ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

Para Jesus de Ritinha de Miúdo, colunista do JBF

Etevaldo Guaiamum, cachacista sem remissão, amigo dos mais fiéis do suco de cana, sócio benfeitor do sindicato da gozação, era discípulo fiel da filosofia do Tavares quando o negócio era mulher. Mas, nos últimos tempos vivia um dilema familiar que o deixava tristento e todo cacarejoso quando encontrava os amigos de copo no covil, digo, no bar do Portuga.

Casara bem jovem com a Jupira. As más línguas diziam que o casamento foi a contragosto, já que a dita senhora, desde cedo era uma cruza do Mike Tyson com o Vampeta, e, para completar o pacote tinha um espírito de sargento de cavalaria reformado. Gritona, mandonista, com uma piassava no cocruto que a deixava mais rabugenta.

Filhos? Tivera dois. O Juninho, ou seja, Etevaldo Junior, rapaz delicado, mimoso, sensível e emocional, daquele tipo de rapaz que a galera, um pouco menos cínica chamava de “amaneirado”, e os pouquinhos mais desbocados, de viado mesmo. Cecília, a filha, era o justo contrário do Juninho. A moça puxava ferro, dirigia bitrem e, de vez em quando, coçava certa parte da anatomia existente na sua anatomia que era de faltante, naquele corpo super esculpido que emparelhava com o corpo de um estivador.

De cachaça em cachaça, o que mais alucinava Etevaldo Guaiamum era rabo de saia. Era só ver um pé de rabo, principalmente o de moça militante em casa semvergonhista que Etevaldo ficava todo ensabonetado, mexia nos cabelos, embonecrava sua pessoa para melhor figurinagem fazer.

Ocupação perigosa era essa vida dupla, já que a mulher, pratrasmente de uns cinco anos deu para arapongar o marido pelas vielas da cidade com um porrete de guatambu nas mãos. Por qualquer coisa, ou menasmente que isso o porrete cantava em seu costado. Mulher do cão era aquela.

Átila, com certeza seria mais compreensível e piedoso. Aquilo não era mulher. Aquilo era uma tapera abandonada e malassombrada na beira da estrada. Mas, ninguém podia dizer que Etevaldo não tinha culpa no cartório. E, também, não se corrigia. O domingo de Nosso Senhor, quando Etevaldo cruzava assunto de cachaça com mulher, a desgraça era certeira. A vantagem, porém, era que Etevaldo podia ser chamado de tudo, menos de corno. Aliás, para Etevaldo ser corno, o guampista profissional, ou amador teria que estar, ou isolado, por uns vinte anos em uma ilha deserta, ou com meia dúzia de porcas faltando no quengo.

Etevaldo, porém, era mestre na arte da guamparia. Dizia, estufando o peito que só não saía com sapo porque não conseguia identificar a fêmea. A mulher, bem que sabia das safadagens do marido, descia o braço nele, mas relevava. Uns diziam que era amor, outros que a coisa era ordem unida mesmo que mantinha a santa paz em seu lar. Mas, sempre há um porém, e a canalhice de Etevaldo sempre o colocava em rota de colisão com o cracajá de pente que ele chamava de esposa.

Deu-se que, naquele domingo calorento, Etevaldo na roda dos amigos cachacistas, com uma loirinha jeitosa, dessas que se pergunta se o valor era pela hora, ou pelo turno, sentada em seu colo e bebericando no copo do sujeito, foi flagrado pela mulher. Ah, Irineu, a dona dele nem esperou chegar em casa para o pau cantar. A roda de amantes de canavial se desfez na hora, a loirinha evaporou no ar. Quem passava no de longe, pensava que era briga de cachorro tanto os uivos que se ouvia.

– Velho bola murcha, cachorro, safado, canalha, patife. E o festival de palavrão era seguido por uma saraivada de cachações e bolachas.

– Fica se engraçando com qualquer puta, enchendo a cara e eu tenho que agüentar bodum de cachaça. E tome-se outro safanão.

– Hoje eu lhe arranco a pele e salgo seu couro, fi de rapariga. E, tome-lhe outro safanão.

A turma do deixa-disso, bem que tentou, mas do jeito que a Jupira rosnou para o bando, era melhor deixar quieto. Aquilo ali era o Sete Couros encarnado na mulher. E, com medo do tamanho da borduna que a mulher fazia assobiar nas mãos, mais raiventa que um ninho de caninanas em noite de lua cheia, baixaram o cangote e cada um foi para sua casa.

O portuga, que tudo assistia no detrás do balcão, só balangava a cabeça, já estimando o prejuízo em cachaça não contabilizada e nas trapizongas de sua bodega que a mulher do Etevaldo quebrara na força do porrete.

Terminado o show de bolachas, o portuga, vendo a mulher puxando o marido para casa, com a cara mais avariada que aqueles antigos carros da PM, ainda tentou questionar o Etevaldo os motivos daquela penitência sabendo do pitbull que tinha em casa.

– Ora, seu Manoel…. a vida é assim…. precisa ser aproveitada, além do mais eu sou…. mas quem não é?

2 pensou em “MAS QUEM NÃO E?

  1. Eita, Roque, meu conterrâneo compadre: ler suas crônicas dominguentas é uma das maiores satisfações que tenho. Putz, um dia eu chego lá com pelo menos metade de sua verve. Valeu. Um grande abraço,

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *