CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

JACOB FORTES – BRASÍLIA-DF

Veja, nobre leitor, o lirismo do texto, CARTA À LUA, aliás, correlativo aos tempos tecnológicos e espaciais, que brotou do imaginário, fecundo, do literato Professor Holanda, meu confrade do quadro de escritores do jornal O BINÓCULO, de Fortaleza.

Nestes dias em que o cotidiano brasileiro é por demais carrancudo, o texto chega trazendo a leveza de uma cantiga de ninar, a gracilidade de uma flor, enfim, um brinde aos românticos.

* * *

CARTA À LUA

Lua, em 1969, o homem pisou teu solo, saltitou sobre tua face; outros também foram explorar-te, bisbilhotar-te, à procura de gente, de algum lunático.

Lunáticos fomos nós, humanos, em lá chegando, quebramos teu encanto. Onde estás tu, não irei. Sabes por quê? Quero ver-te sempre brilhando. Transmitindo aos enamorados sonatas de amor. Não irei onde tu estás, porque não quero tirar-te o sossego. Não te visitarei porque desejo continuar vendo São Jorge, montado no cavalo branco, esmagando, com seu tridente, o dragão.

Quero ver a lua das serenatas; quero contemplar a lua que esparge seu brilho sobre suaves e bravios mares.

Adoro quando tu não te escondes, quando tu apareces cheia. Aí tu brilhas intensamente. Adoro lua cheia, porque me sinto mais perto de ti.

Lua, não aceites casar-te com humano! Ele vai querer-te como posse dele e tu, lua bonita, tu és a eterna enamorada de todos nós.

Prof. Holanda

DEU NO JORNAL

A PALAVRA DO EDITOR

PRESEPADAS DE UM COLUNISTA FUBÂNICO

Conforme foi noticiado aqui no JBF, na seção de Eventos, o colunista fubânico Jessier Quirino apresentou-se sábado passado aqui no Recife.

O recital foi no Rio Mar, o maior xopis centis da cidade, que patrocinou o evento aberto ao público.

Uma festa em homenagem ao Dia dos Pais.

Foram colocadas cadeiras num amplo saguão e a apresentação levou o grande público presente ao delírio.

Teve gente que se mijou-se de tanto se rir-se.

Botaram telões nas laterais do palco, de modo que tivemos uma excelente visão.

Abaixo um rápido vídeo com um pequeno trecho da festa.

Foi Aline que filmou a partir da fileira onde estávamos sentados.

JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

RODRIGO BUENAVENTURA DE LEÓN – PELOTAS-RS

Caro Berto,

Dízimo transferido e pago.

Abraço

R. Dízimo devidamente registrado na contabilidade desta Igreja Universal do Reino da Besta Fubana.

Polodoro e Chupicleide ficaram relinchando de felicidade.

Vossa doação, meu caro colunista fubânico, vai ajudar a comprar mais capim pro nosso jumento-mascote.

E Chupicleide já pode ir na loja de putarias, que ela chama de “sex-shop”, existente em Boa Viagem, na zona sul aqui do Recife, pra comprar o seu tão sonhado caralho de plástico, eufemisticamente chamada de “vibrador”.

Polodoro e Chupicleide rinchando de alegria com a doação feita pelo colunista fubânico Rodrigo Buenaventura de León

Espero que o vosso exemplo inspire surtos caritativos e amoleça os corações dos pirangueiros, dos miscos, dos unhas-de-fome, dos avarentos, dos murrinhas, dos sovinas e dos renitentes.

Vocês fubânicos, colunistas e leitores, são a força que mantém esta gazeta escrota nos ares.

Gratíssimo.

Abraços e uma excelente semana!

CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

HONESTIDADE

Banca de revista Visconde de Albuquerque

No início dos anos dois mil Joca Oliveira era um entusiasta das ideias petistas. Acompanhava de perto todas as manifestações no campus da UFPE, onde estudava Economia e Direito. Também frequentava a Livro 7, onde lia livros comunas. Donde houvesse freges, saraus, recital de poesia, lá estava ele presente gritando fervorosamente que Lula era o único homem capaz de libertar o Brasil e o povo oprimido das garras do FMI, o monstro financeiro criado em 27 de dezembro de 1945 por 29 países-membros com objetivo inicial de ajudar na reconstrução do sistema monetário internacional no período pós-Segunda Guerra Mundial, mas que no fundo, segundo esses sectários, tinha o objetivo claro de escravizar os países emergentes da América Latina e fazer do seu povo vassalo.

Por essa época, quando ainda nem se sonhava com internet, Joca Oliveira não tinha dinheiro para comprar livros, revistas, jornais, principalmente do sul. Começou a frequentar uma banca de revista na Madalena. Fez amizade com os proprietários. Quando tinha dinheiro comprava um jornal e uma revista para se atualizar nos assuntos políticos. Quando não tinha, lia o que podia antes que alguém comprasse e ia para casa sonhar com o socialismo…

O jovem sonhador que veio do interior dos palmares estudar na federal tornou-se amigo dos donos da banca de revista, pegou confiança, e quando não tinha dinheiro para comprar o jornal e a revista os donos lhe autorizavam a levar para casa e pagar no final do mês, quando ele recebia o dinheiro de uma bolsa paga pela UFPE para os estudantes carentes que moravam na Casa dos Estudantes.

Joca Oliveira, como todo jovem sonhador da época, começou a comprar revistas e livros aos montes e quando a bolsa que recebia não dava para pagar tudo, comprava mais e o restante deixava lá no “pindura” para pagar depois.

O débito, tanto na banca de revista quanto na Livro Sete, foi se acumulando ao ponto de Joca Oliveira não ter mais dinheiro para pagar e deixou de frequentar a banca de revista com vergonha de não ter dinheiro para pagar aos proprietários.

Por essa época o PT já havia conquistado a presidência com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. A “esperança” havia chagado ao planalto e o Brasil vivia a expectativa e a euforia de uma nova realidade, com liberdade, bonança, empregos para todos, distribuição de renda e o pagamento da dívida externa para se livrar das garras do FMI.

Depois de formado em Economia e Direito Joca Oliveira vivia a angústia de estar desempregado e não lhe saia da cabeça os débitos que havia contraído na banca de revista e na Livro Sete e não poder pagá-los.

Dois anos depois de formado, Joca Oliveira fez um concurso para Oficial de Justiça na Federal, passando em nono colocado com os conhecimentos que havia adquirido lendo os jornais da banca de revista e os livros da Livro Sete.

Chamado para exercer o cargo de Oficial de Justiça na Federal, depois de três anos afastados do estágio da UFPE e vivendo só de bicos, pois não tinha vocação para advocacia nem economia, Joca Oliveira, quando recebeu seu primeiro salário resolveu ir até à banca de revista pagar os débitos atrasados há mais de cinco anos.

Quando chegou na banca de revista os proprietários tomaram um susto, porque aquela altura dos acontecimentos imaginavam que Joca oliveira tivesse morrido ou fosse um caloteiro contumaz, desses que aparecem todos os dias em qualquer esquinas travestidos de santidade. Por isso já tinham perdido a esperança de receber o “pindura.”

– Olá Paulo, olá João! Tão me conhecendo? Eu sou o Joca, aquele que deixou um “pindura” aqui de jornais e revistas! Quero pagar, mas não sei quanto é o valor corrigido.

Surpresos com a visita e a honestidade do palmeirense, os donos da banca de revista se entreolharam e apenas disseram:

– Meu amigo, pague o que você achar que deve! A gente já dava esse dinheiro por perdido há muito tempo…

Joca Oliveira não titubeou. Puxou a carteira do bolso e deixou uma quantia para os proprietários da banca, se desculpando pelo atraso.

Com o dinheiro na mão e não sabendo como reagir diante de tamanha honestidade, os donos da banca de revista apenas disseram: obrigado, e, mais uma vez se entreolhando, afirmaram:

– Você salvou todos os caloteiros que nos devem!

DEU NO X

MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

SOBRE FRENTES FRIAS E LAMPIÕES

A frente fria faz parte de Curitiba. Assim como a praia no Rio de Janeiro, e os coqueiros em Maceió, é um personagem quase que obrigatório em qualquer história aqui contada.

As frentes frias nascem lá no sul, próximas à Antártida. Viajam pelo Atlântico Sul e costumam entrar no continente americano lá pelos lados do Uruguai. Dé lá, sobrevoam o Rio Grande do Sul e Santa Catarina e vem se estabeler em Curitiba.

Durante o verão, a chegada da frente fria ocorre com estardalhaço: primeiro um calor abafado, sufocante, desconfortável (vale lembrar que “calor” para curitibano é qualquer coisa que passe dos 22º). Depois, o céu se enche de nuvens pretas, que se anunciam com raios e trovoadas. Ventanias varrem alguns bairros, enchendo as ruas de galhos caídos e destelhando alguma casa construída com mais fé do que engenharia. Começa uma chuva grossa. Depois de uma meia hora, a chuva vira uma garoa que vai sumindo aos poucos. O calor foi substituído por um friozinho úmido.

No inverno, as frentes frias são mais discretas. Às vezes, dispensam totalmente os raios e ventanias, e chegam apenas com uma chuva fina que dura o dia inteiro. O que é certo em qualquer época é a ausência do sol, tampado por uma grossa camada de nuvens que se estende até o horizonte em todas as direções. Durante dois ou três dias, às vezes mais, Curitiba fica com uma cara triste, escura, sem cores, sem sombras. O branco e o preto parece que se misturam e tudo fica meio cinza.

É bastante provável que as frentes frias sejam um ingrediente importante na personalidade do curitibano, que tanto espanta alguns turistas de lugares mais ensolarados. A frente fria não convida a sair pela rua, a conversar com estranhos, a praticar esportes, a mostrar-se, desinibido. Não. A frente fria convida a ficar em casa, de preferência com um cobertor sobre os joelhos, se possível comendo um pinhão preparado no fogão à lenha. Não é uma fobia social: é perfeitamente aceitável receber os amigos para comer uma pizza ou tomar um vinho, mas sempre dentro de casa. A Curitiba das frentes frias não tem espaços públicos: as ruas, as praças, os parques, são apenas caminhos a percorrer entre um lugar e outro.

Enquanto olho a frente fria pela minha janela, recordo-me de um caso, narrado como verídico por vários autores curitibanos. Foi por volta de 1870. Não há confirmação de havia uma frente fria na cidade, mas é provável que sim. Sabe-se que era uma noite escura, talvez de lua nova. Já era tarde quando o prefeito saiu da catedral. Possivelmente estivera tratando algum assunto de interesse público com o bispo, autoridade importante e indiscutível na vida da cidade.

O espaço à frente da catedral, que hoje é conhecido como Praça Tiradentes, na época era apenas um grande descampado, que o senhor prefeito precisava atravessar, na escuridão da noite, para chegar à sua residência. Infelizmente, no meio do alto capim que cobria a praça, dormia uma vaca. O pobre prefeito, que andava quase às cegas, tropeçou, rolou por cima da vaca e esborrachou-se no chão enlameado, rasgando sua casaca.

Conta-se que na mesma semana uma sessão extraordinária da Câmara de Vereadores discutiu a necessidade da iluminação pública, e em poucos meses Curitiba ganhou seus primeiros lampiões.

DEU NO X

ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

MÁXIMAS E MÍNIMAS DO BARÃO DE ITARARÉ

“Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.”

“Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.”

“O mal do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta.”

“O homem cumprimentou o outro, no café.
– Creio que nós fomos apresentados na casa do Olavo.
– Não me recordo.
– Pois tenho certeza. Faz um mês, mais ou menos.
– Como me reconheceu?
– Pelo guarda-chuva.
– Mas nessa época eu não tinha guarda-chuva…
– Realmente, mas eu tinha… “

“Orçamento é uma conta que se faz para saber como devemos aplicar o dinheiro que já gastamos.”

“O menino, voltando do colégio, perguntou à mãe:

– Mamãe, por que é que pagam o ordenado à professora, se somos nós que fazemos os deveres?”

“Os vivos são e serão sempre, cada vez mais, governados pelos mais vivos.”

“A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona adequadamente, deixando desesperados os que confiam nele.”

“Devo tanto que, se eu chamar alguém de ‘meu bem’ o banco toma!”

“Que faz o peixe, afinal?… Nada.”

“O trabalho nobilita o homem, mas depois que o homem se sente nobre, não quer mais trabalhar.”

“Quem não muda de caminho é trem.”

“A primeira ação de despejo foi a expulsão de Adão e Eva do paraíso por falta de pagamento de aluguel e comportamento irregular.”

“A guerra é uma coisa tão absurda e incompreensível que, quando se registra um combate de amplas proporções, até as baixas são altas.”

“Quando o queijo e a goiabada se encontram na mesa do pobre, devemos suspeitar dos três: do queijo, da goiabada e do pobre.”

“A conversa prejudica o trabalho! Deixe, portanto, de trabalhar, sempre que quiser conversar!”

“O meu amor e eu nascemos um para o outro, agora só falta quem nos apresente.”

“O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.”

“Há heróis de dois tipos: Os que a pátria chora porque morreram e os que a pátria chora porque não morreram.”

Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido por Apporelly e pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé (1895 – 1971), era gaúcho da cidade de Rio Grande. Ele foi jornalista, escritor e pioneiro no humorismo político brasileiro. Estudou medicina, sem chegar a terminar o curso, e já era conhecido quando veio para o Rio de Janeiro fazer parte do jornal “O Globo”, e depois de “A Manhã”, de Mário Rodrigues (pai de Nélson Rodrigues), um temido e desabusado panfletário. Logo depois lançou um jornal autônomo, com o nome de “A Manha”.