JOSÉ PAULO CAVALCANTI - PENSO, LOGO INSISTO

Amanhã, serão 20 anos dessa data. E o que dá para chorar, dá para rir. Assim, em vez de lembrar a tragédia (tantos já fizeram isso), prefiro contar o que aconteceu com um casal querido, Lourdeca e José Maria Pereira Gomes (hoje, apenas saudade). Manhã de terça-feira, chegaram em Nova York. Não sabiam, mas esta seria a única boa notícia do dia. Que os aviões-bomba de Bin Laden já passavam pela Estátua da Liberdade. Um taxi os levava do aeroporto Kennedy ao Newark, onde fariam conexão para Washington. À noite, estariam na abertura de Congresso Mundial de Cardiologia, próximo ao Pentágono. O motorista era um brasileiro, Orlando. Como todos os motoristas de táxi de Nova York, falando um inglês de quinta categoria.

Na ponte Verrazano, local de partida da maratona de NY, ouviram a primeira explosão. E caminhões, motocicletas, bombeiros e ambulâncias com sirenes enlouquecidas. Maus presságios. Pelo rádio, souberam que um avião entrou pelo World Trade Center. Depois o outro. E o motorista, apavorado, só gritava “o que está acontecendo?, o que está acontecendo?” Trânsito engarrafado. Pelo rádio souberam que os aeroportos estavam fechados. Cavaletes policiais interditavam a ponte Bayone, que dá acesso a Nova Jersey e Manhattan – já prenunciando que eles, ao menos dessa vez, voltariam ao Brasil sem pôr os pés no Bloomingdales. O locutor anunciou one tower has collapsed. Tentaram voltar pela ponte Verrazano, agora já bloqueada. Meio-dia e estavam presos na pequena e sem graça Staten Island.

Procuraram hotel e acabaram encontrando um que lembrava Al Capone – com móveis, pinturas e cheiros daquele tempo. No lobby, mais de 100 casais esperando quartos e rezando. Uma espécie de ante-sala do apocalipse. A distribuição se daria por sorteio. Disse o nome. E, por não confiar tanto assim na sorte, foi junto uma nota de cem dólares que o gerente embolsou, discretamente. Receberam a ficha no 20. Lembrou para jogar no bicho.

A noite veio e ainda esperavam. Por cima das malas. Sem lanche. Sem água. Sem notícias. Até que, afinal, alvíssaras. O investimento valeu a pena. Ganharam o último quarto disponível. Sem televisão. E sem ar condicionado, numa temperatura local de quase 40º. Para piorar, o único restaurante do hotel era mexicano. E foi ali que à noite, entre outros homeless, ouviram perplexos a voz gaguejante do Presidente Bush, na televisão, “somos um grande país… uma nação forte… que Deus abençoe a América”. E os que passavam por lá, como aqueles dois brasileiros.

Ainda ficaram seis dias no mais puro sofrimento. Pagando diárias que expressavam, admiravelmente, os efeitos da lei da oferta e da procura. Comendo só fajitas e tortillas. No café, no almoço e no jantar. Contaram os custos da viagem – motorista, diárias perdidas do hotel de Washington, propina, diárias roubadas no hotel de Capone e 100 mil milhas do cartão Varig jogadas fora. Negocinho da China. Até que, Deus é pai, conseguiram voltar. Tendo antes de entrar no avião, ironia suprema, que nos autofalantes do aeroporto ainda ouvir a voz melosa de Louis Armstrong anunciando que o mundo era maravilhoso, “What a Wonderful World, oh yeahhhhhh”.

* * *

2 pensou em “11 DE SETEMBRO

  1. “Crônicas Antológicas”

    Este é o título -provisório, enquanto não se acha outro melhor- do livro do nosso colunista José Paulo Cavalcanti- da coletânea que vem publicando aqui

  2. Um relato sem retoque para Dr. José Paulo Cavalcanti publicar em “Penso, Logo Insisto,” seu novo livro:

    Em 2018, recebi, pelos Correios, o magnífico livro de crônicas
    “SOMENTE A VERDADE,” com histórias passadas no escritório de advocacia que
    o Dr. José Paulo Cavalcanti mantinha na Avenida Agamenon Magalhães.

    Assim que tomei conhecimento da existência da publicação do livro pelo Editora
    Record, por meio de uma entrevista que o Dr. José Paulo concedera ao
    entrevistador Jô Soares, fiquei estasiado com as histórias narradas no livro, e
    quis por que quis o adquirir a qualquer preço.

    Por e-mail, comuniquei ao editor do JBF, Luiz Berto, que possui um coração de
    bondade maior do que o universo, meu fascínio pelo livro, e meu desejo em
    comprar um exemplar.

    Luiz Berto, com a bondade de sempre, comunicou ao Dr. José Paulo meu fascínio
    pelo livro e minha vontade de adquiri-lo.

    Para minha felicidade, duas semanas depois de comunicar ao Berto meu desejo
    pelo livro do jurista de Recife, Padre José Paulo, recebo um exemplar pelos
    Correios em minha residência com seguinte dedicatórias:

    “Para Chiquinho e suas verdades. José Paulo/2018.

    Li o livro por duas vezes, tamanho meu fascínio por ele. Quando ia lê-lo pela
    terceira vez, tive o desprazer de esquecê-lo numa boca do caixa da Caixa
    Econômica Federal da Avenida Conde da Boa Vista, onde estive para resolver
    assuntos pessoais.

    Quando dei pela falta do livro já passava das seis da noite e, depois de um
    telefonema à Caixa, quem me atendeu me informou que aquele assunto só se
    poderia resolver num dia seguinte e que eu procurasse o setor de “achados e
    perdidos” da Caixa.

    Dez horas em ponto estava eu lá na fila da Caixa para falar com a atendente que
    iria me encaminhar ao setor competente. Entrei e me dirigir ao local. Falei com o
    responsável de que se tratava e ele me informou, depois de uma busca
    minuciosa, nos “deixados e esquecidos”, que não havia tal livro lá. E que alguém
    pegara o livro e com ele ficara.

    Quis me mostrar a fita do espertinho que com o livro ficou e ainda olhou para
    câmara antes de embolsá-lo na bolsa que trazia a tiracolo e disse sem
    cerimônias: “Escritor burguês, comprador burguês, esse eu não devolvo, prefiro
    rasgá-lo a entregar,” e se mandou na maior cara de pau.

    Comuniquei ao Luiz Berto o ocorrido, que não se fez de rogado e logo comunicou
    o lamentável o Dr. José Paulo Cavalcanti, que repetiu, como o fez Graciliano
    Ramos: não tem problema. Enviarei outro para o Chiquinho.

    Duas semanas depois recebo em minha residência outro exemplar com a mesma
    dedicatória: “Para o Chiquinho e suas verdades. Recife/2018.

    Já li o livro dez vezes. Estou entrando para a décima primeira.

    Valeu, Dr. José Paulo Cavalcanti Filho, “Pelas Ruas de Tirano”, “Casamento é
    para Sempre”, “De vida e de Morte” e outras histórias me fascinam.

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