CORRESPONDÊNCIA RECEBIDA

A CONJURAÇÃO E O PARTIDOS DOS TRABALHADORES

A Conjuração Mineira resumia-se numa associação de indivíduos que, no decurso do ciclo do ouro, se reunia secretamente para expressar seu desacordo em relação à derrama e ao jugo lusitano. Seus membros almejavam tornar o Brasil independente do domínio português. Esses membros, embriagados de patriotismo, idealizaram uma bandeira (que pretendiam fazer tremular) na qual se lia, em latim, o contagiante slogan Libertas Quæ Sera Tamen, liberdade ainda que tardia. Mas não durou muito para que os membros dessa confraria fossem todos condenados; uns ao degredo, outros à privação da liberdade e o mentor, Tiradentes, levado ao suplício patibular.

O Partido dos Trabalhadores também consistia numa associação de indivíduos. Estes, arrebatados de patriotismo, também idealizaram uma bandeira pautada na ética. Por essa ética, que zumbia pelos rincões da pátria, o PT prometia, sob juramento, emancipar o Brasil das lepras sociais, golpear a fome, e por aí além. Pressentindo a fragrância do paraíso, os brasileiros, em 2002, concederam ao PT procuração para assumir as rédeas do Brasil. Afinal, já era cognominado o patrono da retidão.

Todavia, ao pôr as mãos nas rédeas do Brasil esse partido mudou de ideia quando se deparou com uma vacaria, pródiga em leite, estabulada dentro do governo. Embora a vacaria fosse propriedade particular de um ente que se vestia de verde e amarelo, era por demais cordata; se deixava mungir por quem, com maternal solicitude, lhe comprimisse as tetas. De tanto distrair-se com a lavoura leiteira, aliás, palatável e de cheiro gustativo, o PT acabou por descuidar-se da sua particular fortuna moral, aquela que lhe distinguia, aquela que simbolizava sua própria identidade, a ÉTICA.

E de descuido em descuido a casa caiu; a bandeira da eticidade — que tinha por esteio apenas o mastro da retórica — veio abaixo. Tal qual os conjurados muitos petistas, sobremodo os eminentes, ou foram condenados ou estão respondendo a processos. A Conjuração, propugnava que “se a riqueza brasileira ficasse toda aqui, o Brasil se transformaria”. No governo petista as riquezas brasileiras (as que não foram surripiadas) realmente não embarcaram para cofres reinóis de além-mar, mas migraram para terras estrangeiras, de pobreza fecunda. Lá, na Conjuração, Tiradentes assumiu a culpa solitariamente; cá, no PT, todos declararam inocência. Em ambos os movimentos ocorreu a figura do delator. Lá, se chamava Joaquim Silvério dos Reis; cá, Antônio Palocci. Em ambos os casos também o ingrediente ambição. Lá, pela libertação de um país; cá, pela engorda de contas magras. Lá, os acusados de traidores viraram heróis; cá, os pseudo-heróis são vistos como traidores do Brasil. Lá, o passado épico dos conjurados permanece lustrado; cá, o passado ético encontra-se desbotado.

As consequências calamitosas desse imbróglio petista todos conhecem: milhões de brasileiros, inconformados com as sangraduras que fizeram borbotar cachoeiras de numerários, tal qual o sangue do “animoso alferes”, e, portanto, deveras afrontados, aproveitaram as urnas de 2018 para se desafrontarem.

Ficou o ensinamento de que as façanhas da mentira são menos duradouras que as glórias da verdade. Não queira um aquilino fazer-se passar por colombino inocente porque “a mentira é como uma baforada de fumo que se desmancha no ar”.

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