PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

A UMA DAMA QUE TINHA UM CRAVO NA BOCA – Gregório de Matos

Vossa boca para mim
não necessita de cravo,
que sentirá o agravo
boca de tanto carmim:
o cravo, meu serafim,
(se o pensamento bem toca)
por ele fizera troca:
mas, meu bem, não aceiteis,
porque melhor pareceis
não tendo o cravo na boca.

Quanto mais que é escusado
na boca o cravo: porque
prefere, como se vê
na cor todo o nacarado:
e o mais subido encarnado
é de vossa boca escravo:
não vos fez nenhum agravo
ele de vos dar querela,
que menina, que é tão bela,
sempre tem boca de cravo.

Colaboração de Pedro Malta

DEU NO X

JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

ZÉ DE OSMINA – O HOMEM QUE MATOU ADOLF HITLER

Zé de Osmina dando uma pitada enquanto contava bravuras

– É mentira, Terta?!

– Verdade!

Corre mundo à “boca miúda” que, em qualquer lugar do Universo tem cearense. É uma raça que, igual pobreza ou riqueza, tem em todo lugar.

Da mesma forma, costumam dizer que, mentira tem pernas curtas, e não consegue ir muito longe. Mas, também há quem acredite que, uma mentira, por mais deslavada que seja, contada de forma repetida, um dia vira verdade. Daí muitos afirmarem que, tem gente que conta mentira com tamanha ênfase, que até ele próprio acredita que seja verdade.

Pois, foi no crocheteado município de Nova Russas, bem pertinho de Ipu, Ipueiras, Tamboril, Crateús e Monsenhor Tabosa que, no dia 30 de fevereiro de 1910, nasceu José Honorato de Oliveira, um menino gordo por natureza, gerado por Osmina Oliveira e Gertrudes Honorato.

Em Nova Russas, terra das vaquejadas que tem a sorte de ser banhada pelo rio Acaraú, cujo volume d´água provoca sono em quem, pesca de anzol e só acorda com a fisgada do peixe, e nas mulheres que passam a tarde inteira fazendo croché balançando na espreguiçadeira, para receber o vento que parece ter mãos de fada. Ali, quem se dava ao trabalho de procurar José Honorato de Oliveira, não encontrava nem que procurasse na própria residência do dito cujo. Agora, se procurassem por Zé de Osmina, podia preparar o tiro, que ia encontra-lo em qualquer roda de mentirosos.

Nunca se soube de outro lugar onde existisse tantos mentirosos quanto em Nova Russas – mas, com certeza, nenhum desses podia ser comparado com Zé de Osmina.

Cidade de porte médio do interior cearense com pouco mais de 30 mil habitantes, Nova Russas é mais uma das muitas cidades encravadas na caatinga cearense, que sofre com a escassez das chuvas, haja vista, grande parte da população viver da agricultura familiar.

Fartura é coisa rara em Nova Russas. Uma das cidades mais próximas de Nova Russas, é Tamboril, onde nasceram General Sampaio e, entre outros de igual fama, o ator e diretor de teatro Haroldo Serra.

De forma controversa para a má fama de Nova Russas, todo ano acontece o famoso “Festival Internacional das Mentiras”, batendo recorde de participantes a cada edição. E, os organizadores não precisaram pensar mais de uma vez, para dar nome ao “troféu” de vencedor em primeiro lugar: “Troféu Zé de Osmina”.

Até hoje Zé de Osmina é imbatível. Ninguém conseguiu mentir mais que ele. A mentira mais famosa pregada por Zé de Osmina aconteceu em 1945, quando, ainda nos seus 35 anos, foi conhecido e reconhecido como o homem que matou Adolf Hitler.

E, deixo para o próprio Zé de Osmina narrar os fatos ocorridos antes e depois da trágica morte de Hitler:

“Naquele tempo não era fácil viajar para os grandes centros. A gente precisava caminhar quase um dia para alcançar a rodovia que levava à Fortaleza. Certa noite eu escutei numa rádio da capital, que um certo Hitler estava apavorando o mundo, mandando matar muita gente e coisa e tal. Foi quando parei de maginar e arresolvi acabar logo caquela celeuma.

E aí pensei: vou já acabar com a farofa desse homem! Ora se vou! Como eu nunca tinha viajado de avião, resolvi que ia pegar o navio, o primeiro que parasse, prumode eu viajar. Mas, primeiro tive que pegar mesmo foi o pau-de-arara até Fortaleza, e a gente descia numa tal Cidade das Crianças, de onde precisava caminhar até o Mucuripe prumode pegar o navio e me mandar para onde tava acontecendo a guerra. E eu lá queria saber de guerra, siô! O meu negoço era com o tal Hitler. Era com ele que eu queria ajustar conta.

E eu me mandei na maior carreira para as bandas do Mucuripe. Quando cheguei na altura não sei nem de onde, de longe mesmo avistei aquele bando de fumaça sair do cano do navio. O bichão tava se movimentando para partir. Fiz sinal com as duas mãos, amostrei minhas armas, e aquele bichão deu marcha-ré para esperar que eu subisse.

A viagem num foi boa, não. Eu tava toda hora enjoando. Mas resolvi resistir até o destino final.

Depois de quase dois meses de viagem, quando escureceu, de longe, ainda no mar, a gente via as balas incendiarem os olhos da gente. Era uma bala encontrando a outra, e se atracando, e se envolvendo. Foi debaixo daquela saraivada de bala que o navio atracou. A gente desembarcou, e eu me avexei prumode cumprir minha missão, derna que saí de Nova Russas.

E foi aí que me apressei, inté que encontrei o lugar onde o tal do Hitler se escondia. Ele já tinha começado se esconder, pois tava perdendo a guerra e soube num sei como, que eu tava indo matar ele. Cheguei no lugar, dei uma pesada na porta, percurei ele, num encontrei. Fui noutro lugar, dei outra pesada e arrebentei a porta, sempre com a minha espingarda bate-bucha na mão.

Foi aí que eu vi, aquele homenzinho todo tremendo, tremia inté aquele bigodinho debaixo das ventas, e ao me ver, foi logo pedindo penico, dizendo:

– Zé de Osmina, tu por aqui, meu amigo?!

Foi aí que eu nem precisei atirar. Ele se tremia tanto cum medo de mim, e do que ia acontecer, que caiu durim, durim!”

* * *
Na verdade, o que aconteceu foi que Zé de Osmina nem chegou a embarcar. No mesmo dia que ele chegou em Fortaleza, a Segunda Guerra tinha acabado, e o navio que saía do Mucuripe estava era levando trigo moído para Belém.

Para parecer que estava mesmo vindo da guerra, Zé de Osmina resolveu ficar quase um ano perambulando pelas ruas de Fortaleza, deixando a barba crescer. Foi numa loja que vendia roupa militares e, três meses depois, usando sempre a mesma roupa, resolveu voltar a pé para Nova Russas.

Nem esperou anoitecer e já foi para a praça contar o acontecido para os amigos, que nunca confirmaram se acreditavam nele. E logo disse:

– Aquela guerra tinha que acabar mesmo. Foi só eu disparar uma carga nos peitos do Hitler, mandando ele para a cidade dos pés juntos, que resolveram acabar a guerra.

DEU NO X

BOCA-DE-TABACA CAGA MAIS UMA VEZ

* * *

Essa monstruosidade togada não tem o menor senso de ridículo.

Caga um novo tolôte fedorento a cada dia.

Não tem um pingo de constrangimento de, em sendo ministro da suprema corte, se colocar inteiramente ao lado de bandidos, de canalhas e de corruptos.

Uma completa vergonha para os cidadãos de bem e para a banda decente do país.

DEU NO X

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

DEU NO JORNAL

DEU NO JORNAL

QUE COISA ESTRANHA…

Um ano após a tentativa de assassinato de Jair Bolsonaro, a Polícia Federal continua proibida pela Justiça de investigar as misteriosas relações entre o bandidão Adélio Bispo e seus ricos advogados.

* * *

Curiosa…

Muito curiosa e estranha esta decisão de proibir a Polícia Federal de investigar quem está pagando a conta milionária dos advogados de Adélio, o esfaqueador do atual presidente do país.

Aqui no JBF temos vários de advogados.

Até mesmo juízes e juristas de renome.

Eles bem que poderiam nos dizer que danado é isso.

Talvez Ceguinho Teimoso, que tudo enxerga, possa nos explicar o que existe por trás dessa estranha situação.

Vôte!!!

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

AS BRASILEIRAS: Chiquinha Gonzaga

Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu em 17/10/1847, no Rio de Janeiro. Compositora, pianista e maestrina, foi pioneira na música como primeira chorona (pianista de choro); autora da primeira marcha carnavalesca (“Ô abre alas”, 1899); primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil; pode se dizer que foi também uma das primeiras feministas brasileiras, devido a sua luta pela independência da mulher. Filha de José Basileu Alves Gonzaga, de família ilustre do Império, e Rosa Maria Neves Lima, mestiça e filha de escrava. Foi educada nos moldes aristocráticos das crianças da elite; teve como padrinho o Duque de Caxias; estudou português, cálculo, francês e religião com o Cônego Trindade; foi aluna do Maestro Lobo e aos 11 anos compôs uma cantiga de Natal: “Canção dos Pastores”.

Apesar da rígida educação aristocrática, teve relativa liberdade para frequentar outros ambientes, como as rodas de lundu, umbigada e outros ritmos africanos, atraída por uma identificação musical com os negros escravos. Aos 16 anos foi obrigada a se casar com Jacinto Ribeiro do Amaral, oficial da Marinha. Como presente de casamento, ganhou um piano. A partir daí passou a compor valsas e polcas, para desagrado do marido. Em seguida nasceram o filho João Gualberto (1864) e a filha Maria do Patrocínio (1865). O marido tornou-se sócio do Barão de Mauá na exploração de um navio para transportar escravos, armas e soldados para a Guerra do Paraguai. Ela participou de algumas dessas viagens, nas quais ficava reclusa no camarote com ordens expressas do marido para não se envolver com música. Contrariada, voltou para a casa dos pais, e não foi apoiada pela família. Ao constatar sua terceira gravidez, voltou a viver com o marido. Em 1867 nasceu o filho Hilário e o casamento desabou de vez.

A separação causou tumulto na sociedade, trazendo-lhe, além do sofrimento, a separação dos filhos mais jovens imposta pelo marido. Ficou apenas com o filho mais velho e passou a refazer a vida na música. Pouco depois, reencontrou um antigo namorado, o engenheiro João Batista de Carvalho e foram morar numa fazenda em Minas Gerais. Em 1876 nasceu a filha Alice, mas logo descobriu que o novo marido andava traindo-a e desfez o casamento. Voltou para o Rio de Janeiro e passou por uns perrengues, vivendo de aulas particulares de piano ou tocando em lojas de instrumentos musicais e compondo polcas, valsas, tangos e cançonetas. Nessa época juntou-se a um grupo de músicos de choro e teve que adaptar o piano ao gosto popular. Com isto tornou-se a primeira compositora popular do País.

Seu primeiro sucesso musical se deu em 1877, com o animado choro “Atraente”. A repercussão no métier carioca, levou-a ao teatro de variedades. Passou a se envolver com a política em prol da abolição da escravidão, pelo fim da monarquia. A carreira como maestrina se deu em 1885 com a opereta “A Corte na Roça”. O enredo tratava de costumes do interior do país e teve o texto censurado pela polícia, que alterou alguns versos. Nos ensaios, um delegado ameaçou cortar a dança final, ponto forte da peça. No mesmo ano, dirigiu os músicos do teatro e a banda da Polícia Militar, tornando-se a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Por essa época participou da Confederação Libertadora, angariando fundos para a organização antiescravista. Em 1888 comprou a alforria do escravo e músico José Flauta, antecipando-se poucos meses à Lei Áurea. Como compositora, o ponto alto se deu em 1899 com a marcha-rancho “Ô Abre Alas”, composição feita a pedido do cordão “Roda de Ouro”. Foi o maior sucesso do carnaval naquele ano. Sua letra expressa uma ânsia de libertação, um hino à independência de novas formas de expressão: Ô abre alas que eu quero passar / Eu sou da lira não posso negar”

Neste ano, conheceu o jovem português João Batista Fernandes Lage, talentoso aprendiz de música, por quem se apaixonou e foi correspondida. Ela com 52 anos e ele com apenas 16 não podiam manter o romance aberto. Além dos filhos, que não aceitariam o enlace, havia o preconceito enraizado na sociedade. Tal relação afetaria, inclusive, sua brilhante carreira artística. O problema foi solucionado de um modo simples: adotou o rapaz como filho e registrou em cartório. Por volta de 1900 conheceu a irreverente artista Nair de Tefé, a primeira caricaturista mulher do mundo, também boêmia, da qual se tornou grande amiga. Tal convivência certamente ajudou-a a tomar a decisão viver sua vida amorosa mais livre. Assim, em 1902, o casal foi morar em Lisboa e passaram alguns anos felizes morando longe do falatório da gente do Rio de Janeiro. Aproveitou para conhecer toda a Europa e em 1906 já era conhecida do público português ao musicar várias peças lisboetas. Voltou ao Brasil somente em 1912 sem levantar suspeita alguma de viverem como casal. Ela nunca assumiu, de público, o romance, que só foi descoberto após sua morte através de cartas e fotos. No entanto, seus filhos tinham conhecimento do fato e acabaram aceitando o relacionamento.

Logo no retorno ao Rio, emplacou mais um grande sucesso com a opereta “Forrobodó”, que estreou em 1912, batendo o recorde de permanência em cartaz atingindo 1500 apresentações. A peça – uma proposital caricatura dos bailes da elite brasileira – foi um grande sucesso popular e um dos maiores do Teatro de Revista do Brasil. Pouco depois sua amiga Nair de Tefé torna-se primeira-dama do Brasil, ao casar-se com o presidente da República Hermes da Fonseca. Desse modo, tornou-se frequentadora habitual do Palácio do Catete, onde, a convite da amiga participou de alguns saraus. Na noite de 26/10/1914, último ano do mandato presidencial, foi convidada para uma audição musical no Palácio, cuja programação incluía autores como Gottschalk e Frans List. Na ocasião tocou o maxixe “Corta-Jaca”, uma música considerada indecente pela igreja e proibida nos salões da elite carioca. A própria Nair de Teffé chegou a acompanhá-la no violão, causando um escândalo entre os presentes. O senador Rui Barbosa não perdoou a ousadia: “Aqueles que deviam dar ao País o exemplo das maneiras mais distintas e de costumes mais reservados elevaram o Corta-Jaca à altura de uma instituição social”, esbravejou no Senado. “Mas o Corta-Jaca de que eu ouvira falar há muito tempo, o que vem a ser ele, senhor presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba”.

O “escândalo” causado na época alavancou mais ainda sua carreira e participação no meio artístico. Em 1917, liderou um grupo de escritores e compositores empenhados na fundação da SBAT-Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, tendo o famoso cronista João do Rio como primeiro presidente. Como se vê Chiquinha Gonzaga atraia uma constelação de astros irreverentes, que revolucionaram os costumes da época. Em 1934, aos 87 anos, escreveu sua última composição, a partitura da peça “Maria”. Faleceu em 28/2/1935, ao lado do seu amado, a quem devemos agradecer a preservação de todo seu acervo musical, Seu legado musical consta de músicas para 77 peças teatrais, além de autora de cerca de duas mil composições em diversos gêneros.

Recebeu muitas homenagens ainda em vida. Após sua morte foi reconhecida como a fundadora da música popular brasileira. Seus conterrâneos cariocas prestaram-lhe uma bela homenagem com o enredo “Abram alas que eu quero passar”, pela escola de samba Mangueira, em 1985. Mais tarde, foi a vez da escola de samba Imperatriz Leopoldinense com o enredo “Eu sou da lira, não posso negar” , no carnaval de 1997. Mas o reconhecimento maior veio em 2012, quando o governo instituiu o “Dia Nacional da Música Popular Brasileira”, comemorado em 17 de outubro, dia de seu aniversário. De janeiro a março de 1999, a Rede Globo apresentou a minissérie “Chiquinha Gonzaga”, baseada no livro de Dalva Lazzaroni de Moraes, Chiquinha Gonzaga – sofri, chorei, tive muito amor. Sua principal biografia – Chiquinha Gonzaga; uma história de vida, realizada por Edinha Diniz e publicada em 1962, já teve mais de 10 edições.

Uma visão geral com fotos, entrevistas e partituras podem ser consultadas em seu site oficial Chiquinha Gonzaga 

DEU NO X