SEVERINO SOUTO - SE SOU SERTÃO

MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

AS CONSEQUÊNCIAS DO DÓLAR

A Ciência Econômica tem, pelo menos, dois defeitos: o primeiro é não ser uma ciência exata, embora hoje sejam utilizados inúmeros modelos de previsão para variáveis de interesse como crescimento econômico, desemprego, inflação, retornos de investimentos, etc. …. e câmbio. Há um leque de ofertas de modelos que nos ajudam a entender o comportamento de variáveis de interesse, em função de outras, dentre os quais os modelos de regressão linear e de séries temporais. Com tais modelos a gente pode estimar o impacto da variação de uma variável sobre outra. Tipo: se o dólar aumentar 10%, qual será o impacto nas exportações?

O segundo defeito, talvez uma decorrência do primeiro, é que os ajustes econômicos, quando algo dá errado, não acontecem na velocidade desejada, ou seja, é como se você tivesse na direção de um carro que vai contra um muro, sem capacidade de desviar a batida. Por exemplo: o governo Dilma pariu 13 milhões de desempregados a até hoje, cinco anos depois, só recuperamos 1 milhão de empregos. Daí, a Ciência Econômica, explica o que houve, mas as correções só depois do problema instalado. Ninguém, dado as condições do mercado, previu que o dólar chegaria a este patamar. Eu não vi um economista de esquerda publicar qualquer análise que apontasse para esse risco e por isso me incomoda um pouco as pessoas aproveitando o momento para culpar a política econômica. Sempre que alguém me manda uma gracinha nesse sentido eu pergunto: “e por que você não previu isso?”. Recentemente, Aloizio Mercadante destilou uma série de bobagens, mas não nunca publicou uma linha, anterior aos fatos, sugerindo que o câmbio poderia chegar nesse nível. Eu considero essa turma como profetas das causas acontecidas. Depois dos fatos vem “eu falei!”.

O dólar valorizado tem consequências positivas para a economia porque favorece o crescimento das exportações. Na composição do PIB a gente chama exportações líquidas, NX, à diferença entre o que é exportado e o que é importado. Se o Brasil exportar mais do que importar, NX>0 e o PIB aumenta. O impacto seria aumento no emprego para atender a demanda externa e beneficiaria a demanda interna. Vamos fazer um exercício: se US$ 1,00 = R$ 4,00, então com um dólar as empresas estrangeiras podem comprar o equivalente a R$ 4,00. Se US$ 1,00 = R$ 5,00, então com o mesmo dólar elas agora poderão comprar mais. Rudiger Dornbush, um macroeconomista alemão naturalizado americano, chamava a desvalorização da moeda local como “política de empobrecer a vizinhança”. É só olhar o capitulo 2 do seu livro Macroeconomia.

Nesse sentido, bota US$ 1,00 = R$ 10,00, não é mesmo? Calma! As coisas não são bem assim e Economia é como o “cobertor curto”. Nós temos produtos cuja matéria prima é importada e o aumento do dólar afeta a viabilidade desses mercados. O trigo do pãozinho vem, 80%, da Argentina e seu preço é dolarizado. Então, cada aumento no dólar vai aumentar custos de produção das padarias e por se tratar de um produto que se compra em unidades, embora seja vendido por peso, o consumidor nem percebe que o pãozinho aumentou, digamos, 20%. Quando os insumos de produção aumentam, o produtor repassa para o preço e isso gera aquilo que chamamos de inflação de custos. Assim, fica a primeira consequência nefasta da desvalorização da moeda.

Outra questão, com uma amplitude maior, é a dolarização de mercado de combustíveis. Um barril de petróleo tem, aproximadamente, 159 litros e no dia 06.03.2020, o mercado abriu com US$ 50,25, com máxima de US$ 50,45 e mínima de US$ 45,18, mas fechou em US$ 45,27, abaixo da média de US$ 47,82. Não preciso lembrar que este mercado é cartel e com isso, o lucro é maximizado em função do cartel e não dos produtores. Com isso a gente chega ao ponto crucial do preço do combustível no Brasil.

A partir de 2002 a ANP – Agência Nacional de Petróleo passou a divulgar a composição do preço do combustível no Brasil. A tabela seguinte, extrai da ANP e diz respeito ao mês de novembro de 2019. Ela está distribuída por região, mas vou reproduzir os dados do Brasil:

O preço do óleo diesel era R$ 1,95 e o preço de venda é R$ 3,71, ou seja, a variação percentual entre ambos os preços é, nada mais nada menos, que 89,88%. Os tributos federais são PIS/Pasep, Confins e CIDE (Contribuição de Intervença de Domínio Econômico). Tributo estadual é ICMS cuja política varia por estado. O ICMS é 1,60 vezes maior do que os tributos federais. A margem de distribuição e custo de transportes é a ponta da corrupção. A Transpetro fazia esse papel e Sérgio Machado arrecadou muito dinheiro para canalhas como Renan Calheiros, Sarney e Jucá. Então, em termos simples, nós temos um aumento de 47,3% entre o preço do produto e o que é pago pelo consumidor. O Dessa forma, se o governo zerar os tributos federais e os estaduais zerassem o ICMS o preço do diesel seria vendido por menos de R$ 2,80. Ainda a margem de apertar os custos de margem bruta de revenda.

Ao longo do governo Dilma, principalmente em 2014 com a eleição, visando conter a inflação (se o preço do combustível aumenta, o resto acompanha), houve um jogo entre o preço do produto extraído e o produto refinado. Era como se o governo subsidiasse o mercado para manter preço. Ficamos mais de um ano com preço interno superior ao externo tudo para que não fosse repassado. De qualquer forma, a carga tributária sobre combustível precisa ser revista e a maior culpa disso é dos governos estaduais.

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