido e saia pelo outro, sem ser levado em consideração pelos governantes que assumiram o Poder daquele ano pra cá.
Não adianta governo algum berrar que fez isso e aquilo para consertar o país porque chuta mentira. Não fala a verdade, encobre o medo de comprometer o nome político. Os dados mostram o lado inverso da questão. No período em foco, a renda familiar parou de crescer e o PIB per capita permaneceu enfraquecendo.
Aliás, o tão propagado período fértil, que alegam ter acontecido entre 2004 e 2010, não passou de um sonho. Uma quimera deslanchada. Como não imaginaram que a escassez de poupança era temerária. Não garantia a ausência de recursos, o barco furou e submergiu, justamente por não terem segurado as pontas dos gastos obrigatórios que continuaram crescendo. De forma ascendente. Daí a dureza nas questões orçamentárias nos dias de hoje para tentar segurar a barra pesada.
Espanta o assustador aumento das despesas do Estado entre 1997 e 2018. O custo da máquina administrativa cresceu 917%, ao contrário da inflação que só registrou 508,1% em pouco mais de duas décadas.
Outro desgastante costume dos gestores se relaciona ao descumprimento da Lei de Responsabilidade fiscal. Apesar da norma dispor de boas recomendações, os gastos governamentais continuam excessivos. Avolumam os rombos e dificilmente o país pune os irresponsáveis.
O excesso de gastos talvez comprometa 80% do Produto Interno Bruto até o final do ano. O que seria um desastre.
A prova está no Ceará. Dos 184 municípios, o TCE do estado comprova que 63 prefeituras gastaram além do permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal com o pagamento da folha de servidores ativos, inativos e terceirizados. Numa clara demonstração de total descumprimento da Lei.
O brasileiro festeja os 25 anos do Plano Real que abateu a fúria da inflação. Mas, não segurou as pontas das contas públicas que desembestaram. Permanecem desequilibradas para dessossego do país e da população. Sempre enrolada com as más políticas públicas.
O forte do Plano Real foi comemorar a substituição de seis fracassados planos econômicos, lançados entre 1986 e 1994. Cruzado, Bresser, Verão e Collor, com direito a repeteco.
A derrubada da gigantesca taxa de inflação de 1993, que chegou a 2.477% e depois de anos de vigência, caiu para apenas 47%.
Antes do Real, o Brasil conviveu com oito moedas. Réis, cruzeiro, cruzeiro novo, cruzeiro novamente, cruzado, cruzado novo, cruzeiro e cruzeiro real.
O Plano, aguerrido, enfrentou três crises internacionais brabas e conseguiu escapar, mesmo chamuscado. Afrontou a do México, em 1995, a Asiática, de 1997 e a crise da Rússia, em 1998.
Para não comprometer a estabilidade da economia, criaram a taxa Selic que tem dado certo. Tem conseguido dominar a fera inflacionária. Nos 25 anos de ação do Real, a inflação, aferida pelo IPCA, entre julho de 1994 a abril de 2019, chegou a 507%.
O bom é que apesar dos incômodos causados à sociedade, o Plano Real conseguiu se manter na estrada da vida. Venceu a intolerável hiperinflação, acabou com as constantes cortadas de zero na moeda em vigor.
Fatos que corroíam a economia brasileira e o sossego da população. Por fim, segurou a desalmada pelo rabo e mandou as remarcações de preço para o quinto dos infernos. Sem deixar um pingo de saudade para a sociedade que, finalmente, se livrou de um tremendo abacaxi.