ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

“A evolução determinou que o homem andasse ereto, sobre os dois pés, mas não adaptou sua coluna para as novas funções. O resultado é que somos bípedes com uma estrutura de quadrúpedes, e como dói.”

“O mundo nunca mais foi o mesmo depois que o primeiro macaco descascou sua primeira banana. Era o despertar da técnica. A descoberta da banana foi a primeira aventura intelectual do pré-homem. “

“Um esporte civilizado é o boxe. Não há notícias de jogadores de xadrez ou de tênis se abraçando efusivamente depois de uma partida como acontece com os lutadores de boxe, que continuam amigos depois da luta, mesmo porque passaram a maior parte do tempo abraçados.”

“A morte do livro vem sendo preconizada há tempos, e nunca acontece. É uma das mais longas agonias de que se tem notícia. Só vou aceitar os e-books quando tiverem cheiro de livro.”

“Já disse que não aceito minha indicação para presidente da República, se convocado não concorrerei, se concorrer não farei campanha, se ganhar não tomarei posse e se tomar posse farei um festão.”

“Tudo que atribuem ao coração, do mais romântico ao mais calhorda, é falso. Trata-se de um mero músculo, e de um músculo egoísta, que só quer saber de sua própria sobrevivência. Da qual, por uma cruel coincidência, depende a nossa.”

“Alguém já disse que o gourmet é o cara que se preocupa mais com a pronúncia certa que com o gosto do que come, e não é o meu caso.”

“As crises brasileiras são sempre crises de frustração. São paródias de parto: parece que vem algo novo, pelo menos com outra cara ou de outra raça, o que nos leva até a tolerar o sofrimento e as privações, e nascem sempre as mesmas crianças.”

“Sou pela liberação da maconha, porque não há como controlar. Como dizem na minha terra, para besteira e financiamento do Banco do Brasil, sempre se arranja um jeito.”

“Toda liberdade é condicional. Você não pode dizer que é absolutamente livre – a não ser que tenha asas, um cartão de crédito internacional sem limite e saúde para usá-los. E nenhum escrúpulo.”

“Não se sabe ao certo que fruta caiu na cabeça de Isaac Newton para que ele descobrisse a gravidade, mas na história ficou que era uma maçã. A maçã parece que está sempre querendo nos dizer alguma coisa.”

“Só alguém que se acha muito superior procura o analista para tratar um complexo de inferioridade, porque só ele acha que se sentir inferior é doença.”

“Dizem que no futuro as pessoas se conhecerão e se casarão pela internet, mandarão suas células para um laboratório para fazer filhos que nunca verão e jamais precisarão estar juntos – finalmente o casamento perfeito.”

“A meteorologia, como se sabe, é a ciência que estuda meteoros e, na falta destes, dá uma olhadinha para ver como está o tempo.”

“Jovem nunca se apalpa. A gente passa o tempo todo se apalpando, para ver se a gente ainda está todo ali. Jovem não. Os jovens só se apalpam uns aos outros”

“A ironia é sempre perigosa, pois só funciona se também for lida com ironia. Quando a pessoa não entende, é mortal.”

“É sabido que os velhos elefantes, quando sentem que a morte se aproxima, afastam-se da manada para morrer sozinhos. Não querem sentimentalismo nem cerimônia. Morrer é coisa privada que requer um certo pudor.”

“Não foi fácil aceitar macacos na nossa árvore genealógica. Eu, por exemplo, ainda digo que meus antepassados não descenderam de chimpanzés, foram adotados.”

“Muitos dos astronautas americanos que andaram no espaço depois tornaram-se místicos. Sentiram o desencontro entre a imensidão da sua experiência e a sua pequena capacidade para verbalizar seu deslumbramento. O misticismo é o deslumbramento mal resolvido.”

“Generalizar é humano, mas quem parte de uma amostra limitada para chegar a uma conclusão categórica pode acabar imitando aquele extraterreno que desceu no meio de uma colônia de pinguins e depois informou ao seu planeta que os habitantes da Terra não tiram o fraque nem para nadar.”

Luís Fernando Veríssimo nasceu em 26 de setembro de 1936, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. É o escritor que mais vende livros no Brasil. Famoso por suas crônicas e contos de humor. É também jornalista, tradutor, roteirista de programas para televisão e músico. Ele adaptou para minissérie o seu livro Comédias da Vida Privada. O programa recebeu prêmio de crítica como o melhor da TV brasileira. É filho do escritor Érico Veríssimo.

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