A PALAVRA DO EDITOR

Cara, tô eu em Paris, aniversário de 130 anos da Torre Eiffel, fui lá ver o espetáculo de luzes e sons, mergulhado no berço da cultura, na Cidade Luz, quando um sujeito do meu lado pergunta:

– Caba, tu visse a intrevistcha de Luiz Berto na Rádio Paulo Freire aquela, de Pernambuco?

Eu pensei, porra, esse cara só pode ser nordestino. Como sabe que sou brasileiro?

Ele parece que adivinhou meu pensamento e disse que me viu conversando com a minha mulher e que ele estava doido para falar com alguém sobre a entrevista de um cabra safado que ele viu na Internet, nordestino como ele; mas ali em Paris, onde ele foi parar não sabia como, não conhecia ninguém, nem francês nem brasileiro. E ele estava impressionado a cuma é que é uma emissora cultural, universitária, tinha demorado tanto a chamar Berto para contar suas histórias.

Aí eu falei pro cara, que não acreditou na coincidência: – Pois veja só, Berto é meu chefe!

Ele quis saber como assim e eu expliquei. Esse sujeitinho é o editor do Jornal da Besta Fubana, um jornaleco vagabundo que só presta para falar mal de Lula, onde, não sei porque, eu, que sou Lula roxo, escrevo um monte de porcaria e ele publica, e não só publica como me mandou aqui para Paris, com todas as despesas pagas, para ver se eu paro de endeusar Lula e escrevo sobre outras coisas menos importantes, como o Louvre, a Notre Dame, o Sena e… a Torre Eiffel, onde estamos hoje justamente para isso!

O cara ficou doido, me pediu autógrafo e o escambau e foi-se, me deixando com um problema: Então Berto deu uma entrevista, o vídeo está na Internet e, porra, eu tenho de ver essa onça, se não vai que o cara fica sabendo que eu não vi e eu me lasco todinho. Afinal, o jornal é uma porcaria, mas me paga bem, não posso perder essa boca.

Eu poderia muito bem estar na Veja, na Folha, no Globo, mas me ofereceram a metade do que tiro aqui, tenho de me conformar.

Pois bem, cheguei no “studio”, quarto “arrondissemente”, Marais, o Marré, bairro da viadagem mundial, quarto andar sem elevador – Berto me paga hotel cinco estrelas mas eu economizo pagando um quarto barato – e toma-lhe a ligar o computador para uma hora de tortura.

Tive uma grata surpresa: Enquanto traçava uma baguete com um vinho de fundo liso, foi uma hora de uma divertida entrevista com um sujeito que eu achava que só tinha feito escrever dois livros geniais – o Romance da Besta Fubana e a Serenata (os outros eu não li e o Memorial do Mundo Novo abandonei de cara) – e que agora descobria que, além de ser um velho amigo, é um sujeito divertido, inteligente e palestrador de primeira do tipo do cabra que ele diz ser seu ídolo, o inacreditável Ariano Suassuna.

Pois bem, Berto pode explorar também esse campo, pois, além de ser tão bonito quanto Ariano, tem a palavra fácil, a memória prodigiosa e a capacidade de encantar uma plateia com um senso de humor invejável.

Não é por ser meu chefe.

* * *

Nota da Editoria:

Clique aqui para ouvir a entrevista.

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